Gabriel Coelho evoca os Signos do zodíaco para falar de amor

 Gabriel Coelho evoca os Signos do zodíaco para falar de amor

O processo criativo é algo um tanto quanto peculiar para diversos artistas. Alguns precisam de rituais para que saia algo próximo do que querem. Outros precisam da indisciplina da insônia e acordar as três da manhã de uma terça-feira para escrever um verso ou um riff.

É tão louco que para subverter e encontrar sua identidade ou o que quer transmitir muitas vezes passa por um processo de regressão ou exorcismo de demônios internos. Até por isso muitos chamam o ato de gravar uma verdadeira terapia. Por mais trabalhoso que tudo isso seja – e os fios de cabelo que vão caindo um a um – tem algo que une todos: o amor pela arte.

E ele se expressa de diversas formas, seja na pesquisa, no desafio de aprender algum instrumento, em estudar o comportamento das pessoas, a prática e a insistência. Até por isso não tenha uma fórmula para escrever uma música pop tão clara (por mais que muitos justifiquem de maneira matemática… ainda são teorias).

É um processo muitas vezes traumático e de bater a cabeça na parede. Mas também é uma escolha. E como toda a escolha: arque com as consequências. Isso acontece com um músico, um escritor, um cineasta, um artista plástico, um quadrinista. Não é exclusividade e acredite: dói. E se não doesse talvez é porque você não está fazendo isso da maneira certa. Nick Drake, Chet Baker, Jeff Buckley, Jim Morrison, Marvin Gaye e Amy Winehouse que o digam.


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Após um tempo afastado dos palcos o músico Gabriel Coelho lançou seu disco de estreia em junho. – Foto: Lucas Silvestre

No caso de Gabriel Coelho que lançou a pouco mais de 2 meses seu primeiro álbum solo, Signos, a história vai por essa linha. Músico com passagem por bandas ele estava parado mas sempre foi apaixonado pelo processo de ir para o estúdio e ficar por horas aprendendo mais sobre produção, processo criativo, engenharia do processo e toda parte geek deste universo.

Numa dessas aventuras ele resolveu soltar uma faixa que fez nas redes sociais e quando viu: estava de volta e notava que precisava daquilo de volta em sua vida. De volta ao front ele passou a trabalhar composições, sem saber o que iria encontrar pela frente, sempre tendo como mote o amor. Algo que ele citará na entrevista para o Hits Perdidos por diversas vezes como fio condutor de toda sua obra – e mensagem.

O sentimento de empatia e amor pelo breve bate-papo já é notável. Desde sua relação com o estúdio, com os envolvidos no processo e através da empatia com as dezenas de histórias que ouviu para chegar no resultado final de suas composições. A maioria delas de pessoas comuns como eu e você que está lendo este texto. Seja de um amigo, um ônibus lotado, a uma recepção de consulta médica. Todas estas histórias tocaram seu coração de maneira ímpar. Mais ou menos estas 13 canções mostram a diversidade de personalidades e maneiras de amar que existem.

Curioso e antenado com o assunto dos Signos, que particularmente não segue a risca, ele decidiu que teria que de alguma forma ter relação com esse tom astral. A cada história de amor que ouvia no fim perguntava a cada um dos seus “entrevistados” qual signo a pessoa era. E isso deve ter dado um “trabalho do cão”. Afinal de contas são 12 signos e nem todos reagem tão bem a isso, não é mesmo?

Passou a ler também mais sobre o zodíaco para entender porque tal pessoa contava aquela história daquela maneira. O quanto isso se correlacionava com a personalidade e maneira de ver o mundo e todas as paranóias. São histórias de amor então para musicá-las teria que ter o tom e sua interpretação. Algo interessante por si só.

Em sua sonoridade ele flerta com o pop e com o novo cenário de MPB. Não espere algo querendo recriar algum disco antigo ou seguir a fórmula de antes. Poderia estar tocando no Som a Pino? Com certeza. É nessa levada que o disco caminha.

