Ned Russin (Glitterer, Title Fight) fala da vinda ao Brasil e sobre a importância das cenas locais
Glitterer – Foto Por: Kevin Wilson
Vocalista de uma das bandas mais emblemáticas do hardcore da sua geração, Ned Russin, além do Title Fight iniciou sua jornada com o Glitterrer há alguns anos. Durante a pandemia refletiu muito sobre a solidão e como tocar em grupo sempre o moveu e por isso o projeto que funde elementos de post-hardcore e power pop, se tornou um quarteto tendo lançado o elogiado Rationale (Anti Records) no ano passado.
Atualmente estabelecido em Washington, D.C., o Gliterrer desembarca pela primeira vez em São Paulo com show marcado para o dia 16 de fevereiro na Casa Rockambole em mais uma produção da ND Productions.
Ned, o vocalista e baixista, que antes era o faz tudo Glitterer, começou a banda lá em 2017, um pouco depois da primeira pausa do Tittle Fight. Foram quatro discos produzidos por ele mesmo, alguns músicos convidados e turnês. De 2021 a Glitterer vira, de fato, a banda de quatro pessoas que é hoje e que vem ao Brasil: Ned Russin (baixo e vocal), Nicole Dao (teclado), Jonas Farah (bateria) e Connor Morin (guitarra).
Rationale, teve o requisitado produtor Arthur Rizk (Ghostmane, Code Orange, Power Trip), incorporando elementos de Indie Rock as referências supracitadas. Entre as referências para o disco estão bandas como Fugazi e Nation of Ulysses, bem como alguns dos grupos britânicos mais teatrais e conceituais dos anos 70 e 80 (por exemplo, Wire, Siouxsie e The Banshees).
Os ingressos estão à venda atualmente no segundo lote R$ 130,00 (2º lote, meia-entrada) e R$ 260,00 (2º lote, inteira). Garana o seu agora mesmo clicando aqui. Confira entrevista exclusiva para o Hits Perdidos!
Entrevista: Ned Russin (Glitterer | Title Fight)
O Glitterer está vindo pela primeira vez para o Brasil, e já faz 10 anos desde a última vez que você esteve aqui com o Title Fight. Qual a sua expectativa para esse show?
Ned Russin: “Eu tento não criar expectativas para shows. Eu prefiro tentar estar no momento e viver as coisas como elas são. Dito isso, essa tour é algo pelo qual estamos trabalhando há bastante tempo e tem me animado bastante. Eu estou muito feliz que nós temos a oportunidade de viajar pela América do Sul.
É um lugar que eu sei que nem todas as bandas têm a oportunidade de visitar. Estamos muito ansiosos para essa viagem! Não quero criar expectativas de forma “tem que acontecer X ou Y para que os shows valham a pena”, acho que vamos nos divertir bastante de qualquer forma!”
Glitterer começou como seu trabalho solo e você gravava e se apresentava sozinho nesse projeto. Após a pandemia, você começou a excursionar como uma banda completa e trocou o formato do projeto. Como foi esse processo de reaprender as músicas antigas como uma banda?
Ned Russin: “Eu comecei a banda sozinho parcialmente por conta das circunstâncias. Eu estava morando em Nova Iorque, estudando em tempo integral, trabalhando e tentando tocar música. Era muito difícil me juntar com outras pessoas naquele momento. Mas eu também queria provar para mim que eu podia escrever música sozinho, então fiz isso por um tempo.
Sendo bem sincero, eu gostava muito de tocar sozinho porque eu acho que os shows confrontavam a plateia, eram meio esquisitos na cena punk. Quando a pandemia chegou, eu realmente não quis mais tocar sozinho. Foi um período muito solitário e me fez querer voltar a dividir os palcos com outras pessoas. Tocar em grupo é o que tenho feito desde que eu era uma criança e eu entendo que é a melhor maneira de fazer música, logo foi muito fácil voltar para esse lugar.
