Os 50 Melhores Álbuns Nacionais (2023)
Melhores Álbuns Nacionais (2023)
2023 é a sexta vez nos dedicamos a fazer listas de Melhores Álbuns do Ano no Hits Perdidos. Não será a única do site, além desta com escolhas do editor teremos também individuais dos colaboradores (veja a lista do Diego Carteiro). A ideia é essa mesma trazer diversos pontos de vista e novas dicas para quem acompanha o Hits Perdidos.
A ideia não é polemizar ou dizer que um disco é pior por não estar na lista. Muito pelo contrário, estas listas tem a intenção de recapitular o que rolou por aí – e não foi pouca coisa.
Por aqui, por exemplo, foram ouvidos mais de 270 discos nacionais ao longo do ano. De estilos diferentes, com histórias peculiares, discursos e uma musicalidade que mostra um pouco sobre para onde a música brasileira está caminhando.
Listas são polêmicas por si só e no ano passado reunimos um time de jornalistas e formadores de opinião para dar seus pitacos sobre a confecção destas (Confira Aqui).
Melhores Álbuns Nacionais (2023)
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2018 (Confira a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2019 (Confira a Lista).
Melhores Álbuns Nacionais de 2020 (Veja a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2021 (Confira a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2022 (Confira a Lista).
Nossa lista passeia por ritmos como instrumental, MPB, Rock, Soul, Alternativo, Experimental, Hip Hop, Pop, Indie, R&B, Folk, Experimental, Shoegaze, Trap, post-punk, hardcore, Axé e Samba. Sem regras estabelecidas muitas vezes um crossover de estilos é visível.
Os 50 Melhores Álbuns Nacionais (2023)
50) Chão de Taco Difícil
Selo: Independente
Gênero: Indie Rock / Pop Rock
Para quem gosta de: Raça, Yamasasi, Ventilador de Teto
Lançar um álbum de estreia é sempre um desafio para qualquer artista. Tem tanta coisa ali guardada que quando chega é de certa forma uma catarse. Se temos cada vez menos bandas apostando em algo que nos remete o que era o pop rock de outrora, grupos como Jambu, Daparte e Chão de Taco trazem isso de uma forma jovem sem procurar velhas fórmulas.
Os dilemas da juventude aparecem ao longo do disco de forma leve e com potencial para crescer. Diretamente de Piracicaba (SP), eles conseguem transitar entre o rock alternativo e o pop. Por aqui a posição 50 é uma grande provocação para você conhecer algo que deve ter passado do seu radar.
49) Besouro Mulher Só Volto Amanhã (saiba mais)
Selo: Rockambole
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Pelados e Ana Frango Elétrico
Formada por Arthur Merlino no baixo, Bento Pestana na guitarra, Sophia Chablau na voz e Vitor Park na bateria, a banda BESOURO MULHER lançou seu álbum de estreia, Volto Amanhã. Um disco que não se restringe apenas ao indie rock mas que vai beber em referências bastante particulares do universo de cada integrante. Até por isso o ar de vanguarda e de testar possibilidades sonoras transparece ao longo das 10 faixas compostas durante um período muito difícil da nossa recente história.
A produção musical do álbum conta com Diego Vargas (Dizzy), Guilherme Cunha, Felipe Martins (FEPA) e Pedro Marques (PH), todos integrantes do selo RCKB. “Torresmo”, de Juliana Perdigão, ganhou uma versão repaginada e já virou um clássico das festinhas indies. O disco que sucede o EP Depois do Carnaval (2019) cresce a cada nova audição, assim como as suas composições que guardam nos pequenos detalhes gratas surpresas.
“Na hora do estúdio e da composição propriamente dita, separamos a parte mais rock de garagem (no melhor sentido possível) das músicas com mais camadas e elementos sonoros: Ana Frango Elétrico, a música ‘Trago’ em especial, um pouco d’O Terno olhando para timbres de guitarra, a sonoridade do baixo de ‘Ramble On’ do Led [Zepellin] para as músicas ‘Carótida’ e ‘Torresmo’”.
Escutamos muito o álbum da Noname, Telefone, com ênfase nas músicas ‘Yesterday’ e ‘Sunny Duet’, que guiaram o arranjo de ‘Pão Francês’. Também rolaram Mac DeMarco, Homeshake e um pouquinho de Billie Eilish, referências principais para ‘Curto Tempo’”, lista Bento
48) Lucas Gonçalves Câmera Escura
Selo: Independente
Gênero: Indie, Folk, Rock
Para quem gosta de: Julico, Tatá Aeroplano, Luiz Gabriel Lopes, Bernardo Bauer
Câmera Escura é o terceiro na discografia solo de Lucas Gonçalves (das bandas Maglore e Vitreaux) que a cada trabalho parece que cria um novo território onírico para co-existir. Seu caminho é silencioso e sem grande alarde ou notoriedade da grande mídia mas nem por isso não deixa de ter bastante valor, tanto no campo das composições como nas composições que fazem uma interessante mistura entre o rock e a nossa MPB.
Entre suas referências estão artistas como Neil Young e a cantora Cassandra Jenkins. O álbum ainda conta com parcerias com sua companheira de vida Carime Elmor, nas canções “Casacaia” e na faixa título.
47) Firefriend Decreation Facts
Selo: Cardinal Fuzz e Little Cloud Records
Gênero: Indie Rock, Post-Punk, Rock Psicodélico, Shoegaze, Garage Rock, Space Rock
Para quem gosta de: Pelvs, Pin Ups, Single Parents
Na contramão mas sempre em alto nível, esse poderia ser um bom resumo da trajetória da banda Firefriend que lançou em 2023 seu novo álbum, Decreation Facts. Este que tem 6 canções gravadas em Berlim ainda em 2018. De natureza psicodélica bastante lisérgica e explorando ambiências do shoegaze, aquela escola que vai do Sonic Youth ao Velvet Underground que tanto veneramos, combinado com a leveza do Spiritualized e a insanidade do The Brian Jonestown Massacre.
O disco mexe muito com os sentimentos de raiva, angústia, apatia e ansiedade através de ondas turvas, desesperança e lisergia. Tudo isso movido pela desilusão com a política e a economia em um sistema dominado pelos escândalos de corrupção, mentiras e guerra pelo poder.
46) Jenni Sex Healing Kiss (leia mais)
Selo: Wave Records Brasilien
Gênero: Post-Punk, Dark Wave
Para quem gosta de: Herzegovina, Jovens Ateus, Nietts, Cadáver em Transe, Inês é Morta
Com o primeiro trabalho lançado em 2013, o Jenni Sex lançou em abril de 2023 seu terceiro disco, Healing Kiss (Wave Records). Antes o trio da capital paulista havia lançado Songs Through Your Tongue (Baratos e Afins, 2018) e She’s Gone (Independente, 2013). Lembro que pude ouvir falar da banda pela primeira vez na época do show dos bielorrussos do Molchat Doma no qual realizaram a abertura. Mais recentemente eles abriram para os espanhóis da Belgrado.
Em sua linha de frente eles contam com Oliveira Helders (vocal, guitarra, teclados), Danilo Lima (baixo, efeitos) e Maurício Pasqualle (bateria). Eles comentam que em suas letras procuram elucidar sentimentos e desejos de maneira surrealista e absurdista. Entre as referências estão bandas como Stagnant Pools, The Sound, Sisters Of Mercy, Bauhaus, New Zero Gods, A Place To Bury Strangers e Joy Division.
Em seu terceiro álbum eles vão do dark, passando pelo post-punk e também trazem elementos do gothic rock. O tom fúnebre e frio transparece ao longo das nove faixas do registro que carrega um ar de mistério, sombras e linhas marcantes de baixo com guitarras que vão em direção do rock de outros tempos. Feito para inferninhos como eles mesmos frisam de forma indireta.
De maneira até de certa forma cômica eles entram no personagem rock’n’roll e ao se auto recomendar eles brincam com o universo entre o céu e o inferno da sua sonoridade.
45) Rico Dalasam Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga
Selo: Natura Musical
Gênero: MPB, Pop, Hip-Hop
Para quem gosta de: Hiran, Don L, Thiago Elniño, Emicida
Rico Dalasam escolheu os 45 do segundo tempo para lançar seu novo disco mas Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga ganhou a luz do sol no dia 14/12. O álbum conclui a trilogia composta por Dolores Dala Guardião do Alívio (2021) e Fim das Tentativas (2022).
