El Mató a Un Policía Motorizado é hoje em dia, um dos primeiros nomes a serem pronunciados quando se fala de música indie latino-americana. O estilo da banda formada no ano 2003 na cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, vem se consolidando através dos anos com uma identidade muito marcada e bem definida, sendo ponto de influência de uma geração inteira de músicos, e quase marcando um antes e depois na cena independente Argentina. Acabam de lançar seu novo álbum Súper Terror o qual eles intitulam o “real sucessor” de La Síntesis O’Konor (LP lançado em 2017 e que marca um giro na sonoridade característica da banda), apesar de terem lançado outros discos depois dele – entre eles o Unas Vacaciones Raras (2021), que rendeu um Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em 2022 à banda.
O novo disco foi gravado no ano passado no famoso estúdio no Texas, Sonic Ranch (onde já passaram bandas como Beach House, Animal Collective, Yeah Yeah Yeahs,TV On The Radio), e atua como disparador de um novo caminho musical, com novas buscas para completar uma sonoridade renovada, que siga expandindo o universo sonoro da banda.
Tivemos um papo muito interessante sobre o disco com o Santiago Barrionuevo (aka. Santiago Motorizado), voz e baixo da banda e também compositor das canções.
PS: Para ver la entrevista en español haz click en el enlace.
Santiago: “(risos), Sim.”
Santiago: “Claro, foi um projeto com dois amigos de uma banda que se chamava “El Tío Pastaflora” e nos juntamos e fizemos “El Tío Motorizado”, e bom, sim, foi como um experimento, mas muito divertido.”
Santiago: “Acredito que sim, que chegamos a uma identidade, e que há uma sonoridade, há uma forma nas canções, na narrativa, que com os anos foi se criando uma marca, um estilo que define a banda, e que às vezes é difícil, né? Classificá-lo, mas que quando escutamos o reconhecemos. E dentro desse caminho, e a partir dessa identidade, também tem algo que gosto que suceda, que fomos variando muito a sonoridade da banda, na forma de produzir discos, as canções. E isso não faz com que se perca a identidade.
A verdade é que gosto muito de explorar isso, gosto que o universo sonoro da banda se expanda e ao mesmo tempo haja algo que mantenha uma continuidade em toda a discografia. Eu acredito que essa identidade que se vai formando, primeiro que a buscamos, e que fica como acentuado, depois é muito difícil de rompê-la, não? Essa essência, digo.
Nesse jogo de ir buscar novas sonoridades, tratamos de recorrer a certos lugares que já estivemos, em termos de sonoridade. E é algo que te acompanha sempre, os pequenos padrões que te acompanham, que pensamos que são inegociáveis no momento de escrever uma canção, na hora de contar algo, mas mais além disso sempre o objetivo é ir em busca de algo novo, romper um pouco com o que está estabelecido. Esse exercício nos motiva a cada álbum, em cada novo projeto, etapa, voltar a sentir isso do princípio. Voltar a sentir esse ânimo de estar descobrindo algo, de estar andando por um novo caminho. Então bom, se mesclam essas duas coisas, não? Do que é a identidade e do que é ir atrás de buscar sempre o novo.”
Santiago: “Sim, sim. Era claramente nosso objetivo levar a sonoridade da banda a novos lugares, experimentar no caminho, aprender muito, porque é todo um exercício, de sair um pouco dessa zona de conforto e a verdade é que estamos contentes com o resultado. Foi muito divertido começar a mesclar novas coisas com o que já vínhamos trabalhando.
De repente escutar as canções em outro formato, e a partir daí construir, não? Até que chegamos ao ponto onde sentimos que a canção está pronta. Quando estamos gravando ou quando estamos nesse processo criativo, às vezes se perde a perspectiva. De tanto escutar as canções, de estar em um exercício diferente ao que está escutando. E penso “e isso onde está? Onde encontro? É realmente algo novo?” Ou seja… Não é tão novo como nos parece, mas quando saiu o disco, e vimos as respostas das primeiras escutas, confirmamos isso. E eu gosto disso. Gosto da surpresa, que a pessoa que já não nos segue se surpreenda, para bem e que se surpreenda para mal também. Gosto disso porque reafirma a ideia do novo, não? Que isso é o que mais me importa. E depois se gosta ou se não gosta, isso é algo que está livre que suceda.
