TucA viaja por galáxias distantes em "Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta"

 TucA viaja por galáxias distantes em  "Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta"

O underground brasileiro possuí uma imensidão de artistas indo na contra corrente das FM’s. E a maior prova disso é a fusão dos mais diversos estilos e gêneros que tem pipocado nos quatro cantos do país. Ser artista na maioria das vezes é respirar a música, o cinema, a literatura, a filosofia, os games, a poesia, a moda e o universo que eles bem entenderem.
Afinal somos o reflexo de tudo que temos em volta. Em uma era onde a internet nos traz uma quantidade de informações de maneira exponencial, nada como aproveitar e transgredir os limites do tempo e espaço.
Tendo tudo isso em mente de maneira natural, Dellani Lima, em 2013 iniciou sua jornada solo com seu projeto para lá de experimental, TucA.

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TucA é o resultado dos devaneios poéticos de Dellani Lima. – Foto: Ana Moravi

Natural de Campina Grande (PB), Dellani busca mostrar toda sua inquietação proveniente de sua curiosidade em explorar diferentes camadas e estilos musicais. E logo de cara você sem ouvir já leva um susto com a genial descrição que faz de seu som:
“As letras são críticas ao mundo contemporâneo. Pequenas crônicas, prosas e poemas compõem o álbum, transitando entre o naturalismo do cotidiano e o absurdo poético da ficção científica. Um faroeste urbano cyberpunk.
Um álbum de tropycalwave cheio de influências musicais, desde as antigas referências do synthpop, da ambient music, do trip hop, do spoken word, da poesia marginal brasileira, do tropicalismo e da vanguarda paulistana, às contemporâneas do cloud rap, do glo-fi e do vaporwave.”
Troycalwave? Misturar trip hop com tropicalismo? Cloud Rap com vaporwave? glo-fi? Pois é, com tanta referência que em primeira instância causa um natural estranhamento você fica curioso tanto para ouvir o resultado quanto para conversar com a alma por trás do projeto.
E não pensei que Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta (2016) é a primeira epopeia musical que Dellani embarca. É a sua quarta good trip em pouco mais de 3 anos de TucA. Antes disso foram lançados: Curioso (2013), Psiconauta (2014) e Sem Coração (2015).
E talvez o mais bacana seja que você logo nota que não é apenas alguém completamente viciado em música. Afinal de contas a arte da escrita é um dos pontos mais fortes. Suas letras soam como crítica social, deboche, prosa, ficção científica, informação e através de inquietude e provocação conseguem fazer informações de universos distintos entrarem em convergência. Por isso antes de qualquer pré-julgamento espero que ouçam tentando observar cada detalhe curioso que cada faixa transparece.


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O álbum também marca sua primeira obra sem participações especiais nos vocais. Em algumas faixas Alex Pix (baixo) e Lacerda, Jr (guitarra) dão aquele toque especial para conseguir o resultado almejado por Dellani nas canções.
Com sintetizadores a primeira faixa “Contemporâneo” traz elementos de Trip Hop/synth pop combinados com uma guitarra venenosa cheia de groovies do funk. Os beats eletrônicos deixam uma tensão sinistra e uma certa ansiedade pairando no ar.
Algo que reflete na poesia irônica e vanguardista – errante – da faixa. A antítese do agir ou ficar parado faz uma dicotomia através de versos que te deixam inseguro. Se vermos pelo lado do consumismo x viver em uma grande metrópole conseguimos ver a crítica ao bombardeio de informações e cobranças que este ambiente nos traz. Seria um cruzamento do som 80’s Manchester com o Massive Attack e a poesia provocativa da geração de 22.
Já “Se você fosse um alquimista” já usa o recurso dos samples sem o menor pudor. Como o músico conta, o cloud rap é uma das suas referências e isso deixa o tom mais ríspido e energético. Quem for chegado na levada do trap vai se aventurar tranquilamente pela faixa que ecoa o som de um celular repetido por inúmeras vezes. A guitarra derrete como o brit pop/rock alternativo do Stone Roses, é uma canção que perturba conforme sua evolução.
A música é de certa forma macabra e conta o reflexo de uma viagem para outro horizonte. O lado Science Fiction ganha ares de criação em tentar transformar a realidade. O recurso de adicionar metáforas e metonimias é explorado em abundância na faixa que descreve o universo a sua volta. Um sonho ou roteiro de filme Sci-Fi? Talvez um pouco dos dois.
“Não solte os cachorros” já chega com o som erudito dos violinos mesclado ao sinths e trás trompetes alá Screamadelica (1991) do Primal Scream. Sabe a perturbação do hip hop transtornado do Death Grips? Até isso você encontra nessa faixa que pulsa a globalização. A parte melódica dos vocais me lembra a narrativa da canção “Veronika Robótika” dos new wavers da Der Baum.
A letra traz a raiva dos becos, os conflitos dos bairros através da força dos “justiceiros”. A impunidade que muitas vezes é vista a céu aberto se reflete no comportamento neandertal destes seres. A população por sua vez tem medo de sair na rua e ver o ódio enraizado a cada esquina. É punk pois denuncia a insegurança de um subúrbio qualquer, onde cabeças rolam a troco de pequenos desentendimentos.

