Internacional

Discharge retorna aos palcos brasileiros após 18 anos; leia entrevista exclusiva

Uma das maiores bandas da história do punk e hardcore tem seu retorno marcado em terras brasileiras para o dia 10 de dezembro na Fabrique Club, em São Paulo. Os pioneiros do d-beat, que moldaram a música extrema, influenciaram muitos nomes como Death Angel, Anthrax, Sepultura e Ratos de Porão vão realizar o sonho de muitos fãs que esperaram 18 anos para esse grande momento acontecer. Os britânicos do Discharge estão de volta para celebrar o seminal disco de estreia Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing que completa 40 anos de lançamento esse ano.

As bandas convidadas para acompanhar o Discharge são o power-trio santista de thrashcore Surra e a banda de metal punk paulista Urutu, que possui um recém-lançado compacto.

O anuncio do retorno da banda de Stock-On-Trent no Brasil foi tão concorrido e festejado que a Agência Sobcontrole, responsável pelos eventos da banda por aqui, abriu mais duas datas extras – no dia 11 de dezembro na Fabrique Club em São Paulo com abertura mais que especial do Ratos de Porão, e no dia 09 de dezembro no Basement Cultural em Curitiba, com abertura da banda fluminense de metal punk Malvina e um dos principais nomes do death metal hoje, liderado por Fernanda Lira, Crypta.

A cultuada banda britânica vem pela primeira vez com seu novo vocalista, Jeff JJ Janiak, integrante oficial desde 2014 após a saída de seu último vocalista Anthony “Rat” Martin. O último disco do Discharge, End Of Days, lançado em 2016 pela Nuclear Blast já conta com os vocais de JJ e o cara nos concedeu uma entrevista falando um pouco mais sobre novos projetos, sua entrada na banda, expectativas para os shows e mais.

Entrevista Exclusiva: Discharge


Discharge fará show no Brasil. – Foto Por: John Bolloten

Vocês estão retornando ao Brasil após 18 anos, com um novo vocalista Jeff “JJ” Janiak. Como está a expectativa para esse retorno? Jeff já esteve no Brasil antes?

JJ: “Sim! A última vez que a banda esteve no Brasil deve fazer 19 ou 18 anos como você disse. Faz muito tempo. Quando eles realizaram esses shows eles tinham um vocalista diferente, eu não estava na banda então é a primeira vez que essa formação tocará no Brasil e na América do Sul. É algo que estávamos querendo fazer tem muito tempo. O problema é que estávamos sendo chamados o tempo todo por pessoas que diziam ser promotores, mas como não moramos por aí não sabíamos quem é quem, dificultando quem escolheríamos para trabalhar e se podíamos confiar.

Sabe como é, é uma viagem longa de avião, tem muito planejamento envolvido e as vezes as coisas podem acabar de forma desastrosa… Felizmente, nós tivemos a oportunidade de trabalhar com uma agência bacana, que é muito boa no que faz e também foi sua primeira vez marcando uma turnê sul-americana e tudo funcionou perfeitamente. Dessa forma nós decidimos ir pois era algo que queríamos fazer a muito tempo e as situações nunca estavam favoráveis. Deu tudo certo e aqui estamos nós!”

Um dos discos mais importantes da música extrema, o debut ‘Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing’, está fazendo aniversário de 40 anos em 2022. E a banda já tem 45 anos de estrada. Qual o segredo para a longevidade? Vocês possuem algum plano especial para o disco nos shows?

JJ: “Particularmente, não. Nós não somos muito bons em tocar um álbum na íntegra no show como muitas bandas fazem. Já são 40 anos de “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing” e grande parte do nosso set é executado com as faixas desse álbum então com certeza você vai ouvir muito esse disco nos shows, só as melhores, e é isso que estamos fazendo agora. Estamos tocando da melhor forma nossos albums pelos ultimos 40 anos basicamente.”

Jeff, você é vocalista da banda desde 2014. Como aconteceu sua entrada na banda? Já era um fã antes de acontecer?

JJ: “Sim! Eu sempre fui fã do Discharge mas antes de entrar para a banda eu tocava em outro projeto chamado Broken Bones que basicamente compõe os mesmos integrantes do Discharge. Eu era o único cara que tocava com eles fora do Discharge até realmente entrar para a banda..Broken Bones, Discharge…Éramos os mesmos integrantes tirando o Rat (Tony “Rat” Martin). Eu fiquei no Broken Bones alguns anos e tudo aconteceu de forma muito orgânica.”


DischargeFoto Por: John Bolloten

Com toda sua longevidade, a banda sempre foi muito prolifica em produzir materiais. O último disco “End Of Days” foi lançado em 2016, e acredito a pandemia ter forçado uma pausa nas atividades. Vocês estão planejando novo material?