Gabriel CoelhoSignos (Junho / 2017)


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Mas algo legal de destacar antes de falar do disco é justamente a provocação que Gabriel faz. São 13 canções sendo que apenas uma ele repete um signo.

A missão do ouvinte é a de justamente através de cada história de amor descobrir sob qual ponto de vista ele está conversando. Ou seja, o desafio para você ouvinte é: Descobrir qual signo rege cada canção.

Signos foi gravado e produzido no estúdio R por Renan Devoll entre Janeiro e Maio de 2017.

O álbum se inicia com “Rendição”. Single que ganhou um clipe que reverbera as relações de amor, do carnal, fraternal a amizade. A letra é uma ode a entrega, ao amor descomunal.

Ardente, latente, ciumento, inseguro e (por hora) possessivo. Daqueles que se cria uma expectativa antes de vivenciar. Em sua melodia encontramos um piano, arranjos delicados e foco na plasticidade da voz. Conforme a canção cresce as guitarras ganham peso e dividem espaço com o piano. Algo um tanto quanto The Fray e Snow Patrol.

O sintetizador ganha protagonismo em “Sobre Destinos”, dos encontros e desencontros que a vida nos permite. O olhar do amor nesta faixa cai mais para o campo da idealização e na reflexão sobre os sentimentos.

O tema do casamento, encantamento e desilusão são o mote de “Menina Linda”. Com direito a verso que dá a dica de qual signo a canção dialoga: “Só não vem com essa que meu signo não presta”. Adivinharam qual é?

“Feroz” é um blues boêmio com letra mais séria, feito um acerto de contas. Onde o casal resolve as diferenças entre quatro paredes. Seria escorpião o signo regido pela canção?

Flertando com melodias de artistas como Cícero e Los Hermanos “Perecível” chega com seu tom mais sutil para conversar com o ouvinte. A canção por si só é uma D.R. de casal, onde apesar das desavenças ainda existe uma paixão que os une.

“Dueto” tem uma das estruturas mais interessantes do disco, a maneira que ela cresce mostra a preocupação com as harmonias e a vontade de testar novas texturas. Ao meu ver a letra é sobre as coisas que você tem vontade de falar para sua parceira mas que de tanto ficar ecoando na sua cabeça, simplesmente ficam no campo das ideias. E claro que isso corrói por dentro feito uma bomba relógio. O sofrer sem falar. O sufoco da alma.

Uma das melodias mais tristes e contemplativas acontece em “Pouco a Pouco”. A sensação do interlocutor é a de ser o “dominado” e dedicado da relação. O lado da corda que sofre mas não tem forças para mostrar seu verdadeiro “eu”, pois se sujeita a vontade alheia. Algo que convenhamos não é nada muito saudável.

Um banquinho e um violão, é a levada de “Carnaval Em Mim”. Com metáforas sobre a magia do carnaval, seu corpo vira a verdadeira Sapucaí. É um flerte descarado. Seria o jeito ousado de amar de um sagitariano?

Os instrumentos de sopro também ganham espaço nessa festa e dão corpo a este carna(l)val. Feito um feriado a paixão ardente passa num piscar de olhos e quando se dá conta: é quarta-feira de cinzas. As únicas coisas que ficam mesmo são as lembranças – e que venha outro ano.

Chegamos a nona faixa, “Bom Dia”, essa que clama por todos os lados a saudade que sente. Enquanto um lado vira a página – e a fila anda – o outro lado da história ainda sofre com a falta. O impasse fica em lembrar dos bons momentos e esquecer dos ruins. Nosso cérebro adora jogar contra nós após términos, não é mesmo?

“Deixa” mexe muito com a dicotomia dos sentimentos. Ao mesmo tempo que isso é também traduzido nos acordes que oscilam entre a calmaria e o peso do rock’n’roll. Tanto é que por diversos momentos – já que a canção é cheia de subidas e descidas – o espírito Silverchair/Muse se aflora.

A mais curta do disco é “Tanto”. Passa como um susto e ao menos para mim me recordou um pouco as “brisas” do Radiohead. “31” em teoria é a última canção do disco afinal a que encerra o disco é justamente uma reprise de “Rendição”.