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Som cyberpunk hop poético do TucA chama a atenção pela riqueza de elementos. – Foto: André Amparo

Com uma levada mais ambient music e um teclado inter galático, “Vendaval” nos abduz para outra galáxia. A solidão é o tema central, e o sistema solar e seus “fenômenos” são utilizados para justificar a dureza que o sentimento tão humano da saudade nos dá.
Já “Toda Carne É Viva” dilacera e joga na cara do ouvinte graves problemas do mundo. Mostra o retrato de um mundo caótico, podre e doente que respira por meio de aparelhos. É o Hit Perdido do disco e consegue através dos sons ambientes e da vaporwave jogar temas pesados.
É áspera, toca em temas como corrupção, desastres ambientais, desunião, ódio, crises econômicas, consumismo. As famosas hard news que temos que assistir na TV todos os dias e nos acostumamos de maneira equivocada. Esses tipos de barbárie são tão comuns que somos neutralizados feito robôs a achar isso “normal”. É a idiotização humana. Nos sentimos tão independentes da mesma forma que estamos sendo controlados por intereses de grandes corporações. Até quando a globalização e estar sufocado de informação faz bem?
Desta forma perdemos um pouco da fé na humanidade e nos desacostumamos com gentileza, afeto e compaixão vira raridade. O fim do túnel parece ser intransponível e se calar muitas vezes é um atestado de óbito. Bom, estamos a um fim de semana das eleições se está faixa ecoar na sua cabeça quem sabe você exerça de maneira consciênte sua cidadania para localmente tentar mudar o velho mundo podre que recebemos.
O oldies do funk/blues e o rock setentista ganham mais força que a música eletrônica em “Selva de Pedra”. Até diria que o espírito Motown ganha ares do synth pop com elegância e rimas típicas do rap. Como o próprio nome já diz, a canção cai matando na crítica a qualidade péssima de vida das grandes metrópoles brasileiras. Denuncia através de metáforas com animais, a fragilidade das relações pessoais em uma sociedade onde não existe meritocracia.
Em “Um Dia de cada vez” a veia tropical enfim transparece, a psicodelia ganha território e a ambientação fica ainda mais flutuante. Os lampejos de surf music deixam suas camadas ainda mais insinuantes. A canção é sobre a jornada da vida em que erramos o tempo todo e podemos corrigir a qualquer momento. Temos que ter a consciência que nada como um dia após o outro e mirar nos nossos sonhos.
A música que ganhou clipe produzido pelo próprio Dellani durante uma viagem pela rodovia Imigrantes (São Paulo), mostra imagens em looping de túneis para martelar a mensagem da canção de maneira reflexiva.