JJ: “Sim! Desde o início da pandêmia eu comecei a trabalhar numa banda chamada False Fed com membros do Amebix – Stig Miller, e também Roy Mayorga do Ministry – ele também tocou no Stone Sour, Soulfly, ele tocou em várias bandas. Nós já finalizamos a gravação do disco que sairá em breve pela Neurot Records, fundada por membros do Neurosis. Esperançosamente lançaremos no começo de 2023. Por agora estamos trabalhando na arte gráfica e a Neurot lançará.

Sobre o Discharge nós temos planos para um novo album.. Eu disse isso em várias entrevistas que já fiz. Mas basicamente nós temos o material e precisamos nos comprometer em entrar no estúdio, nos comprometer com o projeto e realmente gravar da forma certa. É dificil por agora porque estamos sempre em turnê. Temos muitas datas de shows e está difícil comprometer-se com um álbum no momento já que não saímos da estrada. Precisamos focar em uma coisa por vez.”

Falando sobre gravadoras, o Discharge está assinado com a Nuclear Blast. É uma grande gravadora da cena. Poderia falar um pouco sobre o relacionamento da banda com a gravadora?

JJ: “Claro. Voltamos para 2015 quando eles se aproximaram de nós. Comigo na banda, nessa formação, gravamos o clipe de “New World Order” e então a Nuclear Blast se aproximou querendo trabalhar conosco e achamos uma boa ideia. Eu estou feliz que isso aconteceu.

Eles realmente fazem um ótimo trabalho de divulgação que outras gravadoras não fizeram por nós. Eles promovem todos os nossos trabalhos muito bem e nosso relacionamento é ótimo, não existe pressão para gravar um novo álbum, não há nada no contrato que diz um número especifico de discos a serem lançados em um tempo específico, nós apenas fazemos o que nos dá prazer e lançamos na hora certa.”



Nuclear Blast é uma grande gravadora para os brasileiros fãs de música extrema, para os punks também. Eu lembro nos anos 90 o primeiro item lançado na Nuclear Blast no Brasil que encontrávamos nas prateleiras era o VHS “Death… Is Just The Beginning”, e assim foi o início da fama da Nuclear Blast por aqui. Eles fazem um grande trabalho lançando muito material por todo o mundo.

JJ: “Você está totalmente certo, é assim mesmo que eles chegam lá. As raízes deles eram da cena punk e hardcore e foram se expandindo, crédito a eles. Sabe, eles ficaram muito grandes e conseguiram se manter independentes por um longo tempo, crédito a eles. É uma grande gravadora.”

Vocês são muito influentes no mundo todo, principalmente pelo pioneirismo no d-beat. Até hoje muitas bandas continuam os reverenciando e gravando tributos, como no Brasil. Por aqui foi lançado o “Discharge Tribute” com 27 bandas brasileiras prestando essa homenagem. Poderiam comentar um pouco sobre essa grande influência que vocês tem na cena? E hoje, quem influencia vocês?

JJ: “É incrível ouvir outras bandas fazendo covers nossos, especialmente algumas delas. É como dizem “A imitação é a maior forma de elogio”. Quando vejo algo do tipo eu simplesmente fico: UAU! Você começa a perceber o tamanho do impacto que pode causar nas pessoas. Sobre quem nos influencia, não temos ninguém em particular que realmente seja uma grande influencia.

Eu acho que uma das melhores coisas no Discharge é que todos nós temos influencias diferentes e gostos musicais diferentes. Nós somos uma banda punk e não é como se só ouvissimos bandas punk, hardcore e d-beat. Escutamos diversos tipos de música, mas o nosso tipo é algo mais sombrio. É simplesmente algo de onde viemos – Stoke-On-Trent, é uma cidade sombria, uma cidade industrial decadente, não tem uma atmosfera boa, é muito cinza com muitos tijolos (risos). É um lugar bem sombrio e eu acho que muito dos nossos sons vem disso, pra ser honesto.”

A banda desde sua fundação sempre manteve suas raízes anarquistas e apresentou suas visões politicas nas composições. Hoje estamos enfrentando mais um ciclo de ascensão do conservadorismo e da extrema direita no mundo. Como os debates atuais transformaram a banda e entram nas composições? Qual seria a melhor forma de combater essa nova onda conservadora de forma que não ocorra novamente?

JJ: “Com palavras e em nossas letras.”

This post was published on 16 de novembro de 2022 11:00 am

Diego Carteiro

Apresentador do programa Ruído na Internova Radio, colaborador do Hits Perdidos. Entusiasta de shows e festivais e músico nas horas vagas. Siga o Hits no Instagram: @hitsperdidos

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