A Novo Rock trará conteúdos em micro-resenhas do que de melhor tem acontecido no Rock Nacional. Singles, discos e novidades com o radar antenado do Hits Perdidos ganham o palco em um post informativo que acompanha sempre uma playlist!
“Novo Rock” é onde vivem as bandas e artistas que reinventam o gênero, cruzam influências e quebram rótulos. Se você quer saber por onde anda o rock em 2025, esse é o seu lugar. Lançamentos, listas e estreias exclusivas com a cara do agora de quem não parou no tempo das ondas das FMs. A cada nova lista serão adicionados 10 novos lançamentos, vamos juntos?
Em colaboração com João Manoel (Jovens Ateus), Nicholas Baltazar (Mambaia e Baraúnas), Edwardes Neto (ex-Stolen Byrds), disponibilizou o single “Coração Vulcão” fundindo elementos de rock experimental com psicodelia e jazz.
O músico adianta que o material aponta a direção para um EP ou álbum. O som tem aquele DNA inventivo de projetos como Oh Sees, Y e Psychedelic Porn Crumpets, com direito a expansão sonora, explosão e densidade.
Formado pelo casal Rebeca Li e Henrique Badke (Carbona), o duo de punk rock/rock’n’roll já lançou dois álbuns de estúdio, sendo o último, Caravana dos Desajustados, em abril deste ano. “Banda Fantasma” foi lançada em pleno Halloween e mistura punk rock com referências de rockabilly e a temática dos filmes de terror. A letra brinca até mesmo com o fato do projeto não ter um baixista.
“A canção conta a história de uma banda de rock do “outro mundo” e explora o universo aterrorizante, com rimas que fazem referência a Chico Xavier e outros temas sobrenaturais.”
Notoriamente fã dos Zumbis do Espaço, imagino que Badke deve ter se divertido com a brincadeira de compor este som com esta temática mais macabra. Vale lembrar que a faixa “Noiva Cadáver”, presente no disco, tem a participação de Tor Tauil (vocalista dos Zumbis). Para divulgar o material, eles criaram um jogo online interativo em formato de tabuleiro Ouija e realizaram um show temático de Halloween no Hangar 110.
Com uma guinada teatral em direção ao rock progressivo, os catarinenses da UmQuarto apresentam seu terceiro disco, Fora do Lugar. Prezando a alta fidelidade, o registro foi gravado ao vivo, e a mistura de referências distintas, mas não de universos tão distantes, resultou em um disco com facetas múltiplas, mas que, ao mesmo tempo, olha pelo retrovisor, para criar sua narrativa.
“Precisávamos de um trabalho que refletisse no estúdio o que é a nova formação do UmQuarto. Tínhamos em mãos a energia do psicodélico (Mayer), o sentimento do blues (Salib), a linguagem do jazz (Rafa) e todo o groove da música brasileira (Bernardo).
Os shows estavam refletindo isso, mas ainda faltava um registro fonográfico dessa vibe. Para nós, é um momento muito especial estar gravando no estúdio, e por isso pensamos em colocar na gravação toda essa energia que nosso som ao vivo vem construindo”, conta Mayer Soares, baixista e um dos vocalistas da banda.
Entre as inspirações, eles citam o prog antigo, como a banda brasileira Moto Perpétuo e os argentinos da Invisible e La Máquina de Hacer Pájaros. Assim como Rosalía, eles refutam o uso de IA e justificam o título justamente nesses termos, como se sentissem fora do lugar em meio ao medo dos rumos da indústria. Mas o que sinto é que esse lado orgânico já era algo que existia nos lançamentos anteriores, mesmo, mas marketing é assim mesmo.
É um disco para quem gosta de ouvir discos inteiros, de Yes a Journey, de King Crimson ao Rush. Sem apelar para refrões para cantar, sem fórmulas. Feito para deixar tocando no vinil, feito os discos do Led Zeppelin ou ZZ Top. Um exercício oposto, ou impensável, para alguém que procura ouvir singles e pular para a próxima “vibe” da playlist. Provocação essa que posteriormente foi rebatida pelo punk, que mudou a forma de consumir música pop para sempre. É esse joguete, de voltar à mídia física e a imersão sonora em um storytelling que preza pela atenção aos detalhes, e diminuição do ritmo do consumo, que o disco quer que você avance.