“Quando Se Lê O Jornal Pela Manhã” tem uma levada folk music, parece misturar ritmos como o Flamenco através de uma espécie de bandolim frenético e a simplicidade das guitarradas do rock do The Clash. Chega até a me remeter ao som do Gipsy Kings, porém com loopings, samples e artifícios da e-music. O ritmo da bateria me lembra um pouco a levada do Jazz inclusive. É uma miscelânea rica e cheia de detalhes a serem observados a cada audição.
Nos anos 70 o Kraftwerk chacoalhou o mundo com a nova proposta sonora que era o que hoje conhecemos como a música eletrônica. Algo entorno de 25 anos depois surgia na França uma dupla que transformou essas influências em algo ainda mais irreverente  e claro dançante. Era o Daft Punk. Lá no ano de 1997 eles lançaram um disco divisor de águas na carreira do nobre duo, Homework.
A fusão dessas influências tão revolucionárias seria uma boa maneira de descrever a hipnotizante “Coração de Plástico Imperfeito” que ainda trás samples do hip hop e a trip hop. O vocal robotizado te faz viajar pelos clipes animados do Daft Punk. O consumo é criticado mais uma vez por Dellani que deixa claro que nossos dias de lucidez estão contados.
Os ritmos caribenhos ganham forma através da lambada de “Máquina de Movimento Perpétuo”. Assim como um reggaeton o ritmo dá todo o tom da batida e toma conta da canção. A tal da máquina seria o coração, e os sentimentos seriam de certa forma “otimizados” para funcionar no automático.
Com groovie até o último segundo, loopings do soul e guitarradas secas do ska: “Desfragmentação” poderia ter sido composta no auge criativo dos anos 70/80 de Nova Iorque. O fim de uma relação é descrito de maneira rápida e dolorosa.
Para fechar Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta TucA volta a viajar por ondas eletromagnéticas em “Viajante Das Estrelas”. O Sci-Fi e os filmes B são explorados tanto na sonoridade como na crônica. Experiências alienígenas e transcendentais são descritas e a conexão com um viajante de outra galáxia vem em choque com suas crenças. A partir disso ele analisa, descreve e critica o mundo em que vivemos. Um pouco antes do fim Dellani deixa uma mensagem para o ouvinte:
“…esperamos que essa transmissão chegue a tempo para nossos próximos amados e desconhecidos ou para nós mesmos em alguma realidade paralela. A vida é deliciosa e amarga, é suave e dolorosa. Antes que seja tarde demais: não desista, apenas viva…”
Acredito que o ar de humanidade e de querer provocar transformações em um mundo podre e hostil, onde as relações pessoais são cada vez mais “desfragmentadas”,  faz do quarto álbum do TucA uma experiência proveitosa. Pensemos que no meio de todo o caos e indignação existe arte e uma visão positiva. E sim, nós podemos de pouco em pouco tentar deixar esse local mais agradável. Da mesma forma que somos bombardeados por notícias ruins e temos que procurar refúgios em outras dimensões, podemos encarar a dureza da vida de frente e jamais desistir de viver nossos sonhos.
As camadas sonoras que abusam dos mais diversos ritmos só mostram o poder da globalização e internet sendo explorada de uma maneira positiva. Hoje em dia é tão fácil em questão de poucos cliques se tornar expert em trip hop ou conhecer mais sobre os artistas eruditos da velha União Soviética. Ou então navegar pelas ondas das novas modas como chillwave e vaporwave e enxergar um oceano de novas possibilidades criativas. Dellani faz isso a sua maneira e a cada novo trabalho incorpora mais elementos e ideias que observa da cultura pop mundial.
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[Hits Perdidos] Como surgiu o TucA Webb e porque a escolha do nome?

Dellani Lima: “Tuca é meu apelido de infância, que vem com o mundo mesmo e que a gente leva pra vida. Já o projeto musical solo veio da necessidade de fazer outras experiências sonoras, além das que já venho realizando nas bandas que produzo e faço parte, como a Madame Rrose Sélavy. O Webb veio junto com a idéia, porque uso demais a Internet, tanto para a criação, como para as parcerias inventivas, como para divulgar os trabalhos e as ações. A sonoridade também tem muito haver com a escolha. Mas até hoje só assinei como TucA mesmo.”

[Hits Perdidos] Você identifica o som como “Tropycalwave”. De onde vem o rótulo?

Dellani Lima: “Na real eu nomeei essa experiência assim porque os timbres e as referências sonoras que usei na concepção do álbum são muito heterogêneas e se misturam num hibridismo experimental típico dos nossos trópicos. Muito haver com a influência antropofágica e tropicalista que tenho em quase todos os meus projetos artísticos.
Mas é só um nome, nada demais. Uma forma talvez de aproximar o ouvinte da experimentação sonora e conceitual do álbum. A essência das coisas é anterior ao nome delas, tudo vem dos antepassados e se misturam nos nossos tempos. Só reinventamos por cima do que já foi criado. Como se rabiscássemos sobre rabiscos, um ciclo infinito de rasuras numa memória coletiva atemporal.”

[Hits Perdidos] O som do mais recente lançamento, Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta, tem influências de synthpop, ambient music, trip hop, spoken word, poesia marginal, passando pela tropicália e vanguarda paulistana. Além disso citam como soma no leque o cloud rap, o glo-fi e vaporwave.

Como funciona essa fusão única na hora da composição?

Dellani Lima: “Acho que tudo vem antes do ato de criar. Eu gosto de muitas sonoridades e referências artísticas (cinema, videoarte, performance, teatro, artes plásticas, quadrinhos), isso influencia muito o processo criativo. Não tenho preconceitos, gosto de música, ou melhor, qualquer arte que seja feita com uma verdade no interior delas. Não importa se é uma música bem elaborada tecnicamente ou se é sofisticadamente artesanal.

