Yamasasi diverte em debut com seu surf punk à la FIDLAR

 Yamasasi diverte em debut com seu surf punk à la FIDLAR

Yamasasi – Foto: Divulgação

Yamasasi diverte em debut com seu surf punk à la FIDLAR

O ano é 2012 e conversando com uns amigos enquanto estamos bebendo uma cerveja despretensiosa, um conhecido troca a música para “Wavves” do Fidlar. Não o suficiente ligamos o PC para ver o clipe.

O vídeo tira sarro com Friends, The O.C. e Dawson’s Creek e logo voltei no tempo uns 11 anos. Justamente porque a geração do fim dos anos 80, e começo dos anos 90, simplemente jogou a série de videogame Tony Hawk’s Pro Skater de maneira intensa. Algo que se destaca no jogo são suas lendárias trilhas sonoras.

Os pais dos caras do FIDLAR são veteranos do cenário de hardcore americano, uma influência que já seria suficiente para entrar para este caminho. Mas em entrevista que pude assistir no youtube logo que fui pesquisar mais sobre a banda eles logo entregam: o jogo mudou a vida deles e gostariam mesmo é de produzir uma música que pudesse entrar na trilha. Ok, talvez eu tenha exagerado nessa parte mas eles realmente citam o jogo como principal influência da banda.

De lá para cá muita coisa aconteceu com eles – e nem todas foram boas – até por isso lançaram um disco deprê e se tornaram sóbrios. Too (2015) é o reflexo disso. Inclusive no ano passado saiu um novo disco deles, Almost Free, e eu preciso ouvir (ouça aqui).

Na mesma época conheci algumas bandas que gostei muito como Bass Drum of Death, Dune Rats, Together PangeaBest Coast, King Tuff, Jay Reatard, Tijuana PanthersDZ Deathrays (que acabaram virando amigos!), Jacuzzi Boys, Bleeding Knees Club, Skaters, Skeggs, Surf Curse. Real na época eu me empolguei com esse tipo de som e descobria coisas a cada semana.

Corta para 2020!

Janeiro de 2020. Verão que não para de bater temperaturas altas. Na crista da onda a Yamasasi, de Piracicaba (SP), desceu a serra do mar para apresentar seu debut.

Uma estreia que resgata um pouco dessa aura das bandas desta geração, eles ainda adicionam o som psicodélico do The Growlers no liquidificador em um registro com 10 faixas e 25 minutos de duração. Ou seja, tiro, porrada e bomba. Ou melhor dizendo: Surf, Skate y otras cositas más.

Por outro lado eu não excluiria o emo de grupos como Title Fight e Tigers Jaw. Tem algo ali mesmo que escondido que me lembra essas bandas dentro da sonoridade do quarteto formado por João Pedro Matos (voz e baixo), João Fernando Vieira (guitarra), Fabiano Beneton (guitarra) e Gustavo Ferrari (bateria).

Curiosidade mesmo fica por conta do nome da banda fundada em 2017. Yamasasi é uma palavra inventada compartilhada com Matos por um amigo venezuelano. Eles inserem o termo nas conversas onde gostariam de incluir um palavrão, do tipo “do caramba” e “hell yeah”. Bom, uma boa história para nome de banda, não é mesmo?


Yamasasi
YamasasiFoto: Divulgação

Yamasasi Colorblind (31/01/2020)

Colorblind é o sucessor do Hungry // Pace EP (2018). O registro chega mais leve mas assim como Too (2015), do FIDLAR, trata de questionamentos existenciais. Eles mesmos contam que o álbum passa por temas como distâncias, frustrações, isolamento e as dores de crescer.

“Pode se dizer que o álbum está bem mais complexo que o EP Hungry/Pace. As músicas do primeiro EP são muito mais simples em termos de sonoridade, devido às novas influências que adquirimos ao longo da caminhada da banda.

Nosso interesse por math rock acabou fazendo com que incluíssemos mudanças rítmicas típicas desse estilo em algumas faixas do disco, sem perder a pegada suja do garage rock e surf punk”, reflete o baixista e vocalista João Pedro Matos.

Assim como os norte-americanos a cultura pop tem vez no disco. “Tell Me What To Do”, por exemplo, foi inspirada pela série Girlboss. O escape (“Breathe In/Out”), o ócio (“Lost Boy”), despedidas (“Song #1’’), fracassos (“Clever”) acabam transparecendo ao longo do disco.

O álbum foi gravado por Franco Torrezan no Casarão Music Studio. A mix e a masterização são assinados por Franco Torrezan e Fabiano Benetton. Já as letras foram escritas por João Fernando Vieira (Magrão) e João Pedro Matos (JP).



Surf Punk, Garage & Fuzz

O cru do punk rock e o skate freando em uma descida, esse é o espírito da energética “Song #1” que não pede passagem e tem a simplicidade de uma canção dos Ramones. Aquela distorçãozinha Best Coast aparece no horizonte de “Breath In/Out” que é mais cadenciada e magnética feito as canções do Pixies na fase Trompe Le Monde (1991). Feita para dançar no chuveiro enquanto treina para os campeonatos de air guitar.

“Clever” já volta a colocar o pé no acelerador no melhor estilo FIDLAR e DZ Deathrays, um punk surfista nostalgico difícil de ouvir sem tomar um tombo do skate. “Pancho” tem uma panela Black Flag e Fugazi que fará subirmos sobre as rodinhas sem olhar para o retrovisor. É barulho, distorção e aspereza.

“Miles Away” revela um lado mais emo e confessional. Quase um Turnover indo de encontro com o Descendents, o Jawbreaker ou até mesmo o Dag Nasty. O pop punk parece renascer em “BLP” em uma faixa meio Kerplunk (Green Day, 1991), sentimental mas com a mesmo teor de caos e destruição de “Wake Bake Skate” (FIDLAR, 2011).

Já em “She Screams” o lado mais surf psicodélico meio Growlers, meio Surf Curse, meio Best Coast aparece com mais força. Uma faixa mais lo-fi e com linhas de guitarra mais trabalhadas no fuzz.

A Trinca Final

“Do It All Again” também acalma e mostra um lado da banda mais contemplativo e com melodias mais trabalhadas. Se eles citam math rock como referência do que tem ouvido, essa faixa explica. Eu como curto Thee Oh Sees, me identifiquei com as distorções sem limites.

“Socks” tem uma linha de baixo que ficou bem marcada dos anos 90, mas que foi bem revisitada por bandas como The Thermals. Ela tem um quê de Bubblegum à la The Queers mesmo me remetendo as misturas loucas do Wavves – e seu espírito livre.

Para fechar eles escolheram a animada e assobiável, “Lost Boys”. Homônima do filme de terror, de 1987, e com distorções ainda mais escrachadas. É a hora de se libertar do seu air guitar interior e entrar na roda punk.


Yamasasi


O quarteto de surf punk Yamasasi, de Piracicaba (SP), transforma suas angústias e medos da vida adulta em um disco recheado de distorções, baixo no talo e boas melodias. Diverte mesmo falando de decepções, isolamento, despedidas e fracassos. Se você cresceu ouvindo a trilha de Tony Hawk’s Pro Skater, gosta de punk rock ou acha o máximo Pixies…esta banda é para você. Pode vir tranquilo pela sombra que a viagem promete. Lembrando que é verão então não esqueça de beber muita água.

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