Vivendo do Ócio encontra raízes na vida contemporânea em novo disco

 Vivendo do Ócio encontra raízes na vida contemporânea em novo disco

Já se passaram 5 anos desde o último disco de inéditas da Vivendo do Ócio – Selva Mundo (2015) – e hoje (10/04) eles lançam o novo álbum homônimo. Na capa traz o logotipo da banda e “a marca do pulo”; inspirada numa apresentação artística que Fabrizio Bori realizou nos anos 70. 

“Nos inspiramos em um retrato dele performando um happening num cemitério da Itália. Era a forma dele expressar a sua arte enquanto deixava sua assinatura”, frisou Luca Bori. 

São 10 faixas, regadas de alternative rock e sutis elementos de bossa nova, reggae e new soul. Já são 13 anos de banda, agora trazendo novos elementos para as músicas. O registro também faz uma espécie de viagem pela sonoridade dos discos anteriores.

Vivendo do Ócio


Vivendo do Ócio - Vivendo do Ócio (2020)
Vivendo do ÓcioFoto Por: David Campbell

A Vivendo do Ócio surgiu em 2006, na cidade de Salvador (BA); pelos amigos Jajá Cardoso (voz e guitarra) e Luca Bori (voz e baixo). Os dois começaram a banda tendo como referências o rock clássico e influências de sons mais modernos.

Até o momento foram lançados 3 álbunsSelva Mundo (2015), O Pensamento É Um Imã (2012) e Nem Sempre Tão Normal (2009)”.  Além dos dois completam o quarteto Davide Bori (guitarra) e Dieguito Reis (bateria). 

Faixa a Faixa: Vivendo do Ócio (2020)

O álbum conta com 10 faixas e 30 minutos de duração.  Pode” vem forte abrindo o disco onde discute a questão de você poder ser o que quiser, ter o livre arbítrio de escolha. Driblando as questões e imposições onde indicam que você dever ser isso ou aquilo.  

que adianta riqueza e pobreza de alma, adianta ter tudo e viver numa jaula?  pode ser livre, ser o que quiser…



 “O Amor Passa no Teste” mostra os percalços e testes que a vida impões, os obstáculos que enfrentamos e o quanto o amor e as coisas simples ajudam a melhorar. 

“Flor nasce além do jardim e conta tudo pra mim, não há dia ruim que uma brisa não possa melhorar”

“Paredes Vazias” fala sobre arte, sobre conquista, uma crítica sobre os indivíduos vazios com mentes vazias. A terceira faixa conta com a participação de Fábio Trummer (Eddie) na composição e backing vocal. 

 “O Agora” é uma crítica em relação a falta da visão que perdemos no agora focando apenas no futuro – a música também conta com som de trompete por Filipe Pippeta, levando a bossa nova ao fim da canção. 

O Ego e a Evolução

 “Massagem de Ego” é a relação do exibicionismo com o grande ego quando falamos ou mostramos sobre nós mesmos. A crítica do que achamos que sabemos, do cancelamento, onde o mais importante é mostrar e nunca parar pra analisar os fatos e sobre si mesmo. 

 “…o importante é não ficar só, o importante é não desconectar. Rodeado de telas não sobra tempo nem pra pensar em quem eu sou” 

Já “Evolução” trata do que é esquecido e imposto em meio a evolução das coisas e pessoas, a corrida pela ambição que não caminha com o que realmente importa. 

“essa evolução sempre me mata, sou a guerra pela ambição, sou mais rápido que o seu sorriso” 

A energia da reta final do disco

“Nova Ordem” é uma das mais energéticas do álbum. Aborda a forma que vivemos sem questionar, como tratamos as ideias e fatos adversos. Já “Muito” retrata a Intensidade de viver, não querendo muito, apenas o essencial para obter o crescimento pessoal.  

“II Tempo” é a única música do disco em outra língua. A Itália é presente na origem familiar de Luca e Davide Bori que são filhos do italiano Fabrizio Bori, e isso é bem retratado na faixa. 

