[Premiere] Pregando o “deboísmo”, Drápula diverte em terceiro EP

 [Premiere] Pregando o “deboísmo”, Drápula diverte em terceiro EP

Com os nervos à flor da pele, seja com a situação política ou por conta da euforia da Copa do Mundo (que estreia hoje com o animador: Rússia x Arábia Saudita), o que mais tenho ouvido são discos com muito sentimento e ar de tensão.

Principalmente por parte dos discos de rock. Sei que é urgente falar sobre ansiedade, depressão, pressão do dia-a-dia e expectativas mas é legal também trazer um viés um pouco mais relaxado em meio a todo esse cenário de incertezas e inseguranças.

Não da para se alienar também ou ter otimismo com os tempos que temos vivido mas as vezes um pouco de esperança e piadas leves podem sim nos ajudar a entrar nos eixos. A proposta do Drápula vai na direção de dialogar com os jovens e brinca com as mais diversas situações corriqueiras do dia-a-dia.


drapula bolas
Drápula. – Foto: Reprodução vídeo

A banda de Niterói conta em sua formação com Pinx, Buggy, Donuts e Tang. Buggy atualmente mora em Boston (EUA) e por essa razão ele realiza suas gravações a distância e toca com a banda quando vem ao país.

Uma curiosidade muito divertida vem por parte da origem do nome da banda que vem da brincadeira de falar Conde Drácula errado. Só que mais tarde eles afirmam ter descoberto que é uma palavra em romeno, que significa “vampiro que transa muito”. Se é verídica a informação ou não com toda a certeza fez com que eu desse boas e sinceras gargalhadas.

Em seu som eles abraçam diversas influências, do pop passando pela psicodelia, MPB, anos 80, rock alternativo e até mesmo das “ondas das AMS/FMS dos elevadô”. Com a internet, claro, tudo ficou mais fácil e a transição de estilos vai fazendo com que acumulemos sim uma bagagem musical que não teríamos a oportunidade de acumular em uma só vida.

Eles nos últimos tempos estavam no meio de um processo. Afinal de contas traçaram a meta de lançar uma trilogia de EPS, e enfim chega a hora de lançar a terceira parte, Vol. III.

É divertido pois nos três volumes as influências que eles citam acabam de fato se complementando e chegando ao ouvinte com certa naturalidade. São bastante diversas como Ariel Pink, Lulu Santos, The Growlers, Jorge Ben, Mac Demarco, Mutantes e movimentos como o Clube da Esquina, Jovem Guarda e o Tropicalismo.

Mas o universo deles não se restringe a isso, eles passeiam por assuntos do dia-a-dia como filmes, redes sociais, ficção científica, séries, literatura e passagens leves da vida. Sabe por mais que eles dialoguem com os millennials, não é muito diferente de como os adolescentes dos anos 90 viam a cultura pop, os quadrinhos, os programas de TV e videogames.

O que muda é mais as possibilidades e interação num curto período do tempo. Afinal de contas, os jovens ainda passam pelos mesmos dilemas e baques fundamentais para o amadurecimento.

Drápula – Vol. III (14/06/2018)

A produção e gravação do EP foram feitas pela própria banda, já a masterização foi realizada por Thiago Fernandes. Cada uma das faixas tem sua própria identidade e consigo notar que a sequência em si da ordem não faria tanta diferença em si se trocada.



Com o espírito de honolulu, “Campeão Do Boliche”, abre o disco de maneira debochada e “deboísta”. Podia ser até a trilha sonora para o filme The Big Lebowski (1998), como se encarnasse o espírito bon vivant de Jeff Lebowski.

Ele não quer dor de cabeça, não quer ser “Nobody’s Hero” e até admite que quer mesmo é ficar na boa curtindo os filmes da tela quente enquanto bate aquela larica esperta da “madruga”. O fim da canção parece até fazer homenagem ao Keyboard Cat (Ah, os memes!).

A segunda canção do EP é emblemática dentro da discografia do Drápula pois fala justamente sobre a boate onde a banda surgiu. Já dissemos que a banda tem uma preocupação forte com o apelo visual, o mesmo se dá com o tom descritivo de “Jorge Ben”.

A faixa feito um filme em câmera V8 nos leva para um fim de semana qualquer na boate mas enriquece com os detalhes aleatórios da noite. Desde o barulho da fila, aos diálogos  sobre as obras de Fellini e Pac Man, as doses de cerveja e aquela azaração que não saiu bem como o planejado.

O tom blasè também nos mostra que o “rolê” era de fato alternativo e démodé mas de qualquer forma fica no seu imaginário. Visualmente um videoclipe cairia bem se souber brincar com cada cena descrita de maneira debochada.

“Música Rápida” é por horas powerpop e em outras um punk rock tocado com vontade. Com o mesmo ar de deboche de bandas como The Dwarves. Até nisso subverte pois a canção é uma versão acelerada de “Música Lenta” do primeiro EP, além disso a faixa canta com a participação da Hoço. Sua letra parece um trágico filme Sci-Fi onde tudo deu errado e as máquinas pararam de funcionar. No melhor estilo pastelão.

A mais “diferentona” do EP é “3AM” devido a sua experimentação eletrônica. Aliás muitas bandas de rock tem se arriscado por este caminho recentemente. Não adianta, eletrônica e hip hop tem estado a cada dia mais presentes nas playlists de todos. Gosto muito do compasso e da linha de percussão que se destacam entre os acordes lentos e gingado. Agora é aquecer para a Copa que domingo tem jogo (e a trilha a gente já tem!)


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Vol. III do Drápula vem para deixar o clima leve em dia de estreia de Copa do Mundo. Através de canções que falam sobre passatempos, “deboísmo”, filmes cult, ficção científica e a noite fluminense, eles vem para divertir com versos descontraídos e diversidade no repertório de influências. Em tempos de registros pesados e raivosos, o  EP vem para “quebrar o gelo”. Irá agradar a fãs de powerpop, psicodelia, tropicalismo e porque não: punk rock. Tudo muito açucarado e pronto para a apreciação. Servidos?

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