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Bruno Leo lança Vestígios: uma jornada pela memória, pelas emoções e pelas paisagens do cotidiano

Gravar um disco sem a ansiedade inerente ao apelo de “ter que performar”, em tempos como os nossos, de certa forma, tem o mesmo peso que fazer anotações em um diário pessoal teve em outros tempos. É como deixar seus vestígios pelos cantos da webesfera e a forma de revisitar passagens das nossas vidas que nos fizeram chegar até aqui. Entre reflexões, chegadas e partidas, realidades paralelas, lembranças, cartões postais, ilusões, afetos, vidas passadas e o cotidiano, ele navega nessa odisseia solitária onde cruza oceanos e flutua entre a música pop e o indie rock.

Com a missão de produzir, sem medo de julgamentos ou amarras corporativas, Bruno Leo não tem medo de deixar por aí seus vestígios e experimentos sonoros. Desta forma, podemos acessar seu acervo como uma biblioteca pública a uma distância de poucos cliques.

Sua produção é calcada nas possibilidades do universo da gravação caseira, entre plugins e uma pesquisa por música pop que engloba sua inquietação e vivências no estrangeiro, entre saudade e paisagens bem distintas dos tempos em que vivia no Brasil.

Essa natureza cigana, de quem cresceu em Brasília, viveu na Califórnia e agora retorna à gelada Helsinki, serve como plano de fundo para sua mente inquieta que sente a necessidade por meio da arte estender a narrativa da sua vida e pesquisa. O músico apresenta hoje em Première no Hits Perdidos seu quinto álbum de estúdio, Vestígios, embalado por uma carga emocional que passa por todas essas experiências, entre lacunas, memórias e seu recalcular de rotas.

Confira entrevista exclusiva com Bruno Leo



Bruno Leo Vestígios

Na nova odisseia, o músico revela ter como afluentes em sua pesquisa gêneros como indie rock, o indie pop e o rock alternativo, com influências que vão desde The Killers, Cardigans, Paramore, DovesStereophonics.

Entre passagens temporais e conexões neurais, o cotidiano invisível de quem vive a bordo de uma mente inquieta ganha essa lente ao longo da obra que através da sensibilidade pop faz reflexões além do superficial. Como os vestígios que não deixamos pelo caminho, mas que nos afetam e transformam a forma com que nos conectamos. Influenciando nas nossas percepções e nas decisões que temos que tomar ao longo do nosso cotidiano. São elas que movem silenciosamente nossas pequenas escolhas que nos levam a grandes mudanças. Sejam elas de hábito, de visão de mundo ou de como reagir a tudo que nos afeta.

Essas observações que permeiam o material ressoam como uma ode à observação. Como canções que se esmiúçam em pequenas crônicas, entre pequenas reflexões que ganham à luz do dia, mas que permanecem muitas vezes adormecidas no escuro. E não estamos falando sobre o inverno finlandês, mas poderíamos.

“Cada música é um zoom em algo que normalmente ignoramos. Um apartamento numerado, um carro abandonado ou um desconhecido na janela”, comenta Bruno Leo em seu release.

Sua narrativa silenciosa, quase tortuosa dos diálogos que temos dentro da nossa cabeça, enfim ganham esse respiro entre acordes, sintetizadores e guitarras com melodias acessíveis. O músico que lançou seu primeiro álbum, aos 40, cinco anos depois chega ao seu quinto sem medo de julgamentos e com pavor de repetir fórmulas.

O orgânico da odisseia

O lado orgânico da sua jornada se vê explícito ao longo das faixas, que têm convergência no conceito central e na fuga por tentar emplacar singles. Na verdade, sua forma de colocar música no mundo, foge completamente dessa lógica. São 8 faixas ao todo, sem firulas, mas com enfoque nos detalhes e na tentativa de materializar todos esses universos. De quem poderia fazer um disco, escrever um livro ou desenvolver o roteiro de um curta-metragem, mas que a paixão pela música fez dessa forma. Provando que quando temos um argumento, tudo se faz plausível e pode ser materializado.

Sinto que o disco é só um ponto de partida para estabelecer diálogos com quem estiver aberto. Bruno não procura verdades absolutas e sim gerar conexões com quem já vivenciou ou em algum momento passará por aquelas experiências. Afinal de contas, nenhuma vivência é única e o que nos faz nos sentir vivos é justamente ter a certeza de que se está em constante transformação.

A audição é fácil e se encaixa entre momentos de respiro, contemplação e leves pílulas de reflexão. Pode ser realizada enquanto pega uma estrada em direção a outro estado, apreciando um gole de café ou enquanto faz uma planilha de contas no fim do mês. Porque a vida não para. Entre as cargas e sobrecargas do dia a dia, o músico tenta deixar as intermitências e pequenos fragmentos, mais leves.

O álbum tem como ponto de partida o ângulo de quem vê a vida por meio de uma lupa e não tem medo de se entregar à intensidade das emoções. Entre delírios, reflexões, pancadas e saudade, seus acordes alegres se contrapõem às analogias e aos emaranhados de memórias e abstrações.


This post was published on 19 de novembro de 2025 11:23 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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