Rafa Castro purifica a alma em vídeo para “Cheiro de Mar”
Em breve, o cantor e compositor Rafa Castro lançará seu quarto álbum de estúdio. O registro também trará um marco importante na carreira do músico, já que será o primeiro disco em que ele mostrará seu jeito de escrever.
Para apresentar para os fãs esta nova faceta hoje ele disponibiliza em Premiere no Hits Perdidos o single “Cheiro de Mar”. O lançamento irá integrar o disco que já tem até nome divulgado; Teletransportar.
O Conceito de Teletransportar
Teletransportar tem como elemento central a água, que pode se desdobrar em rio, mar, em materialidade cristalina e também servir de correnteza para se deixar levar para outro lugar, longe dos que estampam os jornais.
“Foram viagens para as veias abertas do Brasil, em meio aos sertões, que me inspiraram a compor. A música uma possibilidade de me conectar com o sobrenatural e de contar ao outro o resultado de suas experiências de vida.”, lembra Rafa Castro
Seu novo disco é uma reconstrução de si, é autobiográfico, mas sobretudo uma tradução coesa de um sentimento ambíguo em relação ao nosso mundo. Um estado desconfortante de se sentir num futuro digital e tecnológico, porém arraigado ao conservadorismo extremo.”
Rafa Castro “Cheiro de Mar”
A canção acompanha vídeo dirigido pela fotógrafa Lorena Dini. “Cheiro de Mar” ressoa como um desabafo após uma retiro no meio da mato. Até por isso a espiritualidade, o sobrenatural e o sentimento à flor da pele transparecem dentro da sua narrativa.
“Depois de passar por uma situação que você ainda não consegue enxergar, ao elaborar sobre aquilo, você se renova e traz um sentido para esse acontecimento. Isso te permite dar um passo à frente”, reflete Rafa.
“Um cubo de espelhos o faz flutuar. Ao mesmo tempo que ele está dentro do mar, ele aparece sobre o mar. Existe um certo respeito em relação à natureza e as águas e o significado dessa experiência aparece como reflexo para ele”, comenta Lorena, que também fez a direção artística e a fotografia.
O desenrolar, após a criação da melodia, veio no momento em que Rafa Castro estava em uma viagem pela Amazônia. Ali a composição começou a tomar forma. Esta que ele chama como o resultado de um processo de cura; feito um desabafo com todo um oceano à sua frente.
Purificando a Alma
As águas cristalinas do mar, a luz do sol e o figurino de Rafa Castro no videoclipe dão todo o tom espiritualizado e místico a peça audiovisual. Os arranjos parecem dialogar com a força da corrente que move as ondas do mar criando por si só um universo particular de sensações para o espectador.
Cada frame nos remete a calmaria e automaticamente ao processo de cura após a tormenta. Até mesmo sua estética nos leva para os anos 70, e até por isso dialoga com as referências musicais do projeto que vão do Clube da Esquina a George Harrison. A própria ideia de expurgo, e de cura é traduzida em seu ritmo lento e doloroso. Assim como os cristais dos espelhos que ajudam a mostrar o outro lado da alma.
Ficha Técnica
Um filme de Lorena Dini que também assina a direção artística e fotografia.
Edição e cor: Luciano de Azevedo
Apoio: Estúdio Baleia e Osklen
Entrevista: Rafa Castro
Conversamos com Rafa Castro a respeito dos encontros, composições, videoclipe e mudanças dentro da sua própria trajetória como músico. Teletransportar será lançado no dia 10 de abril.
Conte mais sobre a composição e como acabou se revelando um processo de cura.
Rafa Castro: “Cheiro de Mar aconteceu de uma maneira diferente da qual estou habituado. Foi a partir de um encontro despretensioso, com o parceiro Mihay, em São Paulo, que a ideia de fazermos uma música juntos nasceu. Nunca tinha composto assim antes. Meu processo sempre foi solitário e íntimo com o fazer. Sempre precisei de tempo e respiro para criar. Mesmo com outros parceiros, sentia que a distância era necessária para que o tempo de maturação fosse respeitado.
Com essa canção, single do meu novo disco, foi diferente. Começamos juntos a criar uma ideia melódica. A letra veio nascendo juntamente com as notas, e de forma espontânea, nos foi convocando para seus símbolos e significados. Música e letra foram ganhando força no próprio fazer, e nos foi sendo revelado algo que precisava ser tocado. Desse encontro, já saímos com a primeira parte pronta.
O Retiro
Nos dias seguintes, eu compus a melodia do que seria o refrão da música, e a letra nasceria por completo em uma imersão que tive na Amazônia. Passei 10 dias numa comunidade ribeirinha, chamada Mamori. Há três horas de barco de Manaus, para dentro das profundezas da Floresta.
