Frank Jorge e Kassin celebram e desconstroem ritmos em “Nunca Fomos Tão Lindos”

 Frank Jorge e Kassin celebram e desconstroem ritmos em “Nunca Fomos Tão Lindos”

Frank Jorge e Kassin – Foto Por: Vitória Proença

Que graça teria a vida se fossemos iguais pra sempre com pensamentos, atos, gostos. Diversificar e desconstruir nossos paradigmas é o que move o caminho rumo a montanha do conhecimento chamada vida. Isso e um pouco mais é o que simboliza o Nunca Fomos Tão Lindos, novo álbum de Frank Jorge lançado hoje com parceria de Kassin na produção.

O disco foi contemplado pela Natura Musical, e é aquilo que você chamaria de indefinido pois ele mistura diversos ritmos e estilos com sonoridade eletrônica 

E com essa vibe desconstruída e dançante, trazemos um bate papo com o músico e compositor gaúcho sobre o processo de gravação do disco, a amizade e parceria com Kassin, a cena atual do Rio Grande do Sul e um faixa a faixa de Nunca fomos Tão Lindos. 

Frank Jorge & Kassin 

Amigos há bastante tempo, Frank JorgeKassin tem um longo currículo. Natural de Porto Alegre (RS), Frank é um dos grandes nomes do rock gaúcho. Cantor e compositor, já esteve em bandas como Os Cascavelletes, Pére Lachaise, Black Master, Julio Reny Guitar Band, Cowboys Espirituais e Tenente Cascavel.

Hoje ele segue atuando com a Graforréia Xilarmônica e com seu projeto autoral, Frank Jorge e Banda. Além disso, Frank Jorge também já participou de shows de outros artistas e também já teve algumas de suas músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira como Ira!, Pato Fu, entre outros. 


Os Músicos Frank Jorge e Kassin em montagem - Foto Por: Vitória Proença
Frank Jorge e Kassin Foto Por: Vitória Proença

A Trajetória de Kassin

Já Kassin é um dos produtores mais requisitados no país. Começou sua carreira artística na banda Acabou La Tequila, que lançou dois discos. Logo após, com os amigos Moreno e Domenico, fez um grupo mudando de cantor por álbum – projeto é +2 – lançaram 3 discos, além de uma trilha sonora para o grupo Corpo. É idealizador da Orquestra Imperial, big band com dois discos lançados.

Além disso, ele também tem dois discos solo Sonhando Devagar e Relax e lançou dois discos instrumentais: um com o Grupo Cometa e outro com a banda polonesa Mitch&Mitch&Kassin. Como produtor, assinou trabalhos de artistas como Caetano Veloso, Los Hermanos, Adriana Calcanhoto e vários outros. 

A Parceria

Frank Jorge conta que em 2004 Kassin produziu o disco Graforreia Xilarmônica Ao Vivo junto com Berna Cepas, e ali foi um dos momentos onde se conheceram melhor. Mas eles tiveram um certo histórico antes de 2004. 

“Em 1992 a GX tocou no festival Super Demo e segundo o Kassin, fomos apresentados. Em 2001 saiu o álbum Bloco do Eu Sozinho dos Los Hermanos e como muita gente, fiquei encantado com aquele álbum… produção do Kassin, conta Frank Jorge.  

Já em 2019 ambos se encontraram novamente, dessa vez no show de Kassin com sua banda no Bar Agulha, em Porto Alegre (RS), onde ambos conversaram. Dali em diante trocaram muitas ideias por um amigo em comum, se inscreveram no projeto Natura Musical e foram contemplados.  

Nunca Fomos Tão Lindos

A mistura de elementos é um dos maiores charmes do disco. Ele conversa com a diversidade e a quebra do estereótipo, vai do pop ao brega, passando pelo samba-jazz, e ainda mistura música eletrônica com boas doses de rock’n’rol – uma celebração de ritmos que se entrelaçam e animam o ouvinte.  

O divertido deste álbum com o Kassin é que ele realmente aponta para direções muito interessantes que ainda não tinha explorado com este nível de mistura: brega com synth POP, disco-music com pitadas bregas, brega jovenguardiano eletrônico”, conta o músico e compositor gaúcho.


Capa de Nunca Fomos Tão Lindos - Arte Por Vitória Proença
Capa de Nunca Fomos Tão Lindos – Arte Por: Vitória Proença

Para o músico e compositor gaúcho, Nunca Fomos Tão Lindos tem a ver com desconstrução e diversidade. Tanto ele como Kassin tem uma certa trajetória, um certo tempo trabalhando com produção – criação musical, e manter isso em funcionamento é algo muito bonito. 

“São ferramentas deste ofício de criar conteúdo, compor, criar filhos, trabalhar, vivendo num país com atitudes e desmandos governamentais, coisas horríveis acontecendo diariamente, realmente, coisas nada lindas acontecendo com todos nós.”

Todas as composições são de autoria de Frank Jorge, gravado por Beto Silva no estúdio Marquise 51. Mixagem e masterização por YokiSys. Produção, programações, baixo da faixa 4 por Kassin. Teclados faixa 4 por Rodrigo Tavares, Trombone faixa 2 por Marlon Sette. Produção executiva por Lucas Hanke.