Eu me mudei para Washington D.C. logo antes da pandemia, então a parte mais difícil foi achar um grupo de pessoas para tocar comigo. Mas eu tenho visitado D.C. constantemente desde que eu era adolescente e já tinha um bom grupo de amigos aqui. Montar a banda foi algo que veio naturalmente e foi fácil voltar para esse lugar no qual me sinto muito confortável.”
Agora vocês lançaram Rationale, o primeiro álbum do Glitterer como banda completa. O processo de composição foi feito em grupo também?
Ned Russin: “Sim! Agora a banda é um grupo completamente colaborativo desde que nos juntamos. Eu não quero que seja a minha banda, não quero que as outras pessoas fiquem ouvindo somente as minhas opiniões. É como eu acho que toda banda deve operar. Uma unidade colaborativa onde todos tenham o direito de expressar suas opiniões, suas sensibilidades. Todos se juntando para criar uma obra.”
E vocês levaram os shows em consideração quando compuseram as músicas? Imaginando o que poderia dar certo ou não nesse formato?
Ned Russin: “Eu acho que sempre considero as apresentações ao vivo quando escrevo músicas, mas é difícil descobrir como as coisas vão se encaixar nos shows. Sempre pensamos primeiro no que gostaríamos de tocar ao vivo porque é nesse formato que a música se torna real: quando você a compartilha em tempo real com outras pessoas.
Também tem o fato de que tocamos todas as músicas do disco antes mesmo de gravá-las. Queríamos testar todas, ver como elas soavam e como se encaixavam no setlist entre outras músicas. Nós já estávamos tentando entender o funcionamento dessas músicas há algum tempo. Os shows realmente são uma das nossas preocupações principais.”
Você tem um catálogo de composições mais antigas que vai trabalhando ao longo do tempo ou começa do zero quando vai compor um novo disco?
Ned Russin: “Quase sempre do zero. Tiveram algumas ocasiões, inclusive uma nesse disco onde pegamos uma música mais antiga e retrabalhamos ela. Mas basicamente todo novo disco é uma nova chance de tentar ideias novas.
Eu quase sempre perco as ideias antigas que não são usadas. Minha opinião é de que se uma música não chegou no ponto final, então ela não é necessária. Então tenho várias gravações de ideias inacabadas, riffs e coisas assim, e quando o álbum está finalizado, eu volto raramente a elas. Tento sempre seguir em frente.”
Sei que você é um grande fã de música e já confessou escutar muitos gêneros diferentes, mas você vem da cena do Hardcore. Como começou seu interesse por música e por Hardcore em específico?
Ned Russin: “Minha família é muito musical, sabe? Meus pais são amantes da música, meu pai cantou por muito tempo em corais e os dois tocam piano. Para eles era muito importante apresentar a música a mim e aos meus irmãos desde cedo. Foi algo pelo qual nos interessamos muito e nos sentimos naturalmente capazes de fazer.
Mas acho que a parte engraçada é que meus pais, por mais aficionados em música que sejam, não são fãs de bandas no geral. Eles têm CD’s e coisas do tipo, mas nós nunca fomos uma família que ouvia um disco específico como uma obra completa, sabe?
Mas meu irmão mais velho, que é 7 anos mais velho que eu, começou a se interessar por punk e hardcore na sua adolescência. Eu e meu irmão gêmeo, Ben (baterista do Title Fight, atualmente no Citizen), nos interessamos muito por esse tipo de música por influência dele. Era um gênero que parecia excitante e um pouco perigoso.
Nós continuamos ouvindo as coisas que ele nos mostrava e quando ele saiu de casa para a faculdade, nós começamos a tocar música e ir para os shows locais. Nós tivemos essa fundação muito preciosa que veio do nosso irmão mais velho, que nos apresentou bandas que amamos até hoje, mas também tivemos muita sorte de vir de um lugar que tinha uma cena musical muito viva e interessante. Com o acesso a esses shows, conseguimos fazer muitos amigos, conhecemos várias outras bandas até formarmos nossa primeira banda. O ciclo começou assim e é exatamente isso que fazemos até hoje, nos sentindo cada vez mais interessados em música e tentando nos envolver cada vez mais com isso.”
