Empunhando suas armas, Desalmado lança novo EP “Rebelião”

 Empunhando suas armas, Desalmado lança novo EP “Rebelião”

Desalmado – Foto Por: Maya Melchers

Desalmado é uma banda de Grindcore original de São Paulo, formada em 2004, que hoje conta com Caio Augusttus (vocal), Estevam Romera (guitarras), Ricardo Nutzmann (bateria) e Bruno Teixeira (Baixo). Já possui 5 discos de estúdio, 4 em português e 1 em inglês – Save Us From Ourselves (2018) – o disco que os jogou ao mundo. Foram 3 turnês europeias, shows em grandes festivais como SWR Barroselas Metalfest em Portugal e também ao lado de gigantes do metal como Entombed e Obituary.

Direto ao ponto, violento e sem rodeios, hoje o Desalmado é o principal nome do grindcore nacional e do underground paulista. Nessa mesma abordagem, lançam agora seu novo EP intitulado Rebelião, com letras em português para deixar bem claro o recado: A necessidade de rebelião contra o governo nacional, a posição do Desalmado frente a esse cenário bizarro que estamos vivendo, contra as frentes fascistas que vem se formando nos últimos anos. O tapa na cara de quem ainda tem dúvidas sobre a mensagem da banda. O EP ainda conta com a participação de Nata de Lima, vocalista do Manger Cadavre? na faixa “Esmague Os Fascistas”.

Acompanhado do registro, a banda aproveita o ensejo para divulgar o clipe / mini documentário produzido para mostrar o posicionamento do cenário underground diante dos acontecimentos do país e da vida em dias atuais. A ideia era reunir diversos colegas importantes do underground para mostrar que existe um coletivo forte, pessoas que seguem lutando por uma sociedade mais justa e fraternal.


Desalmado
DesalmadoFoto Por: Maya Melchers

Entrevista: Desalmado

O novo EP tem faixas pesadas tanto quanto soam mais experimentais e trabalhadas como o último disco “Save Us From Ourselves”. O Desalmado não é uma banda que se mantém na zona de conforto. Como foi a produção do EP para vocês?

Bruno Teixeira: “A composição das duas músicas rolou junto com a composição dos outros sons que estarão no nosso próximo álbum. Estas músicas já apontavam um novo caminho, mas com uma pegada muito forte dos trabalhos que lançamos em português.

Então decidimos que seria legal lançar um EP em português, com o mesmo espírito do Estado Escravo e do split In Grind We Trust, só que com esta nova cara. Se você achou que saímos da zona de conforto vai se surpreender bastante com o nosso próximo álbum!”

A segunda faixa “Esmague Os Fascistas”, tem participação de Nata de Lima, vocalista do Manger Cadavre?. Como surgiu o convite?

Caio Augusttus: “Ela é a nossa grande parceira da banda, sempre esta próxima e no final da gravação dos meus vocais, nosso produtor pensou na hora “Esse trecho tem de ter a Natalia, quando ela vem pra São Paulo?”.

Então chegando em casa perguntei se ela toparia e rolou. Funcionou, ela tem o vocal na pegada que daria a textura perfeita pra esse som.”

A mensagem passada no EP é bem direta ao ponto. Como vocês observam o Brasil hoje? O atual governo federal foi o ponto principal de revolta para a composição do trabalho?

Caio Augusttus: Bem, o Brasil esta dentro da sua normalidade histórica, porém, com um bando de mercenários sanguinários que querem massacrar literalmente a população mais vulnerável e pobre, pode ver que nesses últimos 4 anos, e não vou esquecer de Temer, você não houve falar de planos e de qualquer politica de proteção aos mais pobres, é surreal.

Não sei se foi apenas o atual governo federal, acredito que ele tenha uma parcela considerável, mas se olharmos para os governos estaduais, municipais, as grandes emissoras de televisão, jornais, vai ver que o buraco é muito mais embaixo.

O contexto geral do Brasil e da America Latina é de sequestro e precarização das condições de vida, se olharmos para o Chile, para o que a Argentina sofreu, para o que nós estamos vivendo há anos. No momento sobra revolta e ódio contra os mais ricos, por isso a mensagem direta da necessidade de se rebelar.”

Vocês sempre foram firmes com a proposta e mensagem do Desalmado. Já tiveram problemas com a parcela reacionária de fãs e veículos do metal?

Bruno Teixeira: “Nunca tivemos grandes problemas. A nossa mensagem sempre foi muito clara e isso já espanta boa parte de imbecis que poderiam colar nos nossos shows. Já fomos e sempre seremos criticados, mas não nos importamos com isso.

Se você se importar com críticas você nunca faz nada e, muitas vezes, as criticas são feitas justamente por pessoas que não fazem nada em prol de um bem maior. Não quer dizer que a gente está sempre certo, mas estamos sempre buscando evoluir como seres humanos e na nossa música.”

O EP vem acompanhado de um mini documentário, reunindo colegas do subterrâneo. Como surgiu a ideia desse documentário? Hoje o grindcore está bem representado no Brasil?

Caio Augusttus: Acho que não só o grindcore, a música pesada brasileira vive uma grande fase atualmente, inúmeras bandas maravilhosas estão ai na batalha.

Sobre o doc, eu e Estevam tivemos essa ideia em setembro passado, a ideia era mais jornalística inclusive; porém tivemos alguns problemas de desistência do projeto no meio do caminho, recuamos e nos adequamos.

Foi então que pensamos em chamar diversos colegas que são parte do nosso meio e compõe o campo da resistência na música, alias, creio eu que dentro da classe artística esse é o único meio que continua batendo forte no governo e se posicionando de forma ainda mais agressiva.”

O que podemos esperar do novo disco? Continuarão experimentando novas sonoridades?

Bruno Teixeira: Como eu disse anteriormente, o disco novo vai surpreender muita gente. Estamos muito felizes com o resultado, está quase tudo pronto, gravação, capa, mixagem… mas vamos decidir ainda como vamos lançá-lo.

É um disco denso e muito pesado, tanto na parte musical quanto na parte lírica. Desalmado vai ser sempre uma banda que vai experimentar novas sonoridades, pois isso é parte da nossa essência. Não é pra soar diferentão, mas nós estamos sempre buscando por coisas novas, não só musicalmente. ”

Além de um governo nefasto, o Brasil ainda enfrenta a pandemia do Covid-19. Ainda é possível se manter esperançoso?

Caio Augusttus: É difícil se manter esperançoso. Eu mesmo acho que estou num dos momentos mais pessimistas da minha vida com tudo o que tá acontecendo. Mas sei que preciso mudar esse sentimento urgente.

Acho que nas últimas semanas tivemos a prova de como os mais ricos, hoje ainda melhor representados pelos que estão no poder, odeiam o Brasil, odeiam a população brasileira e não pensam duas vezes em sacrificar essa população para salvar os seus negócios. Essa elite que convivemos é uma escória.

A experiência que estamos tendo é singular, lá na frente vamos olhar pra esse período e compará-lo as piores atrocidades relatadas na história da humanidade.

Justamente por isso, não podemos perder a esperança de nos organizarmos para enfrentar essa gente e tomar deles o poder e dominação que possuem. Nunca foi tão necessário se rebelar, é uma questão de sobrevivência.

Desalmado Rebelião (2020)



Confira o Mini Documentário


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