Em tempos de algoritmos, e que ironicamente, conseguimos emular bandas de prog com algumas inteligências artificiais, eles mostram como no orgânico e ao vivo, que dá margem às imperfeições, podemos explorar uma nova viagem por um caminho que já foi inúmeras vezes percorrido, mas que ainda encontra inovação. Basta ver o que o Papangu, da distante Paraíba, consegue fazer utilizando o mix entre o progressivo, o folclore e os ritmos regionais. Talvez seja mais sobre como fazer do que a forma. Talvez seja mais sobre como a mensagem chega do que os tempos.
Quem sabe esse disco chegue a quem precisa parar um pouco para pegar o ar e entrar de cabeça nesta aventura que talvez hoje seja o “novo punk”. Afinal de contas, algo ou alguma experiência, sempre será novidade para alguém que nunca teve o contato. E, assim, a indústria da música, e paralelamente, se renovam. Mesmo que invariavelmente, olhando pelo retrovisor. Como Os Replicantes já diziam: o futuro é vórtex.
Formado por ex-integrantes da Disaster Cities, a Zagüaraz surgiu em São Paulo, do encontro entre Rafael Panegalli, de Chapecó (SC), e Daniel Araújo, de Natal (RN). O primeiro material, o EP Talentos Inúteis, lançamento da Forever Vacation Records, foi gravado no Estúdio Costella, sob produção de Alexandre Capilé, e conta com seis faixas.
Segundo os integrantes: “suas influências navegam pelos mares turbulentos de sons que vão desde o industrial furioso de Nine Inch Nails até o peso moderno de Royal Blood, passando pelo disco punk e post-hardcore“. Eles ainda citam nomes como Death From Above 1979, Tigercub e The Virginmarys.
“Talentos Inúteis fala sobre o incômodo de existir dentro de estruturas que esvaziam o sentido das coisas, é um disco cheio de sinceridade, com muito das nossas vivências e uma carga emocional intensa, quase como uma forma de colocar pra fora tudo o que estava guardado nos últimos anos. Ao mesmo tempo, é um retrato de uma geração cansada, mas que insiste em seguir tentando viver da melhor forma possível. É, acima de tudo, um retrato honesto de quem transforma desgaste em arte, e arte em resistência.”, conta a dupla.
É deste inconformismo, cicatrizes, assombrações, entre o peso e o dançante, que a estreia do duo faz da mistura entre o stoner, doom, post-hardcore e disco punk, em algo bastante visceral. Refletem sobre essas chagas, esse desgaste quase incontrolável, entre doses de pessimismo com o cotidiano, o estresse e suas válvulas de escape.
Com críticas aos privilégios inerentes ao capitalismo, “Panorama”, por exemplo, fala sobre sonhos, diferenças e dissonâncias, entre o discurso e a prática de quem detém o poder. E é a partir desses desabafos, percalços, vontade de fugir para bem longe… que a parte lírica, bastante direta, conduz o andamento do material. Tudo isso, entre efeitos na voz, distorções, progressões de acordes pulsantes, as faixas estabelecem um diálogo franco, e sem meias-palavras, com o ouvinte.
Com referências no que chamamos de metal moderno de artistas como Architects, Knocked Loose e Spiritbox, e o new metal, a Rocco, de Goiânia, está prestes a lançar seu álbum de estreia, previsto para 2026.
Entre as referências presentes no single “Gates of Conflict” estão influências de new metal, metalcore, deathcore e djent. Com breakdowns, peso, solos de guitarra e baixo, o espírito agressivo e vocais que alternam entre os guturais, versos cantados e ritmados. Criam, assim, diversas camadas para que o ouvinte transite entre diferentes sensações e sentimentos retratados ao longo da composição.
“A música fala na perspectiva dos desafios de uma banda, no caminho a ser percorrido, no julgamento e nas etapas a serem enfrentadas, mas dá voz também à perspectiva individual e mais íntima de cada pessoa que tem que lidar com alguma barreira para atingir seus objetivos (sejam essas barreiras físicas, psicológicas ou apenas o desânimo de seguir em frente — para a próxima estação).
O verso “You Better Learn to Dance!”, que antecede o ‘breakdown dançante’ da faixa, sintetiza o espírito da música, sendo um convite à adaptação e à resistência – todos precisamos “aprender a dançar” conforme o ritmo da vida para continuar criando e existindo”, revelam os integrantes a respeito da composição.
Ainda me lembro quando pesquisando por bandas na década passada surgiu o termo orgcore. A definição por si só é um tanto quanto específica, mas, na prática, é um rock cru, emocional, punk rock da classe trabalhadora com letras sobre batalhas individuais e coletivas, amizade e crescimento pessoal.
