O Monstro do Bem na Estrada: Exclusive os Cabides lança vinil luxuoso de “Coisas Estranhas” e expande turnê pelo Brasil
Exclusive os Cabides lançam o vinil para “Coisas Estranhas”. – Foto Por: Eduardo Possa
Lançamento do vinil para “Coisas Estranhas” é uma parceria dos selos Café8 Music e Selinho
A banda catarinense Exclusive os Cabides vem colhendo bons frutos desde o aclamado lançamento de Coisas Estranhas no ano passado. Com mais de trinta shows já realizados entre o Sul e Sudeste do país – incluindo festivais como Popload e Arvo -, o quinteto anuncia uma nova e especial rodada de nove apresentações que passarão por São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
O motivo da expansão é o aguardado lançamento do disco em vinil, numa versão luxuosa em cor rosa, com encarte especial, letras e fotos inéditas, em um parceria entre os selos Café8 Music e Selinho (pertencente à própria banda). Em meio a essa efervescência, o grupo celebra a materialidade de sua arte e consolida uma filosofia que equilibra o existencialismo com um humor inteligente, criando pontes inusitadas entre gerações.
Em entrevista exclusiva, conversamos com os integrantes da Exclusive os Cabides sobre o significado de levar o “monstro do bem“ para a estrada: “Ter esse disco em mãos já foi um sonho, que hoje se torna realidade. É um objeto quase vivo, que materializa um trabalho extenso, feito com muito carinho,” comenta João. A conversa revela como a importância do disco físico como um rito de presença, somada aos desafios práticos e afetivos de sobreviver à turnê, tem redefinido o trabalho da banda junto a um público vasto e engajado.
O grupo celebra a materialidade de sua arte e consolida uma filosofia que equilibra o existencialismo com um humor inteligente, criando pontes inusitadas entre gerações.
Veja também: 4 Referências inusitadas do último álbum da Exclusive os Cabides
O Vinil como Materialidade e Rito de Presença
A chegada do disco físico em vinil, mais de um ano depois do lançamento digital, é tratada pela banda como um evento quase sagrado, que resgata a materialidade da arte em um mundo digital. O formato não é apenas um produto, mas um convite a um ritual de escuta plena.
Antônio traduz a experiência que espera do público, resgatando uma prática familiar: “Sentar no sofá, estar em silêncio, com comentários não necessariamente sobre o disco.” O vinil impõe o tempo e o silêncio, exigindo presença e transformando a audição em um evento de comunhão. Já João resume o desejo de vivenciar esse rito comunitário: “pegar o disco, a primeira oportunidade de tomar uma cerveja e escutá-lo com algum amigo meu.” O disco se torna, assim, um catalisador de encontros e memórias.
Essa materialidade encontra sua representação máxima na simbologia da capa. Ao final da entrevista, a banda sintetiza a essência do álbum ao descrever a criatura da arte como o “monstrinho do bem.” Eles detalham: “A criatura da nossa capa ali, ele é um bicho-papão do bem, né? Ele cuida das crianças.” Concluem que o monstro seria “Um bicho, de primeira, talvez, assustador, mas que esconde sentimentos, e que gosta de cerveja.” Essa figura, que à primeira vista evoca o “estranho” ou o “assustador”, revela-se um guardião quase emocional. O “monstro do bem” é a metáfora perfeita para a música da Exclusive os Cabides: uma fachada lúdica e meio nonsense que, no fundo, é um refúgio acolhedor e profundamente humano.
Composição: A Inteligência da Leveza
O estilo da banda é notável por sua capacidade de fundir temas sérios com uma abordagem lúdica, desafiando a gravidade usual do rock independente. Essa alquimia é a expressão de uma filosofia pessoal e estética.
João (compositor das letras) explica que a mistura de humor e existencialismo é intrínseca à sua escrita: “Eu levo a vida a sério, mas eu não me levo tão a sério, então eu acho que é uma grande mistura dos dois.”
Essa recusa em se levar a sério, mesmo tratando de temas universais, é a chave para o estilo particular da banda. O compositor argumenta que o que soa como nonsense em português pode ser comum no rock em inglês, citando que, se traduzidas, as letras dos Red Hot Chili Peppers poderiam ser “tão nonsense quanto a minha.”
Eduardo identifica nesse tom um resgate estético importante, notando que o rock global, após os anos 2000, tende a ser mais “sério, tipo noturna e com matemática mais pesada.” O som da Exclusive os Cabides, com sua “coisa mais solar, assim, da brincadeira“ (como as “good vibrations” do Beach Boys), traz de volta um tipo de rock que estava esquecido, provando que profundidade não exige necessariamente densidade.
O Sentido de Comunidade
O trabalho da banda é uma celebração da comunidade e da colaboração. O álbum conta com diversas participações especiais, todas de músicos locais de Florianópolis.