Estou contente com toda a evolução que o álbum teve, com todas as respostas. Gosto que se sinta essa sonoridade nova, e que se sinta isso que você dizia, que há uma essência do El Mató, que nos acompanha mas ao mesmo tempo é diferente. ”
Santiago: “Sim, gosto. Gosto da tua interpretação. Tem muito disso no álbum, estou de acordo com sua interpretação. É um álbum que quando o batizamos de Súper Terror, brincamos com isso, com o significado das palavras por separado. O “Súper”, ilustrando o luminoso, o alegre, isso que você narrava com essas bases musicais, e o “Terror” narrando, ilustrando o obscuro, querendo com esse jogo de palavras marcar a dualidade do álbum. E um ponto também, é que esse álbum está atravessado pela pandemia, e a pandemia teve muito disso, não? Com o que você acaba de descrever, teve a incerteza, a introspecção. Reformular muitas coisas…
E depois o pós pandemia também. Esse momento meio luminoso, onde se termina uma etapa, mas ao mesmo tempo, em meu caso pontual, gostava de pensar quando estava escrevendo, que isso luminoso que apareceu no pós pandemia também ocultava algo. Um pouco de nossos pensamentos que ficaram pela metade, de nossas próprias introspecções, e um outro ponto, um mundo onde havia mais desigualdade, mais pobreza, mais injustiça. E estamos celebrando sobre esse mundo, não?
Então, não falo diretamente sobre isso no álbum, mas ele está atravessado por isso, e manifestado, com exercícios poéticos, e de diferentes maneiras. Também gosto, sobretudo quando estou escrevendo, ter um disparador pontual, que me motiva a escrever, e depois com o texto, quando já estou dentro do texto, deixar que o texto me leve para qualquer lado. Então por aí o que te digo agora são mais os disparadores, as coisas que eu sentia quando sentava para escrever, mas depois cada canção tem seu próprio mundo e seu próprio percurso.”
Santiago: “Sim, sim, além disso, creio que é o único disco que as letras foram feitas nesse período. Eu tinha muitas ideias de canções, melodias, harmonias, mas sem letra. E as escrevi todas no mesmo período, então as letras estão atravessadas por esse mesmo estado, digamos.”
Santiago: “Diferente ao Síntesis O’Konor, onde trabalhamos bastante na prévia, na pré produção, onde havíamos decidido fazer um giro importante na sonoridade da banda e isso levou dias e dias, buscando essa sonoridade em nossa sala de ensaio, fazendo registros caseiros, provando, voltando atrás, provando novamente. E no caso deste álbum, não queríamos que passasse mais tempo, porque foi no meio de uma turnê muito intensa de 2022, que foi a gira pós pandemia, depois de quase dois anos sem tocar, onde se acumulou tudo e não queríamos que passasse mais tempo.
Então organizamos um pouco a agenda para poder ir ao estúdio e gravar esse disco. Então, realmente o plano foi diferente, foi o de ir a definir, ali naqueles dias de estúdio. Inclusive dar essa forma final às canções. Brincar um pouco com a vertigem do contratempo, porque tampouco tínhamos tempo infinito no estúdio, e o disco foi gestado e escrito, obviamente em vários momentos, porque fomos três vezes durante o ano.
Não tínhamos capacidade de ir por um período longo e estar ali assentados. Então fomos em Abril, em Setembro, e em Janeiro deste ano para finalizá-lo, e em cada momento, obviamente, eu me sentava para escrever as letras, e também nos meses entre essas idas não? Mas foi um ano muito intenso, e ao mesmo tempo muito prazeroso. Vínhamos de estar sem tocar há muito tempo, e era algo que também era uma incógnita. E era todo um esforço porque estávamos sem ritmo. E no meio da gravação do disco, que esse plano de definí-lo no estúdio saiu bem, eu via como as canções iam tomando forma, como em todos despertavam ideias de último momento, muito boas, muito frescas, muito reais. E todo esse combo conformou o Súper Terror.”