Nome do disco e Projeto Natura Musical 

Frank JorgeKassin, em uma boa medida, sempre curtiram e exploraram títulos um pouco bizarros e literários – e o Nunca Fomos Tão Lindos tem a ver com isso. Frank conta que teve um blog no portal da MTV e ele se chamava Feios Para Sempre – “fazia referência a uma fala-percepção de um amigo: alguns, se preocupam demais com a imagem, fazem operações para atingir simetria facial; nós, por nossa vez, não temos este problema, seremos FEIOS PARA SEMPRE. (silêncio)”



O Nunca Fomos Tão Lindos foi um dos discos selecionados pelo edital da Natura Musical. De acordo com Fernanda Paiva, do Head of Global Cultural Branding da Natura, o projeto foi selecionado pelos curadores por entenderem que a obra gera impacto positivo ao contribuir para discussões socioculturais importantes para a construção de um futuro melhor. 

Foi uma grande honra… senti-me privilegiado não apenas pela “vaidade pessoal” de ser escolhido juntamente com o Kassin, mas por poder erguer um trabalho com uma equipe numerosa, jovem e profissional; poder gerar trabalho e renda é algo que sempre me agrada e enxergo a música, teatro, cinema, todas as linguagens artísticas, enfim, como possibilidades de concretizar isto: um produto final que é resultado da soma de capacidades, competências, inteligência coletiva”, relata Frank Jorge. 

O Processo de Gravação

O disco começou a ser trabalhado remotamente, com Frank Jorge em Porto Alegre e Kassin no Rio de Janeiro durante todo o ano de 2020. Ambos se adaptaram ao trabalho remoto, com muita troca de dialogo através de ligações telefônicas, videochamadas, e-mails, sempre falando sobre referências musicais em comum como Celly Campelo, Brian Wilson, High Llamas, DEVO.  

Organizavam na véspera das datas de gravação uma espécie de roteiro do que Jorge Gravaria no dia seguinte, como por exemplo, gravar guitarra em tais e tais músicas, guitarra base, algum dedilhado, algum solo, e assim por diante. 

Kassin trouxe sugestões de suprimir alguma” volta” na música que estava duplicada, entre outras coisas desse tipo, tendo todas suas ideias bem vindas e respeitadas.  

“Foi desafiador, sim, com certeza… O “normal” era imaginar encontros presenciais no RJ ou em POA. Comecei a compor materiais para este projeto pensando em música brega dos anos 1970, rock’nroll dos anos 1970 e conversando muito com ele por telefone, videochamada. Final de fevereiro 2020, antes do semestre letivo iniciar, gravei no Estúdio Marquise 51 um material demo com 14 músicas, com violão, teclado, guitarra, baixo, sem bateria. E ele foi erguendo ideias rítmicas com muitos sons e efeitos eletrônicos interessantíssimos!”

Faixa a Faixa  

“Furto da Energia” abre o álbum com uma mistura de ritmos brasileiros com o pop do africano Fela Kuti. Gilberto Gil é citado na canção, assim como Arnaldo Dias Baptista (ex-Os Mutantes) com sua frase “onde é que está o meu rock n Roll” ambos artistas referenciais para o Frank Jorge

“A letra foi inspirada numa matéria de jornal que trazia este tema, ‘furto de energia’, e também, traz um forte apelo à arte e à cultura como fontes importantes para pautar nossas vidas”, explica o artista natural de Porto Alegre (RS).

Com participação do trombonista Marlon Sette, “Não Faz Mal” é um samba-jazz que aborda a necessidade de pensar as relações contemporâneas entre as pessoas numa sociedade de urgências, negacionismos e cancelamentos. 

Segundo single apresentado do disco, “Tô Negativado” tem influência direta dos ritmos do Pará: carimbó, tecnobrega e a música brega em geral. 

“A música brega fala sobre romances, encontros, desencontros, amores, paixões, assim como letras que abordam o cotidiano e as mazelas da vida, gerando por vezes um efeito cômico pelo inusitado da situação descrita”, conta a dupla. Nessa canção, ele compara a busca para conquistar um amor com a tentativa de limpar o nome na praça. 

“Carl Gustav Jung”, um dos precursores da psicanálise junto com seu mentor Sigmund Freud, no início do Século XX, dá título à quarta faixa do álbum, que mistura música eletrônica com umas pitadas de rock’n’roll, resultando em pura psicodelia.

“Jung ampliou as abordagens de interpretação de casos e patologias de ordem psicológica, assim como buscou entender outras culturas com seus ritos e práticas culturais e religiosas; assim, ele foi pioneiro em pesquisar culturas africanas e esteve junto com esta amiga íntima chamada Ruth Bailey, citada na música, em Uganda e no Kenya”, contextualiza Frank Jorge 

Uma das poucas faixas de cunho autobiográfico, “Não Lembro o Nome do Meu Paié” uma homenagem de Frank Jorge ao pai, que ele perdeu com um pouco mais de 1 ano de idade.