“Vestígios” é a última faixa do disco. Traz os vestígios de redenção, do que ficou, do que sobrou em vida. Cada guerra, batalha vivida. 

 “você vai ver de lá vestígios de nós em todo lugar, você vai lembrar nossa guerra já acabou. Nossa redenção equaliza a alma e o coração. E o que somos nós? O que ficou de nós?” 


Vivendo do Ócio 2020 Capa do Disco
A arte do álbum é assinada pelo baixista e vocalista Luca Bori.

Entrevista

Conversamos com os integrantes da Vivendo do Ócio onde eles contam mais sobre o processo de composição, produção e desenvolvimento do seu quarto álbum de inéditas.

O álbum é uma boa mistura do que a banda vinha apresentando nos seus discos anteriores, mas com novas adições, dá pra dizer que vocês estão contando a própria história com antigos e novos personagens?  

Notei que as letras são bem diretas, com muita expressão e fala. Isso vem das vivencias, inclusive as conturbadas pelos quais passamos, e o quanto aprendemos com tudo isso? De onde vieram as inspirações? 

Jajá: “Sim, não só desse momento, além do mais algumas músicas são até de anos atrás, como por exemplo “Cê Pode”. Temos um arquivo gigantesco de composições. E sempre quando vem um disco, nós fazemos uma triagem para avaliar se tem alguma música que se encaixa no grupo de canções que já estão encabeçando o trabalho. Nós prezamos muito a unidade do álbum para que as músicas se comuniquem bem entre si.

As inspirações das canções novas são bem diversas. Passa pela necessidade pura do amor, fala das coisas mais simples da vida, teorias da conspiração e até críticas ao mundo ilusório da internet.”

Como é lançar um disco em meio a toda essa situação de pandemia, sem previsão de quando vão se apresentar ao vivo novamente? Como acham que as coisas serão daqui pra frente? 

Jajá: “Essa foi uma decisão que tomamos em conjunto com toda a nossa equipe da bandaOneRPM e com o nosso selo Flecha Discos. Debatemos bastante e chegamos a conclusão que seria a melhor alternativa lançar, mesmo sem a previsão de quando será possível colocar o pé na estrada.

O mundo está passando por esse momento tão complicado e nada melhor do que a música para aliviar isso. O público vai ter tempo para absorver bem o disco e é um momento importante para as pessoas também perceberem o quanto a cultura é fundamental para a vida.”

Participações Especiais de Luiz Galvão (Novos Baianos) na composição de “O Amor Passa no Teste” e Fábio Trummer (Eddie) em “Paredes Vazias”

Jajá: “A música “Paredes Vazias” veio de um sonho que eu tive em que o Fábio Trummer cantava e tocava no violão repetidamente: “Essas casas todas iguais…”. Acordei escrevendo os versos. E então nada mais justo do que ter chamado o próprio para concluir essa canção comigo. Ele, que já é nosso amigo de longa data, topou na hora. A letra fala sobre a desvalorização da arte como um todo e critica o estilo de vida da “família tradicional brasileira”. 

Inspiração em André Abujamra

Dieguito Reis: As primeiras canetadas da música “O Amor Passa no Teste” vieram depois que vi uma entrevista do André Abujamra na Tv Cultura. Ele falava sobre o sentimento que ele tinha ao iniciar uma trilha de filme, que não existia dia ruim se tinha uma trilha pra fazer. Vi muito amor naquela entrevista e escrevi um texto. Enviei parte dele para o Lau (Lau e Eu). Isso inicialmente rendeu na música “Ag Franco / Atalaia Nova”, que está presente no disco “Selma”.

Já a outra parte do texto, enviei pro meu parceiro Lahiri Galvão, filho do mestre Luiz Galvão. A princípio, a ideia era ser mais uma música em parceria com Lahiri. Mas num belo dia, ele me mandou uma mensagem falando que o pai dele tinha curtido muito a letra e que ia pegar ela pra finalizar. Eu fiquei emocionado.

