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Paul McCartney reverencia o legado dos Beatles em show de quase 3 horas no Allianz Parque

Antes de contar sobre o show do Paul McCartney que reuniu cerca de 48 mil pessoas no primeiro dos três shows realizados no Allianz Parque em São Paulo gostaria de contar uma história bem pessoal envolvendo os Beatles. Apesar de reconhecer todo o legado e todas as revoluções na indústria que “Os garotos de Liverpool” produziram, nunca fui fã.

Tratei isso em determinado momento da vida como um “desvio de caráter”. Ainda mais para quem é apaixonado por música e se dedica a escrever sobre o assunto a mais de 10 anos.

Minha história com os Beatles

E não pense que foi por “falta de tentativa” ou “pura implicância juvenil”. Foram várias tentativas ouvindo a discografia completa. Ainda na época do colégio pude atuar coincidentemente como “Paul McCartney” em uma peça sobre o início dos Beatles.

Como a vida é dessas de sempre “pregar algumas peças”, não faltaram momentos onde a história do grupo se cruzou em minha vida pessoal. Seja numa aula de marketing na faculdade, seja numa roda de bar em discussão sobre as fases do grupo ou sobre Yoko, a magia no entorno da banda de certa forma para mim era “mais fascinante que a música em si.

Com excessão a algumas músicas que sempre gostei, nunca fui algo que parasse em casa e falasse “vou ouvir esse disco” ou que decidisse que aquilo ia mudar a minha vida. E como somos impactados por sua obra, não é mesmo? Lembro quando assisti pela primeira vez Strawberry Fields (Frances Lea, 2011), em uma viagem psicodélica que me permiti viver. De certa forma, toda a mística sempre rondou o entorno, seja na música, na literatura, no teatros, no cinema ou nas ciências sociais.

Com tantas vindas de Paul McCartney ao Brasil decidi que era a hora de tentar “fazer as pazes” com todo esse sentimento de admiração versus desinteresse. Beatlemaníaco que estiver lendo, não me leve a mal, é apenas uma relação estritamente pessoal de toda uma vida. Tudo dito aqui é muito mais sobre questão de interesse, ou prazer ao ouvir, do que achar a banda “ruim”. E muito menos de legar o legado de tantas bandas que só existiram por conta deles. Tanto é que foi muito interessante ver toda a história por trás de Now and Then.


Paul McCartney em São Paulo – Foto Por: Rafael Chioccarello

Paul McCartney em São Paulo – 07/12/2023

Se tem algo que Sir Paul McCartney tem consigo é carisma de sobra. Além de sempre estar envolvido com boas ações, ele tem atitudes que muitos julgam não necessário para aonde chegou. E que bom termos exemplos como ele, tanto no quesito simpatia como na humanidade.

Um exemplo disso foi a chegada ao estádio Allianz Parque na quinta-feira (07/12) no qual abriu o vidro do carro para saudar os fãs que estavam na fila. Algo que voltou a se repetir no sábado (9/12) [assista clicando aqui].

Em meio a um trânsito gigantesco na cidade de São Paulo, foi possível ver as pessoas chegando aos poucos até o momento da apresentação que teve início por volta das 20:30h. Embora os dados oficiais tenham apenas informado lotação máxima, olhar para a pista comum era um pouco desesperador pois parecia ter pouco espaço para respirar.

Sem muito alarde ou cerimônia Paulo McCartney entra ao palco acompanhado de uma banda invejável composta por Paul “Wix” Wickens (teclados), Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr (bateria). A canção que abre o set no ano que vem completará 60 anos, “Can’t Buy Me Love”, de A Hard Day’s Night.

A sequência avança 10 anos no tempo com “Juniors Farm”, faixa composta por Paul e sua finada esposa (e também tecladista do Wings), Linda. É o primeiro brinde ao público, principalmente por conta da participação do trio de metais Hot City Horns: Paul Burton (trombone); Kenji Fenton (saxophone) e Mike Davis (trompete) que se posiciona a direita do palco, mais precisamente na arquibancada inferior interagindo com a platéia feito uma big marching band.

Simpatia, dedicação e legado

Assim como Robert Smith, do The Cure, Paul mesmo no auge dos seus 81 anos não parece pensar em parar. Faz questão de fazer um show longo, foram quase 3 horas de apresentação e 33 músicas executadas. Fala que vai falar um pouco em português mas só um pouquinho e entre outras palavras anotadas em um papel pregado no chão diz “Boa Noite, mano”.

PS: Vale lembrar que no show de Belo Horizonte ele disse “Ei, Trem Bom” roubando sorrisos dos presentes (assista).

Embora ainda em boa forma, em relação a apresentação de 2019 foram cortadas 3 canções do set e quem pode ir naquela apresentação em São Paulo fala que ele parecia mais disposto. Mas a verdade é que 4 anos nessa faixa de idade em que McCartney está fazem toda a diferença.

Algo que Paul comenta é que hoje em dia, diferentemente da época com os Beatles, ele apenas informa para o empresário: “Estou com vontade de ir ao Brasil, faça acontecer”. Essas turnês acabam virando motivo de prazer para o músico e não apenas para cumprir agenda estando a mercê dos empresários. Não é à toa que tivemos o show em um local pequeno em Brasília e como seu ensaio aberto rendeu ingressos para estudantes da universidade local. É desse tipo de gentileza que faz do seu título de Sir ser muito mais que uma honraria de uma coroa que não deveria existir.