Também é uma das que a textura é melhor trabalhada. O trip hop nos beats, a MPB nos vocais e a densidade do teclado. De certa forma ela flerta com o post-rock desde o começo e de maneira lógica as guitarras aparecem ao longo que a música cresce.

Para fechar o disco temos mais uma vez o single “Rendição”. Porém desta vez apenas voz e piano. O que dá uma profundidade ainda maior a canção. O bacana desse “encore” é basicamente conseguir observar o talento de seu timbre sem outras texturas pelo caminho.


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A capa de Signos foi feita por Rodrigo Rizo.

Signos, álbum de estreia do músico Gabriel Coelho, é um disco sobre diferentes vieses sobre o amor. Perspectivas, intensidades, experiências e maneiras de enxergar – por muitas vezes – situações semelhantes vividas por milhares de pessoas. Sua fonte de inspiração foram histórias de pessoas que naquele período das composições cruzaram sua vida seja por 5 minutos em um ônibus ou nas chatíssimas salas de espera de um consultório médico. O que faz com que esta riqueza esteja neste árduo trabalho antropológico de tentar entender outros aspectos e formas de amar.

Nos dias de hoje quem quer escutar os outros? Muitos só querem ser ouvidos e se fecham no marasmo do egoísmo. Muitas vezes aqueles 5 minutos que damos atenção a alguém podem mudar destinos. Por mais que não costumamos perceber isso na hora, essa troca é o que nos faz de certa forma: humanos. A verdadeira rede social é o contato humano, saia de casa e viva. Vá a um show, a uma peça de teatro, a um parque, sorria para a garota que você gosta, desfrute o caos – e calmaria – do ar livre. Ame, erre, repita, acerte, erre de novo. Não há regras e talvez muitos tenham dificuldade de aceitar isto quando o assunto é o amor. Filosofias de vida à parte, a dica do Hits Perdidos é esta.

(Mas voltando…)

Já na parte técnica se nota um esforço em tentar não criar uma fórmula e seguir do começo ao fim, o que é um aspecto positivo para que o disco não fique cansativo. É pop, é MPB, é rock, é blues mas sem perder o fio da meada. Agradará com certeza fãs de bandas como The Fray, Cícero, Bruno Serroni, Ludov, Snow Patrol , Los Hermanos e tantos outros que flertam com melodias mais pops mas que procuram referências externas.


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Para saber mais sobre o disco conversamos com o Gabriel. – Foto: Lucas Silvestre

[Hits Perdidos]Signos” é seu primeiro álbum cheio. Quais eram as expectativas e como foi o processo de composição e produção?

Gabriel Coelho: “Confesso que as minhas expectativas são as melhores possíveis eu realmente acredito que este disco irá tocar bastante e iremos ouvir muito dele.

O processo de composição foi muito natural, geralmente componho na madrugada e minhas insônias infinitas, eu tenho o costume de escrever muito e ultimamente tenho viajado no tema “signos” então de certa maneira foi um processo de composição tranquilo.

As composições contam historias que eu vivi ou presenciei e mais do que isso eu tive o cuidado de contar as histórias pela perspectiva dos signos do zodíaco, sendo assim, cada música ao mesmo tempo que conta uma história ela também representa um signo do zodíaco.

Pra mim a parte da produção é a melhor, eu realmente gosto de estúdio, gosto de testar novos sons, de ficar “viajando”. Tudo ocorreu excepcionalmente bem, esse disco sem duvida nenhuma é um dos maiores feitos da minha vida.”


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[Hits Perdidos] O disco foi gravado e produzido por Renan Devoll, que inclusive também participou com você da versão de “Anormal” no tributo ao Pato Fu – O Mundo Ainda Não Está Pronto. Como foi o desafio e o trabalho de reconstrução da faixa?