Nessa leva algumas bandas marcantes podem ser representadas por grupos como Hot Water Music, The Flatliners, The Gaslight Anthem, The Menzingers, Dillinger Four, Banner Pilot, Avail, Red City Radio, Leatherface, Against Me!, The Lawrence Arms, Iron Chic, Off With Their Heads, None More Black e The Copyrights. É este universo que orbita o som do Bad Canadians.
Por ser um universo que adentrei bastante no começo da década passada, consigo ver como as referências ecoam. Tanto na atitude quanto nos elementos que vão agregando. Toda essa aura emocional com variantes, entre momentos mais obscuros intercalados com os mais explosivos, acabam atravessando a música que produzem.
Se algumas das bandas que permeiam o revival acabam esbarrando em fórmulas, Bad Decisions mostra que é possível criar atmosferas e ambiências diferentes, sem perder o poder das melodias e com discurso em primeira pessoa. O som ríspido, sincero, que equilibra melodias ao tom reflexivo, é bastante confessional e pega o ouvinte pelo braço durante sua jornada em direção ao autoaperfeiçoamento.
Esse lado atemporal, com reflexões sobre o cotidiano, entre batalhas e quebras de paradigmas, nos levam para tempos em que a poesia parecia ter com mais constância o mesmo peso das construções rítmicas. Onde a literatura, o cinema e outras artes se complementam. O punk rock deles tem grunge, tem vestígios do metal, sob uma perspectiva emocional e espírito contestador do hardcore e suas variantes… o que faz com que a viagem sonora seja ainda mais completa e menos limitante. A maturação das ideias, arranjos bem pensados, variâncias e reverberações, criam uma narrativa interessante e muito gratificante para uma estreia.
Eles poderiam ter nascido no Canadá, como os Flatliners, poderiam ser de Chicago, como The Lawrence Arms, ou de Gainesville, como o Hot Water Music, mas são de São Paulo, onde bandas como eles resistem no underground independente das adversidades e obstáculos. Cantam em inglês, em tempos aonde muitos partiram para o português, talvez para se conectar com aqueles que os ensinaram o caminho – e para nos mostrar como o mundo é um só e os problemas são universais.
Discos ajudam a finalizar ciclos, muitos deles resultados de processos longos. Ainda mais quando um septeto com referências tão complexas se encontram. Esse é o caso da shaun, de Porto Alegre, em que seus integrantes se reúnem desde 2019 com múltiplas referências que vão do rock britânico mais psicodélico e pós-punk reverberante; o reggae e o rock gaúcho. Universo que vai de nomes como Stones Roses, Júpiter Maçã, The Specials, De Falla, Ultramen, Primal Scream e The 13th Floor Elevators.
Como nem tudo é uma linha reta, mudanças pelo caminho aconteceram, o que moldou o projeto. Na formação atual eles contam com Eduardo Comerlato (guitarra), Eliéser Lemes (bateria), Joana Luna (percussão e voz), João Carneiro (voz e guitarra), John Vitto (guitarra e voz), Lucas Juswiak (baixo) e Samuel Kirst (teclas e voz). Com produção de John Vitto e mixagem e masterização de Mário Arruda, o álbum reúne nove faixas inéditas, com lançamento pela Frase Records.
A produção e composição do disco aconteceu com a entrada do John no grupo.
“Esse encontro surgiu quando a shaun precisava de um guitarrista e eu lembrei que seguia o John no Instagram e via que ele postava umas coisas de The Clash, The Specials, Oasis… só coisas que são referências afu pra Shaun. Aí um dia mandei mensagem e convidei ele pra trocar uma ideia e ver se ele não queria ser o guitarrista da banda. A partir disso (e como a banda tava parada, sem tocar, em standby), veio a ideia de tentar começar a gravar um som… e aí foi tudo acontecendo naturalmente e veio o disco”, conta João.
“As letras falam de relações, deslocamentos e frustrações cotidianas, mas também de leveza, humor e resistência”, revela a banda.
Falar que o disco aproxima Porto Alegre de Manchester, ou até mesmo Londres, seria algo muito simplista da minha parte. Até porque conhecendo a trajetória, essa ponte aérea invisível é o que está mais próximo dos primeiros dias da banda.
A conexão atemporal aconteceu muitas vezes na música brasileira, seja com Os Mutantes ou com Jupiter Apple. O que eles fazem mesmo é criar conexões com o cotidiano a partir da admiração pelo universo inerante a todas essas bandas. Assim como o reggae ganha mais força no material, seja pelo fascínio pelo The Clash, que já reverenciava The Specials, Junior Murvin e Toots and the Maytals, ou o Ultramen, que percorreu esse mesmo caminho inventivo, e punk, em terras gaúchas, sem perder a sua identidade brasileira.
