El Toro Fuerte sobre a volta as atividades: “O momento não podia ser melhor”

 El Toro Fuerte sobre a volta as atividades: “O momento não podia ser melhor”

El Toro Fuerte em 2018 – Foto Por: Vitor Jabour

Após 4 anos de hiato, a El Toro Fuerte se prepara para a volta com uma série de shows em São Paulo, no Banda de Casinha, Belo Horizonte (ao lado do terraplana) e em breve deve anunciar outras pelo Brasil.

O quarteto mineiro que tem em sua discografia dois discos (Um Tempo Lindo pra Estar Vivo [2016] e Nossos Amigos e Os Lugares Que Visitamos [2019]) nos conta em entrevista exclusiva sobre diversos assuntos como as motivações da pausa (e volta), referências, produção de música independente no país e ainda dá conselhos para as bandas da cena.


El Toro Fuerte - Banda de Belo Horizonte de rock triste
El Toro Fuerte, de Belo Horizonte. – Foto: Vitor Jabour

Entrevista: El Toro Fuerte

Da época que vocês pararam para cá, teve uma pandemia no meio e muitas outras coisas, o que vem que mudou em termos de cena e rolê como um todo?

Gabriel: “Eu acho que ficou mais difícil para uma banda independente fazer shows, muitas casas fecharam, né? E houve o afastamento das pessoas também; ficou mais difícil conseguir tirar a galera de casa.

Porém, o que eu acho mais legal é que algumas bandas independentes não param de lançar coisas. A galera deu seu jeito de produzir, fazer lives, shows com poucas pessoas. Enfim, eu acho que tudo isso ajudou para que a cena musical do país continuasse viva, e agora sinto que as coisas estão voltando ao seu devido lugar. E olha só, até a El Toro voltou (risos).”

João: “Acho que a gente ainda tá absorvendo as mudanças, sabe? No meu caso, eu me afastei muito do cenário de bandas independentes nos últimos três anos. Fui morar no interior de Minas, dediquei meu tempo a outros tipos de trabalhos de comunicação popular e audiovisual, cinema… Mas tenho a impressão que a volta da pandemia deu um gás na vontade das pessoas de sair, viver a rua e a cultura de shows… Então, acho que é um ótimo momento pra voltar a tocar.”

Fábio: “Acho que tem algumas mudanças e algumas repetições. Vejo bandas tocando em alguns dos mesmos espaços em que comecei, com um público mais jovem agora que o pessoal que frequentava shows das bandas de 10 anos atrás casou, trabalha, não tem tempo pra isso ou percebeu que as coisas realmente ficam repetitivas e que a maioria dos shows é chato.

Nesse nicho do qual participo acho que a pandemia não abriu muitas possibilidades, porque as possibilidades são produzidas por dinheiro mesmo. Entrou mais dinheiro pras pessoas? Pra maioria não. As bandas independentes continuam surgindo, mas poucas conseguem uma projeção maior. Isso porque a maioria também é bem ruim. As que conseguem são porque conseguem projeção pelas redes sociais e isso não é garantia nenhuma de qualidade também. Às vezes elas simplesmente estão sabendo usar melhor as ferramentas de divulgação.”

Diego: “Eu me afastei quase que integralmente da música. Nesse período eu trabalhei na linha de frente do combate à Covid-19, então foi conturbado, excruciante e de muita reflexão.

Quando paramos eu não considero que estava num lugar legal emocionalmente. Estávamos na corrida do segundo trabalho, que já tinha uma pressão do público pra sair e agora voltamos meio que como uma banda com certa caminhada, embora tenhamos praticamente o mesmo tempo em atividade que parados… eu que estou mais nas redes sociais estou buscando essa compreensão do que há de novo agora.”

E em vocês, o que mudou?

Gabriel: “Uma coisa que eu acho que mudou na El Toro durante esse período de hiato foi o fato de que não estávamos mais tocando juntos. Essa foi uma mudança bem drástica para mim, porque foi uma interrupção bastante abrupta, porém necessária. Fora isso, sempre mantivemos contato, tentávamos nos encontrar sempre que possível, sem contar que frequentemente flertávamos com a possibilidade do retorno.”

