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Adorável Clichê atravessa a névoa em “sonhos que nunca morrem”

Após anunciar parceria com o selo paulistano Balaclava Records, no dia 11 de junho, foi disponibilizado o single “aonde mais” – acompanhado de um videoclipe, posteriormente “Amarga“, e no dia 02 de julho o single “um sorriso que se vai“. Agora finalmente é chegada a hora de conhecer o segundo disco de estúdio da Adorável Clichê, sonhos que nunca morrem.

O grupo de Blumenau (SC) é composto por Felipe Protski (guitarra/synth/vocal), Gabriel Geisler (baixo), Gabrielle Philippi (vocal/composição) e Marlon Lopes da Silva (guitarra/vocal).

sonhos que nunca morrem é um disco que passa por temáticas que vão dos conflitos dos relacionamentos, entre as despedidas, tomadas de ação, receios, confissões e o etéreo. Sempre flutuando pelas influências do rock gélido que compreende o som do grupo que passeia pelo dream pop, post-rock, indie e shoegaze, tendo grupos como Explosions in the Sky, Slowdive, Diiv e The Joy Formidable, como referências diretas.


Adorável Clichê lança seu segundo álbum “sonhos que nunca morrem” pela Balaclava RecordsFoto Por: Jean Affeld

O Processo de Produção

”Compor sempre foi pra mim uma forma de explorar minhas próprias emoções; expô-las pra mim mesma para poder me entender melhor e trabalhar minhas questões pessoais. Então eu sinto que a energia que gira em torno desse álbum tem a ver com se conhecer, se reconhecer, abandonar o que não serve e todas as mudanças que envolvem tomar posse da própria vida como adulta.”, diz Gabrielle Philippi, vocalista e compositora da banda.

Assim como seu debut, o material foi produzido e gravado no quarto do seu guitarrista e produtor Marlon Lopes da Silva.

“Tivemos vários contratempos no caminho, desde problemas pessoais até a pandemia. Nesse contexto, não havia outro cenário além de continuarmos produzindo em casa. Acredito que isso agrega um toque mais pessoal a todo o trabalho.”

“Quando produzimos e gravamos o O Que Existe Dentro De Mim, tinha muito menos conhecimento em relação a todo universo do áudio do que hoje. Acredito que a evolução nos aspectos técnicos de produção e mixagem seja bem evidente. É claro que apenas isso não cria um bom álbum, por isso tentamos explorar sonoridades e levadas que nunca havíamos feito.”, complementa Marlon.

A Capa

A capa é uma foto tirada pelo pai da Gabi, vocalista da banda, tirada dela mesma pequena tomando café antes de ir pra aula em um inverno. O conceito visual do álbum complementa o título “sonhos que nunca morrem” por serem recortes do passado e de “épocas mais simples”.



Adorável Clichê sonhos que nunca morrem

Após 4 longos anos o trabalho está disponível para todos trazendo consigo mais sintetizadores consigo do que o habitual da discografia dos catarinenses que teve seu álbum de estreia O Que Existe Dentro de Mim presente na lista de Melhores Discos Nacionais de 2018 do Hits Perdidos, é bem verdade.

“como era antes”, responsável por abrir o álbum, feito uma névoa no inverno que chega tomando toda a floresta, chega acompanhada de sinos e é recheada de incertezas. A canção é embalada numa nostalgia de um emaranhado de sentimentos conflitantes sobre uma relação que agora vive apenas no plano das memórias. A quebra de vínculos ganha guitarras etéreas acompanhadas de uma batida seca e pedais de distorção que se entrelaçam aos vocais doces de Gabi.

Em “devagar” já notamos mais as referências de bandas como Slowdive, e se na anterior podíamos observar no horizonte uma névoa, agora as nuvens aparecem até mesmo nos versos… em faixa que dá luz aos receios na construção de vínculos.

