O’Brother: o peso e o ciclo natural da vida de “You and I”

 O’Brother: o peso e o ciclo natural da vida de “You and I”

Diversas bandas chegam ao nosso conhecimento por indicações de amigos, conhecidos, sites e até bandas que já gostamos. O O’Brother é exemplo de uma das diversas indicações que recebi nos últimos anos, além de ter tido a oportunidade de ter assistido ao vivo.  

A banda de Atlanta, na Georgia, lança seu quarto álbum de estúdio You and I nesta sexta-feira (08/05). Aproveitando isso conversei um pouco com o Antonbaixista do O’Brother – que descreve um pouco mais sobre cada faixa do disco, comenta sobre a parceria com Simon Neil do Biffy Clyro, entre outros assuntos. 

O’Brother


O'Brother You And I 2020
O’BrotherFoto por Kayla Surico

O’Brother navega entre o rock alternativo e post-hardcore, tem como influência bandas como Sigur RósMogwaiMassive Attack, Nine Inch Nails, Isis, Converge, Harvey Milk, Radiohead, entre outras.

O quinteto é formado por Tanner Merritt (voz e guitarra), Johnny Dang (guitarra), Michael Martens (bateria), Anton Dang (baixo) e Jordan McGhin (guitarra).

O O’Brother  tem um vasto repertório que inclui 3 EPS – In Comparison to Me (2006), The Death of Day (2009) e Basement Window (2012). Além de 3 álbuns de estúdio – Garden Window (2011), Disillusion (2013) e Endless Light (2016), além de uma session para a Audiotree em 2017 onde toca seis canções do álbum Endless Light.

Faixa a Faixa: “You and I” por Anton (O’Brother)

You and I (Introdução) 

“No melhor estilo O’Brother, existe uma faixa de introdução. Todo disco do O’Brother começou com uma faixa de introdução, onde é uma música real, mas ao mesmo tempo não é. Eu (Anton) acho que define bem o clima e o tom deste álbum. Tanner teve 3 ou 4 demos diferentes da mesma ideia melódica, todos com vibrações diferentes. A ideia original era intercalá-los ao longo do registro, mas optou por colocá-los no início e no final em um ciclo contínuo.”

Soma 

O loop de bateria de “Soma” foi um dos primeiros loops que eu (Anton) escrevi depois de obter uma bateria analógica. Percorremos esse loop na pedaleira de Johnny para reverberação e auto-oscilação. Jordan adicionou essa faixa digital de violino que soa como um som de sirene do tipo “fim do mundo” e o riff principal da guitarra.

A coisa toda tinha uma vibe de filme de terror quase desconfortável. Enquanto todos pensávamos que o loop era super legal, ele ficou sozinho por mais de um ano, porque não tínhamos ideia de como incorporá-lo a uma música.

Na pré produção, sabíamos que precisávamos de outra parte, Tanner começou a passar pelas demos do iPhone para procurar por pepitas. Ele encontrou um intitulado “Halogen Eye”, que é outra música do disco.

Aparentemente, ele usou a mesma linha em duas demos completamente diferentes, então pegamos os acordes e a melodia do refrão da outra versão para “Soma”. Nesta música, você ouvirá todos os novos elementos que adicionamos; amostras de bateria, sintetizadores e violão clássico. Prepare-se porque você está em uma jornada sônica! 

Halogen Eye 

Tanner começou a escrever essa música há quase quatro anos. Ele tinha um verso e refrão e fez uma demo que a banda não foi completamente satisfeita. Tentamos organizar ideias algumas vezes, mas não encaixava.

No entanto, fiquei realmente feliz por Tanner continuar insistindo nessa música, ela chegou ao pré-produção e, enquanto Michael e eu estávamos descobrindo o refrão no estúdio, tudo se encaixou e a música fez sentido.

Acontece que o que Michael e eu adicionamos tinha uma vibe pesada à la Biffy Clyro e, felizmente, o nosso bom amigo Simon Neil (Biffy Clyro) teve a gentileza de emprestar sua voz e algumas linhas de guitarra. Essa música passou de quase ser cortada para quase se tornar uma faixa-título. 

Slipping 

Eu toco baixo mas sou um péssimo guitarrista. Decidi há alguns anos que queria comprar uma guitarra, praticar e escrever mais. O riff de abertura foi um dos primeiros que escrevi. Definitivamente, esse aqui tem uma vibe mais relaxante e a parte final conta com a participação de um dos nossos vocalista favoritos, Jesse Coppenbarger (Colour Revolt / El Obo).

Locus 

Esta é a única música que escrevemos com a banda inteira reunida em uma sala. Alugamos uma cabine nas montanhas por um fim de semana. Depois de nos instalarmos e montarmos alguns instrumentos e equipamentos de gravação, nos apertamos o REC e essa música nasceu.