Fábio: “Acho que os anos de pandemia foram de reconsideração do caminho até aqui trilhado e de uma vontade de fazer algo diferente quando houvesse uma volta. Isso tanto na minha carreira solo quanto com a El Toro Fuerte, quando fosse o momento de voltar.”

Diego: “Acho que perdi completamente o espírito de treta (risos). Estou querendo ter o grande momento da minha vida musical ainda, então não estou com disponibilidade de ter essa concentração abalada por fatores externos à comunhão, produção e afeto. Fui muito combativo nas redes sociais por muito tempo, muito injusto e muito injustiçado também. Não tenho mais espírito pra coisas não construtivas. Creio que o “como fazer” hoje é o tema de maior importância na minha jornada pessoal.”

Lembro de vocês comentarem sobre o fenômeno de aumento de vendas do álbum no Bandcamp em um momento onde não estavam lançando nada novo, o contrário do que a indústria de streaming prega. Como veem essa lógica hoje em dia?

João: “Acho que os últimos anos tem sido um momento de transição entre gerações, assim, e muita gente nova tem descoberto sons de uma década atrás, por exemplo. Acho que o American Football viveu um pouco esse processo de “redescoberta”, assim como esse revival do emo-pop brasileiro dos anos 2000 com bandas como Fresno e Nx Zero. Acho que estamos vivendo uma dinâmica meio parecida nesse sentido.”

Diego: “Sim, mas também no streaming! Nosso ano em números gerais em 2023 foi melhor do que quando paramos. Acredito que fazemos parte dessa transição um pouco nostálgica, porque 04 anos é muita coisa.

Recebo muitas mensagens de pessoas que conheceram a banda depois do hiato e acharam que não veriam ao vivo, essas coisas. É difícil a gente conseguir pontuar as características do que faz dar essa volta, né? Mas acho que acaba sendo um pouco de como a história é trazida e se ela tem essa ideia de nascimento espontâneo ou organicidade.”

Vocês têm material novo, ou coisas antigas, que agora sentem que pode ser o momento certo para ser lançado?

Fábio: “Nunca deixei de compor músicas pensando na El Toro nesses anos, mas é capaz de todas serem descartadas. A intenção é que a direção sonora do próximo disco seja concebida coletivamente.

O disco anterior foi uma mescla das sonoridades que cada um dos membros queria trazer pra banda, mas acho que podemos estreitar ainda mais esse diálogo e criar um disco mais coeso. Isso envolve, claro, deixar algumas coisas pra uma próxima oportunidade e concentrar num território de possibilidades que pode ser diverso, mas não tão amplo a ponto de perder uma ancoragem.”

João: “Por enquanto não temos material novo que esteja pronto pra ser lançado, mas a ideia é entrarmos em processo de pré-produção de um novo disco esse ano ainda. A gente tem feito experimentos juntos, então tem coisa interessante pra vir, com certeza!”

O que sempre achei interessante no som de vocês foi justamente o quanto transitavam de estilos e referências, como funciona isso na hora de criar?

Gabriel: “Temos gostos musicais muito parecidos, mas ao mesmo tempo também temos as nossas particularidades, né?

Eu acho que é isso que faz a diferença nessa questão para conseguirmos essa pluralidade no nosso som. Eu, por exemplo, gosto muito de bandas de post-punk revival, e esse tipo de som influencia muito quando componho as minhas baterias. Agora, você imagina o Interpol compondo um som meio Clube da Esquina. E esse tipo de mistura que temos na banda, pelo que eu vejo, tem dado certo até aqui.”

João: “Acho que apesar de ouvirmos várias coisas em comum, a gente vem de trajetórias muito diferentes. Nesses anos do hiato então, eu acho que isso se potencializou mais. Então o processo desse próximo disco deve ser um desafio maior ainda, pra gente conseguir encontrar esse novo ponto de encontro.

Relações humanas sempre são sobre isso, né?

Aprender e reaprender a criar uma língua em comum. A gente costuma trazer nossas próprias composições, ou riffs ou trechos e ideias específicos, e aí o processo de reunir isso e definir os arranjos acontece com todo mundo junto, no estúdio. A sensação de transição constante vem daí, eu acredito. Tem esse trabalho comum que enlaça esse mar de referências às vezes muito diferentes entre si.”