“Todas as vezes que adiei o lançamento desse disco, estive na procura do exercício abissal, o evento canônico dessa narrativa. Foi quando me dei conta que a dualidade, que sempre acompanha minha obra, dessa vez quer se mostrar do amor à orfandade. Se eu quisesse dar um passo nas coisas do amor, eu preciso voltar para me buscar no orfanato da minha história”, conta o músico
Produzido por Dinho Souza e Mahal Pita, o material trás participações especiais de Liniker, em “Quebrados”, e Eliana Pittman, em “Vicioso”, faixa foco do disco e que usa o sample de “Nem Saudade”, canção que ficou conhecida na voz da cantora e atriz na década de 1970.
O exercício do disco lançado pela Natura Musical é relembrar seu próprio brilho através do amor. O material que é o mais solar e pop até aqui da sua caminhada faz isso sem perder o brilho da pesquisa por timbres, samples e sonoridades.
44) André Whoong É Aprendendo Que Se Erra…
Selo: Rosa Flamingo Discos
Gênero: Indie
Para quem gosta de: César Lacerda, Daniel Groove
É Aprendendo que se erra… é o terceiro disco do cantor e compositor, André Whoong, sendo o sucessor de Justo Agora (2016) e 1985 (2015). O músico que já realizou grandes trabalhos como produtor e músico de apoio, David Byrne e Jesse Harris, e trilhas sonoras [“Sequestro Relâmpago” (estrelado por Marina Ruy Barbosa) e “Olhar Indiscreto” (Netflix)}, fez um disco onde versa sobre a maturidade e a perspectiva de quem anseia superar os maus hábitos.
As gravações ocorreram no interior de São Paulo, especificamente, no estúdio Canto da Coruja, na cidade de Piracaia (SP); colaboraram no disco Nana Rizinni, Jeremy Gustin e Matheus Souza, o tecladista Bruno Bruni, o baixista Gianni Salles e o guitarrista Kadu Abecassis. A produção musical é assinada pelo próprio André Whoong.
“Meu nome é Bagdá”, faixa presente ao longo da obra, por exemplo, foi produzida especialmente para o filme homônimo que venceu o Festival de Berlim em 2020. Os arranjos, versatilidade, camadas e composições fazem o disco ter uma narrativa que vai crescendo para o ouvinte a cada nova audição. As faixas em si ilustram situações do seu cotidiano.
“Depois que voltei pra São Paulo, deixei os arquivos cozinhando por um tempo. Fui pra ‘NY’ e gravei arranjos de metais e cordas lá. E em 2020, veio a pandemia. Foi nesse momento que fiquei trabalhando no disco dia e noite. Eu, que sempre fui prolífico, aprendi a ter mais paciência com as coisas, já que esse processo me ocupava em momento conturbado.
Sempre tive um problema com álcool, mas só ali percebi que ele me tornava compulsivo, chato, mentiroso e inseguro. Então comecei a me cuidar e me medicar durante o processo de finalização do álbum – que acabou servindo como uma terapia pra mim”, conta sobre o processo
43) Ebony Terapia
Selo: Heavy Baile Sounds
Gênero: Hip-Hop, Rap, Funk
Para quem gosta de: Ajuliacosta, MC Soffia, Tassia Reis
Se teve um fato que não podemos contestar é que foi o ano da música urbana em todas as suas vertentes, ainda mais para quem apostou na mistura. No caso de Ebony a canetada das suas composições ganha um instrumental rico que funde hip-hop, trap e até mesmo o funk em parceria com Leo Justi (Heavy Baile), por exemplo, em “Hentai”. O registro ainda tem parcerias com Larinhx e beats de AG Beatz.
Batendo de frente com o cenário de rap atualmente dominado por homens (muitas vezes nem sempre tão talentosos assim), ela ganha terreno com rimas ácidas que contestam o espaço das minas. Agora é esperar que os festivais deem mais espaço. “Espero Que Entendam (freestyle)” bem que poderia ter entrado no disco, então fica a dica.
42) Troá! Deboche
Selo: Independente
Gênero: Indie Rock, Pop
Para quem gosta de: Letrux, Boogarins, ÀIYÉ, Tagua Tagua
O segundo disco da Troa! conta com colaborações de Letrux, Tuyo e Boogarins, foi lançado bem no começo do ano. No campo da sonoridade, o material flutua entre o rock, o blues, o samba, o jazz, o funk e mais, tendo no baixo e voz Carol Mathias, enquanto Manuella Terra conduz a percussão. Deboche foi produzido por Carolina Mathias, Pedro Sodré, Rudah Guedes e Gabriel Amorim.
“Acredito que esse disco seja um processo analítico gigante da vida dessas duas mulheres que estão tocando juntas há mais de 10 anos. E foi o disco onde eu entendi de verdade que eu era produtora musical.
É um projeto onde na sonoridade a gente conseguiu encontrar a nossa essência, acredito que a gente passou muito tempo pesquisando, indo a muitos shows, ouvindo muita coisa, vendo muita coisa, fazendo novos amigos, para entender qual era o corpo desse disco. E agora que ele está pronto, ele aponta para essa nova estética onde baixo, bateria e sintetizadores dominam tudo.”, diz Carolina.
“O Deboche é um disco que fala da trajetória e da narrativa da vida de uma mulher de 20 e poucos anos. Ele começa com a frase ‘Tenho que ficar bem onde a luz não pega, não me alcança.’, em ‘Que Pena’ – primeira música do disco, e termina com a frase ‘Tenho que ficar bem onde a luz alcança’ que está em ‘So In Love With Yourself’, a última faixa.
A gente acredita que esse álbum faz uma trajetória onde você começa debochando da dor, depois a gente começa a entender que, na verdade, temos que debochar do deboche de algumas formas,… aí você começa a entender que é importante estar no escuro, é importante sentir a dor para que você consiga passar por essa história toda.”, completa
41) Ava Rocha Nektar (leia mais)
Selo: YB Music
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Letrux e Anelis Assumpção
Por Cris Rangel
Sempre envolta na construção coletiva e bem acompanhada de músicos-amigos, Ava contou com a produção de Jonas Sá (produtor de Ava Patrya Yndia Yracema [2015] ) e Thiago Nassif. Néktar é como um hub contemporâneo conectando gêneros ao longo de suas 11 faixas inéditas, explorando arranjos que vão do concreto ao surreal, do orgânico ao eletrônico, e que une e revela diversos e novos elementos do universo artístico de Ava Rocha.
Suas letras e poética navegam do jazz a balada com cancioneiros debochados, pitadas de samba canção e tragédia, a artista lança pela primeira vez um disco quase inteiramente tecido por sua composição, salvo em “Baby é Tudo um Sonho” de Negro Leo, também parceiro de Saulo Duarte em “Disfarce”, além da participação de Iara Rennó em “ Barcos Nos Pés”, de Jonas Sá e Thiago Nassif na faixa-titulo “Néktar” e novamente de Thiago Nassif no samba “Longe de Mim”.
40) Dadá Joãozinho tds bem Global
Selo: Innovative Leisure
Gênero: Jazz, Experimental
Para quem gosta de: Negro Leo, Guilherme Held e Bebé
dadá Joãozinho, é persona do artista multimídia João Rocha (ROSABEGE), que por aqui foi já indicado ao lado de sua banda como um dos melhores do ano em 2019. A estreia do músico em sua estreia solo, tds bem Global, é um disco pensado visualmente e perturba em muitos momentos por sua crítica ácida e sua força de propulsão lírica feita para criticar a insanidade de São Paulo pela visão de quem veio de Niterói (RJ) tentar a sorte na maior cidade da América Latina.
““Fui muito atravessado pela vivência na megalópole e a maneira que sentia ela conectada com outros e diferentes territórios. Via produção de imagem e sentido, cultura, consumo e confluência de linguagens. Percebi o Brasil, o terceiro mundo como motor da globalização, onde se fizeram os portos que possibilitaram a estrutura global capitalista. E via meu corpo e meus próximos dentro disso, exaustos de trabalho e crise. Quis fazer um disco que tocasse nessa sensibilidade e carregasse fé no movimento, numa maneira de encontrar liberdade e sonhos que criassem novas vidas, novas perspectivas de desejo e realidade”, conta o músico
Entre os ritmos que o material engloba, o registro passa pelo pop, samba, reggae, punk, rock e trap, através de sintetizadores e samples para ser um ambiente de improvisação e de imersão entre o encontro do novo com o velho. Entre as inspirações ele revela ter as obras de Bob Marley, Kanye West, Talking Heads, Itamar Assumpção, Chico Science, Yves Tumor, Arca e Solange.
