Com diversas participações especiais, Wado se prepara para lançar um dos discos mais belos de 2020
2020 começou e aos poucos Wado foi revelando singles que fariam parte do seu novo trabalho, A Beleza que Deriva do Mundo, mas a Ele Escapa (LAB 344), que celebra seus 20 anos de carreira. O músico apostou em realizar um disco em que busca mostrar sua forma de criar, e co-criar, de maneiro coletiva, ou como ele mesmo disso: com a sua turma.
“Aprendi isso de misturar com o saudoso Carlos Eduardo Miranda, ele, lá no início da minha carreira me perguntava: “Wado, quem é tua turma?”. Hoje, sou feliz de dizer que minha turma tá nos meus discos, tenho a alegria de partilhar. Esse disco seria menor não fossem essas pessoas, sou fã dos músicos, dos compositores.”, relembra Wado citando um dos maiores ícones da música brasileira que nos deixou há dois anos e meio
Esse ano que começou todo diferente devido a pandemia acabou mudando um pouco o cronograma do disco, que sairá nesta sexta-feira (02/10), mas ele acabou conseguindo um alcance inédito dentro da sua carreira.
“Acho esse disco lindo, ele tem uma popularidade inédita na minha carreira, vide os plays de streaming dos singles (mais de 300k em 4 faixas num curto período de tempo). Alagoas agora tem uma cena instigante e forte, adorei ter parte dela no meu disco, sorte a minha. Adorei misturar os velhos amigos daqui e do Brasil a eles, é saudável pra todos nós.”, celebra Wado
As Parcerias
E são muitos encontros que o disco traz, entre eles amigos de longa data para cantar com ele, como Zeca Baleiro, Lucas Santtana, Otto e Zé Manoel, além de Kassin no baixo e lap steel em “Tempo Vago”. No disco o catarinense promove um grande encontro da música de Maceió, cidade onde reside há décadas e da qual faz parte da cena, unindo artistas de sua geração (Cris Braun, Júnior Almeida) com a nova geração alagoana, como LoreB, Yo Soy Toño e Felipe De Vas.
Nas composições colabora com: MOMO. e Thiago Silva (da banda Sorriso Maroto), entre novos parceiros, como Igor Peixoto (baixista que o acompanha no estúdio e nos shows, também da banda Morfina) e os cantores FLORA e Felipe De Vas – ambos que já tiveram discos produzidos por Wado.
A Tracklist:
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Faz Comigo (Feat. FLORA)
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Nanã (Feat. Otto)
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Nina (Feat. Lucas Santtana)
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Tempo Vago (Feat. Kassin, LoreB)
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Angola (Feat. Zé Manoel, Thiago Silva, Alfredo Bello)
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Cacos (Feat. Llari, Thiago Silva)
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Para Anthony Bourdain (Feat. Cris Braun)
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Arcos (Feat. Felipe de Vas, Yo Soy Toño)
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Quem Somos Nós (Feat. Júnior Almeida, LoreB)
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Cuida (Feat. Felipe de Vas, LoreB)
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Depois do Fim (Feat. Zeca Baleiro, Patrícia Ahmaral)
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Sereno Canto
* “Faz Comigo”, “Nina”, e “Arcos” ganharam videoclipes, clique nas faixas e assista.
A Beleza que Deriva do Mundo…
Como elemento surpresa Wado optou por em suas doze faixas não ter nenhum elemento de percussão. O que deixou o registro bastante minimalista trazendo soluções através timbres acústicos, com synths e elementos eletrônicos. Se nossos tempos são pesados ele responde com ternura em um disco delicado, coletivo, plural e com o espírito de união marcando presença. Wado, inclusive, em algumas canções abre mão dos vocais principais para mostrar a força dos novos talentos locais.
O novo disco contará com faixas curtas que se resolvem rápido, não demoram para chegar no ponto mais alto e a mensagem acaba sendo a parte mais importante entre delicadas melodias e personalidade dos participantes.
Embora ele fale sobre o hoje, ele conta com metáforas e situações em constante transformações e ressignificâncias em nossa sociedade, até por isso, ele provavelmente será um disco que você ouvirá hoje e sentirá algo e talvez depois de alguns anos ele converse contigo de outra forma.