Lá eu tive experiências maravilhosas e místicas com a natureza. Me senti parte – realmente – do todo. Passei por momentos de cura e questionamentos da minha maneira de vida e estar no mundo. E foi a partir dessas reflexões que me veio o fio para amarrar toda a canção.
É preciso atravessar o momento de angústia, sentir a perda do outro – ou de de você mesmo – para fazer nascer uma melhor versão de si
Depois de passar por uma situação que você ainda não consegue enxergar, ao elaborar sobre aquilo, você se renova e traz um sentido para esse acontecimento. Isso te permite dar um passo à frente.”
Como foi o processo de produção, roteiro e parceria do o videoclipe?
Rafa Castro: “Um cubo de espelhos o faz flutuar. Ao mesmo tempo que ele está dentro do mar, ele aparece sobre o mar. Existe um certo respeito em relação à natureza e as águas e o significado dessa experiência aparece como reflexo para ele”, falou Lorena Dini, diretora do videoclipe, durante uma conversa que tivemos sobre o filme.
Eu tenho a sorte de ter uma das artistas que mais admiro, e que é uma das minhas maiores influências, também como companheira de vida e jornada!
Lorena Dini acompanhou todas as gravações do disco Teletransportar, e ao final da gravação da voz de Cheiro de Mar, ela me disse que faria um clipe para essa canção. A partir de toda nossa vivência, e dela estar presente na criação da obra desde o inicio, a produção e roteiro foram surgindo naturalmente e com muita força. Ela concebeu todas as imagens e conduziu a estética do trabalho, dirigindo artisticamente de forma magistral.”
Conte mais sobre como o concerto com dois pianos de cauda ao lado do Túlio Mourão acabou influenciando no que se tornaria o Teletransportar e qual será o conceito do disco?
Rafa Castro: “No ano de 2012, fui um dos vencedores do prêmio BDMG Jovem Instrumentista em Belo Horizonte, e tive como premiação, escolher alguém que acompanharia minha carreira durante um ano. Não pensei duas vezes. Escolhi o Túlio, pela admiração que tenho pela sua história, e tudo o que ele fez por nossa música brasileira.
Tenho muitas referências do Túlio na minha maneira de tocar. Sempre escutei os pianos dos discos do Milton Nascimento, e as misturas da música mineira com a música do mundo. Túlio amarra muito bem isso, e fez escola com o disco Jasmineiro. Ao longo desse um ano de convívio, fomos estreitando nossos laços e ao fim dessa jornada, fomos convidados para participar do Projeto Piano na Praça, aqui em SP.
Teias
Nessa ocasião, ao fim dos concertos, resolvemos fazer o bis, num piano a quatro mãos, e foi incrível. Saímos do palco com a certeza que precisaríamos fazer um registro desse encontro. Surgiu o Teias, que é a união de duas gerações de músicos mineiros, num momento raro da música brasileira: a união de dois pianos.
O projeto permite uma enorme riqueza melódica, harmônica, rítmica e de timbres. A concepção do trabalho explora o piano em todas as suas possibilidades, prezando pela liberdade criativa, dando espaço para improvisação e contribuições individuais para a sonoridade. É incrível fazer parte de tudo isso, e tenho certeza que foi uma influencia para a vida toda.
No disco Teletransportar tenho a alegria de estrear a nossa primeira parceria. Fiz a letra sob uma das melodias mais bonitas que conheço. Cristalino foi gravado pelo Túlio em seu disco antológico de 1984 (Jasmineiro) e hoje se transmuta em canção.”
No campo das referências musicais, o que achou que bateu mais forte neste quarto disco?”
Rafa Castro: “Teletransportar é um momento de descobrimento e novas experiências para mim. Trago toda carga afetiva das minhas influências musicais mineiras e de todo um repertório e paixão pelos anos 1970 da música brasileira.
Clube da Esquina e os trabalhos solos de seus representantes: Milton, Lô Borges, e principalmente Beto Guedes. Além disso, Beatles, Paul MCcartney, George Harrison, Caetano Veloso, Villages, Jacob Collier, Mutantes, Robert Plant e João Gilberto são alguns dos artistas que eu estava mais ouvindo nesse período de concepção do álbum.
Consegui juntar os pilares que são muito latentes no meu trabalho, e acredito que cheguei num resultado real do que estava fazendo sentido para mim. Nesse disco, assumo minha faceta de letrista e acredito que descobri minha maneira de pensar e expressar artisticamente minha identidade. Comecei a pensar seriamente sobre meu papel e sobre minhas virtudes. Ainda tem muito trabalho e amadurecimento pela frente, mas achei um fio condutor que me representa.”