A reverência a própria história

O músico não deixa de ser um romântico incansável e uma prova disso é quando toca “My Valentine”. Não é a primeira nem a última vez que dedica a sua atual esposa, Nancy Shevell, que está junto desde 2011. Esta assim, como outras, ao longo do show é tocada diretamente do piano.

A reverência a própria história, que inclui como grande capítulo sua jornada ao lado dos Beatles, é algo que assim como os mestres de cerimônia do reggae fazem, acontece. Paul faz questão de lembrar momentos chave e transformadores ao longo da vida.

Um exemplo disso é quando toca “In Spite Of All The Danger” no qual pega o seu violão e conta que é a primeira música gravada da história dos besouros. Uma tremenda viagem no tempo que culmina em “Love Me Do”, na qual fiz que eles gravaram em Londres, na Abbey Road, em um estúdio apropriado pela primeira vez.

Na sequência fala que todo mundo vai dançar hoje, pega seu banjo, e toca “Dance Tonight”, do seu disco solo Memory Almost Ful (2007). A faixa inclusive foi indicada no Grammy Awards de 2008 como “Melhor Performance Vocal de Pop Masculina” e já foi até mesmo apresentada em dueto com Kylie Minogue no programa de Jools Holland durante especial de ano novo do ano do seu lançamento.



Ex-Beatles homenageados

Um dos momentos mais bonitos do show é quando dedica a belíssima “Blackbird” para John Lennon. A apresentação solo e com palco elevado, ganha o reforço de imagens do universo, do cosmos, e claro do pássaro negro. Após um bloco de canções ele toca “Something” no Ukulele, em sua primeira parte, e depois na guitarra, dedica a outro Beatle que já nos deixou, George Harrison.

A partir daí é hit atrás de hit para animar o público bastante morno presente no estádio do dodeca campeão brasileiro. “Obla Di Obla Da”, bastante dançante tem arranjos da música jamaicana, “Band on the Run”, assim como “Jet”, do terceiro álbum dos Wings, aparecem ao longo do set.

A Volta no Tempo

Se a turnê chama “Got Back Tour”, é claro que “Get Back”, que já ganhou até mesmo um mashup com funk carioca de João Brasil, não ia ficar fora de todas as apresentações da turnê, assim como um dos maiores clássicos dos Beatles, “Let It Be” tocada diretamente do piano e cantada a plenos pulmões pelo público presente.

Talvez o hit do Wings de maior alcance, e com um cover bastante conhecido do Guns N’ Roses, “Live and Let Die” é um dos pontos altos antes do BIS. Com direito a fogo no palco, pirotecnias, punch de guitarras e arranjos mais pesados, é o momento mais “farofa” e de “rock de estádio” da apresentação. Não que isso não seja divertido, muito pelo contrário.

Abaixando um pouco a intensidade, Paul McCartney volta para o piano colorido, sim, ele reveza entre um de cauda e um mais fase psicodélica dos Beatles, durante a apresentação e toca a emocionante “Hey Jude” com direito a muitos coros da platéia ao cantarolar “NA NA NA NA NA NA NA”.

O BIS do show do Paul McCartney

O BIS acaba sendo pequeno mas não menos recheado de hits históricos para muitos que empilhavam copos e trajavam diversas variáveis de camisetas do grupo britânico. Público que me desapontou por muitos momentos do show onde era possível ouvir as pessoas conversando, uma falta de respeito com quem gosta das músicas e com a própria banda composta por 7 músicos.

O trecho final chega com “I’ve Got A Feeling” do autointitulado dos Beatles, “Birthday” na qual dedica a todos que estão fazendo aniversário no dia 07/12 e o medley para “Sgt Pepper reprise/Helter Skelter” com um show de luzes vermelhas e brancas com projeções futuristas.

Após isso, fala “agora é hora de ir embora” e o público faz um sonoro “Não”. Aproveita e apresenta sua big band e encerra apresentação com “Golden Slumbers”, presente em Abbey Road (1969). Uma forma de dialogar com a nostalgia, o principal combustível de seu show, a nostalgia de memórias confortáveis de outrora.

A faixa foi baseada no poema “Cradle Song”, do dramaturgo inglês Thomas Dekker, uma canção de ninar composta por Paul e John Lennon, mas somente gravada por McCartney por conta de um acidente de carro que Lennon sofreu na Escócia naquela época, no qual remete a infância do músico.

Termino o show reflexivo se consigo mudar meu parecer sobre a obra do quarteto de Liverpool, o que pouco importa afinal de contas. A verdade é que Paul é daqueles que temos a certeza de que morrerá no palco fazendo o que tanto ama. Se isso não é louvável, eu não sei o que é. Que ninguém nunca tire essa alegria dele. Isso sim importa.

Set List Paul McCartney em São Paulo

Can’t Buy Me Love
Juniors Farm
Letting Go
She’s A Woman
Got To Get You Into My Life
Come On To Me
Let Me Roll It
Getting Better
Let Em In
My Valentine
1985
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen A Face
In Spite Of All The Danger
Love Me Do
Dance Tonight
Blackbird
Here Today
New
Lady Madonna
Jet
Mr Kite
Something
Obla Di Obla Da
Band on the Run
Get Back
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude

I’ve Got A Feeling
Birthday
Sgt Pepper reprise/Helter Skelter
Golden Slumbers

This post was published on 9 de dezembro de 2023 7:13 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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