….mas a Ele Escapa
O mundo está doente nas mais diversas esferas, entre retrocessos e pandemia, o universo pede por transformação e de deixar a mentalidade do passado para trás faz parte do processo. Esses choques afetam todo o entorno onde muitos, ainda, se recusam a olhar para frente. Algo que vive em nossa sociedade, acaba se traduzindo nas manchetes dos jornais e influi no nosso dia-a-dia.
O disco por sua vez chega como uma resposta a esses tempos, ele combate esse pensamento e tem como armas a poesia, a doçura, a elegância e a perspicácia. O registro se transforma a cada audição e talvez isso que o faça tão belo, tão intenso e tão simbólico no meio de tudo isso.
Entrevista: Wado
Conversamos com o Wado que conta mais detalhes sobre o álbum que chegará nas plataformas de streaming na sexta-feira (02/10).
Conforme foram saindo os singles não pude deixar de reparar tanto nos arranjos como também no poder dos encontros. Principalmente em trazer artistas e produtores consagrados como Zeca Baleiro, Lucas Santtana, Otto e Zé Manoel e Kassin mas também dando espaço para novos nomes da música alagoana como Yo Soy Toño, Felipe De Vas, Lore B, Flora. Além claro de nomes da sua geração com linda trajetória na música como Cris Braun e Júnior Almeida. Como ocorreram esses encontros? Como é observar o surgimento de uma nova geração e ter a oportunidade de ensiar e, porque não dizer, aprender algo novo também? E o processo?
Wado: “Esse disco é como se fosse o irmão mais novo de meu disco “Vazio Tropical”, por conta da delicadeza das canções e arranjos, mas, neste aspecto que você levanta, ele se aproxima mais do disco “Samba 808”, pelo caráter gregário que ele tem. Em “A Beleza…”, extremamos estes dois aspectos, pela ausência de instrumentos ritmicos e por apenas uma canção não ter “feat”.
Aprendi isso de misturar com o saudoso Carlos Eduardo Miranda, ele, lá no início da minha carreira me perguntava: “Wado, quem é tua turma?”. Hoje, sou feliz de dizer que minha turma tá nos meus discos, tenho a alegria de partilhar. Esse disco seria menor não fossem essas pessoas, sou fã dos músicos, dos compositores.
Acho esse disco lindo, ele tem uma popularidade inédita na minha carreira, vide os plays de streaming dos singles (mais de 300k em 4 faixas num curto período de tempo). Alagoas agora tem uma cena instigante e forte, adorei ter parte dela no meu disco, sorte a minha. Adorei misturar os velhos amigos daqui e do Brasil a eles, é saudável pra todos nós.”
Como sente que é o momento em que esse disco está sendo lançado? Soube que foi adiado algumas vezes para um melhor momento e que teve todo um cuidado na elaboração das produções audiovisuais, como sente que ele foi sendo construído?
Wado: “O mundo inteiro tá doente junto, né? Isso é inédito em muitas gerações, estamos todos estupefatos. Eu e o pessoal do selo LAB 344 fomos tentando tatear neste breu. Vamos lançar o disco, porque é preciso parir o que gestamos, mas tudo é incerteza. Temos de ser otimistas e contribuir coletivamente. Tenho a intuição que uma obra delicada como esta possa fazer bem para passarmos os dias com prazer e algum conforto, falo isso humildemente e, como disse, tenho apenas uma intuição.
O disco meio que me disse: “Oi, tô aqui”. Teve um dia que nos deparamos com ele, não foi pensado. Já o conceito e obstrução por mim impostas a ele foram bastante pensados e me deram um trabalho danado, tive que ir e voltar muitas vezes até as canções começarem a funcionar com tão pouca coisa acontecendo (na verdade, acontecem muitas coisas subterrâneas nas canções pra que isso se torne divertido pra nós e que, por consequência, prendem o ouvinte).”
Algo que eu senti ouvindo é que mesmo os temas sendo contemporâneos, ele acaba se tornando algo ainda mais impactante por ter todo o cuidado de uma narrativa atemporal na forma como escolhe as palavras e o uso das metáforas.
Além disso os ritmos e a liberdade se fazem presentes. Nas composições você teve a oportunidade de trabalhar novamente com MOMO. e Thiago Silva (da banda Sorriso Maroto), entre novos parceiros, como Igor Peixoto (baixista que o acompanha no estúdio e nos shows, também da banda Morfina) e os cantores FLORA e Felipe De Vas. Como foi essa experiência de colaborar nesse sentido com tanta gente com backgrounds e vivendo momentos diferentes? Acredita que isso abriu horizontes e o tornou um disco ainda mais plural?Quais são histórias que vivem por trás das canções?