Fábio: “Isso veio mais de uma espontaneidade. Por um lado acho que pode ser parte da identidade da banda, ter essa variedade de sons. Mas também vem de uma coisa que é mais comum mesmo, que as bandas acabam fazendo músicas diferentes umas das outras e lançando elas.

Acho que diz sobre a diversidade de compositores que temos na banda, cada um com seu estilo bastante único, mas também sobre um frenesi de querer fazer tudo ao mesmo tempo. Pra mim seria interessante numa próxima oportunidade tentar fazer algo menos diverso e mais focado. Explorando as possibilidades quando todos conseguimos focar em direções mais ou menos similares.”

Vocês se sentem parte da geração que cresceu baixando música? Isso acabou influenciando muito a forma de produzir?

Gabriel: “Nossa, total! Eu já baixei tantas discografias no Pirate Bay e com certeza isso formou o meu caráter musico (risos).”

Fábio: “Sim! Acho que participo de uma geração que grava músicas dispensando o formato de produção em grandes estúdios, com uma lapidação meticulosa da mixagem. Enquanto isso gera uma produção mais desenfreada de sons, também acaba criando uma estética por si só, a fim de assumir a precariedade da produção. Mas acho que também é preguiçoso. Poucas coisas me dão mais preguiça hoje em dia do que o jovem que quer fazer lo-fi.”

João: “Completamente! Eu fui bem moleque de apartamento, assim. Então a minha adolescência inteira foi baixar música e gravar coisas no meu quarto. Eu acho que a internet foi um dos maiores fatores pra democratização desse movimento de “Faça Você Mesmo”, e eu acho que essa estética amadora, no melhor sentido do termo, foi uma das características principais da cena que a gente viu nascendo, por muito tempo.

Hoje eu acho que o cenário é diferente. Todo mundo já percebeu que música não se sustenta de graça, e que tem um processo de profissionalização tanto do som quanto da estrutura mesmo que envolve shows, logística, produção e tudo mais, que é importante pra que a coisa toda continue acontecendo. Mas é aquela coisa, o lugar de onde você veio segue sendo uma parte importante da sua identidade.”

Diego: “Eu comecei a tocar quando a internet engatinhava muito, então esse contato com mp3 baixada, que levava horas pra chegar, deixava a gente com uma expectativa enorme. Fazer isso com os amigos dava essa ideia grandiosa de ter uma banda, pegar instrumentos, tocar em garagem e outras coisas que na minha realidade só existiam na imaginação. A coisa de produzir o fonograma e espalhar o quanto antes tem um pouco essa urgência reprimida de uma geração que era obrigada a esperar por tudo, eu acho.”

Lembro bem que vocês, em conjunto com outras bandas, bateram forte no termo “rock triste” que acabou ganhando uma proporção significativa de reconhecimento dentro da cena indie brasileira. Se sentem de certa forma “filhos” da geração que trouxe outros gêneros do alternativo e emo para o país?

Diego: “Interessante essa, porque, pra mim pelo menos, saber o que era esse indie e esse emo vieram tardiamente. Tive uma criação musical bem mainstream e ia muito pelo que batia ou não em termos de gosto. Conheci essas bandas seminais de emo, e gêneros derivados, a El Toro já existia.

Hoje tenho um respeito enorme e admiração pelo som de Gigante Animal, Rancore, Fresno, etc… Mas não era minha ideia inicial fazer algo parecido ou inspirado por eles ou outras bandas gringas do nicho. Mas sem dúvida que o que fazemos está ali, mesmo que bebendo de fontes variadas. Acho que por não me entender exatamente inserido, abracei o termo rock triste com mais afinco.”

João: “Olha, eu nunca fui tão ativo na internet, mas eu não me lembro de bater muito no termo não (risos). Mas eu me lembro da confusão. Foi uma febre muito grande na época, né?

Lembro que a primeira vez (eu acho?) que eu ouvi o termo foi numa matéria que o Lucas Panoni escreveu pra Vice, 8 anos atrás. Hoje somos amigos muito queridos. Até por questão de memória fraca, então, eu vou dizer que, hoje no presente momento, eu acho que foi algo que nos ajudou muito.

