Na última sexta-feira (11/12) estive nos lendários estúdios da rádio Brasil 2000. Onde há mais de 30 anos é realizado um enorme trabalho em prol do rock underground nacional.

E o motivo era mais do que especial: o lançamento do livro RCKNRLL – Outsiders Viciados em Música Procurando Confusão de Yuri Hermuche.

Este que contou com a presença de ouvintes, fãs e figuras carimbadas do underground paulistano.

Além do lançamento, foi realizada mais uma edição do Via Web (que vai ao ar diariamente das 15h às 16h). Nela os apresentadores do programa (Osmar Santos Jr. e Anna Helena Rainere) receberam além Yuri Hermuche, a ilustríssima presença de Zé Antônio (Pin Ups).

Yuri Hermuche, Debbie Hell, Ana Helena e Zé Antônio na última sexta-feira nos lendários Estúdios da Brasil 2000.

Zé que é um dos personagens principais da história narrada em quase 600 páginas do livro. Além de ter integrado o lendário quarteto Pin Ups: ele por 19 anos trabalhou na extinta MTV Brasil e dirigiu programas como o Banda Antes – programa que dava a oportunidade a bandas novas mostrarem seu trabalho em rede nacional.

Aliás o Pin Ups tem bastante culpa no cartório na vida de Yuri. Tanto na motivação de escrever o livro mas principalmente como fonte de inspiração em sua carreira musical. Para quem não sabe, Yuri é guitarrista da banda Firefriend.

Depois de assistir a uma apresentação visceral do Pin Ups, no Retrô em 1992, ele decidiu montar sua primeira banda. Segundo relatado no bate-papo descontraído na última sexta, ele diz que nunca tinha visto rock barulhento feito no Brasil e que começou a notar uma onda de bandas que timidamente começaram a caminhar juntas nesse sentido.

Como lembrado por Zé Antônio: O que rolava era uma disputa no nível Fla-Flu entre gerações.

Zé Antônio: …Nós tivemos muitos problemas. Nós não, qualquer banda naquela  época. Eram poucos lugares para tocar e não existia nenhuma colaboração entre as bandas. As pessoas não te tratavam com colega, você era um rival. Então, se a sua banda estava tocando ali…era meio que uma disputa. Muita gente falava mal da banda dos outros, era uma coisa meio pesada. E tinha uma diferença de estilo. Quem era dessa onda um pouco mais pós-punk, gótico, não gostava de quem fazia eletrônico, que não gostava de quem fazia som pesado como a gente, que na época eles chamavam de guitar bands, não sei porquê…todas as bandas tinham guitarras. Existia uma rivalidade estilística, bem besta, na verdade. Então saíam várias brigas, discussões e mal-entendidos.

Marco: As bandas se tratavam como time de futebol. Como se uma vencesse a partida. Era cada um querendo foder o outro até o espaço.” (Hermuche, Yuri. RCKNRLL – Ousiders Viciados em Música Procurando Confusão. 1. ed. São Paulo: Longe, Dezembro/2015. 14 p.)

Ele brinca que o que existia era uma espécie de rede social mesmo sem existir internet na hora de se comunicar com outras bandas da mesma cena.

Outra dificuldade das bandas era a de organização em arquivar seus lançamentos. Zé cita que ter uma garota na banda foi essencial para que registros e materiais não fossem completamente perdidos.

Uma das suas frustrações foi com o fechamento da MTV Brasil não ter tido tempo de arquivar seu portfólio com grandes momentos que viveu na extinta emissora.

Porém por conta das mudanças de tecnologia no mercado fonográfico – e seus formatos – muitos registros foram perdidos ao longo dos anos. Ele revelou ainda uma disputa tensa nos bastidores entre Viacom e antiga MTV pelo arquivo.

Yuri com certeza foi um dos principais motivos para os shows de despedida realizados no SESC no último mês. O que acarretou além do livro – que carinhosamente apelidei de Mate-Me Por Favor Brasileiro – uma série de documentários sobre essa cena que devem ganhar as telas em breve.

Para promover o livro lançado de maneira totalmente independente Yuri como destacou Osmar: “Está realizando uma verdadeira turnê nacional”.

Esta que começou nos últimos dias em Brasília, passou por São Paulo neste final de semana e já tem datas confirmadas nas principais capitais do país. Lembrando que você pode levar o lançamento para sua cidade: basta entrar em contato e arranjar uma banda local que tope participar.

O mais legal de tudo é o espírito D.I.Y. na maneira que o escritor resolveu fazer estas aparições. Ele na maioria das datas realizará o lançamento com shows de bandas independentes. Assim, celebra uma geração e abre as portas para a nova geração começar a escrever sua história.

Ele mesmo afirma jamais ter parado de pesquisar sobre bandas novas e observar uma nova cena musical crescer.

Inclusive no bate-papo quando levantado o assunto de pessoas que afirmam que o rock morreu. Zé prontamente rebateu:

“Quando alguém diz isso para mim apenas reforça que esta pessoa está morta.” diz Zé Antônio Algodoal, guitarrista do Pin Ups

O que só fez com que fosse colocado mais uma vez o assunto em pauta. De ter milhares de bandas para conhecer a cada dia e que o que é necessário mesmo é saber procurar e estabelecer filtros para isso.