Michael estava planejando a sessão, Tanner estava tocando teclado e cantando, Jordan estava fazendo backing vocals e tocando cordas digitais em seu telefone, eu tocava a bateria enquanto Johnny controlava os efeitos da bateria em sua pedaleira. Todas as mudanças de efeito que você ouve no loop foram feitas em tempo real.  

Only Other 

Jordan escreveu as linhas principais de guitarra (base) nessa canção. Ele estava aprendendo muitas linhas de guitarra clássica naquela época e isso realmente aparece nas progressões dos acordes. Quando ele estava demonstrando esta faixa, ele usou a boca para fazer muitos sons de bateria, acabamos mantendo o som original da caixa. Não tenho certeza qual foi sua principal influência nessa música, mas definitivamente tem uma levada meio Blonde Redhead.   

Killing Spree 

Esta foi outra faixa que escrevemos em nossa viagem na cabine. Na verdade, tínhamos nos dividido em dois mini-estúdios, um no andar de cima e outro no andar de baixo. Tanner tinha uma música acústica muito simples, originalmente pensada para a um projeto solo.

Decidimos tentar como uma música do O’Brother e Jordan e Johnny adicionaram esses belos trechos de guitarra clássica pulsantes. O irmão do nosso baterista Jamie (que estava nos ajudando a projetar as sessões na cabine) tocou a batida eletrônica no trecho final e nosso amigo Rob Hardie colocou esses conjuntos de acordes de sintetizador sobre ele. Imediatamente tornou-se muito O’Brother e mais do que eu jamais pensei que poderia ter sido. 

Black Tide 

Johnny escreveu este ameaçador riff de abertura. É tão desconcertante e desconfortável, eu adoro isso. Estávamos indo para uma parte dissonante da guitarra de Portishead indo de encontro com as guitarras da Young Widows. Caprichamos nos samples de bateria nesta faixa também. O final acabou sendo direta e reta, um tanto (Led) Zeppeliniana. Essa faixa talvez seja a única no álbum, além de “Halogen Eye”, que pode ser considerada uma música de “rock”. 

What We’ve Lost 

Essa música começou com uma batida de bateria. Michael colocou alguns grooves de bateria em nossa pasta demo compartilhada e a primeira vez que Tanner ouviu esse groove principal, ele imediatamente ouviu um padrão de toque rítmico e escreveu os acordes na bateria.

Além disso, a música é dividida em três movimentos completamente diferentes, com vibrações diferentes. É como se o Blonde Redhead escrevesse a primeira metade e o Nine Inch Nails o final.   

Spill on the Carpet 

A progressão de acordes para essa nasceu da sessão na cabine, como mencionado anteriormente. Era um fim de semana chuvoso nas montanhas e Johnny escreveu originalmente lá fora, na varanda protegida onde a chuva era o pano de fundo.

Foi acrescentando tanta profundidade e textura que a parte da guitarra clássica e a chuva andam de mãos dadas. Essa é outra faixa em que dependemos muito de cortar e mover peças no Protools. Eu sei que não mencionei muito Michael, nosso baterista, mas ele estava no comando da engenharia de tudo e desempenhou um grande papel no que diz respeito à produção e estruturas nos estágios iniciais deste álbum.

Eu amo a parte intermediária desta faixa, quando ela basicamente se transforma em uma música completamente diferente. Adoro o final também, tem três partes de bateria diferentes em camadas; um loop de bateria, um ritmo jazzístico legal e um ritmo percussivo tribal. 

Leave Me Out 

Como a maioria das músicas de Johnny, a progressão de acordes para esta é um tanto quanto repetitiva, mas mudamos lentamente adicionando camadas sutis para criar um drone sinfônico. Ele enviou a música para nós e Tanner imediatamente produziu duas partes vocais sobre ela e enviou de volta.

Lembro-me de ouvir pela primeira vez e sentir estar pronta; ainda quando era apenas guitarra e voz. Nós sabíamos que queríamos que a música aumentasse em algum momento, mas não percebemos o potencial de quão pesada ela poderia ficar até começarmos a gravar no estúdio. O final é provavelmente um dos mais pesados e sujos trechos que a nossa banda escreveu. 

You and I (Outro) 

Sempre terminamos um registro com algum tipo de sessão final, mas nunca um outro oficial. É a mesma progressão de acordes que a introdução, mas uma vibração diferente. O final dessa música é um loop perfeito, voltando à introdução, que é uma das coisas que o símbolo ouroboros na capa do álbum representa. Então ouça esse registro em loop! 

Entrevista: O’Brother

Já se passaram 4 anos desde o último lançamento de estúdio do O’Brother – Endless Light” (2016), e agora eles apresentam ao mundo seu mais novo disco “You and I” (lançado digitalmente para compra, além dos produtos de merchan, via Bandcamp em 1 de maio) – aproveitando isso conversamos com com o baixista Anton Dang, onde ele conta um pouco mais sobre o álbum.

