Yago Oproprio revela nova identidade, reflete sobre amores e faz crítica social em estreia

 Yago Oproprio revela nova identidade, reflete sobre amores e faz crítica social em estreia

Yago Oproprio lança álbum de estreia, “Oproprio” pela Som Livre – Foto: Divulgação

Yago Oproprio lança seu debut Oproprio

Alguns momentos são marcantes na carreira de um músico, mas poucos são tão importantes como o de lançar seu primeiro álbum. Ainda mais com todo o contexto, Yago Oproprio, vem diretamente da Zona Leste de São Paulo, mais precisamente da Cohab II.

Na audição do disco ele mesmo cravou o quanto relutou por esse momento, de esperar a hora certa, de ter certeza da história que queria contar neste capítulo tão importante. O material vem logo com o peso de lançar pela Som Livre e conta em sua tracklist com 10 canções inéditas.

Sua crescente veio justamente com o single “Imprevisto”, que na sequência veio o EP O Inquilino, que durante o lançamento ele falou por diversas vezes o quanto importante era esse trabalho.

“Minha formação se deu através dele. Mas, diferente do que era feito décadas atrás, busco trazer, a partir da minha ótica, situações do cotidiano”, comenta o músico

Seu novo material, o debut Oproprio, também consolida suas referências que vão do boom bap, passando pela música latina, o que tem muito a ver com a sua própria história, já que na adolescência viveu na Venezuela, e na EP, ele até mesmo cita nomes como Cássia Eller, Jorge Ben Jor, Chico Buarque e outros como parte das suas referências.

Já no rap ele tem como inspirações em nomes como Criolo, Sabotage e Racionais MCs.


Yago Oproprio - Oproprio CAPA do disco de estreia 2024
Capa do álbum de estreia de Yago OproprioPor: Fernando Marar, Rodrigo Branco e Ênio Cesar.

Além da Venezuela, ele também já pode morar em São José dos Campos (SP), onde começou no freestyle. Tendo na virada de 2017 para 2018, gravado a sua primeira música. Tendo sempre incentivo dos pais, ele cresceu no meio artístico, tendo o pai sendo criador do coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes, este que já existe há 25 anos.

“A raiz do meu trabalho está no boom bap, minha formação se deu através dele. Mas diferente do que era feito décadas atrás, busco trazer, a partir da minha ótica, situações corriqueiras do cotidiano, comum a todos, para gerar identificação com aquilo que canto, escrevo e que vivo.

Eu uso a poesia e a melodia como artifícios para se chegar a um lugar novo dentro de uma vertente tão histórica”, disse Yago Oproprio em entrevista 

O material chega com produção do beatmaker Patrício Sid e teve projeto desenvolvido ao longo de 2023 pela EME Cultural, de Raphael Damiati, junto com o diretor criativo Fernando Marar, marca um novo momento da carreira de Yago.

Um Spoiler: em breve o disco ganhará versão física em vinil.

O Filme do Álbum 

Além do disco, o material chega acompanhado por um filme de 10 minutos que une três faixas que ele mesmo diz que a equipe da produção audiovisual acertou em cheio. O processo foi até mesmo destacado, onde ideias do próprio músico se somaram após horas de relatos coletados pela equipe.

Produzido pela Stink, e direção de Ênio Cesar, Larissa Zaidan e Luis Carone, a peça audiovisual narra as histórias apresentadas por Yago nas letras de “La Noche”, “Inofensiva” e “Jejum”.



O projeto gráfico

O projeto gráfico do álbum foi liderado pelo diretor criativo Fernando Marar, que buscou nas cores primárias a base da estética de toda a expressão visual. Já o artista plástico Rodrigo Branco foi o responsável por transformar a foto analógica de Yago, do fotógrafo Ênio Cesar, em uma pintura exclusiva que veio a se tornar a capa do material.

