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Jornalismo Cultural, algoritmo, TikTok e o Pós-Pandemia

O Futuro do Jornalismo Cultural no Pós-Pandemia
Há tempos existe uma discussão (silenciosa) pairando no ar que raramente entra em discussão. Onde cada um parece tentar achar uma solução distinta, com direito a uma série de tentativas, muitas frustrações pelo caminho e poucas respostas. Tão silenciosa que esconde para debaixo do tapete um problema que se elucida a cada pauta, a cada release recebido e deixa muitas perguntas sem resposta.

Como dar vazão ao imenso número de conteúdo cultural produzido no país com tantos lançamentos semanais e uma iminente “guerra” por playlists, por bombar o pre-save, por tentar “viralizar no TikTok” com versões ou dancinhas ou buscar o papel de influenciador nas redes para quem sabe almejar a viabilidade para marcas patrocinarem o trabalho de um artista ou produtor de conteúdo.

Com as redações de veículos tradicionais cada vez mais enxutas e o jornalismo independente muitas vezes faltando mãos e incentivos para conseguir colocar em prática, a divulgação com a qualidade que gostaríamos. Vemos um show de horrores acontecer.

Outro dia me deparei com um site compilhando 118 lançamentos que tinham sido lançados, veja bem, naquela sexta-feira. Eram clipes, discos, EPs, singles, documentários entre outros materiais que claro, são merecedores de espaço, mas no meio de tanta coisa como conseguir manter-se relevante?

Quantos vão ler ou conseguir ouvir, por mais dedicados que sejam, 10% de uma lista dessas? Como consumir e absorver arte em sua plenitude neste modus operandi? Quão relevante é isso em termos de valorização da curadoria?

Deixo outro questionamento sobre a estrutura do mercado de pautas:
Ainda faz sentido uma exclusiva em um veículo bacana como estratégia?



Jornalismo Cultural no Pós-Pandemia

Para o próprio produtor de conteúdo, como conseguir avaliar e chegar a uma seleção com qualidade, capacidade curatorial e equilibrando apostas a projetos maduros?
O relevante e o novo precisam coexistir mas como conseguir lidar com a demanda de materiais pandêmicos no pós-pandemia?

Quando falo em pós-pandemia não estou falando quando essa pandemia que não parece ter fim finalmente se extinguir, algo que sabemos que não vai ser tão cedo, os cuidados continuam mas a própria flexibilização (ou a ânsia por ela e a volta dos shows) tem feito com que muitos projetos sejam lançados simultaneamente.
Costumo falar que nada como acompanhar singles e clipes a cada semana para entender melhor este fenômeno que antecedem os lançamentos de trabalhos cheios. Sejam eles, EPs, álbuns, splits ou entregas de projetos para marcas.

O pós-pandemia nesse sentido: já chegou. Neste mês reuni na lista de Melhores Clipes Independentes do Hits Perdidos 162 videoclipes, com artistas de 21 estados brasileiros, lançados em Junho. Uma incrível média de 5,4 clipes sendo lançados por dia.

Um Recorde HISTÓRICO que mostra como a música brasileira resiste em tempos tão difíceis e com poucos incentivos. Um número que também explicita a força do audiovisual independente em meio a reabertura, o reflexo direto da tão suada Lei Aldir Blanc, mas que traz consigo um alerta sobre o jornalismo cultural.



Leia a Thread Completa

Conversando com o jornalista Pedro Antunes, atualmente no Splash do UOL, falando sobre música e cultura pop, mas que por muito tempo foi editor na Rolling Stone – e criador da Hotlist, de maneira informal no Twitter, trocamos provocações e encostamos na ferida sobre o futuro da área.

Pedro tentou com muito esmero dar vazão aos artistas independentes em meio a uma pressão sistêmica por clicks que vai totalmente na contramão do que o jornalismo cultural deveria ser por essência.

A Hotlist, segundo ele, foi uma grande tentativa de democratizar o espaço e conseguir acompanhar nossa incrível produção cultural. Algo que acaba frustrando, não apenas por números, como muitos pensam, mas por ser impossível naquela semana conseguir ouvir ou ter o conhecimento de tudo de excelente que está sendo lançado na música independente.

Ele persiste e tentou também dar vazão a um projeto paralelo e em outro formato, o audiovisual, através do Instagram do Tem Um Gato Na Minha Vitrola, realizando entrevistas no formato de lives, até mesmo quebrando recordes, e alimentando com conteúdo experimental. Depois de uma maratona extensa de conteúdos em 120 dias ele deu uma acalmada mas vale seguir pela qualidade e rever os materiais.



A (Injusta) Disputa pela Atenção Online

Em tempos onde temos artistas produzindo remixes exclusivos para TikTok, onde o Instagram começou a pagar por lives e o Kwai também entrou na briga pela monetização, a tendência é faltar mãos para tanto conteúdo e cada vez mais o algoritmo ditar o que é relevante e o que não é.

E o fazer música no meio de tudo isso? Conseguiremos manter a qualidade e paixão em meio a um turbilhão de exigências mercadológicas, métricas, metas e planos de comunicação com um script debaixo do braço do que fazer, como fazer e o que não fazer?

Nesse mar de gente conectada a chance do dinheiro prevalecer e cada vez mais a informação ser pulverizada para nichos, é uma realidade cada vez mais normalizada. O que não podemos esquecer é também o país em que vivemos onde uma boa parte da população não tem internet em casa e a TV e o rádio ainda são massivos e cumprem bem o seu papel de difusão. O problema está justamente na estrutura e abertura destes.

O medo da exaustão e os males da superexposição aparecem e podem sim afetar o nosso psicológico (e isso quem sabe possamos conversar com um especialista em um próximo texto) em um cenário de pandemia ou pós-pandemia. O equilíbrio entre online e offline parece ser algo que ainda vamos pagar a conta lá na frente.

E falar sobre música independente como disse Luiza Lian, em post importantíssimo sobre o nosso mercado às margens da estrutura do mainstream, não é falar de um estilo ou nicho.



Ficam os Questionamentos

Como trazer a música independente para mais perto do público final sem o mecanismo de jabá que domina os ainda fortes – e extremamente relevantes – rádio e TV? Ficaremos reféns, e dependentes, de modismos, influencers e das próximas ondas no digital?

Em meio a tantos lançamentos às sextas-feiras, como captar a atenção não tendo um orçamento confortável como os artistas assinados com grandes gravadoras? Qual o futuro do Jornalismo Cultural além das sextas-feiras, como provoca Pedro Antunes? Aguentaremos a chuva de lançamentos ou as curadorias, e editorias, terão que ser repensadas?
Como acreditam que será a reabertura e a dinâmica do online na estratégia dos artistas quando os shows voltarem? Quais serão os aprendizados em relação a dependência do offline?
Deixo este espaço apenas como o pontapé inicial de uma longa discussão.

This post was published on 21 de julho de 2021 5:20 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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