A Que Horas ela Volta

Depois de uns dias, ele me enviou a letra pronta. Lembro que no dia estávamos no lançamento do filme “A Que Horas ela Volta”, obra em que tive a honra de trabalhar com Luca Bori na trilha sonora – inclusive, a convite do grande Fabio Trummer. Guardamos essa letra durante 2 anos, esperando o momento certo.

Quando a Vivendo do Ócio começou os trabalhos do novo disco, apresentei ela para o Luca. Ele pirou na letra e logo nós nos juntamos para fazer a melodia. Pra gente, isso é mais do que um sonho realizado. á é o segundo “Novo Baiano” que assina uma música em parceria com a gente.  O primeiro foi o Pepeu Gomes em “Amor em Construção” no Selva Mundo (2015).”

Como foi trabalhar com o Gabriel Zander (Zander), que vem produzindo ótimos discos de diversas bandas, e com Thiago Guerra (Fresno) na produção do álbum? 

Dieguito Reis: “Desde adolescentes, sempre admiramos o trabalho do Gabriel Zander como produtor. Na época, ele tocava no Noção de Nada. E o cara, com pouco recurso, conseguia tirar sons absurdos gravado em qualquer lugar. Dividimos palco uma vez com a Deluxe Trio, e a partir daí nossa amizade foi se estreitando.

Decidimos lançar um single juntos pra ver no que ia dar. O resultado final ficou tão bom que não teve outra: convidamos ele pra produzir nosso quarto disco junto com nosso irmão Thiago Guerra, da banda Fresno. 

O Guerra é como se fosse um integrante da nossa banda. Ele entende muito de música e ritmos, e faz tudo com o coração. Somou muito nessa produção. Ele também, sem dúvidas, um dos maiores entusiastas da Vivendo do Ócio.

Foi o cara que achou a casinha que vivemos mais de 7 anos juntos em São Paulo. É o cara que  sempre levantando nossa bola e nos dando força pra enfrentar esse mercado selvagem. O cara é tipo o quinto membro da banda. Trabalhar com eles foi muito tranquilo e as músicas fluíram fácil.”

A arte da capa do disco feita pelo Luca Bori possui o logotipo do grupo com “a marca do pulo” que é inspirada numa apresentação artística que Fabrizio Bori realizou nos anos 70. Qual a principal inspiração e relação da capa com o novo álbum? 

Luca Bori: “Essa arte teve bastante inspiração nas colagens e intervenções artísticas que meu pai realizava nos anos 70, muitas vezes pintando suas próprias fotos feitas em preto em branco com tintas liquidas da Winsor & Newton, trazendo cores vivas e alegres para as imagens e também na arte psicodélica de forma geral. Nessa capa tentei passar a potência e explosão que sinto quando escuto o álbum. O pulo traz velocidade e dá movimento enquanto o mar pra mim representa a Bahia, que é um grande expoente no disco. 

Processo de Composição

Davide Bori: “O processo de composição e gravação desse disco foi bem diferente, comparando aos nossos três primeiros álbuns (no momento parte da banda mora em Salvador e a outra em São Paulo). Foi por temporadas, aproveitando as turnês no Nordeste e São Paulo. A gente esticava sempre umas semanas a mais pra poder compor e gravar. 

Estamos acostumados a entrar em estúdio, ficar 3 semanas gravando sem parar. Foi assim nos últimos três álbuns. Já nesse novo álbum, Vivendo do Ócio, tudo foi gravado em outro timing, num período de 2 anos – mais ou menos. Aproveitamos realmente o tempo livre de cada um, sem pressa, com o verdadeiro ‘Ócio’ criativo.  

Vivendo do Ócio no Spotify


2 Comments

  • Sempre bom ver bandas com personalidade como Vivendo do Ócio buscando novas formas de expressar e manter a locomotiva da música sempre em fúria….

    Entrevista super inspiradora. Eles tem uma simplicidade na maneira de entender o processo todo de criação/piração/conclusão de um disco. Sem dúvidas uma excelente adição a cultura brasileira.

  • […] Guadalupe, Legião Urbana, lllucas, Torre, Selvagens à Procura de Lei, Raça, Plasma, China, Vivendo do Ócio, menores atos, Alaska, […]

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