Durante a audição, o diretor criativo Fernando Marar, foi chamado para o palco contar um pouco mais sobre a concepção do projeto gráfico e da logo criada especialmente para apresentar a nova fase. Yago Oproprio, inclusive, foi trajado com uma jaqueta cheia de patches da nova identidade visual.

“A gente se conheceu faz um ano. A minha favorita do disco, inclusive, é “Papoulas”. A primeira coisa que a gente sempre falou foi sobre como traduzir a visão do Yago. Eu perguntei para ele como ele via o seu som. Ele falou “eu vejo o meu som uma capa preta”, eu falei “beleza, resolvemos então”. Eu falei “cara, mas pera aí e essas cores que você usa?”

Começamos a conversar e as cores primárias que ele usava tinham muito a ver com o Rodrigo Branco. E esse trabalho é sobre sincronicidade. Um dia fui, eu, a Lari, o Rodrigo Branco, Ênio, Luiz, falar com o Yago para tentar entender como que a gente tentar ajudar ele a traduzir visualmente essa parada e aí o Rodrigo começou a questionar as cores primárias, falar das relações primárias, e outro dia eu vi a mãe do Yago quando alguém perguntou das cores no Instagram dizendo “Ele usa isso desde pequeninho”. Aí fizemos essas fotos pra poder entender como é que a gente ia pintar e queríamos muito que essa parada se materializasse além do digital. Porque acho que a gente está sempre muito no digital.

Aí as coisas foram se misturando, a gente decidiu lançar um filme para lançar e tinha muito dessa coisa cíclica e do olhar. Foram várias discussões sobre isso. A gente fala muito do rap e o rap às vezes pode ser o olhar dentro da manifestação, de se projetar com mais agressividade, e que tá super correto, mas acho que o Yago sempre trouxe uma visão de quem tá dentro, mas quem olha de fora – e do nada você vê uma bomba que explode por dentro e você tá cantando aquela melodia que parece um love song, mas que, na verdade, era uma letra que já tava na tua cabeça.

Ele falava muito sobre que o primeiro EP, primeiro single que ele tinha soltado ali, era O Inquilino e aí a gente falou “cara, o que é o inquilino?”. E ele falou “é que a minha música, ela aluga a cabeça das pessoas”. Mas isso aqui era para ser o proprietário e a gente achou que aquilo era muito capitalista e falou “proprietário, porra nenhuma!”. É Oproprio.

E aí veio a capa, e aí veio a cara, mas a gente não sabia estampa a cara. A gente começou pelo olhar que eu acho que o Yago, sobre tudo, a questão é a visão. E o Branco falava “mas vocês vão tampa a boca do artista?”. E falamos “Cara, podem tentar tapar a boca mas nunca vão tampar a sua visão e o que você quer colocar no mundo. E é um privilégio mano poder estar aqui hoje!”, contou o diretor criativo Fernando Marar durante a audição que aconteceu na Audio

Yago Oproprio Oproprio

O disco já abre com um sample precioso de “La Luna en Tu Mirada”, canção de 1964 da banda cubana Los Zafiros que se inspirava nos grupos estadunidenses de doo-wop. A mesma referência foi utilizada em “La Luna Enamorada”, de Kali Uchis, presente no disco Sin Miedo (Del Amor Y Otros Demonios), de 2020.

Durante a audição para imprensa e convidados, ele conta que as primeiras três músicas passam pela temática do campo profissional, dos sacrifícios e sangue escorrido, de uma rotina de quem tem que fazer seu “corre” para sobreviver. Frases como “sou o silêncio antes da troca de assunto” e “a voz que busca paz de todos que ficaram mudos” soam como pequenos desabafos do cotidiano.

“Inofensiva” tem foco no flow em seu instrumental. Ele narra as mazelas da luta de classes e as pequenas opressões do dia a dia na vida de quem bate o cartão na firma. A melancolia ganha a companhia de um sax que faz “seu blues” na era moderna.

