Como dar vazão ao imenso número de conteúdo cultural produzido no país com tantos lançamentos semanais e uma iminente “guerra” por playlists, por bombar o pre-save, por tentar “viralizar no TikTok” com versões ou dancinhas ou buscar o papel de influenciador nas redes para quem sabe almejar a viabilidade para marcas patrocinarem o trabalho de um artista ou produtor de conteúdo.
Com as redações de veículos tradicionais cada vez mais enxutas e o jornalismo independente muitas vezes faltando mãos e incentivos para conseguir colocar em prática, a divulgação com a qualidade que gostaríamos. Vemos um show de horrores acontecer.
Outro dia me deparei com um site compilhando 118 lançamentos que tinham sido lançados, veja bem, naquela sexta-feira. Eram clipes, discos, EPs, singles, documentários entre outros materiais que claro, são merecedores de espaço, mas no meio de tanta coisa como conseguir manter-se relevante?
Quantos vão ler ou conseguir ouvir, por mais dedicados que sejam, 10% de uma lista dessas? Como consumir e absorver arte em sua plenitude neste modus operandi? Quão relevante é isso em termos de valorização da curadoria?
Deixo outro questionamento sobre a estrutura do mercado de pautas:
Ainda faz sentido uma exclusiva em um veículo bacana como estratégia?
Jornalismo Cultural no Pós-Pandemia
Para o próprio produtor de conteúdo, como conseguir avaliar e chegar a uma seleção com qualidade, capacidade curatorial e equilibrando apostas a projetos maduros?
O relevante e o novo precisam coexistir mas como conseguir lidar com a demanda de materiais pandêmicos no pós-pandemia?
O pós-pandemia nesse sentido: já chegou. Neste mês reuni na lista de Melhores Clipes Independentes do Hits Perdidos 162 videoclipes, com artistas de 21 estados brasileiros, lançados em Junho. Uma incrível média de 5,4 clipes sendo lançados por dia.
Um Recorde HISTÓRICO que mostra como a música brasileira resiste em tempos tão difíceis e com poucos incentivos. Um número que também explicita a força do audiovisual independente em meio a reabertura, o reflexo direto da tão suada Lei Aldir Blanc, mas que traz consigo um alerta sobre o jornalismo cultural.
Conversando com o jornalista Pedro Antunes, atualmente no Splash do UOL, falando sobre música e cultura pop, mas que por muito tempo foi editor na Rolling Stone – e criador da Hotlist, de maneira informal no Twitter, trocamos provocações e encostamos na ferida sobre o futuro da área.
Pedro tentou com muito esmero dar vazão aos artistas independentes em meio a uma pressão sistêmica por clicks que vai totalmente na contramão do que o jornalismo cultural deveria ser por essência.
Ele persiste e tentou também dar vazão a um projeto paralelo e em outro formato, o audiovisual, através do Instagram do Tem Um Gato Na Minha Vitrola, realizando entrevistas no formato de lives, até mesmo quebrando recordes, e alimentando com conteúdo experimental. Depois de uma maratona extensa de conteúdos em 120 dias ele deu uma acalmada mas vale seguir pela qualidade e rever os materiais.
Em tempos onde temos artistas produzindo remixes exclusivos para TikTok, onde o Instagram começou a pagar por lives e o Kwai também entrou na briga pela monetização, a tendência é faltar mãos para tanto conteúdo e cada vez mais o algoritmo ditar o que é relevante e o que não é.
E o fazer música no meio de tudo isso? Conseguiremos manter a qualidade e paixão em meio a um turbilhão de exigências mercadológicas, métricas, metas e planos de comunicação com um script debaixo do braço do que fazer, como fazer e o que não fazer?
Nesse mar de gente conectada a chance do dinheiro prevalecer e cada vez mais a informação ser pulverizada para nichos, é uma realidade cada vez mais normalizada. O que não podemos esquecer é também o país em que vivemos onde uma boa parte da população não tem internet em casa e a TV e o rádio ainda são massivos e cumprem bem o seu papel de difusão. O problema está justamente na estrutura e abertura destes.
O medo da exaustão e os males da superexposição aparecem e podem sim afetar o nosso psicológico (e isso quem sabe possamos conversar com um especialista em um próximo texto) em um cenário de pandemia ou pós-pandemia. O equilíbrio entre online e offline parece ser algo que ainda vamos pagar a conta lá na frente.
E falar sobre música independente como disse Luiza Lian, em post importantíssimo sobre o nosso mercado às margens da estrutura do mainstream, não é falar de um estilo ou nicho.
Como trazer a música independente para mais perto do público final sem o mecanismo de jabá que domina os ainda fortes – e extremamente relevantes – rádio e TV? Ficaremos reféns, e dependentes, de modismos, influencers e das próximas ondas no digital?
This post was published on 21 de julho de 2021 5:20 pm
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