Se é o ritmo do momento ou se é algo eletrizante que ficou para trás. O que importa é o conceito e aquela vontade grande de falar o que se tem pra dizer naquele momento, do jeito que tinha pra se expressar, com urgência ou paciência. Cada um do seu jeito, do seu modo de ser. Acredito em muitas verdades e sou cheio de incertezas.”

[Hits Perdidos] A temática da natureza e destruição humana são temas fundamentais ao longo do disco. Como observa o que tem acontecido com o mundo?

Dellani Lima: “Cada vez mais num mundo de incertezas, eu vago numa poesia de impurezas. Só acredito em micro-políticas, em pequenas ações reais, afetivas em todos os sentidos. E nesse clima hostil e sem horizontes que vivemos atualmente, não só no Brasil, como no mundo, o importante é resistir, de qualquer forma, com o que se tem, com o que se pode, primeiramente na vida e depois na arte e todas as suas extensões, como a própria vida. Tentar viver o oposto dessa hostilidade e intolerância contemporânea, compreender o outro, as diferenças, as adversidades do cotidiano, que é aparentemente simples, mas cheio de complexidades. Realmente experimentar outras alternativas de vivência e não de sobrevivência.”

[Hits Perdidos] O que vem antes no processo de composição, os poemas ou os beats?

Dellani Lima: “Cada música teve seu processo. Na maioria das vezes veio primeiro o conceito, juntamente com as poesias. Mas numa ou noutra canção veio primeiro a melodia.”

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Dellani há pouco tempo está erradicado em São Paulo. Foto: Rodrigo Valente

[Hits Perdidos] Quais as principais influências do projeto?

Dellani Lima: “Musicalmente tenho muitas referências, mas principalmente do que eu chamo de pop experimental:  Itamar Assumpção, Walter Franco, Arrigo Barnabé, Sexo Explicito, Patife Band, Smack, Black Future, Akira S & as Garotas Que Erraram, Mulheres Negras, Fellini, Karnak, Tom Zé, Maurício Pereira, Arnaldo Antunes, Kraftwerk, Nick Cave, Tom Waits, Pavement, Morphine, The Big Boys, PiL, The Clash, entre outros. Também tenho bastante influência da poesia marginal brasileira como os “malditos” Cacaso, Paulo Leminski, Waly Salomão, Torquato Neto e Ana Cristina Cesar. Nesse álbum (Multiversos…) eu flertei muito com a produção musical do rapper Bones e do coletivo TeamSESH, Death Grips, entre outros artistas do hip hop experimental.”

[Hits Perdidos] Como as colaborações do baixista (Alex Pix) e Lacerda Jr. (guitarra) contribuíram para o resultado final?

Dellani Lima: “Os dois são meus amigos e parceiros de estrada, há anos fazemos muitas coisas juntos, principalmente na Madame Rrose Sélavy. Achei umas sobras de gravações anteriores, de projetos antigos e acabei criando uns loops pra algumas músicas do álbum. Gosto muito da participação dos dois nos projetos, sempre que podemos criamos colaborativamente.”

[Hits Perdidos] Como tem sido a receptividade ao novo lançamento e o circuito de shows?

Dellani Lima: “O lançamento do álbum é bem recente, mas já tivemos uma boa receptividade para a nova experiência musical proposta. Sobre shows, o projeto não surgiu ou pensou em se tornar uma proposta artística com apresentações. Mudei recentemente para São Paulo, isso também dificultou pensar nisso ou montar uma banda para shows. Mas tudo está no caminho para se tornar uma possibilidade. Sem prazo ainda para ser realizada.”

[Hits Perdidos] Como vê o cenário de BH e como é a relação com ele?

Dellani Lima: “A cena musical de BH é muito efervescente e plural. São muitas bandas e músicos, desde projetos experimentais aos mais comportados dos gêneros. Dentro dessa pluralidade eu trânsito muito bem em vários grupos, como colaborador em ações coletivas, músicas, videoclipes e também como espectador e ouvinte.
Tenho vários parceiros de composição, como o Thiago Machado, vulgo Porquinho (UDR, Grupo Porco, Fadarobocoptubarão, Fodastic Brenfers). Recentemente tive colaborações de Daniel Nunes (Constantina, Lise), Sara Não Tem Nome, Ana Mo (Madame Rrose Sélavy), Luiza Brina (Graveola e o Lixo Polifônico, O Liquidificador), Henrique Roscoe (VJ Impar), Kícila Sá (Ü, Kiatu, Far Side), Fabiano Fonseca, Nathalia Duarte e Brisa Marques.
Já fiz outras parcerias em outros projetos. Também acompanho e gosto de muita coisa da cena: a geração perdida, os projetos musicais do Porquinho e do Miguel Javaral, Barulhista, Vitor Brauer, Francesco Napoli, Sara, Aji Panca, Logro, Abu, Ereção de Elefante, The Innernettes, Valsa Binária, Sozinho, Tricomma, Carmen Fen, Sentidor, entre tantos que estão de férias e outros que virão.”