A religião sob o ponto de vista positivo, foram essas as palavras que Yago Oproprio descreveu ao citar “Catedrais”. Nela o céu e o inferno, Deus e o diabo, entram em conflito. Suas referências de música brasileira aparecem com mais força nesta que faz um paralelo com “Canto de Ossanha”, clássico da MPB.

Se tem uma arte que Oproprio se destaca desde os primeiros singles são as love songs. E “Fora do Tom” foi do lugar de quase fora do disco para uma das favoritas do próprio. O mundo realmente dá voltas durante a produção de um disco, não é mesmo? Daquelas para ouvir em casal, ainda mais em época de Dia dos Namorados. Ah, a balada romântica ainda tem uma pequena referência a “Coisas que eu sei”, da Danni Carlos.

“Melhor que Ontem” tem uma curiosidade na hora da criação bem off the records. Mas aqui vamos contar. Ele contou no palco da Audio, onde foi realizada a audição em primeira mão, que ficou na cabeça com uma brincadeira em que fazia com a mesma melodia presente na canção uma fala mais ou menos assim: “Tomando um quadradinho (de doce) eu vou longe, eu vou muito longe”.

Yago Oproprio chegou em casa e ficou pensando, até que às 3 horas da manhã começou na base do freestyle a transformar aquilo tudo em uma canção de fato. E não é que a melodia fica na tua cabeça? Transformou tudo isso em melancolia e reflete sobre as suas vivências e batalhas pessoais.

“Enigma”, é uma das que Yago tem desejo de gravar em uma versão deluxe uma versão com o João Gomes, conforme revelou o rapper durante o lançamento. Segundo o músico, a love song, com batida que flerta com o trap e a música brasileira, tem a alma de um piseiro. Ela discorre sobre seus dilemas dentro das relações, os comportamentos, muitas vezes nocivos, que acaba voltando a reproduzir, e a vontade de quebrar esse ciclo.

Se o outro bloco era formado por love songs para curtir a dois. Essa sequência é mais reflexiva, fala sobre a toxidade dos relacionamentos e o sentimento de perder o chão. “Modus Operandi” continua a narrativa da anterior, dos aprendizados ao amargo da culpa, pelas atitudes. Entre as idas e vindas, o mundo gira.

Talvez “Papoulas” seja o hit não tão perdido assim do álbum de estreia do Yago Oproprio. Produzida ainda em 2022, essa é daquelas que ficaram na gaveta por muito tempo, mas que com incentivo do empresário entrou no álbum ganhando arranjos de sopros, no melhor estilo FKJ. Este que o rapper revela que sonha em ter uma versão ao lado do francês. A love song fala sobre a química entre um casal e a procura por respostas.

A sequência mais forte vem junto com “Jejum” que revela a indignação com a fome. Uma das suas lutas. Aliás, uma luta em comum com Chorão. O músico do Charlie Brown Jr. não podia ver ninguém passando fome que já queria ajudar. As opiniões contrastantes do dia a dia também ganham versos mais ásperos em meio a um beat em looping.

Quem fecha é “Linha Azul”, faixa que antigamente chamava “Pulando Catraca” e segundo Yago era uma faixa que seu pai queria muito que entrasse no disco. O pedido foi uma ordem. Naquele mesmo dia ele mandou para o beatmaker que fez um beat poucas horas depois… o resto é história. Uma das inspirações foi justamente os protestos pelo preço da passagem, já com menor força, em 2022.

Ele estava no estudio da EME, gravando “Jejum” e viu cerca de 30 fãs juntos aos protestantes pelo preço da passagem, na época R$4,40 (hoje R$5). Identificado com ideais de esquerda, ele mesmo disse que a realidade foi muito chocantes em comparação com as manifestações de 2013, o tal do protesto pelos R$3,20 que deu no que deu. Com refrão chiclete, ela que tem uma base de samba, tem tudo para ser uma das mais cantadas no show. Sua melodia é justamente das músicas que cantamos para crianças, o que deixa ela com certa leveza.


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