“Esse trabalho, no final das contas, é sobre estar na cidade, no meio das suas contradições, e sonhando com uma condição de liberdade, sexual, vocal, financeira. O monetário invade o álbum, como constitui nossa vivência no mundo. Sobretudo, é um disco que se permite reinventar a tradição. É um convite ao novo, muito consciente do passado”, revela João
Bebé e Alceu contribuem nos vocais de “Cuidado” e Sergio Machado Plim na bateria, “VEJA” tem JOCA na voz e Eduardo Santana acompanhado de Antônio Neves e Oswaldo Lessa nos metais; “Minha Droga” tem Vitor Milagres e Duvô fazendo os adibs. Já “Banho 2” conta com solo de guitarra de Guilherme Held.
39) Bivolt Chave
Selo: Som Livre
Gênero: Rap, Hip-Hop
Para quem gosta de: Ebony, Tasha & Tracie, Drik Barbosa, Monna Brutal, Flora Matos
Destaque na nossa lista de melhores álbuns de 2021, Bivolt volta a marcar presença por aqui com seu terceiro disco de estúdio, Chave. Com 11 faixas, o material que reúne participações especiais de Veigh, Budah, Luccas Carlos, MC Luanna e Boombeat passa por gêneros como trap, jersey, drill, afrobeat e funk. A direção musical é de Nave e também dos produtores Ajaxx e Nagalli.
“Esse é um trabalho no qual eu falo muito de amor e relacionamento, mas de formas diferentes. Tem declarações mais românticas e outras mais livres, além de falar das minhas vivências, do meu lado mais ‘mandraka’, de curtição. Então até isso é uma novidade, a oportunidade de falar com um discurso menos acirrado, uma coisa mais leve.”, diz Bivolt
O disco tem faixas como “Tô Tranquila” – uma parceria com o produtor MU540 – além de parcerias com mulheres da cena urbana como Budah (“Pagar Pra Ver”) e Mc Luanna e Boombeat (“De Copão Na Mão”).
38) Clarice Falcão Truque
Selo: Chevalier de Pas
Gênero: Pop, Eletrônica
Para quem gosta de: Letrux e Mahmundi
Depois de 10 anos, Clarice Falcão lança seu quarto disco, Truque, em um material que reflete sobre ilusão, desilusão e os universos imaginários que criamos nas nossas cabeças em canções para dançar sozinho, chorar no banho, fazer escolhas péssimas na boate e muito mais. Ela revela que “’Truque’ é um disco sobre amor, sendo muito simplista. Mas é sobre se iludir e se desiludir. E se iludir de novo” e talvez por isso seja tão atual.
Truque é um disco pop mas com muitas referências da música eletrônica, indo da música brasileira à PC Music, e tem a produção conjunta de Lucas de Paiva com a própria Clarice. “Chorar na Boate” condensa a espinha dorsal do registro, se não tiver ouvido ainda, comece por ela.
37) Flavia K Universo Suspenso
Selo: Independente
Gênero: Soul, R&B, Hip-Hop
Para quem gosta de: Livia Nery, Duda Brack, Filipe Papi
Em seu terceiro álbum de estúdio, a cantora e compositora Flavia K assume a direção, faz uma transição sonora e cria um universo imersivo em busca da essência do Positive Soul. Além disto, Universo Suspenso conta com participações especiais de nomes como Filó Machado, Rashid, lll Camille e Robinho Tavares. Entre as referência estão o R&B alternativo, Neo-Soul, além claro da música brasileira.
“A ideia de ‘Positive Soul’ é isso, manter a alma positiva, trazer bons pensamentos e boas atitudes sempre, na vida. E na contramão de vários outros movimentos onde se romantiza a tristeza, eu procuro valorizar a alegria, e tentar levar palavras positivas para as pessoas e encorajá-las a se manterem firmes, e também a pedir ajuda se for preciso.”, conta a artista
36) Garotas Suecas 1, 2, 3, 4 (leia mais)
Selo: Freak, Vampiresoul
Gênero: Pop Rock
Para quem gosta de: O Terno e Maglore
Prestes a completar 20 anos de trajetória o Garotas Suecas disponibilizou em julho seu quarto álbum de estúdio, 1 2 3 4. O lançamento nacional sendo realizado pelo selo paulistano Freak e o internacional pelo selo espanhol Vampisoul.
Outro coisa a se apontar na obra é o fato do disco ter em seu DNA o fator da cura. Visto que eles estavam preparando para gravar antes mesmo da pandemia. O exercício de continuar os trabalhos fez com que eles cuidassem da própria saúde mental em um período onde éramos bombardeados por informações (e desinformações), até por isso o processo criativo acabou afetado pelo momento nefasto, entre panelaços e mar de sangue.
Além dos quatro que compõe o Garotas Suecas, o disco teve somente a participação do percussionista Matheus Prado, do produtor André Bruni (que co-produziu o disco com o baterista do Garotas, este também ficou responsável pela mixagem) e pelo masterizador Cassio Play.
É interessante ver a verdadeira jam que o grupo faz ao longo do registro passeando pela história da música pop. Indo cena psicodélica e garageira dos anos 60 e 70 (Outlaw country) quanto do pop rock dos anos 80 e 90, do além de ter referências da história da música pop mundial, como a evolução histórica do R&B: do Doo-wop, passando pelo blues, rock ao funk.
35) Thrills & The Chase Thrills After Dark
Selo: Craic Dealer Records
Gênero: Rock, Blues, Funk e Proto-Punk
Para quem gosta de: The Midnight Sisters, Ecos Falsos
Do underground paulistano, e em atividade desde 2010, o Thrills & The Chase lançou nesta no ano pelo selo Craic Dealer Records o álbum Thrills After Dark. O segundo disco chega ao mundo 6 anos depois da estreia e tendo na atual formação Calvin Kilivitz (voz), Claudio Guidugli (teclados), Fabio Machado (baixo), Louis Daher (guitarra) e Zé Telles (bateria). O material gravado no Estúdio Aurora teve produção de Carlos Freitas e Júlio Miotto.
O ocultismo e temas de natureza cristã aparecem ao longo da obra que passa por temáticas como demônios, apocalipse, imolação e o conceito da noite escura da alma. Reunindo ao todo 8 faixas, eles tem sempre a preocupação conceitual de materializar suas faixas visualmente. Não é a toa que “A Special Place In Hell” ganhou um videoclipe dirigido por Roberta Fabruzzi.
“Há pelo menos três temas que se repetem ao longo das oito faixas – ansiedade, frustração com o mundo moderno (leia-se era da informação e pós-capitalismo) e religiosidade. O resultado é essa justaposição entre letras sorumbáticas e instrumental enérgico”, revela Calvin Kilivitz.
34) Fleezus Off Mode
Selo: Beatwise Recordings / Empire
Gênero: Hip-Hop, Brime, Rap
Para quem gosta de: Febem, SD9 e CESRV
Um dos nomes mais celebrados da cena do grime, Fleezus lançou o álbum Off Mode no final de Agosto. O material conta com participações especiais de Marina Sena, Luccas Carlos, Febem, Rodrigo Ogi, P.L.K, Yago Oproprio, Coruja BC1 e Jean Tassy, além da produção de CESRV e Iuri Rio Branco. Focado nas conquistas, ele traz o olhar para a sua caminhada rumo ao topo mas sem perder o senso de coletividade como norte.
“Voltar a entrar no estúdio e gravar meu disco foi muito importante. Estar nesse processo faz me sentir vivo. A nova faixa “Reis e Rainhas” diz muito sobre minha quebrada, meus amigos e minha família. É uma mensagem sobre estar sempre que necessário com os meus”, disse Fleezus.
33) Polara Partilha
Selo: Burning London Records
Gênero: Indie Rock, Pós-Hardcore
Para quem gosta de: Againe, Ludovic, Raça
Com quase 25 anos de história o Polara lançou seu terceiro álbum de estúdio, Partilha, o primeiro em mais de uma década. O material que teve produção de Rafael Crespo, ex-guitarrista do Planet Hemp, foi gravado no estúdio El Rocha. Com 10 faixas ao todo, o disco foi lançado pelo selo Burning London Records e tem como referências um leque amplo de artistas que vai de Cartola a Slayer, passando pelo reggae e o punk.
“‘Partilha’ é a troca que temos entre nós, entre nós e o público, e a forma que fazemos as coisas, onde cada um dá o que tem pra a engrenagem girar”, diz o vocalista Carlos Dias.