“O sol já vai voltar
E o mar ainda está
ao meu redor
Sei que vamos lembrar
da sensação nervosa na garganta
na garganta”, verso de “devagar”

Das mais confessionais, “medo” tem toda uma narrativa de roteiro de filme, dá até para imaginar um videoclipe onde a protagonista passa por obstáculos, entre emoções que se destilam na compreensão dos sentimentos em meio a suas curvas sinuosas.

A necessidade de se desprender das memórias para poder seguir em frente aparece através dos sintetizadores de uma balada improvável que aos poucos ganha o peso da distorção de guitarras que se esvaem da mesma maneira que aparecem.

Explorando a sonoridade do grupo que flua pelas ondas sinuosas do dream pop, a temática da última música a ser composta do vindouro álbum, “aonde mais” faz uma série de analogias, entre elas, a abordagem dos “serial killers”, e suas inúmeras fugas de si. Sobrou até mesmo para um dos personagens mais marcantes de Anthony Hopkins nas telonas.

“A letra surgiu na minha cabeça com a cena de Hannibal na Itália se iludindo de que ninguém o encontraria e ele viveria uma vida dos sonhos, mas ele acaba agindo da mesma forma, despertando suspeitas de um policial.”, diz Gabrielle Philippi que assina a composição

“Achei que fosse uma analogia engraçada com pessoas que se recusam a mudar esperando que as coisas mudem pra elas, eternas fugitivas do próprio reflexo. Quando percebem que estão prestes a serem descobertas e terão que olhar para si mesmas, elas preferem fugir. E, na verdade, ‘quem nunca?’, não é mesmo?”, completa a vocalista

Marlon, que costuma ser o grande engenheiro das melodias no quarteto, e também responsável pela produção e mixagem do novo disco, revela um pouco mais sobre o processo de fundir referências.

“O instrumental dessa música surgiu rapidamente, depois de dias ouvindo New Order e Beach Fossils. Logo que eu a terminei, já sabia que ela estaria presente no álbum”

Suas guitarras melódicas criam toda uma dinâmica de confusão, a camada de violão, lembra sim clássicos do estilo, e já foi usada como recurso inúmeras vezes, como, por exemplo, por grupos como Echo & The Bunnymen, e Mazzy Star. A ideia de confusão, de cair em círculos, se afogar nas próprias frustrações e culpas, aparece na faixa que justamente expõe o lado errático do comportamento humano em tom de desconforto e apatia.



Para dar luz a trama da faixa, eles tiveram a ajuda do diretor, cineasta e também protagonista no videoclipe, Bruno de Oliveira. Ele que reside em Los Angeles, nos EUA, e apenas com uma handycam faz um passeio pela cidade sem rumo, ajudando a ilustrar as voltas e reflexões presentes na letra da canção.

No roteiro, clipe busca retratar a fuga de si mesmo narrada pela letra, além da desolação de entender que no fim “você é sempre o mesmo”. Para a edição da produção audiovisual, uma referência forte foi a estética do clássico de Taxi Driver, filme que consagrou Robert De Niro. O que ajudou no processo de seleção e edição dos takes.

Entre as referências de “um sorriso que se vai” está a banda estadunidense Wild Nothing, a faixa ainda conta com sintetizadores que levam o ouvinte a reflexão. A intensidade vive nos versos que falam sobre as escolhas que temos que tomar em nome de encontrar a própria felicidade e, consequentemente, nossa essência. Mesmo que isso sacrifique “amizades”, círculos sociais e convicções.

“A letra aborda situações onde as pessoas que você ama são apegadas a partes de você que lhe fazem mal e que quer abandonar, assim o eu lírico percebe a necessidade de também correr o risco de abandonar o afeto delas em busca de se desenvolver e tentar ser melhor para si mesmo.

É um manifesto de autossalvação, autoestima e da importância de conseguir enxergar quando o afeto de alguém pode te prender a situações ou emoções negativas.”, revela a banda 

A carta de despedida, coloca os vocais de Gabrielle em primeiro plano com uma melodia que parece andar em círculos, entre os conflitos e reflexões que a temática engloba. A percussão da sua introdução lembra até mesmo um pouco as ambiências que o The Velvet Underground faziam ainda na década de 60, que se somam a estética do dream pop e aos vocais confessionais que envolvem o expurgo da dor de ver um filme passar pelo retrovisor.