Criou uma identidade e facilitou o acesso pras pessoas, pro público. Então sim, sinto que a gente criou uma relação muito forte principalmente com o público da música emo e alternativa brasileira. Semana passada a gente recebeu com muita surpresa um tweet do Lucas, da Fresno, em que agradeciam a gente, entre várias outras bandas, pela cena alternativa nos últimos anos. A gente ficou muito feliz, e apesar de não nos entendermos exatamente como uma banda emo, faz parte da nossa trajetória e da construção desse cenário da música alternativa no país, sem dúvidas.”

Veja o Reel no Hits Perdidos

Fábio: “Não! Não gosto da maioria dessas bandas. Nas minhas primeiras músicas, me considero influenciado pela Geração Perdida de Minas Gerais, Lê Almeida e Câmera, pelo menos aqui no Brasil. Lá fora tem muito mais coisa.”

Quão propício para a volta veem que é o momento?

João: “Muito propício! A gente percebeu esse movimento de retorno de várias bandas da nossa época e recebemos com muito carinho o convite pra esses shows de retorno em São Paulo (A segunda data ainda tem um lote disponível de ingressos, inclusive!!!).

O fim da pandemia deixou a gente com muita vontade de tocar, e os 4 anos foram tempo suficiente pra gente conseguir arejar a cabeça com outros sonhos, outros trabalhos. Temos umas 6 datas engatilhadas ou mais até agora. Vai ser uma festa!”



Gabriel: “Eu penso que estamos voltando no melhor momento possível porque a sintonia da banda nessa nova etapa está incrível.”

Diego: “A gente tá ensaiando esse retorno faz um tempo e por coincidência muita coisa confluiu pra dar certo. Mas acho que preciso falar que o carinho com que a Bia Vaccari nos abordou pra fazer as datas em São Paulo e o cuidado que ela teve com a quantidade enorme de problemas que eu expus (risos) foi o chute inicial pra gente tirar essa volta do papel. O momento não podia ser melhor.”

Li numa entrevista que vocês precisavam lembrar do porquê começaram a tocar, o que fez com que tivessem essa reflexão?

Fábio: “A exaustão com o processo de composição, produção e divulgação do segundo disco. O turbilhão das relações profissionais e pessoais. A vontade de respirar um pouco…”

João:”Acho que tem a ver com esse processo de profissionalização da banda. Quando resolvemos entrar em hiato, a gente tinha passado por um processo desgastante de produção do Nossos Amigos e Lugares que Visitamos, e tinha uma expectativa grande, nossa, e acho que de público também, do que poderia acontecer com a banda a partir dali.

E o que realmente faz uma banda se reunir pra tocar é algo mais simples, né. Vontade de estar junto, de fazer música, de pegar a estrada. A ideia de viajar pelo país fazendo amizade e tocando música é a parte que me fez apaixonar por isso tudo, e eu acho que é essa saudade que veio com força depois do fim da pandemia.”

O Macaco Bong lá atrás usou o termo “artista igual pedreiro”, por mais claro a arte como ofício, muitos tendem a fugir de colocar ela no seu lugar. Como se sentem em relação a fazer um show sold out e depois na segunda-feira voltarem para o emprego CLT?

Gabriel: “Música é, sem dúvidas, o que eu sei fazer de melhor. Então, não vou mentir, é um pouco frustrante para mim. Mas, por outro lado, eu já faço isso há pelo menos uns 15 anos, então eu aprendi a separar o Gabriel, que precisa ter um trampo para pagar as contas, do Gabs “artista”, que tem uma banda e faz seus shows por aí quando pode. E assim a gente vai levando.”

Fábio: “Sinto que tô longe de ser um pedreiro. Sou professor de musicalização em escolas de educação particular, com um salário bacana. Nada a reclamar. A realidade da maioria das bandas é essa mesmo de fazer shows e voltar pro trabalho. Como se não fosse um trabalho fazer show? Talvez, mas gosto do que faço e não sinto que preciso decidir uma coisa ou outra. Independente das pessoas estarem escutando ou não, indo nos shows ou não, eu vou fazendo.”

João: “É melhor do que voltar pra emprego nenhum? hahahaha Não sei, cara. Sinceramente, não sei. Pra mim, pessoalmente, o processo de abraçar a arte como ofício foi bem dolorido da primeira vez. Mas ultimamente eu venho pensando novamente em tentar viver disso. A gente muda, as coisas puxam a gente de volta… É tudo muito incerto.