Wado: “Que bom que sentisse isso, me faz pensar que talvez tenha acertado nesta busca, porque ela realmente aconteceu. Ultimamente, tenho uma busca por campos harmônicos mais longos e letras mais abstratas, porque realmente não importa o que eu quis dizer, importa o que sente quem ouve. Então, quanto menos se afunila, mais maluco isso fica – e eu adoro as coisas malucas, as nuances, o que a hashtag não pode capturar.
Como diz o título do disco, que é do Sidney Wanderley, adoro o que, de alguma forma, escapa. As histórias são malucas, né? Em “Sereno Canto”, falo de desterro, é uma coisa que me atormenta, um sentimento de não pertencer, e, na mesma canção, falo de algum pertencimento também. Ela é bem simbólica pra mim.
Em “Nanã”, falo da luz que vaza de uma cortina. Em “Arcos”, de traumas que se postam antes da cognição na infância, enquanto “Faz Comigo” narra um amor alterado e em “Nina” tentamos fazer um libelo feminista. Já “Para Antony Bourdain” traz uma homenagem póstuma ao chef do título da canção. São tantos assuntos, né?”
O título deriva de um verso do poeta e escritor Sidney Wanderley. Conte mais sobre o seu contexto e como se relaciona a obra e o que seria “A Beleza que Deriva do Mundo, mas a Ele Escapa” em nossos dias?
Wado: “Esse título para mim é tão plural de significados que, na maioria das vezes, não sei o que ele quer dizer, só tenho intuições. Acho que o que escapa é a arte. Se for no sentido de transcender, pode ter um sentido de algo que se perde. A frase é linda em si, isso já é uma busca. Ele é perfeito para esse ano que não acaba nunca, porque ele é um nome leve, em certo ponto.”
O amor, os aprendizados, os relacionamentos, as trocas, a jornada, a arte dos encontros, o peso das coisas, os obstáculos, os acasos, e as pequenas coisas da vida acabam entrando dentro da narrativa do disco sempre com muita leveza. Como foi traduzir de maneira tão genuína sentimentos tão intensos e muitas vezes conflituosos? E a ordem das músicas como foi definir?
Wado: “Cara, como te disse, no dia que conheci o disco ele já era isso, porque todo mundo me chama pra fazer canção, e gosto de fazer canção. Então, ele chegou, deu um oi, depois meu trabalho foi só escolher um figurino bem minimal pra ele, essa foi a tarefa de produzir, o que me deu muito trabalho, A ordem das músicas é uma coisa tão abstrata né, eu fiz uma sugestão inicial e eu e Sergio Pi, do LAB 344, fizemos pequenos ajustes.”
Pude reparar também que as canções não se alongam tanto e vão direto ao ponto, passar a mensagem da forma mais clara possível era uma das dos objetivos do disco? Em algumas faixas você inclusive cede os vocais principais para outros artistas, algo que achei muito interessante, como aconteceu isso?
Wado: “Pegasse os pontos. Eu estava vindo de um período sabático (entre o “Precariado” e este), então, ao mesmo tempo em que estava querendo muito fazer um disco, eu estava esgotado de timbre, de arranjo, realmente queria ir direto ao cerne.
Dito isto, o disco, por ser essa ausência tremenda de tudo, trouxe mínimos e lindos arranjos que só ficaram porque realmente precisávamos deles, e nisso agradeço demais as amigos músicos Vitor e Igor Peixoto, Dinho Zampier e Jair Donato, que foram maravilhosos em suas funções.”
Como você observa a jornada – e estrada – até o momento em que o disco está sendo lançado?
Wado: “Cara, a vida está dificílima, mas é uma benção estarmos vivos, né não?”
Como sente que este disco conversa com o atual momento da humanidade?
Wado: “Ele faz parte deste momento, e acho que ele faz parte da reabilitação, tanto a minha quanto a de quem gostar dele. Sinto que tem um sintoma em quem o ouve que é da pessoa querer reouvir, e isso só acontece em momentos raros na vida de cada um. Acho que este é um destes raros momentos em que acertei. Tomara.”
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