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Desde quando ir a festivais virou sinônimo de perrengue chique?

Até quando ir a grandes festivais será uma espécie de “perrengue chique”?

Nos últimos anos vivemos uma febre de novos festivais e muitos deles no pós-pandemia. Com uma nova realidade, o que veio junto foram os preços mais altos, muitos justificando os custos de cachês tanto dos artistas internacionais como locais. Com as inseguranças de possíveis novas pandemias, muitos tentando recuperar os anos perdidos e o câmbio em dólar, é algo completamente justificável. Já ter uma experiência aquém do esperado, não. 

Vou a grandes festivais desde que me conheço por gente. Sempre vi absurdos e economias em lugares onde não deveria ter. Assim como um fechamento de olho para fiscalizações. Alguns faltando amparo médico, outros com pouca preocupação em seguir horários, outros não pensando em transporte, banheiros ou na capacidade real do espaço para ter uma experiência digna.

Experiência para quem?

A superlotação e o sentimento de “ser por algumas horas gado” sempre foi uma das coisas que mais me deixou frustrado. Afinal de contas, ir a um grande festival nunca foi uma experiência acessível. A falta de sinalização tanto no entorno como dentro mesmo do festival, em outras ocasiões também gera bastante frustração. E não vou entrar nem na problemática das “pistas vip”.

Assim como as filas e a falta de logística operacional para uma experiência digna. Por algumas vezes foi possível ver pessoas desmaiando ou perdendo a consciência por falta de amparo. Quantas vezes, por exemplo, você já deve ter ido a um festival e mesmo a patrocinadora oficial sendo uma marca de bebida… você ter que consumir ela por um preço superfaturado? Ou quantas vezes deixou por lá uma parte significativa do valor do ingresso apenas para se alimentar (e se hidratar)?

Denúncias de trabalho escravo e de poucas condições para trabalhadores também sempre estiveram presentes. Muito se fala e pouco se fiscaliza. A base de tudo é muitas vezes negligenciada por mais que sindicatos protestem. Mas de nota de repúdio por nota de repúdio, nada de fato parece acontecer. A impressão que dá para o público geral é que faltam protocolos em diversas áreas destes mega eventos. Do vendedor de créditos a quem prepara a comida, muitas vezes vemos que a estrutura está longe de ser adequada para trabalhar.

Ir a um festival de grande porte exige muito de todas as partes, ainda mais quando estamos lidando com experiência. Algo que muitos batem no peito com um posicionamento onde, em alguns casos, se sobrepõe a própria curadoria. De uma organização coesa a geração de empregos diretos e indiretos, fortalecimento do turismo e ganhos para a comunidade, mega festivais deveriam ser, sim, bons para todos.

Gato por lebre?

Ainda temos o elemento sonho. A expectativa por finalmente estar de frente dos seus ídolos que trazem consigo histórias de amizade, de pertencimento, identificação, superação e amor. Nos últimos anos, nem isso tem sido mais respeitado. Com contratos feitos, sabe se lá em quais condições, os cancelamentos em cima da hora, não são respaldados como deveriam. A defesa por parte dos produtores, sim. Seja por decreto ou por colocar nas entrelinhas (que poucos leem) que a pessoa está comprando a experiência do festival, quando, na verdade, em muitos casos, para ela é o momento de ver este artista.

Sempre tivemos que lidar com condições climáticas adversas e com queimaduras de sol, chuvas e até mesmo momentos bonitos como Arco-Íris no meio de uma apresentação. Mas não dá mais para os festivais ignorarem o fator das condições climáticas, principalmente aqueles que se propõe em realizar as suas atividades ao ar livre. O aquecimento global não é uma teoria conspiratória terraplanista, estamos vendo pessoas perdendo a vida ao redor do globo, florestas sendo dizimadas, ecossistemas inteiros sendo afetos e safras de comida sendo prejudicadas.

A hora de mudar

Esse texto não é sobre apontar o dedo para um festival, produtora ou apresentação. É um reforço por algo muito maior. Se nos últimos anos vemos as pessoas cada vez mais preocupadas e exigentes com as experiências em festivais, é porque o modelo antigo já não funciona mais.

Existem, sim, exceções, festivais que centram a experiência e olham para cada ponto apontado no texto. Mas para que exceções se tornem regra ainda temos um longo caminho enquanto mercado. 

Não é nenhum luxo ou benfeitoria poder entrar com garrafa de água. Não precisamos aplaudir quando produtora para show por conta de chuva e possibilidade de raios no local. Adiar ou cancelar shows deveria ser prioridade das produtoras quando vidas estão em jogo. Ter uma fiscalização rigorosa com qualquer tipo de fornecedor, em suas atuações e não terceirizar culpas deveria ser algo normal. E não é.

A preocupação do horário que vai chegar em casa (ou se vai chegar) não deveria estar no pacote. 

This post was published on 10 de março de 2024 8:02 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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