É óbvio que envolve trabalho, não tem como fugir disso. Mas não acho que tem um só lugar certo da arte não. Existem milhares de formas de se relacionar com arte, dá pra ser artista de infinitas formas, dependendo de quem você é. Acho que a questão é essa: Depender economicamente de arte vai te dar muitos prazeres e vai te obrigar a fazer muitos sacrifícios. Dividir a estrada com um outro emprego também. Cada pessoa vai saber do que tá disposta a abrir mão, sabe?”

Diego: “Essa eu não tô nem em condições de responder direito porque sou servidor público, então não posso reclamar dos problemas de ser celetista. Perto do trabalhador médio eu tenho muito privilégio, na verdade.

Eu adoraria trabalhar apenas com a El Toro, porém, que já me dá bastante trabalho no meu “tempo livre”. Mas também é uma coisa que me realiza muito. Ultimamente estamos conseguindo viabilizar muita coisa por causa dos nossos empregos, então entra naquilo que os meninos já falaram de escolher o seu difícil mesmo. Hoje é o que precisamos fazer, amanhã, quem sabe? Tem uma entrevista maravilhosa do Dinho do Boogarins sobre isso!

Acreditam que no atual modelo do mercado brasileiro, existiria uma solução para artistas poderem focar com mais afinco em sua arte?

João: “Acho que seria massa se esse público lindo e enorme que tem lotado festivais mensalmente pra assistir sempre as mesmas dez atrações pudesse ter acesso às centenas de artistas do brasil inteiro que tem trabalhos incríveis para oferecer.

Além disso, acho que os editais de cultura tem estado mais presentes do que há muito tempo. Mas eu estou voltando pra esse mundo agora, depois de 4 anos lidando com questões um pouco diferentes. Então preciso estudar mais (risos).”

Diego: “Tenho visto muitos produtores e artistas em geral, a quem respeito muito, discutindo sobre esses acessos de festivais e valores. Vi a Lari (ÀIYÉ) falando abertamente sobre custos numa discussão que até você quem propôs e fiquei pensando muito.

Vi também o Fabrício Nobre falando sobre “festivais pra quem não gosta de música” e achei as discussões todas muito profundas pro meu nível de profissionalização incipiente na música. Gostaria muito de poder trocar essa ideia com pessoas mais inteligentes que eu e uma cervejinha!”

A relação com os fãs e com os amigos sempre foi algo marcante na trajetória de vocês, das composições, passando pela entrega nos shows ao pós-show. Sentem que isso fez com que tanta gente seguisse ouvindo e pedindo a volta?

Gabriel: “Tentamos fazer dos shows da El Toro quase um ritual, tem toda aquela coisa de invasão no palco e tudo mais, né?

Sim, gostamos muito de ter nosso público como uma espécie de quinto integrante da banda, porque no fim das contas, tudo que a gente faz é pensando neles mesmo, que vão ver nossos shows, que interagem conosco nas redes, que pediram a nossa volta. Procuramos retribuir todo o carinho que recebemos, criando assim uma relação de troca e conexão especial.”

Fábio: “Sim, é uma coisa linda! Uma coisa que eu sinto vontade de fazer quando estou com a El Toro, mas que no meu projeto solo não acho nem que tenha a possibilidade de fazer. É algo da natureza da banda, que transcende as próprias músicas, que faz a gente ser querido.”

João: “Com certeza! Era definitivamente uma das partes que a gente mais gostava, também. Então eu acho que as pessoas percebem.

Uma cena é um movimento cultural né, então é basicamente sobre pessoas se relacionando. Se as pessoas não se relacionam, a música não flui, e cria menos sentido pra todo mundo envolvido, eu acho.

Os shows eram muito catárticos, porque o público se emocionava muito, porque eram músicas que falavam de questões que estavam muito à flor da pele pra gente, e a gente se emocionava de volta com essa reação porque a gente nunca tinha vivido nada parecido antes. Foi uma época linda, linda mesmo, apesar de todos os problemas. Torço muito pra que a gente possa retomar essa conexão agora. E eu acho que vai rolar!”

Aliás, como veem o fenômeno do revival e as nostalgias em si dentro do ecossistema da música?

