Internacional

Quando tudo saiu do controle: Limp Bizkit no Allianz Parque

Loserville Tour encerra 2025 reunindo gerações no Allianz Parque

Fechando a agenda de shows internacionais da 30e em 2025, a Loserville Tour levou sua última apresentação do ano ao Allianz Parque, em São Paulo, no último sábado (20). Em sua companhia, o Limp Bizkit chegou acompanhado do Bullet For My Valentine, que substituiu o Yungblud, o 311, da mesma safra noventista, além de nomes representantes da nova geração como Ecca Vandal, Riff Raff Slay Squad.

Bonés vermelhos, personagens improváveis e o caos como linguagem

Ao entrar no estádio do Palmeiras, a comoção era imediata. A devoção dos fãs do Limp Bizkit se manifestava nos detalhes, nos adereços e nas roupas, como se houvesse um código tácito a ser seguido, algo entre a etiqueta de uma cena e o ritual de um culto.

O boné vermelho eternizado por Fred Durst era o símbolo máximo dessa comunhão, presente na cabeça de uma parcela considerável do público. Munhequeiras, camisetas de bandas de new metal e figuras improváveis também tomavam conta das rodinhas espalhadas pelo estádio. Entre elas, um Jesus, um Pikachu, agentes de trânsito e até um barco viking em plena formação, cena que acabou virando meme no perfil do radialista Thiago DJ (confira), durante “Come Original”, do 311.

Entre acertos e tropeços: os shows de abertura da Loserville Tour

Representantes do chamado “ghetto metal”, o Slay Squad não fez feio e teve uma boa resposta do público, ainda que muitos parecessem ter pouco contato prévio com o som do grupo. Talvez aí resida um dos grandes méritos de festivais de menor porte como este: a possibilidade de apresentar novos nomes e ajudar na formação de público.

O mesmo não se pode dizer do show confuso de Riff Raff, que soou em diversos momentos como um grande playback. Misturando hip hop com EDM, trap e pop, o artista não conseguiu empolgar. Comentários nas redes sociais e o visível desinteresse de parte do público ajudaram a medir a temperatura de um show que passou longe de conquistar a plateia.


Riff Raff fez show de trap na abertura do mini-festival. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Confesso que cheguei empolgado para a apresentação de Ecca Vandal, um acerto claro na curadoria. A artista vem crescendo de forma consistente nos últimos anos e já se consolida como um dos nomes mais interessantes da nova geração de mulheres no rock. Após abrir shows do Incubus no exterior, ela desembarcou no festival com sangue nos olhos e vestindo uma camiseta do Sepultura, gesto que ajudou a criar conexão imediata com o público.

Ao vivo, o som soa ainda mais moderno e propositivo do que nos álbuns e singles já lançados. As referências ficam mais evidentes no palco, transitando pelo new metal e punk rock, mas também dialogando com o easycore, R&B, pop e rap. Essa versatilidade torna o show plural e se soma à intensidade com que a sul-africana ocupa o palco. Em diversos momentos, ela fala sobre a felicidade de tocar no Brasil pela primeira vez e agradece à equipe do Limp Bizkit pela oportunidade.

O principal problema da apresentação, no entanto, foi técnico. O som estourado dificultou bastante a audição, com a bateria sobrepondo quase todos os outros elementos. Uma pena. Ainda assim, fica a expectativa por um retorno em melhores condições. Que volte logo.


Ecca Vandal no Allianz Parque. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

311 entrega o show mais consistente do festival

O show mais consistente do dia foi, justamente, o do 311. A banda soube explorar o setlist com inteligência. Donos de um repertório que transita por reggae, dub, ska, rock, rap e metal, eles optaram por condensar a apresentação em nove faixas, todas hits acumulados ao longo de seus 30 anos de carreira, com direito a revisitar canções que remontam ao disco de estreia.

O carisma da dupla de vocalistas foi um espetáculo à parte. Nick Hexum, vocalista e guitarrista, e Doug “SA” Martinez, vocalista e DJ, não se limitam a permanecer estáticos no palco e buscam interação constante com um público casca-grossa, conduzindo o show com energia e vitalidade. O baixista Aaron “P-Nut” Wills também não fica atrás, protagonizando um solo de slap entre caretas e poses típicas do new metal, recurso que ajuda a criar proximidade com a plateia.

Um dos momentos mais icônicos do dia veio com o grande solo de percussão e bateria, quando todos os integrantes entraram em cena com tambores, trocando baquetas no ar em perfeita sincronia. Não por acaso, era possível ouvir comentários ao longo da apresentação como “o som desses caras é muito bom, não acredito que não conhecia ainda”.

O repertório ainda trouxe o clássico cover de “Lovesong” (The Cure), que ganhou clipe e ampla exibição na MTV, além de faixas como “Beautiful Disaster”, que abriu o show, “Come Original” e as mais pesadas “Freak Out” e “Feels So Good”. A banda também soube equilibrar o set ao intercalar baladas como “Amber” e “Down”, verdadeiros clássicos que ficaram marcados nos anos 90.