“As influências são as muitas coisas que ouvimos desde sempre, nossos rolês cotidianos, nossas companheiras, bichos de estimação, as pessoas com quem convivemos, o transporte público, a cidade, as artes, o cinema. Tem mais a ver com nossos sentidos de forma geral, não vou reduzir todo esse processo à audição pois acho que vai além dela. Transcende.”, contam os integrantes
32) Ian Ramil Tetein
Selo: Independente
Gênero: Experimental, Art Rock
Para quem gosta de: Duda Brack, Poty
O terceiro álbum do produtor gaúcho Ian Ramil, que já recebeu o Grammy Latino de Melhor Disco de Rock por Derivacivilização (2015) é impactante tanto no seu andamento como também nas produções audiovisuais que o acompanham, não é por acaso que estiveram na nossa listas de melhores clipes ao longo do ano. Um disco que trabalha diferentes dinâmicas, entre camadas, texturas e arranjos.
O material reúne parcerias com Juliana Cortes, em “Macho-Rey”, Luiz Gabriel Lopes, em “O mundo é meu país”, Braguinha e Francisco Mignone, em “Canção de Chapeuzinho Vermelho”, além de uma versão gravada por Duda Brack, em Caco de Vidro, seu segundo álbum.
31) Ema Stoned DEVANEIO (leia mais)
Selo: Before Sunrise Records
Gênero: Rock Psicodélico
Para quem gosta de: Rakta, Bike, Mahmed e Kalouv
A Ema Stoned, banda de rock experimental instrumental com elementos de post-rock, noise rock, art rock e psicodelia entre outras referências, lançou seu terceiro álbum de estúdio, DEVANEIO. Dentro do trabalho, o power trio pode colaborar no projeto em três faixas com Sue Elie Andrade-Dé (multi-artista, beatmaker e produtora cultural), Paula Rebellato (Rakta, Acavernus) e Dharma Jhaz (travesti multi instrumentista e performer sonora).
O material marca a estreia da banda no selo Before Sunrise Records que recomenda o disco para quem curta música alternativa e experimental com direito a viagens sonoras extra-sensoriais. Entre as referências do novo trabalho estão o jazz fusion, ritmos brasileiros, o rock e uma boa dose de psicodelia.
“Devaneio, terceiro álbum de estúdio da Ema Stoned, é um convite ao desconhecido em direção ao subconsciente, evocando aquilo que é imperceptível. Através de camadas de guitarra, sonoridades graves e pulsantes, ritmos hipnóticos, dançantes e passagens melódicas contrapostas por barulhos torvos, Devaneio permite divagar por memórias, fantasias, temores e sonhos. Surgem paisagens, natureza exuberante, seres míticos, vales a serem explorados, visões de vida não limitadas.
O lançamento de Devaneio marca o início de um novo ciclo para a banda e o primeiro álbum de estúdio com a baterista Theo Charbel. Vínhamos compondo desde o início da pandemia e precisamos adiar algumas vezes os trabalhos que viriam a formar o disco, e esse é o momento em que damos a forma ao nosso devaneio. As faixas do disco têm origens de diferentes lugares e tempos.
Algumas delas, que já vínhamos tocando em shows, mudaram de nome, como a “Caminhada” e a “Sete Quedas” – composições quase que pré-pandêmicas… Outras vieram de memórias de reuniões longínquas, samples e improvisos que foram tomando forma.”, contam as integrantes
30) Holger Más Línguas (leia mais)
Selo: Balaclava Records
Gênero: Pop Rock
Para quem gosta de: Ombu, Raça e Terno Rei
O quinto álbum da banda Holger, atualmente formada por Marcelo Altenfelder, Bernardo Rolla, Pedro Bruno, Marcelo Vogelaar e Charles Tixier, Más Línguas, tem o momento da pandemia como fio condutor e mostra a versatilidade das composições do grupo. Relações humanas, reflexões sobre o cotidiano ganham a luz do dia em uma fase mais madura onde conflitos e angústias se ressignificam. O próprio AOR acaba sendo uma das principais referências sonoras como eles nos revelaram em entrevista exclusiva.
29) Anne Jezini Em Fuga
Selo: Independente
Gênero: Pop
Para quem gosta de: Luli Braga, Gabi Farias
Com direção artística da própria Anne Jezini, seu novo disco, Em Fuga, tem produtores como Lucas Santana, Erick Omena, Luisa Puterman, Victor Xamã e André Oliveira que se distribuem ao longo das suas 11 faixas. Ela mesmo revelou que a vontade inicial era mesmo a de trabalhar com diferentes produtores e que o disco é sexy, reflexivo, pra dançar e ser transportado para lugares únicos.
“O anterior, ‘Cinética’, me fez encontrar minha estética e o ‘Em Fuga’ é onde eu consigo colocar ela em prática da maneira mais meticulosa e escrevendo de forma direta e simples, montando um quebra cabeça pra contar uma história sobre essa alegoria que é estar em fuga: o movimento, a vontade de jogar tudo pro alto, a velocidade, e de tudo que eu gostaria de fugir”, releva a artista
Algumas curiosidades
Apesar de ter sido lançado em 2023, sua história começou muito anos. O álbum nasce com a inspiração do poeta amazonense Thiago de Mello, que compôs a música “Faz Escuro Mas Eu Canto”, famosa na voz de Nara Leão. Anne decidiu regravar a música em 2018 e convidou o parceiro Lucas Santana para produzi-la. Uma viagem à Floresta Nacional do Tapajós, em 2019, inspirou Anne a escrever o single “Céu de Lurex”, aixa produzida pelos manauaras André Oliveira e Victor Xamã. No mesmo ano “Lá na Sete”, em parceria com a produtora Luisa Puterman.
28) Sabine Holler Turning Into Myself
Selo: Independente
Gênero: Indie, Rock, Eletrônica
Para quem gosta de: Jennifer Lo-Fi, Séculos Apaixonados, Quarto Negro
Sabine Holler, conhecida por seu trabalho a frente do Jennifer Lo-Fi, e também por ter integrado a Ema Stoned, fez um ótimo álbum transitando entre o rock, a música eletrônica e o indie. Bastante sólido, o material revela uma fase mais madura, com bons arranjos em um disco que podemos chamar até mesmo de elegante.
27) Elza Soares No Tempo da Intolerância
Selo: DeckDisc
Gênero: MPB, Rock
Para quem gosta de: Luiz Melodia, Clementina De Jesus, Elizeth Cardoso
O álbum póstumo de Elza Soares revela o lado compositor da artista, tendo das 10 faixas, 7 faixas escritas por ela, sendo seu único álbum autoral em toda a carreira. As outras três faixas que completam o álbum foram escritas por Rita Lee (“Rainha Africana”), Pitty (“Feminelza”) e Josyara (“Mulher pra Mulher”). A cantora, inclusive, sempre sofreu por sempre ter composições descartadas ou ignoradas por antigos produtores. Várias destas composições foram escritas em suas anotações que não paravam em apenas cadernos e se estendiam, por exemplo, para listas de supermercado, por exemplo.
Sua gravação foi feita ainda em 2021 e segundo a sua equipe da artista esse é apenas o primeiro álbum póstumo da artista carioca. A equipe usou inteligência artificial pra retratar Elza Soares em diferentes épocas em cada um dos seus videoclipes.
26) N.I.N.A Para Todos Os Garotos Que Já Mamei
Selo: Pineapple Storm
Gênero: R&B
Para quem gosta de: Tássia Reis e Duquesa
N.I.N.A lançou o ousado Para Todos Os Garotos Que Já Mamei, onde deixa o Drill de lado e aposta suas fichas no R&B. A inspiração por trás de “Para Todos Os Garotos Que Já Mamei” provém da trilogia de filmes da Netflix “Para Todos Os Garotos Que Já Amei”.
A artista revela que o álbum traz “um olhar mais descontraído e leve sobre o amor, mas também uma abordagem crítica e racional”. “São fragmentos da minha própria vida, experiências vividas na favela, coisas que testemunhei e vivenciei”, continua N.I.N.A
O material reúne alguns feats como Baco Exu do Blues, em “Prece”, Thiago Pantaleão, em “Porrada de Balinha”, Sant, em “Despedidas”, e MC Luanna, em “Karma”, a faixa central do álbum, inspirada na história de Lara Jean com sua melhor amiga de infância, que disputam o mesmo garoto.
25) Uiu Lopes Por Fora, Por Dentro
Selo: Matraca Records, YB Music
Gênero: Indie Pop
Para quem gosta de: Walfredo em Busca da Simbiose, YMA
Tendo já colaborado com projetos da cena paulistana como YMA, Laura Lavieri e Walfredo Em Busca Da Simbiose, o compositor baiano Uiu Lopes enfim lançou seu álbum de estreia solo, Por Fora, Por Dentro, ainda em Julho. O material faz o encontro entre o indie pop contemporâneo e o som da MPB dos anos 80 tendo com parceiro musical o mineiro César Lacerda.
