Afghan Whigs e o passeio pelos anos 90
Na semana marcada por vários protestos na capital paulista e greves no transporte público, estava agendada para a noite desta quinta-feira (22.05), o show do Afghan Whigs.
Que por pouco não foi Afghan ”Rains”. Trocadilho infame mas que diz muito sobre como estava a cidade nesta noite chuvosa e caótica. Durante o caminho, era fácil deparar-se com vários faróis apagados e uma chuva intermitente.
Com show quase colado no Sub Pop Festival e a banda pertencendo a mesma lendária gravadora fica difícil não fazer paralelos entre os dois eventos.
E o público fez bonito, mesmo abaixo de forte chuva compareceu em peso. Algo que no Sub Pop Festival durante boa parte do evento fez falta.
O clima nostálgico dos anos 90 era de fácil percepção. Se o show do Obits no Sub Pop Festival foi um passeio na história do punk rock norte-americano, este show foi um passeio na cena de rock alternativo dos anos 90.
Em alguns momentos o som flertava com o grunge, em outros com o rock altenativo, sem deixar o metal de lado e sem esquecer da música erudita. Nostalgia que não volta mas que durante 105 minutos deixou todo mundo com aquele sentimento.
O show não deve nada para mega-shows de estádio, doa a quem doer ouvir estas palavras mas em muitos momentos é do mesmo nível ou superior a concertos de gigantes do rock atual como: Queens Of The Stone Age e Foo Fighters.
A banda parece que não parou de tocar. O Afghan Whigs que fez uma pausa em 2001, voltou para poucos shows em 2006 e retornou em definitivo em 2011. No último mês de abril, o grupo lançou o disco ”Do To The Beast”, este que foi bem recebido pela crítica e pelos fãs.
A Banda composta por 6 músicos parece multiplicar-se no palco. Rick Nelson inclusive é multi-instrumentista e durante o show é possível vê-lo tocar: violino, teclado, violoncello e até mesmo chocalho. Super entrosada a banda é impecável e não comete erros. Parecem se divertir no palco fazendo uma série de duelo de guitarras.
Como disse anteriormente o show é um passeio pelo rock dos anos 90. Em muitos momentos rola um clima intimista, em outros o som é sujo e pesado. Nesse meio tempo acontecem diversas baladas que marcaram época e que ficaram perdidos no tempo.
Não fica difícil imaginar até o ”sério” Mark Lanegan pulando do meu lado e vibrando sem parar. O vocalista, Greg Dulli, uma hora assume o posto de show man, toca tambor revezando com a guitarra em uma canção e em outra toca teclado no tom de piano enquanto executa uma balada melancólica.
Mas como disse mesmo tendo esses momentos intimistas, teve pancadaria e agitação. O clima é tão transitório que em algumas músicas você percebe cavalgadas alá Metallica e em outras som rasgado e crú na melhor característica do Mudhoney.
Além de claro ter seus momentos ”semi-ópera rock”. O show surte como o efeito de calmantes após uma bebedeira seguida de pancadaria.
Mas o auge do show foi quando rolou a trinca catártica da sequência: ”Heaven On Their Minds”, ”Somethin’ Hot” e ”My Enemy”. A histeria foi generalizada e o Audio clube ficou pequeno. Durante a canção ”Somethin’Hot”, Dulli leva a mão a sua cintura e dá uma tímida ”rebolada” que causa risos na público.
Com o show se aproximando do fim, a banda fechou com a melancólica ”Faded”, agradeceu o público e se despediu.
É difícil não sair transtornado deste evento apoteótico. Fica difícil saber se acabou, onde está e principalmente conseguir descrever o que acabou de presenciar.
Setlist:
- Parked Outside
- Matamoros
- Fountain And Fairfax
- The Lottery
- Debonair
- We Two Parted/Dead Boy
- Turn On The Water
- Uptown Again
- Algiers
- Royal Cream
- I Am Fire/Tusk
- Gentleman
- It Kills
- Going To Town
- Join The Baptist
- Heaven On My Minds
- Somethin’Hot
- My Enemy
- Bulletproof
- Summer’s Kiss
- Faded