“amarga” assim como as duas anteriores também foi lançada como single. É uma das mais pops e com refrão mais marcante do segundo álbum dos catarinenses. Suas paredes de guitarra, em sua segunda parte, provavelmente vão incentivar com que air guitars sejam executadas durante sua execução nos shows programados para acontecer a partir de agosto.

“Quem só te procura quando está em uma situação difícil ou ruim, como se você fosse um coletor de lágrimas, mas não te inclui nas partes boas da vida. Você sempre tem que ver a pessoa feliz só “pela janela”, com outras pessoas, e não sabe como quebrar o ciclo porque no final, tem coração mole. Assim, sempre acaba, mesmo com muita amargura no coração, recebendo e abraçando essa pessoa novamente. No final, há uma aceitação na música, um “Fazer o quê?”

‘Amarga’ é a música mais antiga desse álbum. Temos ela indo pra lá e pra cá no nosso grupo desde 2021. Ela teve algumas versões pelo caminho, mas chegamos num veredito apenas em 2023, quando de fato começamos a trabalhar no álbum.”, contou Gabrielle Philippi, durante o lançamento da canção

Já o clipe para “amarga” foi filmado à noite e com a utilização de uma luz vermelha para dar mais intensidade emocional às imagens no centro da cidade de Blumenau, em frente ao Rio Itajaí-Açu, na Rua das Palmeiras e na ponte de ferro da cidade, Aldo Pereira de Andrade.

Todos os takes filmados com os integrantes sozinhos servem para expressar a solidão do eu lírico, enfatizado pelo take em que a Gabi aparece sentada sozinha em frente à uma casa histórica da cidade em uma rua com movimento. A direção criativa do clipe foi feita em conjunto entre todos da banda e o diretor Jean Affeld. A edição do vídeo é de Marlon Lopes da Silva.



“as coisas mudam pra melhor” é uma música, mas também se agarra a um mantra que ecoa no próprio título. Temas sensíveis dos nossos tempos como a ansiedade e o sentimento de culpa deságuam em seus versos cortantes, entre sussurros, tensão e a frieza da execução dos acordes. É daquelas que quem estiver passando por um minuto difícil vai se identificar.

“Porque eu não aguento mais
tantos finais
As despedidas se tornaram
tão banais
que às vezes me pergunto
se ainda sinto alguma coisa
além desse vazio
que me corrói
a indiferença é
o que destrói
Qualquer senso de caminho
e o que me faz sempre esperar”, verso de “as coisas mudam pra melhor”

Com certeza o trecho “Chegar em casa/só pra sentir/a ansiedade esmagar/a culpa em mim” vai ser cantado aos quatro ventos durante os shows.

Com uma linha de baixo mais sóbria e linhas mais melódicas de guitarra, “Fogo” é uma grande sessão de terapia com si mesmo onde o passado vira apenas uma folha de papel rabiscada. O trabalho rítmico e a dualidade das guitarras, ora bruscas, ora melódicas, conseguem extrair todo o descompasso dos sentimentos… entre a calmaria silenciosa da ansiedade e a batida acelerada dos corações aos prantos.

Quem fecha o disco é “distantes”, uma reflexão sobre o gosto amargo do distanciamento e suas consequências de momentos que agora são apenas memórias, como o próprio nome da música diz… distantes. A saudade se confunde com o vazio, o espaço real e o plano da idealização se embaraçam no horizonte e a vontade de se esvair daquele tempo e espaço… paira no ar. Entre o descompasso entre a realidade e o plano das ações. O buraco parece ser ainda mais fundo.

Tracklist

1 – como era antes
2 – devagar
3 – medo
4 – aonde mais
5 – um sorriso que se vai
6 – amarga
7- as coisas mudam pra melhor
8 – fogo
9 – distantes

Ouça nas plataformas digitais

This post was published on 9 de julho de 2024 9:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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