“Passeamos durante a escuta pasmados, braços dados com o eu-lírico deste disco, uma personagem misantropa, encerrada em seu quarto, gastando horas do dia entediada, às voltas com suas projeções e elaborações – o que há lá fora assusta. Mas, também, ganhamos coragem. Vamos às ruas com ela. Olhamos o mundo pela sua perspectiva. Ela dança, vê a noite, beija, vive, sonha. Uma jornada em busca de investigar o insondável: nós, agora”, revela Lacerda
24) 131 Babel
Selo: Matraca Records, YB Music
Gênero: reggae, pop, rock, r’n’b, flamenco e samba
Para quem gosta de: Ava Rocha, Jadsa, Blubell, Gragoatá
Fruto da parceria entre Lumanzin e Pedro Bienemann, o primeiro álbum do 131, BABEL, foi lançado com canções em inglês, espanhol, português e albanês. Além de ter parcerias com Thiago França e o duo Taxidermia (formado por Jadsa e João Milet Meirelles).
A pluralidade rítmica e de experimentação sonora também é um destaque do material que olha além do horizonte para buscar por respostas. São timbres, estéticas, linguagens e formas de se expressar que mesmo tendo tudo para não soar pop e soar até mesmo pretensioso, acaba acertando em cheio.
23) Ratos de Porão Isentön Päunokü
Selo: Independente
Gênero: Hardcore, Crossover, Metal
Para quem gosta de: Black Pantera, Gangrena Gasosa, Surra
Reverencie seus ídolos enquanto ainda pode, se foi o ano em que tivemos Filipe Catto cantando Gal Costa e Xande de Pilares cantando Caetano, por aqui nos chamou a atenção o Ratos de Porão lançando ISENTÖN PÄUNOKÜ, um disco com 10 faixas com clássicos regravados da banda finlandesa TERVEET KÄDET.
Eles revisitaram o EP Ääretön Joulu, de 1982, mas com o DNA do Ratos trazendo a tônica da atualidade em suas versões.
22) ÀTTØØXXÁ Groove
Selo: BMG
Gênero: Axé, afrobeat, downbeat, Pop
Para quem gosta de: BaianaSystem, Afrocidade, Olodum
Uma das maiores potências da nova música baiana é o ÀTTØØXXÁ que lançou em maio seu quarto álbum de estúdio contendo 13 canções que vão do pagodão baiano, passando pelo R&B, funk e o pop. Daquelas bandas que só ouvindo para entender como tudo isso converge. Tendo Chibatinha na guitarra com seu talento que a cada show impressiona mais os presentes, o material conta com uma gama de convidados do mais alto nível com Likiner, Carlinhos Brown, Thiaguinho, Luísa Nascimento, do grupo Luísa e os Alquimistas, Negra Japa e Victor Leony.
“Groove é muito mais do que um simples ritmo. É a alma da nossa música, a essência de cada batida. Groove move nossos corpos e nos faz sentir vivos”, comentam os soteropolitanos
21) ÀIYÉ Transes (leia mais)
Selo: Balaclava Records
Gênero: MPB, Eletrônica, Art Pop
Para quem gosta de: Luiza Lian e MC Tha
“Cara eu cheguei a conclusão que esse disco é uma encruzilhada mermo, é um altar de todos os santos e a mistura do Brasil com o Egito, queridas.” é desta forma que Larissa Conforto, sob o codinome de ÀIYÉ, apresenta logo na introdução o seu segundo álbum solo, Transes.
Co uma gama de referências que aproximam a sua sonoridade e expressividade ainda mais próxima do pop contemporâneo, a carioca traz o simbolismo da encruzilhada. Sendo a encruza, símbolo de uma ponto de força, como uma estrada que une todo e qualquer caminho. Essa estrada sendo literal e simbólica, o álbum tendo o ponto de partida e chegada a vivência umbandista da artista que é filha de ogum. Até por isso os tambores e encantarias diaspóricos continuam presentes, assim como no primeiro trabalho, mas agora com um approach mais caliente da latinidade. Uma prova disso é a quarta faixa do registro, “Diablo XV”, que flerta com o reggaeton a música urbana e o rap, assim como a Rosalía faz com maestria.
Transes foi produzido pela artista em parceria com Diego Poloni, na Casa da Bruxa (apartamento na Barra Funda, em São Paulo, onde a artista vive atualmente) e conta com 13 faixas ao longo dos pouco mais de 41 minutos de duração do disco. Entre as referências a artista cita nomes bastante distintos como Clara Nunes e Rosalía mas sua pesquisa também vai para trabalhos como o do galego Rodrigo Cuevas, Flying Lotus, Alcione e Djavan, mostrando como a intersecção de estilos e vibrações conduzem seu caldeirão vivo e pulsante.
No campo das temáticas ela conta que discorre sobre perspectivas distintas sobre amor, espiritualidade, futurismo e beatmaking. Entre as participações o material reúne artistas como a portuguesas SÚS (em “Oração), Alejandra Luciani [Carabobina] (em “Flui”), 4RT [ATABLOCO] nos atabaques (em “Xangô” e “Oxumaré”), Fabio Sá [Gal Costa] no Baixo acústico (em “Xangô”), Ronaldo Pereira no Saxofone [sampleado] (em “Bad Omen”).
O interessante do disco é justamente ver a evolução estética e as possibilidades que a música eletrônica quando se funde a outros universos sejam eles sonoros, espirituais ou de encontros. O que serve como um adendo que deixa a atmosfera de Transes extremamente contemporânea e o faz dialogar com a música do seu tempo. Reflete sim o mundo acelerado, das paixões desenfreadas, muitas vezes avassalador e impiedoso…mas sem esquecer das origens, afetos, quereres e da proteção divina. Em relação ao primeiro disco, ela abre todo um novo universo de possibilidades para construir uma carreira inventiva e cada vez mais global.
20) Luccas Carlos Dois
Selo: Som Livre
Gênero: R&B, Hip-Hop, Pop, Funk
Para quem gosta de: YOÙN, Don L, Tuyo
Seis anos depois de lançar seu álbum de estreia, o músico e produtor carioca Luccas Carlos lança Dois, seu quarto disco de estúdio pela Slap. Tendo o Rio de Janeiro como pano de fundo, o material que tem uma energia nostálgica, já que atualmente reside em São Paulo, reúne 11 faixas, diversas memórias e trás participações de grandes nomes da cena de rap como BK’, Yunk Vino e Maui. Versatilidade também é a marca do trabalho, conhecido no rap e aclamado como o grande expoente da cena de R&B atual, o disco vai do R&B ao trap, passando pelo drill e o tão moderno jersey.
“Assim como no “Um”, neste novo álbum eu falo muito de relacionamento, mas dessa vez é mais conectado com o que eu vivi e não só com a música em si. Sinto que agora que estou mais velho, gosto de falar e explorar essas coisas de uma forma mais profunda Estou muito animado com esse álbum”, comentou o músico no momento de seu lançamento
19) YOÙN Unicórnio
Selo: JOINT
Gênero: R&B, Soul, Jazz, Rock, Blues
Para quem gosta de: Tuyo, Fabriccio, Jean Tassy, Luccas Carlos
De Duque de Caxias (RJ), o YOÙN é um dos grandes nomes do R&B nacional. Em Unicórnio, seu novo álbum eles reúnem um time com o mais alto escalão da cena para furar a bolha, entre eles nomes como Carlos do Complexo, Tuyo, Rashid, KING Saints, Sango, Wax Roof, Zamba, Pivet Panda, Duquesa, Ajuliacosta, Luccas Carlos e Zudizilla.
O título remete ao conceito que queriam traduzir de vem explorar a raridade e a singularidade musical em novas possibilidades, até por isso o nome que brinca com as startups que “decolam” e são vendidas por milhões.
“Acho que o YOÙN está começando a entender quais são suas prateleiras porque conseguimos fazer música desde o R&B mais alegre possível até a MPB mais sutil e elegante. Estar com um instrumento na mão ou com uma ‘machine’ não é um problema, sempre nos adaptamos. Então, YOÙN se encaixa em R&B, MPB, Hip Hop e música preta em geral de uma forma muito natural, porque estamos conseguindo fazer música boa”, disse GP durante o lançamento em Outubro
18) Gueersh Tempo Elástico
Selo: Transfusão Noise Records e Feitio
Gênero: Indie, Alternative Rock
Para quem gosta de: Applegate, Sonho Estranho, carabobina, MonchMonch
O quinteto do litoral fluminense Gueersh lançou um dos discos mais celebrados do indie rock nacional em 2023, e foi logo na estreia com Tempo Elástico. A formação conta com Lívia Gomes, nas vozes e synths, David Dinucci e Guilherme Paz, nas guitarras, Thomaz Alves, no baixo, e Igor Arruda, na bateria. O material contém sete canções que consagraram o estilo deles em uma fase divertida como comentam em entrevista para Alexandre Lopes (Scream & Yell), tem todo aquele DNA de “filhos de Sonic Youth” e carrega influência de outras bandas icônicas como Neu! e Television.