Você conhece algo da música brasileira? E em especial, algo do hardcore brasileiro?
Ned Russin: “Da última vez que estive no Brasil, tocamos com algumas bandas de hardcore locais e fizemos vários amigos que nos deram seus discos. Foi algo meio contido ao grupo de bandas que estiveram lá, mas tivemos contato, sim, com hardcore brasileiro. Eu tenho um amigo que é muito fã de uma banda de hardcore straight-edge brasileira, o nome é Point of No Return. Gosto muito deles também.”
Vocês tocam com muitas bandas locais nas cidades que vocês visitam. Nesse próximo show no Brasil vocês tocarão com duas bandas daqui, o Metade de Mim e o homeninvisível. Qual a importância de tocar com bandas locais para você?
Ned Russin: “Eu tenho pensado bastante nisso ultimamente, sabe? Eu me importo bastante com a existência dessas cenas locais e sendo uma banda que viaja, você está numa posição esquisita porque você não é parte disso. Mas será que tem uma forma de conseguir ajudar essas cenas que visitamos?
Não quero que seja uma relação unidirecional onde apenas o público da cidade nos ajuda indo ao show e comprando merch. É uma linha difícil de andar quando queremos viajar o mundo e, ao mesmo tempo, querer que as cenas locais sejam autossuficientes e se sustentem no longo prazo.
Então para mim a única maneira de fazer isso de forma apropriada é tocar com bandas locais. Nós nunca seremos parte dessa cena de São Paulo, mas podemos ter esse gostinho e conhecer essas bandas locais que representam melhor a área, que entendem o que está acontecendo na cidade e no país. Essa é a melhor maneira de excursionar, sendo um tipo de mutualismo. Isso faz o show ser menos deslocado da realidade local. Nós não queremos que pareça que estamos nos infiltrando em uma cidade, nos exibindo para o público e indo embora.”
Tem alguma cena local que te anima atualmente?
Ned Russin: “Eu acho que tem uma cena muito legal em D.C. atualmente. Tem muitas bandas novas de pessoas bem jovens e talentosas aparecendo, isso é ótimo. Duas bandas em particular que eu gosto muito são Posición Unida e Expiration Date. São bandas bem jovens de hardcore e isso é algo muito animador. Ver esse grupo de jovens se unindo e fazendo algo muito bom.”
E para além da música, quais são seus interesses ou hobbies?
Ned Russin: “Eu gosto muito de ler, adoro literatura de ficção. Tento me manter a par de lançamentos em algumas pequenas editoras contemporâneas, essas costumam ser minhas obras favoritas. E acho que meu outro grande interesse é o skate. Eu sou muito ruim, mas tento continuar mesmo assim, gosto bastante.
Também acho que os vídeos de skate são uma forma artística muito interessante. Tem muitas coisas interessantes para além das manobras em si, mas a maneira como são filmados, as músicas de fundo. Todos esses componentes são muito especiais e tem artistas e atletas muito interessantes. Acho que esses são meus três maiores interesses mesmo: música, literatura e skate.”
Chegando ao fim da entrevista, sei que você disse que está tentando não criar expectativas com o show, mas posso te garantir que o público brasileiro está muito animado com esse show. Gostaria de saber se você tem alguma mensagem para os fãs brasileiros?
Ned Russin: “Nós estamos muito animados para essa turnê. É muito bom para mim poder voltar ao Brasil e todos os membros do Glitterer estão empolgados de tocar em novos locais com a banda. Vai ser ótimo conhecer novas pessoas e tocar para vocês. Espero que possamos ver todo mundo lá e será muito divertido!”
Serviço
Glitterer dia 16/02 em São Paulo
Data: 16 de fevereiro de 2025 (domingo)
Horário: 16h (abertura da casa)
Local: Casa Rockambole (Rua Belmiro Braga, 119 – Pinheiros, São Paulo – SP)
Ingressos à venda no site
Valores: R$ 120,00 (1º lote, meia-entrada) e R$ 240,00 (1º lote, inteira)