Mike Hranica (The Devil Wears Prada) crava: “A música pesada precisa de uma nova cara”

 Mike Hranica (The Devil Wears Prada) crava: “A música pesada precisa de uma nova cara”

Para aquecer para o retorno ao Brasil do The Devil Wears Prada após 13 anos, tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista exclusiva com o vocalista/guitarrista Mike Hranica. Com realização da Liberation Music Company, os shows estão programados para acontecer nesta semana: 16/08 em Curitiba (PR), no Jokers (abertura do Crowning Animals garanta seu ingresso), e dia 17/08 em São Paulo (SP), no Carioca Club (abertura da Emmerciagaranta seu ingresso).

No setlist eles prometem um equilíbrio entre o antigo e o novo repertório, além de recursos audiovisuais e interações marcantes. Em momento de produção do novo álbum, eles disponibilizaram recentemente o videoclipe para o single “For You”, primeira música inédita do sexteto de Dayton (Ohio, EUA) desde o EP Chemical (2024).


The Devils Wears Prada retorno ao Brasil nessa semana após 13 anos. - Foto Por: Imani Givertz.
The Devil Wears Prada retorno ao Brasil nessa semana após 13 anos. – Foto Por: Imani Givertz.

Entrevista: Mike Hranica (The Devil Wears Prada) 

A última vez que o The Devil Wears Prada veio ao Brasil foi em 2012, naquela época promovendo o disco Dead Throne. De lá para cá foram lançados quatro álbuns e dois EPs, como se sente voltando para cá depois de tanto tempo?

Mike Hranica: “Sim, faz bastante tempo. Nas duas vezes que fomos ao Brasil e à América Latina nós nos divertimos bastante. Faz tempo demais e nós estamos muito felizes por estar voltando. Somos muito gratos por ter a oportunidade de viajar para fora dos Estados Unidos e ver o resto do mundo.”

Color Decay (2022) é o álbum mais recente da banda. Como tem sido a recepção do público para esse disco?

Mike Hranica: Tem sido ótima! Foi um disco que trabalhamos no final da pandemia e marcou um novo capítulo para a nossa banda. Foi como se acendesse um fogo em nós e nos deu força para continuar. E ele performou bem melhor do que nós poderíamos imaginar e até quando botamos ao lado do que estamos preparando para o próximo disco, nós estamos empolgados para continuar esse novo ato, como uma forma de celebração dos 20 anos da banda.”

Esse é um disco muito carregado emocionalmente. Ele lida com temas de saúde mental e solidão de uma forma bem crua e honesta. Saindo da pandemia, como foi o processo de composição?

Mike Hranica: “Teve uma participação bem intensa do Jonathan (Gering, tecladista do The Devil Wears Prada), que também é o produtor do disco e tem sido o produtor de tudo que fizemos desde então. Ele lidera desde a composição das letras até as guitarras e baterias. Isso foi grande parte do Color Decay e do que se tornou o nosso método de composição.”

Minha música favorita do disco é “Twenty Five”. É uma faixa bem pra baixo, brutalmente honesta.

Mike Hranica: Eu também adoro essa música, mas odiaria tocá-la ao vivo (risos). Eu não consigo me imaginar revivendo o conteúdo dela durante os shows. Mas de fato é uma música bem honesta.”

Desde então vocês lançaram três singles: “Reasons”, “Ritual” e “For You”. Três faixas bem distintas entre si e também bem diferentes das músicas do Color Decay. Que direção podemos esperar do próximo disco do TDWP?

Mike Hranica: “Muito groove, muito pop. Alguns momentos mais pesados, claro, vários breakdowns. Posso até dizer que alguns dos breakdowns mais ignorantes que já compusemos. Estamos bem empolgados, já estamos nos preparando para o anúncio do disco, estou ansioso para compartilhar o primeiro single, é bem pra cima e tão pop quanto conseguimos. Podem esperar uma grande coleção de refrões nesse disco. “For You”, por exemplo, tem vários momentos mais pesadinhos, mas com certeza está mais pro lado rock que pro lado metal. “Rituals” já é uma música mais pra cima, cheia de grooves. Pode esperar coisas bem nessa linha, estamos animados pelo anúncio.”