17) Victor Xamã GARCIA
Selo: Independente
Gênero: Rap, Hip-Hop
Para quem gosta de: Diomedes Chinaski, Akira Presidente
Se tem algo que nos surpreende no terceiro disco do Victor Xamã é justamente a sua originalidade, não existe nada parecido dentro da atual cena de MC’s que se equipare a obra do músico. De Manaus, já se vão 10 anos de carreira e é um dos grandes responsáveis por olharmos para o rap na região norte. O interessante é justamente a aproximação pelo soul, o interesse por transformar sua obra através da linguagem visual e a construção em si da narrativa emancipadora.
Entre os produtores estão Duda Raupp que participa de 4 batidas e co-produz as 3 primeiras são instrumentais de Victor Xamã, além de coproduzir com RIFF & Janluska, restando Noshugah e Teo Guedx as últimas músicas. Entre as participaçõrs temos Gabi Farias e Thiago Ticana (“Intro”) e MANDNAH, (“Oito Correntes”), Makalister (em “Bússola Quebrada part 2”), Karen Francis (“Pelas Ruas da Cidade”), Luedji Luna (“Vigésimo Andar”), Gigante do Mic e Matheus Coringa (em “Dias em Branco”) e VND e Big Bllakk (“Luz Acesa”).
16) Slipmami Malvatrem
Selo: Heavy Baile Sounds
Gênero: Rap, Hip-Hop
Para quem gosta de: Ebony, Mac Júlia, Larinhax
Se tem algo que Slipmami soube dosar foi o equilíbrio de influências de seu novo trabalho, Malvatrem, indo do rap ao rock, do trap ao punk a carioca baliza seu trabalho com rimas afiadas e sem filtro logo em seu álbum de estreia. A liberdade tanto lírica como de referências é o DNA do projeto que não dosa meias palavras na hora de canetar. Um álbum que se expande para não limitar as possibilidades e inova por isso.
Além disso os feats levam uma boa parte da cena nacional para o primeiro plano, participam PUTERRIER, Baby Perigosa, MUSE MAYA, LARINHX, Dr. Ace, vhulto, AllahSoulja e Yung Nobre. A produção é de Leo Justi, do Heavy Baile.
“Sempre vivi entre os dois mundos, por isso foi algo natural. Lembro quando descobri o EP Collision Course, do Linkin Park e JAY-Z, entrei em êxtase e não pude acreditar que uma arte daquelas existia.
Na época, estava iniciando no universo do SoundCloud e também acompanhava nomes do Hard Trap na plataforma, como XXXTentacion e Ski Mask, the Slump God. Então, quando comecei a fazer música, tinha essas direções em mente”, conta a artista
15) Tagua Tagua Tanto (saiba mais)
Selo: Wonderwheel Recordings
Gênero: Indie, Soul, Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Boogarins e Mahmundi
Desprendimento, essa palavra resume bem o álbum Tanto, do Tagua Tagua. O pop psicodélico e o dream pop continuam presentes mas agora as referências que Puperi se tornam menos previsíveis com o adendo do R&B e o Neo-Soul. Em um disco que cresce ao vivo com a banda que o acompanha e conta com 10 faixas. Vale lembrar que ele compunha a banda Wannabe Jalva que foi destaque lá pelo finzinho da MTV Brasil.
O conceito é simples mas potente como revela o gaúcho: “É sobre se apaixonar por se apaixonar”. Até por isso é um disco sensorial, calmo, viajante e gostoso de se ouvir. Daqueles para ouvir a dois e flutuar.
14) Tangolo Mangos Garatujas
Selo: Independente
Gênero: Rock, MPB
Para quem gosta de: Ave Sangria, Irmão Victor, Tagore, Trombone de Frutas
Desde que descobri a Tangolo Mangos senti que ali tinha potencial, se o primeiro EP foi um aviso, o segundo uma experimentação difícil de ver se executada ao vivo mas cheio de inventividade, o primeiro disco carregava consigo muitas expectativas. Ainda mais no terreno que eles estão do rock, que muita vezes vive de revivals e de auto-celebrar sua roda, eles vão por caminhos menos óbvios e refinam referências. Tudo isso com um tempero que dá uma liga.
A música regional, a psicodelia, o jazz, o samba, o choro, o baião, o punk, a MPB e a bossa nova, junto com blues, grunge, heavy metal e stoner, as texturas e o poder de ousar pra adaptar as músicas para os palcos colocam eles no radar das bandas que você precisa conhecer. Aliás, eles mesmos assinam a produção do disco que conta com 13 músicas.
“A gente produz e mixa tudo que a gente faz, a gente compõe todas as nossas músicas, a gente faz toda a nossa identidade visual, a gente dirige todos os nossos clipes (ao lado de uma rede de amizades do audiovisual). E a gente trabalha muito para que as coisas fiquem muito boas”, conta João Denovaro no release do lançamento
O material também reúne diversos participações especiais de artistas como Joca Lobo, Cidade Dormitório, Vênus Não é Um Planeta e Fernão Gaivota.
“As faixas foram compostas ao longo de anos, e cada uma conta uma história própria. Os temas perpassam o campo dos afetos românticos, como a melancolia e a saudade, bem como indagações existenciais e até inquietações acerca da realidade social, de hábitos e costumes culturais que envolvem as dinâmicas da vida moderna no século XXI.”, conta Pedro Viana
13) Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo Música do Esquecimento (saiba mais)
Selo: Risco
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Besouro Mulher e Pelados
O segundo disco da Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo tem como narrativa “aventuras familiares, amorosas, sexuais, intelectuais e estéticas; abordando a loucura apaixonante que é ser jovem e ter uma banda; buscando incansavelmente uma sonoridade interessante e própria para tocar canções contemporâneas em português.” como eles mesmo frisam. Com espírito vanguardista, eles vão de Lou Reed a Stooges feito um disco voador em direção a tropicalia, passando pelo post-punk, a vanguarda paulistana e até mesmo o samba num piscar de olhos. É dessa combustão sonora e da riqueza lírica que permeia as vivências que cativa.
O material tem a contribuição do compositor e pianista pernambucano Vitor Araújo e de Ana Frango Elétrico que trabalhou ao seu lado na pós-produção explorando camadas e uma densa pesquisa por timbres. Para deixar ainda mais ultrajante e inventivo eles trazem Negro Léo para contribuir em “Quem vai apagar a luz”.
“Segredo”, por exemplo, é tão chiclete que fica na cabeça e ganhou um videoclipe que destacamos em nossas famosas listas mensais. Já “Minha Mãe É Perfeita” tem um lado caótico vistoso feito o Gang Of Four quebrando o microondas em cima do palco aliado a ironia das composições de Arnaldo Antunes em sua fase de Titãs. Esse lado mais oitentista inventivo se exemplifica em “Quem vai apagar a luz” que tem na sua composição molecular 1/3 Television, 1/3 Velvet Underground e outro terço de New York Dolls – bandas que ao lado de Modern Lovers um tal de Strokes foi beber da mesma fonte.
Mas não é só desse clima rebelde que a obra se faz, “Último Sexo” tem uma atmosfera mais Yo La Tengo, para ilustrar. Já “Time to Say Goodbye” nos transporta para os anos 60, feito Mutantes e Beatles. Para mim o mais interessante é: qual será o próximo passo da banda? É isso que vai nos manter interessados por um próximo disco!
12) Mateus Fazeno Rock Jesus Ñ Voltará
Selo: Independente
Gênero: Rock
Para quem gosta de: Don L e Giovani Cidreira
Depois de uma bem sucedida estreia, Mateus Fazeno Rock viu sua carreira decolar tendo neste ano até sido uma das atrações nacionais do Primavera Sound São Paulo. O músico cearense veio com um poético e impactante segundo disco que desde o seu título chama a atenção. Isso aliado a potentes colaborações com nomes como Jup do Bairro, Brisa Flow, Mumutante, Big Léo e Má Dame.
