Prestes a completar 20 anos de trajetória o Garotas Suecas disponibiliza nesta quarta-feira (19/07) seu quarto álbum de estúdio, 1 2 3 4. O lançamento nacional sendo realizado pelo selo paulistano Freak e o internacional pelo selo espanhol Vampisoul.
Do sexteto da formação original, hoje a banda atua como quarteto, e sem deixar a peteca cair vibrando em ondas psicodélicas, e lisérgicas, evidenciando temáticas e questões políticas, sempre com bom humor como em “Não Tem Conversa” do álbum do álbum Futuro do Pretérito (2017, Selo Freak). O que continua se mantendo presente como fio condutor em suas crônicas musicadas. E, claro, que esse momento pandêmico de enclausuramento ia reverberar com acidez em algum momento do disco que passa por diversos estilos.
“Quis falar um pouco sobre isso e botar pra fora um pouco da frustração que sentia naquele momento, porém sem usar palavras chave como “coronavírus”, “pandemia”, “quarentena”etc… Tentei deixar a letra menos literal pra não ficar tão datada, fiz a música e já mandei a gravação da demo (voz e violão) para o restante da banda.
Alguns dias depois já começamos a ensaiá-la e não demorou muito para que ela ficasse maneira. Só a parte final, que tem um instrumental mais comprido, deu um pouco mais de trabalho para encaixarmos as transições, mas nada demais também.Estamos de volta!”, pontuou Nico Paoliello durante o lançamento de “Se Não Tá Tudo Bem”
Além de “Se Não Tá Tudo Bem” antes de revelar o resultado final eles lançaram um segundo single, “Gentrificação“; este que mantém o ar politizado do grupo e protesta contra um fantasma que assombra as grandes cidades do país: a especulação imobiliária.
“No final da pandemia, eu fui despejado do meu predinho, que foi abaixo para dar lugar a um novo prédio mais alto e bem mais luxuoso. Escrevi a música a partir da experiência de viver em São Paulo, refletindo sobre as mudanças na cidade. O canto onde vivia foi arrasado pelas construtoras, autorizadas pela nova regulamentação urbana.”, comentou Tomaz Paoliello
Outro coisa a se apontar na obra é o fato do disco ter em seu DNA o fator da cura. Visto que eles estavam preparando para gravar antes mesmo da pandemia. O exercício de continuar os trabalhos fez com que eles cuidassem da própria saúde mental em um período onde éramos bombardeados por informações (e desinformações), até por isso o processo criativo acabou afetado pelo momento nefasto, entre panelaços e mar de sangue.
Além dos quatro que compõe o Garotas Suecas, o disco teve somente a participação do percussionista Matheus Prado, do produtor André Bruni (que co-produziu o disco com o baterista do Garotas, este também ficou responsável pela mixagem) e pelo masterizador Cassio Play.
É interessante ver a verdadeira jam que o grupo faz ao longo do registro passeando pela história da música pop. Indo cena psicodélica e garageira dos anos 60 e 70 (Outlaw country) quanto do pop rock dos anos 80 e 90, do além de ter referências da história da música pop mundial, como a evolução histórica do R&B: do Doo-wop, passando pelo blues, rock ao funk.
“Tire Seus Dedos” abre com direito a sintetizador fritando, no melhor estilo psicodélico de vanguarda, quizá bebendo até mesmo da nossa incrível Jovem Guarda, e coloca os instintos primitivos em primeiro plano. Começa solar e já antecipa a vontade pelo reencontro carnal com versos que batem forte como “se você pudesse controlar seu instinto primitivo talvez pudesse encontrar um amor de verdade”.
Em tom de bossa tropical “Todo Dia” pode traduzir até mesmo aquele momento de reflexão do cotidiano de pandemia, da esperança pela mudança para tempos melhores, mas também é temporal e motivacional para quem procura uma mudança positiva em sua vida. Os solos de guitarra, e suas viradas quebradiças, dão um gosto ainda mais pop para a canção.
“So Quero Você” chega a flertar com o pop rock e o Doo-wop ao mesmo tempo, uma balada gostosa e feita para dançar a dois. Se você gostar de The Ronettes, com certeza colocará a faixa depois de “Be My Baby” ou talvez de um The Shirelles, porque não?
A veia psicodélica e o funk dão as caras em “Veneno” e discorrem um pouco sobre a rotina louca que vivemos onde de vez em quando podemos nos dar ao luxo de esvaziar um pouco a cabeça. Seja por ansiedade ou pela a quantidade de problemas que temos que resolver em nosso dia a dia. Ela abraça o ouvinte como um amigo.
“Podemos Melhorar” mergulha de cabeça na psicodelia com direito a instrumentos orientais para nos levar a questionar a nossa essência, nosso espírito de coletividade e o poder das nossas escolhas. O convite a meditação, de valorizar quem somos e de estimular a sair da inércia. Sempre lembrando que o inferno está cheio de boas intenções, então precisamos abrir o olho (quem sabe até mesmo o terceiro).
A crítica social ganha mais peso em “What U Want” que levanta o dedo em riste para tirar o sufoco do peito em versos como “te falo desde 2016” (com referência ao impeachment de Dilma), “não escuto as panelas”, “tá melhor só para dormir” e as passadas de panos pros escândalos e que os seguidores do inelegível tiveram que passar (por mais absurdo, e indefensável, que fosse o motivo).
Com baixo pegado, repleto de groove, e camadas de indignação se elucidam em metáforas diretas e indiretas sobre a rede de absurdos, fake news e falta de escrúpulos. Até mesmo dá para fazer um paralelo com o negacionismo das vacinas que levou muitos a perderem a suas vidas por acreditarem em falsos mitos.
“Explicar já tentei mas não quis escutar/provas eu apresentei/preferiu ignorar/já cansei de tanta ignorância/da nojo, causa ânsia essa falta de noção”
“Bala”, um Outlaw Country, com toda aquela carga de tema de filme de bang bang, também reflete sobre a obsessão armamentista que leis que facilitaram a compra de armas e munições por conta do cidadãos de bens causaram durante os últimos 4 anos. O de resolver tudo na “Bala” sem medo das consequências e do caos urbano que isso proporciona.
“Marginais” retrata o caos da inversão de valores, do caos instaurado, de políticas de combate a todo e qualquer pensamento progressista, humanista e que lute pelo bem estar social. A vanguarda do atraso vindo em pelotão em marcha fúnebre.
“Não Tá Tudo Bem” mostra logo em seus acordes iniciais as dissonâncias e o peso do momento com direito a harmonias que remetem ao rock sessentista. Até mesmo as quebras aproximam as dores do ouvinte que em progressão se sente sufocado pela situação, transformando por sua vez o drama da realidade pandêmica em arte.
Quem fecha o quarto álbum é “Gentrificação” que mira no pop dos anos 60 para criticar a especulação imobiliária que pegou muitos de surpresa, desde o aumento dos aluguéis a até mesmo a derrubar casas e estabelecimentos para construir um prédio luxuoso perto do metrô.
Pela descrição dá para lembrar até mesmo sobre o caso do Parque Augusta. Ainda dá um cutucão a respeito sobre como as pessoas aceitam morar em cubículos por valores absurdos contribuindo para que políticas assim se perpetuem.
Gravado no Freak Estúdio por Nico Paoliello e André Bruni
Mixado por Nico Paoliello
Masterizado por Cassio Play
This post was published on 19 de julho de 2023 10:00 am
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