Afinal dificilmente elas vão bater na sua porta e começar a tocar na sua casa, não é mesmo?

O lado Barulhento

O Rock barulhento da década de 90 era uma grande novidade para quem trabalhava com o showbizz. Os engenheiros de som das rádios, TV’s e casas de show não estavam acostumados com essa nova maneira de tocar.

Os anos 70 e 80 foram marcados – principalmente no Brasil – por bandas de metal, como o Made In Brasil em que as guitarras eram a principal característica do som e deviam soar mais altas que todo o resto no resultado final.

Bandas como o Pin Ups e Thee Butchers’ Orchestra vieram chacoalhar com essa antiga ordem. Zé cita que o show de lançamento de Jodie Foster (1995) quase não aconteceu.

Os técnicos de som da casa não aceitavam as não entendiam do que se tratava o som da banda. No fim das contas, o show só rolou quando João Gordo e amigos do grupo expulsaram o engenheiro de som da casa e segundo Zé: fizeram o show mais barulhento da história do Pin Ups.

Segundo os Pin Ups, isso foi motivo de guerra entre estúdios onde gravaram seus discos e a banda. Que aceitava chiados e erros como algo que agregava algo diferente e bacana ao resultado final.

Osmar Santos Jr. (Brasil 2000) inclusive afirmou que não entendia muito bem o que era aquilo e que ele mesmo tinha dificuldades de aceitar esse tipo de som. Estava acostumado em receber nos estúdios da rádio, artistas trajados com jaquetas e camisetas de heavy metal que exploravam o lado mais clássico do rock’n’roll em sua estrutura sonora.

O livro e os dias de hoje

Yuri ainda afirma que o mais legal durante sua pesquisa e uma porrada de entrevistas com mais de 50 depoimentos foi encontrar a resposta para uma pergunta:

O que motivava esse povo a querer tocar muito longe de casa sem ter muitas vezes dinheiro para voltar para casa?

Zé Antônio (Pin Ups) e Yuri Hermuche – Foto por: Dom Orione (3ÉD+)

Quando debatido isso nos estúdios da Brasil 2000, a resposta ficou mais do que óbvia: A Paixão.

Zé mesmo afirmou no papo que a motivação para a formação dos Pin Ups na verdade era frequentar o Retrô, o Aeroanta, ir no Madame Satã. Jamais imaginariam que tanta coisa ia acontecer.

Muitos grupos contemporâneos jamais teriam conseguido viajar o Brasil se não fosse a existência das bandas.

Quando o assunto foi ter uma banda em 2015, todos concordaram que era um momento maravilhoso se fosse bem utilizado.

Afinal vivemos um momento em que possuímos a poucos cliques inúmeras referências musicais, o contato com outros grupos do mundo inteiro é acelerado, e existem a cada dia menos desculpas para se jogar nessa aventura.

Questionado sobre o Pin Ups aproveitar essa volta para colocar seus antigos materiais nos serviços de streaming (como Spotify e Deezer), Zé disse que isto está se encaminhando para ser feito no começo do ano.

E ainda deixou claro que teremos uma faixa inédita do Pin Ups a ser gravada no começo de janeiro. Esta que estará na trilha de um documentário ainda sem data de estreia.

Yuri finalizou a entrevista dizendo: Espero que todos que lerem o livro decidam montar uma banda de rock.

E que esta sementinha do diabo seja plantada.

Sobre RCKNRLL – Outsiders Viciados em Música Procurando Confusão:

Ao longo de 600 páginas, você vai se aventurar com alguns dos tipos mais interessantes que conheço. Verdadeiros outsiders, andam por aí provocando alterações no ambiente com suas ondas de choque. Eles percebem que os escritórios são armadilhas, que as escolas são menos interessantes que a rua, que o serviço militar é uma absurda perda de tempo, para não falar de missas e igrejas. Viciados em música,precisam dela para viver, para o sexo e para respirar, desde o primeiro momento em que aquela canção ou disco mudou tudo para sempre. Dali em diante, a música sempre fez parte de quem eles são, do que pensam e do que querem viver. Sempre procurando confusão, eletricidade, experiências transbordantes em viagens absurdas, eles vivem intensamente e falam furiosamente. Para escrever este livro, entrevistei mais de 50 músicos e produtores. Ouvi choro, risadas e até ameaças. Duas conversas duraram quase dez horas seguidas, outras foram feitas em mesas de bares em 7 cidades diferentes e algumas até mesmo na cama. 

Não é por acaso que eles montaram bandas de rock diferentes e barulhentas. Pin Ups, Thee Butchers’ Orchestra, Forgotten Boys, Biônica, Divine, Firefriend, Lê Almeida, Giallos e Travelling Wave vão nos levar para um longo mergulho no underground brasileiro — mais de 300 bandas são citadas. Aumente o volume!

Yury Hermuche

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This post was published on 14 de dezembro de 2015 3:30 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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