“O álbum inteiro é interligado em canções sobre os ciclos de começo e de fim da vida. Só que dentro de uma perspectiva da vida na favela e como são os desafios que a gente conta para estar vivo, continuar vivo, querer continuar vivo e gostar de estar vivo”, conta Mateus
Com seu rock de favela ele criou uma estética que neste disco se consolida crescendo ainda mais em termos de produção e linguagens. Ele alia referência do rock radiofônico a artista que permeiam seu imaginário, não é difícil enxergar um pouco de O Rappa ali, Nirvana acolá, rap e hip hop dando liga, a graça é justamente ver como ele mescla isso de forma inteligente sem perder a força de resistência. Vai do gospel ao soul, em por exemplo, “Pode Ser Easy”.
As linhas eletrônicas, a ancestralidade e o discurso afiado entre batuques e guitarras provocantes feito o tom provocador da Nação Zumbi aparecem, por exemplo, em “Pose de Malandro”. Ele levanta o discurso sobre o preconceito e a realidade da população preta no Brasil na afiada “Me Querem Morto”. Um disco necessário que levará esse artista cada vez mais ao caminho de uma extensa carreira se tiver as oportunidades que merece.
11) Loreta Colucci Antes Que Eu Caia
Selo: Gravadora Experimental
Gênero: MPB, Experimental
Para quem gosta de: Maria Beraldo, Jadsa
O primeiro disco de Loreta Colucci, Antes Que Eu Caia, chama a atenção justamente por ter sido um ano grande em sua carreira, além de ter lançado o disco da Gole Seco, onde explora a voz como principal instrumento ao lado de NIWA, Giu de Castro e Nathalie Alvim, este disco tem a produção da ótima Maria Beraldo. O registro que tem um lado mais erudito da MPB também tem uma estética experimental e a participação da baiana Jadsa e da paulista Anná. Entre as principais referências musicais estão Sílvia Pérez Cruz, Dominguinhos, Alcione, The Staves e as já citadas Maria Beraldo e Jadsa.
“O que protagoniza esse disco é o movimento de curiosidade e necessidade constante de olhar para dentro de si e ao redor, sempre nesse ritmo de dentro/fora, fora/dentro para tentar deixar a vida um pouco mais fácil e interessante. O álbum é para quem gosta de sentir uma coisinha nova, às vezes estranha, às vezes aconchegante, bonita, incômoda”, contou a artista durante o lançamento.
10) Letrux Letrux como Mulher Girafa (leia mais)
Selo: Independente
Gênero: Pop Rock
Para quem gosta de: Ava Rocha, Duda Beat
Por Ananda Zambi
Abriram as portas do zoológico e levaram os animais pro sítio. A responsável por isso foi Letícia Novaes, a . A artista, que sempre tratou de maneira tão autêntica e precisa sobre as complexidades das emoções e das situações vividas por nós, seres humanos – tanto em suas músicas como nos seus textos -, dessa vez amplia o horizonte do animal (teoricamente) racional, abraça as particularidades do mundo selvagem e reconhece que nós também fazemos parte dele. O resultado dessa reunião multiespécies é um disco em que Letrux se supera e faz, talvez, um (futuro) novo clássico da música independente brasileira.
Produzido por João Brasil – parceiro de Letícia na sua antiga banda de música eletrônica, a Menage a Trois, e produtor do disco Estilhaça (2015), do duo Letuce, que era formado pela artista e por Lucas Vasconcellos -, Letrux como Mulher Girafa pode não ser tão assimilável já nas primeiras audições, afinal, é um disco que a princípio tem um tema sobre o qual não estamos acostumados a ouvir na música pop.
Além disso, ele conta com intervalos – alguns servindo como pequenas e poderosas pílulas de reflexões (como em “{introdução ao reino animal}”) e questionamentos (como em “{intervalo do ovo ou da galinha}”) e outros como sobras de ensaios e de músicas que ficaram de fora da obra, o que pode causar um estranhamento inicial. Mas Letrux como Mulher Girafa cresce conforme processamos que ele é um disco tão humano quanto os anteriores – Letrux em Noite de Climão(2017) e Letrux aos Prantos (2020) -, abordando características de alguns animais para na verdade evidenciar a nossa essência mais instintiva, selvagem e vulnerável. E reconhecer que fazemos parte de um universo maior traz beleza e potência especiais para o trabalho. As músicas “As feras, essas queridas”, “Formiga”, “Aranha” e “Leões” são exemplos disso.
9) terraplana olhar pra trás (leia mais)
Selo: Balaclava Records
Gênero: shoegaze, indie rock, dream pop
Para quem gosta de: Adorável Clichê e Terno Rei
Com os olhos virados para o retrovisor após 6 anos de atividades a banda curitibana lança seu álbum de estreia. O quarteto terraplana disponibilizou em março o disco olhar pra trás através do selo paulista Balaclava Records. Reunindo 8 faixas gravadas no Nico’s Studio no decorrer de 2022, o material foi produzido por Gustavo Schirmer (Terno Rei/Jovem Dionísio) e mixadas e masterizadas por Nico Braganholo (Terno Rei/Jovem Dionísio).
Para chegar ao resultado final foi um longo percurso, de construção de identidade até o momento de entrar em estúdio para gravar. A sensibilidade, as curvas sonoras, abstração e condensação de sentimentos se refletem no resultado final que vai passa por diferentes gêneros musicais além do shoegaze e post-rock dos primeiros dias dos paranaenses.
Leia entrevista exclusiva
8) Jards Macalé Coração Bifurcado
Selo: Biscoito Fino
Gênero: Samba
Para quem gosta de: Itamar Assumpção e Elza Soares
Para homenagear Gal Costa, Jards Macalé lançou Coração Bifurcado com a premissa de como é possível cantar o amor em meio ao caos e propõe novas abordagens ao cancioneiro amoroso. Material ainda reúne parcerias interessantes de nomes renomados entre eles Maria Bethânia, em “Mistérios do Nosso Amor”, Nara Leão, em “Amo Tanto”, Ná Ozzetti e Guilherme Held, em “Simples Assim”.
“Desde antes da pandemia, foi me batendo um sentimento de que o ódio crescia, a cizânia crescia, o desentendimento orgânico no Brasil crescia. Então, eu resolvi fazer um disco falando de amor como um gesto político, mas também amoroso”, diz Jards Macalé.
7) Zudizilla Zulu: Quarta Parede, Vol.3 (saiba mais)
Selo: Independente
Gênero: Rap / Hip-Hop
Para quem gosta de: Luedji Luna, Don L, BK’
Em julho o rapper e beatmaker gaúcho Zudizilla lançou Zulu: Quarta Parede (Vol. 3), o terceiro e último álbum da trilogia de Zulu – ou Ópera Preta. Segundo o artista, “um manifesto quase homérico sobre as etapas de uma pessoa preta para ter vivências e experiências dadas como “normais” em uma sociedade de extremo racismo”.
Com 17 faixas inéditas e compostas por Zudizilla, o álbum traz feats com Fúria, Don L, Galo de Luta, Melly, Luedji Luna, Paula Lima, Lino Krizz, Shuna (YOÙN) e Tuyo. Em termos de sonoridade, apresenta um universo denso do jazz, além das habilidades do artista enquanto letrista do rap mais clássico.
“Como rapper e beatmaker eu venho testando coisas há muito tempo. Nesse trabalho eu tenho maturidade e experiência para trazer a banda que me acompanha, junto de meus beats e dos parceiros que estão presentes no projeto. Aconteceu tudo de forma muito natural”, comenta Zudi sobre a produção musical e os resultados finais das faixas.
Sobre dividir o álbum em partes o músico de Pelotas (RS) comenta: “É importante entender que eu não tento ser atemporal. Meu som tem no seu cerne a quebra do tempo e é isso que a trilogia comprova. Eu construí uma obra completa e a dividi em três partes que sintetizam a narrativa de Zulu. Sinto que este álbum é o mais próximo do mundo e o que está saindo do mais profundo eu”.
6) Marcelo D2 IBORU
Selo: Pupila Dilatada
Gênero: Samba
Para quem gosta de: Zeca Pagodinho, Xande de Pilares
Marcelo D2, depois de lançar disco com o Planet Hemp em 2022, volta a abraçar o samba em um projeto ambicioso 360, que além do disco conta com um filme que imagina um encontro fictício entre Pixinguinha, Clementina de Jesus e João da Baiana.
O álbum é um manifesto da renovação do compromisso de Marcelo D2 com a cultura popular. Um ponto de partida que, paradoxalmente, emerge da tradição e abre caminho para o novo, construído com o mesmo rigor e paixão que caracterizam a trajetória do artista. O lançamento cresce a cada nova audição.
