O Rap e o Punk apesar da maneira de se expressar e da sonoridade distintas sempre tiveram o mesmo caráter de discurso, a rebeldia e a arte de expressar o seu descontentamento com a sociedade nos mais diversos âmbitos. Muito se ouve que depois dos anos 00, o Rap é o novo punk. E não é de hoje que essa união é forte, muitos artistas já tentaram mesclar os gêneros.
Talvez Ice-T seja o maior exemplo de reconhecimento comercial e midiático desse novo gênero que mais tarde seria conhecido como Rapcore. E quem acha que foi algo passageiro, erra em cheio, dá uma olhada em 2015 o Ice-T fazendo versão de Suicidal Tendencies.
E teve até Ramone que entrou nessas e digamos que o resultado é tão engraçado que se tornou um clássico dos B-Sides de qualquer discografia do Ramones. Dee Dee Ramone que nesta fase atendeu por: Dee Dee King e tentava entender os dilemas do gangster rap.
Mas estamos em 2015 e do passado só ficam as memórias. Nos últimos dias um amigo me vem com uma banda com um nome todo diferente e apenas me disse: “mistura hip-hop com hardcore old school e é hipnotizador”.
A curiosidade falou mais alto e tive que pegar meus headphones e conferir qual que era a desse tal de Ho99o9. Fui pesquisar sobre e soube que é um duo formado no ano passado em Newark, NJ – mas que migrou para Los Angeles – composto por theOGM e Eaddy.
Rapidamente ao chegar em LA chamaram a atenção de Ian Longwell. Produtor de nomes como Santigold, aquela mesma que dizem que provalvelmente estará no line-up do Lollapalooza Brasil que será anunciado na próxima terça-feira.
Após lançar um EP – Mutant Freax (2014) – e o single (Casey Jones / Cum Rag, FAMILY (2014), eles participaram de um dos melhores festivais do mundo de música negra: a edição do Afropunk daquele ano. Que se você não sabe o que é deveria assistir com urgência a esse documentário.
Veio 2015 e com ele o lançamento de mais um EP, Horrors of 1999 (2015). De quebra uma participação em um dos maiores festivais do mundo – que engloba até feira de inovação e tecnologia – o SXSW, realizado anualmente em Austin, TX. Ou seja, o duo vem em vento e poupa conseguindo espalhar sua mensagem nos principais festivais de música do mundo, tudo isso com pouco mais de um ano de banda.
Mas o que faz deles diferentes?
Para entender eles basta olharmos para trás. Os dois são amigos de infância e cresceram no subúrbio de Newark. Quando ainda moleques ouviram demasiadamento a grupos de gangsta rap como DMX e Bone Thugs-n-Harmony. Conforme foram crescendo, na juventude foram introduzidos ao punk/hardcore – já pasteurizado – por bandas como: The Death Set, Japanther e Cerebral Balzzy (talvez a que mais carregue o espírito do hardcore old school) das citadas.
Por outro lado e o que mais se destaca na parte visual de seus clipes e performances tem a influência de Rob Zombie – do grupo White Zombie – mas que também é diretor de cinema de filmes de terror.
Agora que estão devidamente apresentados as influências fica mais fácil de entender qual é a dos caras.
O mais legal desse primeiro EP – Mutant Freax (2014) – é que cada faixa dá para captar uma das influências citadas pelo duo em sua bio. Não demorou muito para tentarem rotular o som deles e alguns críticos já chegaram a comparar os caras com bandas clássicas de hardcore old school como Big Black, Bad Brains e Black Flag.
O EP mais recente The Horrors of 1999 (2015) é um verdadeiro chute na orelha. Para começar são seis sons em coisa de 10 minutos. Para deixar qualquer um perturbado. A primeira música, “No Regrets”, é tão barulhenta e cheia de efeitos eletrônicos que te deixam meio transtornado com uma bateria que ecoa o bumbo no seu tímpano.
“Days Of Vengance”, mistura o hip-hop com a temática dos filmes de terror. A música funciona mais ou menos como um thriller psicológico e o tema o título deixa claro, a vingança. Os beats são densos e os efeitos nos vocais deixam a música ainda mais aterrorizante. Ao mesmo tempo que deixa clara a influência de bandas como Japanther devido aos efeitos de teclado.
“Private Parts” é uma vinheta para introduzir o sample para a música seguinte “P.O.W. (Prisioners Of War)” e mais uma vez o caráter político e crítico a realidade social vai a tona.
” I never cared much about the military before I started listening to horror, when I’m dead in the grave no more pussy will I crave / Bloodbath High – Kill or be Killed | I think I’m dead, I could have died last week, I could die tomorrow, the good die young, dead on arrival, I’m dead. 1990 – 1999.”
“Gates Of Torment” podia entrar fácil em algum filme de terror com preceita de tortura e cenas de sofrimento. Parece uma cena desgracenta de terror. Em uma pesquisa mais profunda para entender o porque deste nome me deparei com uma banda que chamada Gates Of Eternal Torment que se auto-nomeia como ATENÇÃO: Black Metal Depressivo. Ficou curioso para saber o que seria isso:
[bandcamp width=100% height=120 track=4012571645 size=large bgcol=ffffff linkcol=0687f5 tracklist=false artwork=small]
O que só mostra que do universo do Ho9909 (que lê-se Horror) temos muito a conhecer e principalmente entender antes de sair julgando sem critério.
Para fechar o EP, temos a hardcore old school e cheio de bateria no 1-2-3-4, “Savage Heads”, carrega mais uma vez como característica marcante os teclados que te dão a sensação de estar adentrando um castelo mal assombrado. Ao mesmo tempo que tem um levada mais Thrash-Metal misturada que te remete tanto ao Rob Zombie como ao som do Cerebral Balzzy.
Mas como dizia antes: o destaque fica pelas apresentações ao vivo. Muitas delas inspiradas nesse figura aqui que literalmente comia merda no palco e se tornou uma lenda do punk, GG ALLIN. E sim, em alguns shows eles chegam a ficar nús com as mãos no bolso – clique se tiver coragem e não diga que eu não avisei antes.
Fique então com Ho9909 ao vivo em Los Angeles
Para passar a régua e fechar o post, confira os clipes:
This post was published on 2 de outubro de 2015 5:35 pm
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Adoro esse tipo de filme! Obrigado pelo conteúdo ;)