João: “Faz parte! Somos parte desse processo, em alguma medida. E todo fluxo de criação passa por isso, por retomar alguma coisa do passado e transformar isso em algo novo.

O que me incomoda é a ideia de ficar preso à nostalgia. E essa é uma característica do capitalismo tardio, né?

A dificuldade de imaginar qualquer coisa que seja realmente nova. Uma exaustão de futuros possíveis.

Mas na medida certa a nostalgia é um ponto de partida importante pra outras coisas. Tem uma obsessão com a ideia de novidade pura que eu já não tenho muito mais, também. Talvez seja a idade.”

Gabriel: “Eu vejo com bons olhos, adoro coisas nostálgicas. E é meio loco pensar que a própria El Toro se tornaria uma coisa nostálgica por causa do hiato. Vou me divertir nessa nova fase da banda (risos).”

Diego: “Já vi com melhores olhos e tô ultimamente querendo romper barreiras dentro dos gêneros musicais que eu gosto. Tentando achar a minha forma de fazer, mas do que homenagear ou me ver homenageado no som de bandas novas, por exemplo. Minha banda preferida é Tears for Fears, mas eu prefiro consumir coisas nostálgicas originais a revivals.”

Fábio: “Acho desinteressante. Melhor focar em pesquisar e tentar fazer algo diferente.”

Qual o tipo de show mais gostam?

Aquele lotado para 500 pessoas ou aquele que não está esperando muita coisa, tem 120 pessoas, mas todo mundo em uma catarse coletiva?

João: “Essa é dificil! Acho que as catarses coletivas sempre são as melhores experiências (risos).

Mas cada show é muito diferente do outro. Acho que depende do clima em que a gente tá, também. Acho que os meninos podem desenvolver mais essa (risos).”

Gabriel: “Pode parecer bem clichê o que vou falar, mas eu prefiro shows em que o público interaja bastante com a gente, independentemente da quantidade de pessoas. Claro que é muito incrível tocar para 300, 400, 1000 pessoas. Mas, cara, tocar para um público de 30, 50 pessoas cantando as nossas músicas a plenos pulmões não tem preço.”

Fábio: “Acho que do segundo! A resposta do público é muito importante pra gente, independente da quantidade de pessoas. Sinto que sem um público investido no show as músicas perdem força.”

Diego: “Fazendo o sincerão aqui, nossa realidade é que 500 pessoas ainda é um sonho. Já fizemos porém, shows pra 100 pessoas que mudaram as vidas de todo mundo presente. Hoje eu gostaria de ter essa experiência de grande público, afinal, foi vendo bandas dos anos 90 e 2000, em arenas gigantes, que me fez querer viver o rock. Não é bem preferir um ou o outro, resumindo, mas nossa experiência nos mostrou que os shows menores são muito importantes pra consolidação do público.

E a relação com outras bandas, como acha que a internet e lidar com diferentes gerações, ajudou a banda? Qual legado querem deixar nesse sentido?

João: “A internet torna tudo possível, por um lado. Por outro, eu acho que a forma como as pessoas se relacionavam na internet 4 anos atrás era um pouco… inconsequente? As amizades mesmo eu acho que a gente fez na estrada, e durante os shows. Mas a internet foi essencial pra isso tudo acontecer. Agradecemos infinitamente ao Diego, que cuida das nossas redes sociais além de compor e tocar.”

Diego: “É um prazer cuidar das redes da banda, mas eu queria deixar um legado de positividade e comunhão. Não acho que tenha sido esse exemplo por toda a trajetória.

Me envolvi em brigas, tretas, fui injusto e injustiçado e me arrependo profundamente de ter abalado as estruturas de algumas relações inclusive profissionais. Mas as coisas são como são e a gente precisa se conhecer eventualmente.

Daqui pra frente eu quero construir um legado nas redes de suporte a quem tá começando e respeito a quem tá há mais tempo. A irreverência e a impetuosidade só te levam até determinado ponto – o afeto é o grande companheiro da jornada.


El Toro Fuerte em 2018 - Foto Por Vitor Jabour
El Toro Fuerte em 2018 – Foto Por: Vitor Jabour

Como tem sido a preparação para os shows? Como veem a importância de pensar em cada detalhe para sair do jeito que esperam? Rola insegurança?