5) Rubel As Palavras, Vol.1 & 2
Selo: Coala Records
Gênero: Pop Rock, MPB, Pagode
Para quem gosta de: Tim Bernardes, Cícero, Castello Branco
Se teve um disco que criou uma experiência imersiva e uma narrativa bastante versátil, assim como foi o disco de Don L, no ano passado foi As Palavras do Rubel. Desde a potencia dos encontros as misturas provocadoras que propõe, muitas vezes abrindo mão de ser o grande protagonista do seu próprio disco, o que é algo interessante quando pensamos em um disco de um artista solo.
Deixa espaço para Xande dos Pilares brilhar, para Mc Carol e BK’ crescerem, estende o tapete para o duo Deekapz, ainda trás junto artistas grandes como Milton Nascimento, Liniker, Luedji Luna, Dora Morelenbaum e se aventura de cabeça no campo audiovisual. Tim Bernardes, companheiro de selo, também aparece na faixa título. Durante seu andamento ele passa por cima feito um rolo compressor e entender ele na primeira audição é até mesmo um desafio.
4) Luiza Lian 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu?
Selo: Risco / ZZK Records
Gênero: MPB, Art Pop, Experimental
Para quem gosta de: Céu e Xênia França
7 Estrelas | quem arrancou o céu? é o terceiro álbum ao lado do produtor musical Charles Tixier. Os dois, que já trabalham juntos há doze anos (Charles foi o baterista da primeira banda de Luiza). O novo disco chega ao mundo quase cinco anos depois do Azul Moderno (2019).
É impossível para mim começar essa resenha sem voltar para o momento da audição. Até por isso fizemos um vídeo que foi para o TikTok do Hits Perdidos. Ao longo da noite quem esteve presente pode ouvir o álbum de quase 34 minutos duas vezes. Na primeira audição ainda entrando no clima do disco senti como seu andamento fosse uma parábola de diferentes frequências no qual começa no cume, dá uma descida e volta a subir da metade para o final.
Porém a mágica acontece quando você ouve ele pela a segunda vez, o que felizmente pude fazer ainda no local. Sem olhar para o celular, sem me distrair com uma aba de navegador, apenas com os olhos semi fechados tentando sentir suas frequências eletrônicas e também como ele “batia” em quem estava por lá. Algo que para mim é complementar e impossível desassociar.
O fato de “A Minha Música” abrir os trabalhos soa como uma bússola (ou um prefácio). Entre texturas, teclados e beats eletrônicos, que são um primor ao longo do registro dois versos te colocam dentro do seu universo onírico. O disco tem um pouco dessa universalidade também. O fato dela estar com mais dificuldade a se conectar com a espiritualidade se reflete em ter abertura para diferentes temáticas – e de certa forma podendo até alcançar um público maior mesmo que de forma indireta.
Essa própria dor coletiva ganha mais evidência em “Tecnicolor” poderia ganhar e interpretação do reflexo do distanciamento social e a saudade do que costumávamos chamar de vida. Nesta Céu participa. Citar quem arrancou o céu, parte do título, mostra como ela opta por começar o disco nume frequência mais pesada para mais tarde chegar mais perto de se conectar com as 7 estrelas…(Leia a Resenha Completa Aqui).
3) FBC O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta
Selo: Independente
Gênero: Rap, Funk, Soul
Para quem gosta de: Mano Brown e NiLL
Foi em julho que FBC colocou no mundo o que chamou de seu maior projeto até então, e talvez o disco de sua vida, como disse nas redes sociais. O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta propõe uma viagem sonora explorando a dance music onde rima sobre amor, suas complexidades e dinâmicas modernas. Tudo isso sob um ponto de vista bastante particular que parece que na pandemia ainda mais ganhou novos contornos entre telas.
Assinam a produção Pedro Senna e Ugo Ludovico, já nas vozes temos em sua companhia Aline Magalhães, Sàvio Faschét, Iolanda Souza, Sarah Reis e Fernanda Valadares. Além de cirúrgicas parcerias em “Estante de Livros”, de Don L, “Dilema das Redes”, com NiLL, e de Abbot em “Antisocial” e “A Noite no Meu Quarto”. Um disco que te leva para um passeio logo nas primeiras três canções que abrem o registro, depois disso você só tem o trabalho de anotar a placa.
O mais interessante é como o ritmo funkeado e seu passeio pela soul music que reverencia nomes como Jorge Ben, Cassiano e Tim Maia é como ao lado de uma banda afiada ao vivo ele cresce remadas largas.
2) Ana Frango Elétrico Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua (leia mais)
Selo: Risco, Mr Bongo, Think! Records
Gênero: Pop Rock, Funk, MPB
Para quem gosta de: Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Besouro Mulher
Em tempos de discussões que ficam pelo raso, em que vemos tantas repetições e estratégias envolvendo redes, ver artistas que propõe se desafiar para alçar novos voos no campo da criação e co-criação é inspirador. Ainda mais quando se trata de alguém como Ana Frango Elétrico em que a inquietude e a vontade de experimentar sem medo de chegar num resultado completamente diferente, seja em sua música, numa versão, seja na sua poesia, seja nas artes plásticas e na força da sua mensagem…nos lembra o porque começamos a amar a música.
Não é sobre perfeição. Não é sobre reproduzir. É sobre ir de encontro a sua alma. Sentir a pulsação. Não ter medo de errar. Buscar novas soluções que desafiem até mesmo o que tentam cravar como seu marco. Com 25 anos e agora 3 discos, ela até riu na audição ao falar sobre o tempo de carreira. Fato é que ela traça seus próprios caminhos de forma bastante particular.
Seja nos desafios em criar texturas, experimentar novos caminhos, a artista está pronta para mostrar sua identidade e revelar seu lado mais humano. O que faz de Ana um dos principais nomes da música alternativa brasileira. Não que rótulos a definam. Até porque ouvir seus discos é também se permitir fazer viagens que exploram tantas figuras. Sejam elas imagens ou sejam elas figuras de linguagem, um arte de zine ou um clipe que traga uma mensagem para pensarmos sobre as coisas da vida.
Poesia, artes plásticas e música, tudo se intersecciona em seu campo de criação. Neste terceiro lançamento, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, disponibilizado em parceria com os selos RISCO (Brasil), Mr Bongo (Inglaterra) e Think! Records (Japão), ela faz experimentações que constroem pontes com a música popular das décadas de 70 e 80 mas não se limitando a revisitar, e sim, propondo novos caminhos colocando um tanto de si. Da rebeldia, dos amores, do espírito jovem. E não é isso que artistas fazem e nos fascina?
Neste novo disco ela elevou o sarrafo abraçando as funções múltiplas. Ana dirige, canta, compõe, toca e assina a produção musical do álbum. Com direito a um time de dar inveja a muitos músicos. Nele há arranjos de cordas de Dora Morelenbaum (em seu debut como arranjadora) e de metais, por Marlon Sette, baixo de Alberto Continentino e a bateria de Sérgio Machado. Tendo participação de JOCA, em “Dela”, fazendo uma linha de rap, em uma combinação que deu liga, o disco tem uma ficha técnica com muitos músicos timbrados que mostram como o trabalho de muitas mãos faz toda a diferença. São violinistas, percussionistas, trompetistas entre outros elementos que enriquecem sua experiência sensorial (leia a resenha completa clicando aqui).
1) Rodrigo Ogi Aleatoriamente
Selo: Independente
Gênero: Hip-Hop, Rap
Para quem gosta de: Criolo, Don L e Kamau
Talvez o disco mais esperado do ano tenha sido mesmo o que encabeça a nossa lista, o cronista urbano que não se restringe ao rap na sua locomotiva de influências e recortes trás para sua narrativa a cidade de São Paulo. Sendo o primeiro lançamento de Rodrigo Ogi desde o EP Pé no Chão (2017).
A produção é assinada por Kiko Dinucci, com quem já havia colaborado anteriormente. São das paisagens, paisagens e experimentações sonoras aliadas a um disco que a cada faixa tem um flow diferente que ele se destaca. Os sentimentos e universos equalizam criando um universo que olha para a dureza da cidade. Passando pela desigualdade, as rachaduras do concreto quente que não perdoa e o coração que pulsa, entre a intolerância e a ambição capitalista. Entre encontros, desencontros e acidentes da maior cidade da América Latina. O disco conta com participações de Juçara Marçal, Don L, Siba, Thiago França e Tulipa Ruiz.
PLAYLIST: Os Melhores Álbuns Nacionais (2023)
É claro que uma lista com 50 Melhores Álbuns Nacionais (2023) ia contar também com uma playlist no Spotify para você conhecer tudo!