Razões para ouvir o novo trabalho da Versus 3

Formado em 2011 por Murilo Lourenço (Guitarra), Luiz Fernandes e João Luis Paes (Bateria), o power trio paulistano, Versus 3 nasceu com a dura responsabilidade de tentar cravar novas tendências a aquele já desgastado e cansado rock nacional.
A intenção era justamente essa: dar uma vitaminada e colocar um novo sangue na veia ao gênero.



Em 2012, a banda lançou seu primeiro EP, íntitulado Vex Machina. No qual conta com seis canções e serviu como um divisor de águas, abrindo as portas para o grupo conseguir alavancar  seus primeiros shows. Praticamente um ano depois do lançamento do EP, eu ouvi falar sobre eles. Porém por alguma razão – bem errada – eu nunca tinha parado para ouvir o EP, algo que lamento. Mas como todo dia é dia para conhecer uma banda nova, vamos lá!



Impressões ao ouvir o EP Vex Machina (2012):

Novo rock nacional, no perfil de bandas que vem se destacando como Little Drop Joe, Alaska, Scalene e Far From Alaska.

Com influências diversificadas, dá para sentir no ar um repertório de influências que vai de Muse, Queens Of The Stone Age, passando pelo hardcore de grupos como o dos norte americanos do Thrice; e dos tupiniquins do Zander.

Conseguimos ver uma banda que mescla muito dos anos 90, com a cena de rock alternativo contemporâneo, tudo isso regado a boas composições em português.

Cheio de guitarradas, dedilhados e progressões, baixo pegado e com bateria cheia de viradas, o som consegue te transportar para este rico universo criado pela banda.

Ou seja, nada mal para um EP de estreia.

No fim do ano passado, o conjunto assinou com o selo Angorá, e o sonho de gravar o primeiro disco começou a ganhar asas. O que resultou na gravação do álbum, Conflitos Crônicos Em Primeira Pessoa (2015), que foi lançado no último mês de Maio.


Ao ouvir o disco, Conflitos Crônicos Em Primeira Pessoa (2015), decidi fazer uma resenha faixa a faixa com as minhas primeiras impressões ao ouví-lo.

O disco já começa quente com o single ”Palhaços”, o qual brinca com o universo divertido circense, mas com vários anticlímax, dignos da dramaturgia. Vale lembrar que a faixa foi regravada do EP Vex em uma versão ainda melhor. Muito bom ver quando bandas conseguem fazer releituras de seu próprio som autoral e conseguirem superá-las. Fica então a expectativa de ver como conseguem traduzir tudo isso ao vivo.

A segunda faixa, ”Anormal”, começa com uma levada hardcore mas conforme progride consegue mostrar em seus riffs um pouco do Stoner Rock de bandas como Black Sabbath e Queens Of Stone Age. Uma boa combinação.

Já a em sequência, ”Visceral”, tem potêncial pop de tocar em rádio. Mas se engana quem pensa que isto a faça inofensiva ou sem aquele lado escrachado rock’n’roll. Pelo contrário, mantém a pegada cheia de progressões rockeiras, e brinca com o rock ”Kinsellesco” e de bandas como Rx Bandits.

Com um tom mais politizado, ”Simulacro”, procura mostrar a individualidade do ser em questão ao mundo que te rodeia, suas escolhas e o peso delas. Letra boa, lembra um pouco aquele engajamento poético de bandas como Dead Fish.

Em seguida, a faixa ”Reflexo”, serve como anticlímax ao peso das canções anteriores. Uma versão acústica provavelmente daria um bom b-side. Cheia de melodia e intimista, a música tem um teor um pouco mais emotivo.

A sexta canção, ”Á Deriva”, te transporta para outra atmosfera. Em uma composição embriagada pelo desespero da alma, ela consegue conversar com seu ”eu interior”, durante as situações da vida onde tudo que se quer é desistir de tudo, porém sempre há uma saída.

Passada a calmaria, ”Mal Necessário”, já começa pesada e com baixo comendo tudo. O nível de embriaguez poética desta canção, é mais no sentido de refutar por algo que já foi, a sensação de querer se libertar de algo que está sufocando a sua alma.


A sequência de ”Á Deriva” com ”Mal Necessário”, consegue mostrar as dualidades do ser humano na questão de sentimental ao lidar com alguma perda significativa em sua vida.


O oitavo som, ”Contra-Ataque”, te puxa para o lado Stoner mais uma vez, guitarradas ganham destaque também nos riffs e tem uma levada de Strokes em sua base. Uma salada rockeira dos anos 90/00, aliada a uma composição rebelde. Impressiona a quantidade de referências boas que você pode sentir ao ouví-la.

”Monólogo”, é como o nome diz: Uma Discussão de relação com a alma. Os conflito internos ganham ainda mais peso e ficam ainda mais explícitos nessa composição. A parte instrumental também é motivo para se destacar nesta faixa, visto que é bastante técnica nos dedilhados, e a progressão para a catarse é natural e bastante sensível, alinhada a melodia.

A décima faixa, ”Interlúdio”, diáloga com a anterior. Bastante intimista, a canção retrata o campo de aceitação a um nível ainda mais profundo. Como se a alma tentasse lidar melhor com o fim.

Assim abrindo alas para a música que fecha o disco: ”Cinza”. Fecha com uma visão mais otimista, mostrando a capacidade do ser humano se reerguer. Mostra como todos os traumas e aprendizados, podem contribuir para ver oportunidades e enxergar a felicidade no futuro. A música termina com uma rica jam progressiva e fecha o disco com chave de ouro.

A experiência de ouvir ao álbum Conflitos Crônicos em Primeira Pessoa (2015), é semelhante a de ler um livro. Soa como uma autobiografia como o próprio nome diz. A vida sendo observada em sua dualidade de vitórias e conflitos, o pessimismo mesclado ao otimismo, assim como os altos e baixos da vida. As composições são ricas e servem como um ”tapa na cara” de quem ainda em 2015, não acredita em boas letras de rock em português.

No campo instrumental, vemos uma mistura bastante rica, riffs pegados, baixo frenético, bateria redondinha. Progressões no momento certo, dedilhados pontuais e bastante harmonia.
Uma grata surpresa o som do Versus 3, já tinha ouvido falar da banda através de amigos mas nunca tinha dado a oportunidade de apertar o Play. E pelo visto apenas: Perdi tempo.


This post was published on 18 de agosto de 2015 7:06 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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