“A inspiração principal para a sonoridade desta canção é a disco music da segunda metade dos anos 1970, com direito a strings, Fender Rhodes. Mini-moog, tocados pelo convidado especial Rodrigo Tavares”, explica. 

O Que Vou Postar Aqui

“O Que Vou Postar Aqui” foi o primeiro single lançado e ganhou clipe. A faixa é uma crítica à necessidade de ficar gerando conteúdo freneticamente nas redes sociais para tentar ser assunto ou apenas para mostrar que está vivo. A boa dose de humor e ironia também pode ser 

Observado no videoclipe, que foi dirigido por Vinicius Angeli. Canção que sintetiza a fusão de Frank Jorge com KassinMaterial Inédito, é descrita pelo duo como um “synth-pop-modernista-satírico”: originalmente um rock jovenguardiano que ganhou um tratamento com elementos eletrônicos. 



Fala sobre a tendência da supervalorização do inédito e que precisa ser feito. “Uma faixa inspirada nas sonoridades da segunda metade dos anos 1960 quando buscavam mesclar instrumentos de música pop como guitarra, baixo e bateria, com instrumentos de orquestra, e aqui, no álbum, é natural que a faixa tenha também sons e timbres eletrônicos”.

Assim Frank descreve “Foi Ontem”, canção que preserva o amor e a esperança, apesar dos encontros e desencontros Amorosos. “Criaturas Estranhas” tem letra surrealista e traz mais uma vez a mistura do rock com música eletrônica. Segundo Frank, “fala através de metáforas sobre um mundo de mendigos, criaturas estranhas, casas abandonadas, litros de cachaça e um prato de comida. Pode não parecer, à primeira vista, mas é uma música que reflete sobre as condições de precariedade e miséria em que muitos Vivem”. 

A Reta Final do disco de Frank Jorge & Kassin

Como o nome sugere, “A Cobrança” é uma canção que fala sobre as cobranças que recebemos, sejam elas de imposto, pessoais, de conduta, entre outras.

“A faixa também dialoga com sonoridades bregas e que recebeu um tratamento – um arranjo – com ideias que fogem do padrão habitual deste tipo de música; uma batida incomum, quebrada, efeitos de percussão, baixo processado e com distorção”, conta o compositor gaúcho.

Inspirada nas baladas sertanejas que predominam na programação das rádios atuais, “Complicado Jeito de Amar” fala sobre como o ser humano ama, com suas inseguranças, desvios, carências, saudades, alguma esperança, algum amor no coração.

Kassin trouxe uma ideia bacana com instrumentação reduzida, reforçando assim o suspense e a dramaticidade da letra. Soa como um technopop dos Eurythmics dos anos 1980”, resume Frank Jorge

E fechando o álbum, “Sinceridade”. “A faixa sintetiza super bem este imaginário percorrido de várias formas no decorrer do disco: música brega, música popular com elementos e efeitos eletrônicos, com letras questionadoras sobre a condição humana neste início de século XXI”. Na sequência, o disco termina com uma faixa bônus – uma versão de karaokê para “Não Lembro o Nome do Meu Pai”. 

A Cena Gaúcha 

O Rio Grande do sul sempre foi palco diversas bandas conhecidas pelo país a fora. Para Frank Jorge, mesmo tendo um nível de investimento/recursos em sua indústria criativa muito menos do que é previsto em outros polos culturais do Brasil, o estado é um grande polo de criação e produção cultural. 

“Existem muitas bandas bacanas que seguem fazendo música por aqui, não necessariamente atreladas ao rock, ou ao rock-gaúcho-anos-80: BABY BUDAS, ALPARGATOS, NAAHARA, PEDRO DUBOIS, RAPHAEL ROCKEMBACH, VELLES, QUARTO SENSORIAL, FLANELAS DESBOTADAS (minha filha Glória toca bateria/ meu filho Érico toca guitarra, baixo, canta, compõem), PROJETO SHAUN (meu filho Érico toca guitarra), FLOR ET, PIETRA KEIBER, INDECENTES, BODJI (estou produzindo seu primeiro álbum) DINGO BELLS, FELIPE BRANDÃO (tem o projeto PIANO COQUETEL), THE COMPLETERS, TETO RASO, EDU MEIRELLES (grande músico, mais na vibe da soul music)” descreve o músico.

Para Frank Jorge a lista pode ser bem maior que essa e tem muita gente que não se enxerga dentro deste escaninho do “rock”, e que explora a sua musicalidade olhando para muitos estilos. Ele conta que nunca se enxergou preso a um estilo, uma escola, catalogação. É receptivo às pessoas que enxergam dentro deste ou qualquer outro estilo, que o que importa é ouvir, conhecer o som.  

 “Se alguém curte mais coisas minhas que remetem ao rock-gaúcho-80, tudo bem, outros gostam de dissonâncias, quebras, rupturas como as da Graforreia, beleza também, ahhhh, mas este cara lembra demais jovem guarda, sem problemas, fez e faz parte do imaginário cultural brasileiro.”, finaliza Frank Jorge  

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