Santiago: “Sim, teve sua complexidade, mas também, essa vertigem que se gesta, porque obviamente não há tempo, e tem um projeto que está armado, inclusive estavam agendados os dias de estúdio, algo aí meio que te acelera, e te desperta as ideias. E também o que eu fazia muito nas turnês, era anotar as frases. Se me ocorria alguma frase, anotava.
Não era uma coisa de exercício, de sentar e escrever e desenvolver um texto, mas sim de ir anotando aos poucos. Coisas que eu gostava, que me interessavam. E depois sim, nos dias de estúdio, enquanto se gravavam as baterias, outras coisas, juntava essa frase e começava a dar forma, a desenvolvê-la. E depois, em Janeiro fui gravar mais vozes, porque faltava isso, e terminar umas mixagens a partir dessas vozes terminadas. E esse Janeiro foi muito intenso, e os dias prévios a esses dez dias no estúdio, foram muito intensos, foram dias de realmente ter um espaço para escrever. Foram dias de calor, de muita escrita, mas que foram virtuosos.”
Santiago: “Sim, iniciamos 20 projetos de canções. Mas em um momento vimos que era muito ambicioso gravar todas, terminar todas, e partimos esse álbum na metade. Porque também visualizamos que havia dois grupos de canções com duas estéticas bastante marcadas, diferentes. E em uma parte ficou o Súper Terror que foi o projeto que queríamos desenvolver, e o outro ficou para o futuro. Mas é um projeto que estamos muito entusiasmados também. Mas é um projeto que estamos muito entusiasmados também. Canções que ainda faltam um pouco de letra, arredondá-las um pouco mais, mas que nos entusiasma, e que quando passe um pouco a etapa “Súper Terror” vamos começar a fechar essas canções.”
Santiago: “(Risos)… Sim, não posso falar muito a respeito, mas vamos voltar. Para mim foi mágico aquela primeira viagem, porque realmente, tocamos no Inferno Club, em São Paulo, Tocavam duas bandas mais que agora não me recordo, deveria revisar isso, e fomos tocar no Brasil, felizes de sair da Argentina pela primeira vez. Entendíamos que era pouco comum, que normalmente os primeiros lugares que se vai é Uruguai, Chile. Não? E não… Fomos para o Brasil!
E a ideia do organizador era que fechássemos o festival, e nos parecia uma loucura. E no fim se juntou um monte de gente que já conhecia as canções, que estavam no MySpace naquela época. E eu creio que há algo, de que as letras eram breves, porque isso do idioma sempre tivemos claro. E havia muita conexão com esses pequenos Haikais, que eram as primeiras canções, onde eram talvez mais fáceis de entender se você não conhece tanto o espanhol. E bem, também havia algo de conexão com uma proposta que era a música alternativa, que era diferente, e que sempre teve essa cultura em toda América Latina, e no Brasil também. E toda essa conjunção, se gestou uma atenção especial à banda. E bem, um laço muito forte, e que continuamos com os anos, e que foi crescendo. E vamos voltar, isso te asseguro. Semana que vem vamos anunciar.”
Santiago: “Da Argentina gosto muito de Mujer Cebra, do Uruguai gosto muito da Niña Lobo, e do Chile uma banda que se chama Niños del Cerro. Essas são minhas recomendações. São três projetos incríveis, geniais, muito frescos, muito originais, e que realmente me comovem, que tem como esse poder de te comover e te confrontar profundamente.”
Súper Terror promete servir de companhia ao público nos próximos anos, como todos os trabalhos de El Mató, com canções que vão crescendo em importância a cada escuta, ocupando silenciosamente aquele seleto lugar de bandas que marcam nossa vida, pela qualidade sonora e lírica que carregam desde o primeiro disco.
01. Un Segundo Plan
02. Medalla de Oro
03. Diamante Roto
04. Tantas Cosas Buenas
05. El Universo
06. Coronado
07. Voy a Disparar al Aire
08. Moderato
09. El Número Mágico
10. Profeta de Fuego
Gravado em: Sonic Ranch, TX, USA
Produzido por: Eduardo Bergallo e El mató a un policía motorizado
Engenheiro de Gravação: Eduardo Bergallo
Mixado por: Eduardo Bergallo
Masterizado por: Eduardo Bergallo
This post was published on 18 de julho de 2023 9:30 am
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