Afonso Antunes se inspira no universo da canção-popular em parceria com Nina Nicolaiewsky, “Pelas Seis”

 Afonso Antunes se inspira no universo da canção-popular em parceria com Nina Nicolaiewsky, “Pelas Seis”

Afonso Antunes no clipe para Pelas Seis. – Foto: Reprodução/Youtube

“Pelas Seis” demorou 10 anos para ser produzida

Meu primeiro contato com o trabalho do porto-alegrense Afonso Antunes foi com a banda Alpargatos ainda em 2017. Agora é a hora de apresentar para vocês a carreira solo do músico que nos próximos dias apresenta seu álbum de estreia. O material teve a produção de Mario Arruda (Supervão) e direção artística do renomado cantor e compositor Romulo Fróes conhecido por seus trabalhos com o Passo Torto e Elza Soares.

A tragédia das enchentes acabou refletindo no disco e no qual seria escolhido para ser seu primeiro single, se traduzindo na forma com que se relaciona com sua cidade natal. Afonso sentiu que a canção refletia a urgência do momento atual.

Segundo o artista, a música apresenta uma visão romantizada sobre uma cidade em ruínas que, ao mesmo tempo, em que é o cenário dos afetos e das memórias, também corrompe seus sonhos e adia seus desejos. (ouça aqui)

“Eu queria fazer uma letra meio tropicalista, com essa pegada épica, grandiosa, de construir grandes cenas, como ‘Alegria, Alegria’, ‘Domingo no Parque’ ou ‘Panis et Circenses’. E foi o que eu tentei construir, apresentando a visão de alguém que sobe a Avenida Borges de Medeiros, vindo do Mercado Público, e passa pela Esquina Democrática: os prédios antigos prestes a cair, os ambulantes haitianos no caminho, os trabalhadores com pressa, as bugigangas chinesas, os pombos por todo lado.

É uma experiência muito porto-alegrense, ver o Centro como uma síntese do que somos, um microcosmo de todas as possibilidades, nossas lutas e nossos fracassos, nosso futuro e nosso passado. Na produção, Mario e eu buscamos sons do centro para ambientar a faixa, então escutar os gritos característicos dos vendedores, as pessoas conversando no sotaque de Porto Alegre, todo aquele burburinho vivo do Centro Histórico da capital.”, diz Afonso Antunes sobre “Porto Alegre 12:30”


Afonso Antunes - Frame do Videoclipe para Pelas Seis
Afonso Antunes no clipe para “Pelas Seis”. – Foto: Reprodução/YouTube

Afonso Antunes e Nina Nicolaiewsky “Pelas Seis”

A poucos dias de apresentar o álbum, em Premiere no Hits Perdidos, Afonso Antunes apresenta o segundo single do projeto. “Pelas Seis” tem a participação especial de Nina Nicolaiewsky e levou quase 10 anos para ficar pronta.

Com proposta de criar uma samba-canção, ainda em 2014, o músico se debruçou na produção. Influenciado por leituras de Luiz Tatit e a partir de reflexões sobre canção popular. Afonso, que também é professor de português, conseguindo fazer pontes entre a música e as estruturas do universo acadêmico. Após muita maturação, ele encontrou finalmente o formato ideal para a faixa ganhar a luz do dia.

“Quando comecei a pensar no processo de gravação do projeto solo, sabia que ela tinha a sonoridade que eu buscava. Então, remexi na estrutura, criei um novo refrão ‘Olha, mira, vê’, o que finalmente trouxe um acabamento interessante. O nome dela era ‘A TV me falou’. Quem ouviu a canção e disse ‘tem que ser Pelas seis’ foi a Nina, na sala da casa da mãe dela. Ali, a canção nasceu de fato.”, comenta o músico sobre “Pelas Seis”

Foi através da parceria com Nina que a canção ganhou mais contornos. Sua produção com estrutura de canção tem esse apelo minimalista, utilizado amplamente por artistas como João Gilberto e Dorival Caymmi, sem beats e focada nas cordas, seja de violão e guitarra, para criar essa atmosfera etérea, sutil e destacando a troca entre os artistas.

“Na produção, houve bastante abertura para que eu pudesse trazer um pouco do meu universo musical, e acho que essa é a maior alegria de colaborar com outros artistas: a fusão de universos.

Por exemplo, essa ideia de abrir espaço para as vozes é algo muito presente no meu trabalho, e eles estavam muito dispostos a ouvir o que eu propunha. Sou muito grata por isso. No final, a produção do fonograma ficou como um verdadeiro encontro entre o Mario (produtor), o Afonso e eu. Esse encontro, dá para perceber claramente a presença de cada um de nós, e acho isso muito belo.”, relembra Nina Nicolaiewsky.

O Videoclipe

O material chega acompanhado de uma produção audiovisual dirigida por Guilherme Becker. Querendo extrair a natureza da faixa, que permeia o minimalismo e o surrealismo, para falar sobre memórias e seus desdobramentos do tempo, Becker foi atrás do seu repertório e se deparou com uma imagem.

“Eu escutei a música e me veio a vontade de fazer um homem com cabeça de relógio – uma imagem meio surrealista que me remeteu à rotina, ao tédio, à pressa do dia a dia. Achei que combinava com o comodismo do eu lírico, que parece aceitar passivamente a vida passando por ele.

Essa música tinha uma segunda pessoa cantando, e eu tive a ideia de incluir isso de algum jeito. Quando a voz da Nina entra, decidi fazer parecer como se fossem os objetos inanimados da casa cantando — uma chaleira, um microondas, por exemplo. Novamente, corpo-casa-tempo se confundindo., comenta

O personagem central dentro do roteiro vive passivamente vendo o passar do tempo ao seu redor, a estética e o desenrolar passam pela estética surrealista e a rotina dão toda a tônica das suas passagens.



Letra “Pelas seis”

A TV me falou que é normal
Um dia chove, no outro faz sol
Um dia morre pro outro nascer
Acho que vou desligar a TV

E te visitar

Te mostrar a canção que eu criei
E o mundo que eu só inventei
Pra te dar
Pelas 6 eu já tô por aí
Fica tranquila

Ah, a beleza vai bem
Tristeza é o que a gente não vê
Abstrações de você

Olha, mira e vê
Não há
Nada, nada além desse agora
Se a hora de chegar
É a mesma de ir embora

A TV me falou que é normal
Todo domingo vai ter futebol
Toda segunda eu quero morrer
Acho que vou desligar a TV

E te visitar

Pelas 6 eu já tô por aí
Fica tranquila

Ah, a beleza já vem
Tristeza é o que a gente não vê
Abstrações de você

Olha, mira e vê
Não há
Nada, nada além desse agora
Se a hora de chegar
É a mesma de ir embora

Ficha Técnica (Música):

Composição: Afonso Antunes
Produção musical: Mario Arruda e Leonardo Braga
Direção artística: Romulo Fróes
Guitarras: Leonardo Braga
Piano: Vini Albernaz
Sintetizadores e backings: Nina Nicolaiewsky

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