“You and I” conta com a produção de Andy Hull e Robert McDowell, ambos do Manchester Orchestra. Foi gravado e mixado em Atlanta (GA) no Big Trouble por TJ Elias com engenharia adicional por Jamie Martens, masterização do disco da O’Brother por Dan Millice. 

Conceito e arte do Álbum


O’Brother 2020
Arte da capa de “You and I”

“You and I” era um tema que continuava aparecendo nas letras do vocalista Tanner Merritt. Ele havia originalmente escrito cerca de 4 faixas diferentes de interlúdio que tinham as mesmas letras e progressões de acordes, mas todas eram vibrações diferentes.

Íamos colocar esses interlúdios no disco, mas decidimos usá-lo apenas como introdução e outro. A progressão ou a incorporação dos diferentes instrumentos parece certa com o crescimento que o álbum apresenta. O tom de “You and I” faz com que percebamos que a banda teve o total controle de prazos, escrevendo o que gostariam, estava tudo nas mãos na banda. 

“A arte do disco foi feita por Johnny e Michael, que trabalharam no fundo da capa do álbum, juntamente com tinta acrílica sobre tela.

O símbolo ouroboros é um símbolo antigo que significa coisas diferentes em diferentes culturas, mas o tema comum é que a cobra comendo sua própria cauda representa interminável ou infinito ou o círculo natural da vida e da morte.

Para o álbum, também representa o loop infinito. Se você reproduzir o álbum em loop, ele terminará e começará ao mesmo tempo”, conta Anton.

O primeiro single lançado pela banda foi “Killing Spree” e logo após “Halogen Eye”, como procedeu esta escolha? 

Anton: “Originalmente, queríamos lançar “Halogen Eye” primeiro, mas com o bloqueio acontecendo, sentimos que “Killing Spree” era uma música mais adequada para esse período específico. Depois de algumas semanas de confinamento, um certo tipo de solidão e isolamento começou a surgir para nós e, por isso, queríamos compartilhar uma música que pudesse retratar melhor esse sentimento e emoção.



A parceria com Simon Neil, do Biffy Clyro, na canção “Halogen Eye” 

Anton: “Conhecemos Biffy Clyro pela primeira vez enquanto estávamos abrindo o Manchester Orchestra em 2010, ambos com as mesmas influências da música pesada, clicamos instantaneamente e fizemos várias turnês com eles desde então.

Enquanto estávamos acompanhando “Halogen Eye”, o refrão acabou tendo uma grande vibração do Biffy, e Andy se encontrou com eles em algum momento enquanto gravávamos o disco e o apresentávamos, e Simon concordou em fazê-lo, então ele cantou e tocou algumas partes de guitarra nele também. Tão agradecido que ele concordou em fazer parte disso.

A banda se apresentou pela primeira vez no Brasil em 2017, no Festival Coma, em Brasília. Como foi a experiência?


O’Brother
As bandas Scalene e O’Brother em 2017 – Foto: Arquivo Pessoal

Anton: “Foi uma das melhores experiências para nós como banda. Estamos tão felizes que os caras da Scalene nos pediram para fazer parte de um festival tão legal. Tantos tipos diferentes de música durante todo o fim de semana e todos pareciam se divertir muito. Foi a primeira vez que encontramos a Scalene, por isso foi legal poder ficar com eles por alguns dias também.”

Relação com os fãs e lançamento de “You And I” durante a pandemia

Anton: “A banda possui um grupo no facebook intitulado “You and I and Us” (clique aqui para participar), onde os fãs podem compartilhar sobre shows e interagir com outros fãs, além da própria banda. 

“Queríamos criar uma comunidade para todos nós, a banda e os fãs, para poder compartilhar memórias passadas em shows ou os fãs podem nos perguntar diretamente o que quisessem.

Somos uma banda muito aberta e achamos que essa conexão direta com os fãs é importante para nós.”, conta Anton.

O’Brother You And I (2020)

Já sobre o lançamento do álbum, Anton conta que funcionou bem para a banda. Já haviam se passado quatro anos desde o lançamento de novas músicas e os fãs já queriam coisas novas.

“Não sei se foi uma situação de “tempestade perfeita” ou o quê, mas entre todos ficarem presos em casa e passarem mais tempo online e para nós, já faz quatro anos desde que lançamos novas música….alguns de nossos fãs estavam ficando nervosos e meio que nos pressionaram a lançar novas músicas. Sendo artista independente, basicamente poderíamos fazer o que quiséssemos. Então dissemos: Claro, vamos lançar o álbum, por que esperar mais”.  


1 Comment

  • Excelente análise de um álbum maravilhoso. Comprei em formato digital para demonstrar minha apreciação pelo trabalho dessa banda. Quando o dólar der uma recuada é certo que irei pegar o vinil disso. Alguém tem registro de foto ou vídeo do show deles no Brasil? Abraço!

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: O conteúdo está protegido!!