Gabriel: “Tá sendo bastante prazeroso revisitar nossas músicas! Estamos fazendo ensaios de 3 a 4 horas para deixar essas músicas redondinhas. E sobre a insegurança, da minha parte é zero. Eu estou mesmo é ansioso para voltar aos palcos com a Toro.”

Fábio: “A insegurança não é o principal, mas tá ali sim. Acho que o mais importante é oferecer um bom show pras pessoas. Elas tão pagando pra gente tocar as músicas que elas gostam e pra sentir que podem participar dessa experiência catártica. Então o objetivo é executar essas músicas bem e com interesse. Só acreditando nelas é que a gente consegue fazer os outros acreditarem.”

João: “A insegurança rolou mais antes da gente voltar de vez com os ensaios, eu acho.

No primeiro ensaio pra essa série de shows, a gente ficou chocado: parecia que tínhamos tocado pela última vez há duas semanas ao invés de quatro anos.

A gente preparou o setlists dos shows com muito carinho, tentando não deixar de fora nenhuma das músicas que a gente sabe que foram mais importantes pra gente e pro público através dos dois discos da nossa carreira. Mas é muita coisa pra pouco tempo, também.”

Diego: “Eu tô mais sofrendo com a vontade de ir tocar logo. Fechamos os shows com muita antecedência, que foi necessária pra preparar um show interessante, mas agora que tá tudo nos conformes tá dando uma certa pressinha!

Mas como o Fábio falou, essa preocupação de fazer uma apresentação que dignifique o valor do ingresso é uma constante pra mim nessa etapa.”

O que, baseado nas experiências de vocês, recomendariam para novas bandas nesse sentido?

João: “Escolham pessoas pra tocar que vocês amam e com as quais gostam de conviver por longos períodos de tempo, independente da música. Em alguns aspectos, uma banda é um relacionamento mais intricado e complexo do que um relacionamento de amor romântico.

Tentar dar o seu melhor ao mesmo tempo em que você não espera muita coisa; é um dilema, mas é muito importante. E ser sincero com as suas músicas e com o que você quer pro seu futuro e pro seu som.

Pra além disso, eu acho que as bandas novas tem muito mais coisa pra nos ensinar. A maioria dos grupos que a gente tem acompanhado e que vieram depois de nós tem uma desenvoltura com a divulgação nas redes sociais, por exemplo, que eu pessoalmente jamais conseguiria segurar. Todo mundo sempre tem algo pra aprender com os outros, eu acho.”

Fábio: “Eu diria que a imitação é uma parte importante do processo de começar qualquer coisa.

Então no começo, naturalmente, imite, mas é importante passar desse momento também. Ou pelo menos tentar passar desse momento, que é o que venho fazendo.

Observe o que está sendo feito ao seu redor e não tente fazer o mesmo, acho isso valioso também. Oferecer contraponto pras coisas, ou uma outra via de possibilidades.”

Gabriel: “Não desistam. Fazer música em nosso país dá trabalho, mas se isso é algo que você ama fazer, continue apenas. Vai haver momentos de muita frustração, desânimo, em que as coisas não vão funcionar [às vezes, não funcionam literalmente, como uma guitarra ou um baixo (risos) ].

Mas continue, faça conexões com outras pessoas, faça amigos na música e mostre para eles o seu som; escute também o som deles. A vida de artista independente não é fácil, mas eventualmente pode acontecer de você tocar em um festival, como o Bananada, assim como aconteceu com a gente.”

Diego: “Aliás, um grande abraço pro Mancha e pro Fabrício que compraram essa loucura de levar o rock triste pro Bananada em 2017 (risos). Acho que nunca agredeci o suficiente pela oportunidade. No mais, crianças, não peguem pilha na internet! Dediquem seu tempo a quem te fortalece e gosta do que você faz. Obrigado, Rafa, pelas trocas de sempre e pelo espaço!”

Banda de Casinha – Data Extra

Com El Toro Fuerte, Personas, Capote, Labrador e glover
Quando: 14/04
Onde: Casa Algohits – Rua Patizal, 38 – Pinheiros – São Paulo
Valor: 3º lote – R$ 40,00 (+ R$ 3,20 taxa)
Organização: Downstage
Garanta seu ingresso clicando aqui

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