The Devil Wears Prada está completando 20 anos de carreira. Vocês vêm de uma geração de bandas de metalcore que inclui também A Day To Remember, Bring Me the Horizon e Architects, todas bandas que se mantiveram muito relevantes com a passagem do tempo. É muito interessante como essa cena conseguiu sobreviver bem à passagem de tanto tempo. Como você reflete na longevidade da cena?

Mike Hranica: “Com certeza devemos muito ao sucesso dessas bandas que você citou, que trabalham duro desde antes de nós até. Eu acho que é um privilégio ser considerado no mesmo grupo de artistas que admiro tanto quanto eles e ser uma inspiração para bandas mais jovens. Bandas essas que já são headliners de festivais imensos e que as bandas mais antigas, como nós, estão ficando cada vez mais velhas.

Eu acho que a música pesada precisa de uma cara nova e novos personagens envolvidos. Eu também estou muito empolgado por essas bandas dos nossos amigos, que fazem shows absurdamente imensos. Nós também trabalhamos duro e queremos fazer shows assim. Somos muito gratos por estarmos onde estamos e esperamos que no futuro, com os festivais e shows que faremos, dividindo line ups com essa cena mais nova e com as bandas mais antigas, que consigamos fazer apresentações incríveis também.”

Vocês já têm oito discos e se preparam para lançar o nono. Tem algum disco no meio do caminho que você acha que é o mais subestimado da banda?

Mike Hranica: “Não tanto, na verdade. Olhando para trás, um disco como 8:18 foi muito seguro, quase que uma cópia de Dead Throne. Mas, ao mesmo tempo, tem alguns momentos em Transit Blues e The Act que nunca tiveram seu tempo para brilhar. 

Músicas como “The Condition”, que eu amo bastante, por exemplo. Mas tudo bem, eu acho que isso é natural quando você lança tanta coisa em um mundo onde muita música é lançada. É difícil manter o público interessado em absolutamente todas as músicas. 

Nós vivemos em um tempo onde a atenção das pessoas é cada vez mais curta e nós temos que lidar com isso mesmo. Eu não acho que reclamar disso faz nada para ajudar, mas para todos que se interessarem por adentrar nesses lugares menos populares desses discos, temos grandes músicas para oferecer também.”

Um lançamento que eu gosto bastante de vocês é o EP ZII (2021). O que levou vocês a voltar para aquela era da banda, lançando uma continuação do EP Zombie (2010) onze anos depois?

Mike Hranica: “Sim, foi bem natural até. Nós estávamos todos isolados devido à pandemia e tínhamos bastante tempo para fazer. Zombie, o EP original, foi composto 95% pelo Chris (Rubey, ex-guitarrista da banda) que não toca mais conosco. Jonathan ainda não era membro também nessa época. O fato de ZII ter sido compilado basicamente por mim, Jonathan e Kyle (Sipress, guitarrista da banda) foi quase como tocar em um tema com um grupo de personagens diferentes, foi bem divertido. 

Eu não sei se eu consigo fazer outras cinco músicas na estética Zombie depois de já termos 10 lançadas, mas eu gosto demais delas. Acho que essa estética faz parte do legado da banda e faz parte de quem somos. Inclusive antes da pandemia, muitas das pessoas com quem eu me encontrava na fila do mercado ou lugares assim mencionavam o EP. Então voltar a ele na pandemia foi muito divertido e uma homenagem a esses fãs.”

(NOTA: Zombie é um EP conceitual do The Devil Wears Prada lançado em 2010, considerado por muitos como o trabalho mais pesado da banda. Saindo um ano depois de With Roots Above and Branches Below, que já era considerado um disco mais pesado do que os anteriores, em Zombie a banda se inspira muito em hardcore, metalcore e death metal clássicos, com músicas bem mais rápidas e com muitos gritos. Algumas das inspirações citadas são Hatebreed e Slayer. As letras falam de um mundo destruído por um apocalipse zumbi. Onze anos depois eles lançaram o sucessor, ZII, que segue a mesma linha de composição e continua os temas explorados anteriormente).