Gabriel Coelho: “Antes de mais nada, foi um prazer sem igual participar desse projeto, foi incrível. Como eu disse anteriormente eu gosto muito da parte de produção, então eu e o Renan ( gênio da música) em um dia tivemos a ideia do conceito e gravamos. A nossa ideia era trabalhar o acústico dos violões com as batidas eletrônicas causando assim uma sensação “anormal”.”

[Hits Perdidos] O álbum tem o conceito dos signos e passa por várias personalidades diferentes a cada faixa. Inclusive tem um signo que tem dois sons. Porém tem como tema central os amores e paixões. Como foi o trabalho de pesquisa? Se baseou nas pessoas próximas dos signos também?

Gabriel Coelho: “E acredito que uma vida sem amores é uma vida sem sentindo, com isso, baseio todo o meu trabalho em histórias de amor. Essas histórias que as músicas contam são parte de mim, porém, nem todas aconteceram diretamente comigo, uma delas por exemplo eu escutei na recepção de um clínica médica. E ai todas as histórias que eu ouvia eu procurava saber o signos das pessoas que de alguma forma participaram para que assim eu pudesse aplicar.”

[Hits Perdidos] Falando em signos, quais mais tem empatia e quais tem mais dificuldade em lidar?

Gabriel Coelho: “Pra falar bem a verdade eu não acredito muito em signos, mas também não duvido nada (risos), eu sou encantado por assuntos que eu não consigo compreender eu fiz uma pesquisa extensa sobre o assunto e aí pude me aproximar mais da realidade de quem acredita no assunto. Mas eu mesmo não sou muito conectado com o assunto.”


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Apesar de Gabriel não crer completamente nesse papo de zodíaco ele se aventurou e até aprendeu algo novo sobre a ciência dos astros no processo. – Foto: Lucas Silvestre

[Hits Perdidos] Como foi o começo da sua carreira e quais seus próximos passos após o lançamento?

Gabriel Coelho: “A minha carreira solo começou meio que sem querer, eu sempre tive banda, toquei por quase todo Brasil, mas em uma determinada época eu desisti, mesmo assim eu continuava a compor. Em um determinado dia um grande amigo meu e produto Beto Grangeia escutou algumas das minhas composições e me convidou para gravar e sem pretensão nenhuma lancei as músicas na internet e a repercussão foi muito boa, foi quando eu percebi que tinha que voltar. E voltei.

Como eu faço tudo sozinho os próximos passos ainda estão nebulosos eu estou trabalhando na divulgação do disco pelas redes sociais e pretendo fazer um showzão de lançamento logo menos.”

[Hits Perdidos] Para quem quiser tentar descobrir quais signos “regem” cada música quais as suas dicas?

Gabriel Coelho: “Fechar os olhos e sentir com o coração. Essa é a dica.”

[Hits Perdidos] O clipe de “Redenção” tem um aspecto de relações familiares, amores e laços sendo desprendidos. Queria que comentasse um pouco sobre a letra e o clipe.

Gabriel Coelho: “Eu acredito que para o amor acontecer não é necessário apenas amar, e sim, se entregar, aceitar, ser humilde. Amar é se render. O Amor é uma via de mão dupla, dar para receber e receber para dar é uma troca infinita e no clipe eu quis mostrar diversas relações em que pude ver que essa troca era real.”


Playlist Signos no Spotify


Playlist Gabriel Coelho


Para fechar esse papo sobre astros – e amor – pedi para que o Gabriel montasse uma playlist com canções que para ele transmitisse o estereótipo de cada signo. O resultado foi divertido e ele mesmo confessa que foi um desafio e tanto!

Peixes – Navegante – Universo Relativo
Aquário –  Sentimental – Los Hermanos
Capricórnio – Sorriso ao sono – Phil Veras
Sagitário – O mochileiro – Leo Middea
Escorpião – Minha Garota – Vitrola Sintética
Libra – Ensaio sobre ela – Cícero
Virgem – Escopo – Ana Muller
Leão – Menino do rio – Caetano Veloso
Câncer – Nuvem – Rubel
Gêmeos – Feliz e ponto – Silva
Touro – O cometa – Rodrigo Amarante
Áries – gigante – Capela

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