311 retorna ao Brasil após apresentação no SWU (2011). – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Bullet For My Valentine celebra The Poison com show pesado e autoridade

Para celebrar os 20 anos de seu álbum de estreia, The Poison, o Bullet For My Valentine dominou o setlist com dez das doze músicas apresentadas na noite. Os britânicos entraram em cena como substitutos do conterrâneo Yungblud e assumiram o espaço com autoridade.

Formado por Matt Tuck, Michael Paget, Jason Bowld e o co-vocalista Jamie Mathias — que subiu ao palco vestindo uma camiseta do Cradle of Filth, banda de black metal que curiosamente realizou seu último show da história no Brasil — o grupo foi convocado pessoalmente por Fred Durst para integrar as datas da turnê no país. Mesmo em pausa das atividades ao vivo e em estúdio gravando um novo disco, o convite soou quase como uma ordem, prontamente aceita pelos músicos.

Ao longo da apresentação, a banda reforçou o caráter especial daquele show, que marcou também o encerramento da Loserville Tour, e aproveitou para agradecer aos fãs pelas duas décadas de acompanhamento. O resultado foi um show pesado do início ao fim, com direito às clássicas Flying V em ação e uma resposta intensa do público.

Sinalizadores vermelhos e verdes, tentativas de batida policial para aprender os artifícios e uma atmosfera crescente de caos tomaram conta da plateia, algo que horas mais tarde se intensificaria ainda mais, com direito a foguetório e rojões.


Bullet For My Valentine é convocado por Fred Durst e incendeia Allianz Parque. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Quando tudo saiu do controle: Limp Bizkit assume o palco

O jogo estava ganho desde o instante em que pisaram no palco. Não apenas pela atmosfera elétrica do público, mas pela entrega de Fred Durst, visivelmente disposto a assumir o papel de mestre de cerimônias. Em determinado momento, ele chegou a comentar, entre risos, que sempre dizem que vão festejar “como se fosse 1999” — e que naquela noite, finalmente, aquilo fazia sentido. Ao lado do DJ, Durst parecia se divertir a cada transição de um show costurado por hits próprios e interlúdios que passeavam por diferentes épocas e estilos.

Essa sensação de celebração coletiva também se refletiu no palco, que ao longo da apresentação recebeu integrantes de algumas das bandas de abertura, convidados a dividir momentos, dançar, cantar e serem celebrados diante do público. Um gesto simples, mas simbólico, que reforçou o espírito de comunhão e festa que tomou conta do Allianz.


Limp Bizkit em São Paulo. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

Entraram no repertório trechos de Pantera (“Walk”), KC and the Sunshine Band (“Get Down Tonight”), George Michael (“Careless Whisper”), Journey (“Don’t Stop Believin’”) e UB40 (“Red Red Wine”), este último acompanhado por Durst dançando coladinho com um membro do staff e convidando casais — e até completos estranhos — a entrarem na brincadeira.

Final de mundo, alma lavada e legado renovado

Na reta final, depois de “Nookie”, Fred convocou uma fã ao palco para dividir os vocais de “Full Nelson”. Beatriz topou o desafio ainda visivelmente emocionada e surpreendeu ao assumir a segunda parte da música, arriscando até um gutural, o que rendeu aplausos entusiasmados do público. A essa altura, o palco já havia se transformado em um espaço de celebração aberta, com integrantes das bandas de abertura circulando, cantando, dançando e sendo ovacionados, como parte de uma grande festa coletiva.

O set também encontrou seus momentos mais catárticos quando o Limp Bizkit empilhou seus próprios clássicos. “My Way” surgiu como um dos pontos altos da noite, cantada em coro do início ao fim, funcionando quase como um manifesto coletivo. Na sequência, “Rollin’ (Air Raid Vehicle)” levou o público a um estado de euforia imediata, daquelas músicas que parecem ter sido feitas para arenas e que remetem diretamente às trilhas sonoras de videogames e à memória afetiva dos anos 2000.

Esses momentos ajudaram a consolidar a sensação de que o show não se apoiava apenas na nostalgia, mas em uma energia ainda viva, capaz de conectar gerações diferentes em torno dos mesmos refrões.


Limp Bizkit e a fã Beatriz no Palco do Allianz Parque. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)

A sequência seguiu com “Boiler”, momento em que a banda foi apresentada, com destaque para Wes Borland surgindo com uma máscara mexicana. Em seguida vieram a versão punk/new metal de “Faith”, de George Michael, “Take a Look Around”, bastante celebrada, e, mais uma vez, “Break Stuff”. O Allianz, então, se tornou um território completamente fora de controle, tomado por rojões, sinalizadores, rodas punk e pulos sincronizados.

Nos vídeos que circularam nas redes, gravados das arquibancadas, o clima parecia uma mistura de final de ano com fim do mundo. O público saiu com a alma lavada. Não à toa, multiplicaram-se os relatos de que a atmosfera foi mais intensa do que a de shows recentes de System of a Down e Linkin Park. Uma grande noite para um estilo que o TikTok ajudou a apresentar a uma nova geração de fãs — e um ótimo spoiler do que esperar para o show do Korn em 2026.

This post was published on 22 de dezembro de 2025 1:07 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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