Isso mostra o quanto vocês gostam de mudar de direção de um disco para outro. Color Decay e ZII foram lançados com um ano de diferença um do outro e não poderiam ser mais diferentes. Qual a importância para você de continuar a mudar o seu som ao longo do tempo?

Mike Hranica: “Eu acho que se eu fosse tentar definir o gênero metalcore, uma grande parte disso seria tentar ser o mais pesado possível, tentando ter o refrão mais pop e grudento que você conseguir criar. Por muito tempo eu acho que a maneira que nós escrevíamos, bem como a boa parte da cena também, nós fazíamos grandes músicas de metal cheias de riffs e no refrão colocávamos uma parte cantada sobre acordes. 

Acho que conforme fomos envelhecendo, melhoramos muito a estrutura das nossas composições, dando muito mais atenção à coerência, aos temas, aos acordes e construindo as músicas em cima dos refrões, não deixando essas partes como uma reflexão tardia. Para muita gente o refrão é a parte mais importante da música e acho que justamente por isso nós nunca tivemos uma música que estivesse acima do top 40 das paradas de rock. 

“For You” chegou a 31 e é o nosso melhor resultado até hoje, sendo ela uma música composta do “refrão para fora”, ao contrário do que costumávamos fazer. Nós estamos tentando atingir ainda mais pessoas daqui para frente e vendo o que bandas como A Day To Remember tem feito, nós nos sentimos muito motivados a ajustar cada vez mais o nosso processo de composição.”

Você citou a importância da cena se renovar, tem algum artista mais novo que capturou seu interesse?

Mike Hranica: “Não necessariamente nessa cena, mas nós tivemos várias bandas incríveis abrindo nossos shows recentemente. Eu acho que isso é até mais interessante, misturar um pouco os gêneros para que nem tudo seja só esse metalcore meio robótico. Mas, por exemplo, alguns amigos meus têm essa banda Cloakroom que eu gosto muito, eles tocaram no festival Sound & Fury em Los Angeles. 

Tem também uma banda do Texas que eu gosto chamada Portrayal of Guilt, são uma coisa meio Black Metal e Post-Hardcore. Essas definitivamente são duas bandas com quem eu gostaria de excursionar, mesmo que elas não sejam exatamente novas, já tem algum tempo de carreira.”

E para além da música, quais são seus interesses e hobbies?

Mike Hranica: “Eu gosto muito de ter hobbies para além da música, eles me ajudam muito. Eu faço muita marcenaria. Eu faço as minhas próprias reformas, eu acabei de comprar um imóvel no Wisconsin em que eu estou trabalhando. Também amo hóquei, eu jogo bastante e tenho uma marca de materiais para o esporte. Eu também já gravei com outros projetos musicais e tenho alguns livros escritos. Divido meu tempo entre todas essas atividades e também a ser um bom marido tutor de cachorros. Eu sempre me mantenho muito ocupado.”

Você tem alguma mensagem para o público brasileiro?

Mike Hranica: Sinto muito que tenha demorado tanto tempo. Nós vemos todos os comentários de “Come to Brazil”. Levou algum tempo, mas vai ser muito divertido, as duas primeiras vezes que tocamos em Curitiba e São Paulo foram incríveis e eu tenho certeza que dessa vez também será. Estamos muito animados para ver todo mundo por aí e não falta muito!”

SERVIÇO

The Devil Wears Prada em Curitiba

Data: 16 de agosto de 2025
Local: Jokers (Rua São Francisco 164, Curitiba, PR)
Ingressos: https://fastix.com.br/events/the-devil-wears-prada-curitiba

The Devil Wears Prada em São Paulo

Data: 17 de agosto de 2025
Local: Carioca Club (Rua Cardeal Arcoverde 2899, São Paulo, SP)
Ingressoswww.clubedoingresso.com/evento/thedevilwearsprada-saopaulo

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