São músicas com refrães marcados, atmosferas que cresce e um universo sonoro de quem chama o ouvinte para mais perto sob a perspectiva de quem quer apresentar outros universos além da música. Entre o cansaço da rotina, à contracorrente da resistência, a vontade de mudar o mundo e melhorar o convívio no que chamamos de planeta Terra… suas canções partem de um lugar de escuta e acolhimento.
Ironias e o senso de humor acabam entrando como um mecanismo de suavizar as mazelas e desafios enfrentados ao longo desta jornada. Assim como as quebras rítmicas, riffs swingados e pianos que parecem saltar. Entre teclados que parecem sair de clássicos dos anos 80, um rap surge no horizonte com espírito beatnik, como na astuta “Anjos & Demônios”.
Por diversas vezes, o disco te convida a baixar a guarda. Como se o protagonista tivesse te chamando para bailar, entre socos e quedas no ringue, retrata as batalhas diárias, suas consequências e vontade de dar a resposta à altura. O cinema e a cultura pop continuam presentes na narrativa, “Vivienne Westwood” é a prova disso. Entre a memória da icônica estilista inglesa, a química dos romances, a perspectiva viva dos dramas da vida e seus acasos. As soluções sonoras ao longo da narrativa vão da rispidez do punk, a complacência do reggae, o espírito rock’n’roll, as névoas do pós-punk e o lirismo (involuntário) da vida.
Entre o pós-punk, emo e o shoegaze, os curitibanos da Campolargo apresentam o segundo álbum de estúdio, Velhos Hábitos. Um álbum que prova desde a primeira música explorar as curvas mais densas do som aliado a um tom sereno para refletir sobre a vida.
Com arranjos bem executados, aura oitentista, camadas oníricas e espírito jovem, irão agradar fãs dos conterrâneos Jovens Ateus, Winter e terraplana. O tom da paleta sonora é monocromático, o preto e branco ganha a tela entre letras confessionais, bateria que faz quebras em faixas como “Gelo Seco” e “Cenas Que Se Repetem” – e guitarras que em certos momentos flertam com o dream pop. Já o espírito mais raw, punk e shoegazer transparece em “Pai”.
Porém o disco tem seus momentos de irregularidade dentro da narrativa que fazem com que o ritmo fique mais desacelerado e menos impactante. Entretanto, como fator positivo, foge de fórmulas marcadas para navegar em lugares mais densos e campos menos superficiais.
Uma estreia de veteranos do rock. Undo lançou sem muitos holofotes o disco homônimo, tendo em sua linha de frente André Frateschi nos vocais, Rafael Mimi e Johnny Monster nas guitarras, Rafael Garga na bateria e Dudinha Lima no baixo e na produção.
Foram vários singles que antecederam o registro que apostou justamente na estratégia que discos de pop rock de outros tempos exerciam, mas em tempos diferentes dominados por algoritmos e a insanidade das plataformas de streaming. O som faz aquela ponte entre o pós-punk, o rock alternativo e o indie rock, mirando o pop rock de outros tempos com direito a parcerias com Leoni e Dado Villa-Lobos.
Parece até mesmo mirar o legado deixado por quem sente falta desses artistas que ainda vivem no imaginário brasileiro como o “ouro do rock dos anos 1980“. O que é uma faca de dois gumes. Aproxima um público que busca pela nostalgia dessa sonoridade tão martelada por décadas nas rádios mas também corre o risco de cair em um lugar comum.
A new wave, referências ao The Cure, Depeche Mode, The Smiths aparecem pelo caminho, o rock de garagem chega de forma mais leve mas também contempla a obra…. mas fato é que ficamos procurando algo diferente. O que de forma alguma tira o valor do encontro entre os músicos.
Em fevereiro a LAVOLTA, de São Bernardo do Campo (SP), lançou o terceiro álbum de estúdio, No Estado Atual das Coisas Tristes. Agora chega ao mundo o videoclipe para “Yoga” protagonizado por Gustavo Bertoni (Scalene) e inspirado em filosofias orientais e com citação a Walter Franco no verso ‘tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo’.
A direção do clipe é de Zeca Vieira e Monstera Criativa, que também assinam as respectivas funções no audiovisual anterior, “Chora Mundo”. Com o encerramento do ciclo do disco, eles nos adiantam que em 2026 virá um novo EP.
This post was published on 10 de novembro de 2025 6:11 pm
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