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Tuca por Aloysio Raulino.

[Hits Perdidos] “Selva de Pedra” traz a força do rap, o groovy do funk/soul/blues, trompetes alá jazz e beats sinth pop. Uma atmosfera como se Mano Brown encontrasse o Primal Scream nos anos 90. Como foi o processo criativo dessa faixa?

Dellani Lima: “A ideia da música era fazer uma analogia do ser urbano com os bichos que sobrevivem na cidade. Tive a inspiração de uma série de animação chamada “Animals”. Musicalmente a canção teria que ter esse clima debochado, como a letra. Daí pensei no funk. Alguns timbres eu escolhi por lembrarem certos bichos citados na música, como o trompete e a guitarra que soam como insetos. O baixo também tem uma certa malícia desses “animais”.”

[Hits Perdidos] As letras são fundamentais no som. Consigo ver uma carga forte de sentimentos sobre diversos temas globais. Comente o tema de algumas faixas e sua significância.

Dellani Lima: “Na verdade o álbum todo é a tentativa de narrar a história de um poeta extraterrestre, que desencantado com a vida em seu planeta, decide ser um explorador de universos. Daí ele descreve um pouco de suas desilusões, dos motivos de sua partida e de suas viagens por multiversos. Uma forma que encontrei de misturar poesia, crônica e narrativa numa canção.
O desencanto e a resistência são temas recorrentes nas letras, que se contrapõem num clima de futuro distópico com faroeste urbano. Reafirmo que foi uma tentativa. Talvez a experiência tenha ficado numa camada do processo ou em rasuras do álbum, mas em algum momento, certas canções tomaram seus próprios rumos.”

[Hits Perdidos] Como vê a evolução de “Multiversos ou Disco de Artista ou Música de Poeta” para os trabalhos anteriores?

Dellani Lima: “Esse álbum é mais eletrônico e mais solitário também. Não convidei ninguém para compor junto, nem mesmo para participar dos vocais femininos como nos álbuns anteriores. Acho que foi uma opção que resolvi arriscar. Para diferenciar cada vez mais dos outros projetos que participo.
Tem aquela coisa da produção se viabilizar com mais urgência. O clima no país está tenso e senti essa necessidade de algo mais imediato, talvez fosse a hora de experimentar algo diferente, como cantar sozinho. Provavelmente nos próximos álbuns eu misture as experiências anteriores com esse novo trajeto. Serei mais experimental também. Ano que vem o projeto fará seus cinco anos, daí quero preparar algo especial para comemorar a resistência.”

[Hits Perdidos] Quais discos fundamentais para a existência do TucA?

Dellani Lima: “Entre tantos discos de todas as minhas influências já citadas anteriormente, vou fazer uma lista dos dez principais: “Pretobrás” do Itamar Assumpção, “Estudando o Samba” do Tom Zé, “Clara Crocodilo” do Arrigo Barnabé, “Cabeça Dinossauro” do Titãs, “Amor Louco” do Fellini, “Revolver” do Walter Franco, “Corredor Polonês” do Patife Band, “Da Lama ao Caos” do Chico Science & Nação Zumbi, “Radio-Aktivität” do Kraftwerk e o “Sandinista!” do The Clash.”

[Hits Perdidos] Quais artistas e bandas recomendaria para os leitores do Hits Perdidos?

Dellani Lima: “Lê Almeida, Jair Naves, Jonnata Doll e os Garotos Solventes, Carne Doce, Daniel Groove, Cidadão Instigado, Verónica Decide Morrer, Rafael Castro, Metá Metá, Tatá Aeroplano, Xóõ, Astronauta Pingüim, Mundo Livre S/A, os projetos do Adriano Cintra (CSS, Caxabaxa, Madrid, …), The Make-Up, Neu!, The Residents, Can, The Rapture, Jay Reatard, Metronomy, LCD Soundsystem, além dos nomes que citei durante a entrevista.”

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