Para eles, a colaboração é um ato afetivo. João explica: “Fazer parte de alguma coisa faz com que outra pessoa tenha uma perspectiva sobre fazer parte, e aí tu vai englobando experiência na vida dos outros também.” É uma forma de ceder um pedaço do coração do projeto para talentos da cena.
Eduardo reforça a importância dessa rede local: “Eu acho que é bem legal você colaborar com quem tá perto.” Essa escolha por artistas da própria cidade enriquece a obra, pois “As pessoas estão ali nesse espaço comum, né? Dividem algumas referências de território, de rolê.”
Essa visão comunitária se estende a outras áreas práticas. Antônio observa que a parceria com a agência Café8 se deu não por “Interesses de business, tipo… Mas algo porque a gente conecta.” Essa busca por conexões autênticas é a base para o crescimento duradouro do grupo.
O Fenômeno do Alcance Geracional
O público da banda é notavelmente diverso, abrangendo desde crianças até pessoas com mais de 50 anos. João descreve a cena pós-show como uma “evolução de pessoas na tua frente” onde vê um senhor dançando ao lado de um jovem, cada um em sua fase de vida e forma de se expressar.
A conexão com o público infantil é um fenômeno à parte. Histórias de professores usando suas músicas e camisas em aulas e gincanas escolares demonstram que a arte lúdica do Exclusive os Cabides ressoa de maneira poderosa com o imaginário das crianças. Antônio expressa o desejo de explorar essa afinidade, vislumbrando até mesmo um EP infantil no futuro, dada a característica solar e alegre de suas canções.
Carol resume a beleza desse alcance: “É muito legal ver que tu atingiu esses dois opostos.“ E Eduardo lembra que os primeiros a abraçarem a banda foram os 40+, que encontraram no som um frescor que julgavam perdido no rock. A diversidade do público valida a qualidade e a universalidade da música da Exclusive os Cabides.
A Sobrevivência Poética na Cena Independente
As turnês da Exclusive os Cabides, com mais de 30 shows em um ano, revelam os desafios e a poesia da vida independente. João confessa que o maior impacto das viagens foi a tomada de consciência de que “é possível fazer isso que a gente faz.”
Apesar dos sonhos, Eduardo traz a realidade financeira para a discussão: “A nossa banda não é a nossa única fonte de renda… É bem complexa… a gente percebe que existe um caminho possível.“ O desafio é garantir que as viagens “ao menos não sejam um prejuízo.“
Essa luta diária é recompensada por um afeto valioso. Antônio, que produz o merch da banda (com sua marca Wordly.co), ressalta a importância do carinho demonstrado na compra dos produtos: camisetas, bolsas que ele costurou, prints que João desenhou. O apoio é fundamental, mas a real satisfação está na valorização: “Todo mundo gosta de se sentir valorizado. Encontrando um grupo de pessoas que realmente se importa com o trabalho.“
A jornada do Exclusive os Cabides com o vinil de Coisas Estranhas é mais do que um ciclo de lançamentos; é a consolidação de uma filosofia de arte e trabalho. A banda demonstra que, no precário e desafiador caminho da sobrevivência independente, a conexão afetiva é a moeda mais valiosa.
Ao olhar para o futuro, o grupo não se apoia apenas em métricas passageiras, mas na base sólida de um público que abraçou o “monstro do bem” em todas as suas idades. A estratégia é clara: a força reside em cultivar um público engajado e presente, construindo uma rede mais duradoura do que qualquer métrica digital.
Essa convicção de que o trabalho sério, o humor existencial e a valorização da comunidade criam um caminho viável, impulsiona a Exclusive os Cabides a planejar mais músicas, mais cidades e mais encontros. Com o vinil como testemunho físico e o apoio do público como combustível, a banda segue na estrada, provando que o rock com inteligência, leveza e sentimento está vivo e construindo sua própria história.

SERVIÇO:
25.10 com Ana Paia e eliminadorzinho
Sorocaba (SP)
Asteroid Bar
26.10 com BIKE
São José dos Campos (SP)
Estúdio Wasabi
30.10 com Varanda
Rio de Janeiro (RJ)
Centro Cultural Diversa
01.11 em São Paulo (SP)
Porta
OBS: lançamento do vinil à tarde com sessão de autógrafos das 14h30 às 17h30 e show às 21h
07.11 com Vinces e Palhaços da Cidade
Campinas (SP)
Tetriz Club
08.11 com Poisé
Santo André (SP)
74Club
14.11 com BIKE
Florianópolis (SC)
Bugio
15.11 com BIKE
Joinville (SC)
Hangar7
16.11 com BIKE
Curitiba (PR)
Basement Cultural
Ficha Técnica
Exclusive os Cabides é João Paulo Pretto (voz e guitarra), Antônio dos Anjos (voz e percussão), Eduardo Possa (guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz) e Carolina Werutsky (bateria).
Arranjos: Exclusive os Cabides
