Teago Oliveira, aos 33 anos, e com uma bela trajetória ao lado da Maglore lançou em Setembro seu primeiro álbum solo. O baiano foi buscar inspiração em artistas como Raul Seixas, Belchior, Caetano Veloso, Gilberto Gil e em histórias não necessariamente suas mas de seu entorno. O brilho fica justamente pela entrega e intensidade que colocou em cada uma de suas 11 faixas.
Gravado na Ilha do Corvo, em Minas Gerais, ele enfrentou novos desafios em sua produção. O que fez com que amadurecesse como artista e aprendesse ainda mais sobre o processo. Ele teve a companhia do produtor Leonardo Marques que já trabalhou ao seu lado em III e Todas as Bandeiras; da Maglore.
O lançamento que sai pela Deck Disk e foi selecionado pelo Natura Musical por meio do edital 2018 e do Estado da Bahia, através do programa Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
A construção do debut contou com uma arranjos que deixam ele ainda mais sensível. Como por exemplo o adendo do mellotron, cordas e tambores. Sua estética lo fi e tomar emprestado versos de outros artistas também criam uma espécie de convergência – e sintonia – com o cenário local e o momento que o país tem vivido.
Um disco com cara de bolacha. Daquelas que encontramos em grandes galerias, entre um LP de Caetano, Gil, Gal, Cartola e Belchior.
Sua carreira solo já chega com grandes credenciais. “Motor”, composição sua lançada originalmente pela Maglore no disco Vamos pra Rua (2013), foi interpretada tanto por Gal Costa quanto por Pitty, e é faixa seu álbum Matriz (Deck/2019).
Além de “Não Existe Saudade no Cosmos”, canção inédita gravada por Erasmo Carlos em seu aclamado trabalho mais recente.
Um dos destaques do registro é justamente como ele chega de mansinho e te convida para bailar sua própria bossa. “Bora” ao mesmo tempo que te tira para dançar, ainda faz questionarmos o mundo absurdo que temos sobrevivido.
Provocando indiretamente a conjuntura de governos conservadores – e seus “conjes“. Ela desperta o sentimento de transformação e de não aceitar de mãos beijadas o que está acontecendo.
O sentimento, o amor e seus percalços, transparecem em “Oh, Meu Bem”. Esta em que Teago Oliveira deixa claro para o ouvinte ser só “mais uma canção sobre amor, e etc e solidão.”
Sua estética clean e com arranjos delicados dão todo o tem reflexivo da faixa que lembram um pouco a estética presente no disco de Tim Bernardes. As voltas que a vida dá, e seus abalos, acabam ganhando versos de conforto.
Já “Longe da Bahia” é uma canção que através de sua doce melodia passa a sensação de saudade e nostalgia. Mas não se engane! A bossa de maneira astuta dá seus “coices” e denuncia a violência, o autoritarismo, o conservadorismo e a repressão. Sem deixar de lado as coisas belas – e suas memórias – deste cantinho do país.
“Azul, Amarelo” é pop açucarada e homenageia grandes inspirações como Sá & Guarabyra e 14 Bis. Gostosa, leve, pop e sutil. Com aquele ar setentista da música brasileira.
Com uma melodia toda Jorge Ben, “Superstição” revela o medo, apreensão e inseguranças. Mas também derrete feito o pôr do sol. “Sombras no Verão” traz o piano para o primeiro plano, e lembram o jeito de cantarolar e de construção do Clube da Esquina.
O verso “Não se deixe esquecer” ecoando no horizonte faz lembrarmos sobre a importância de lembrar do passado para não deixarmos que o erro se repita no presente. (64 nunca mais!).
Uma das mais pops e delicadas do registro foi a última a ser composta, “Corações em Fúria (Meu querido Belchior)”. O homenagem ao cearense serve como recurso também para traduzir o momento do Brasil de uma forma leve e poética.
Teago Oliveira criou letra e melodia em 5 minutos, depois de ter saído de uma sessão de análise. Segundo a equipe de Teago esta faixa tem toda uma história diferente.
O disco já estava pronto, todo gravado e finalizado, e aí ele imediatamente teve que voltar ao estúdio, em BH, e registrar o quanto antes para ela poder entrar no disco.
Foi a última gravada, acabou tornando-se a primeira a ser apresentada ao público. A viagem de ônibus demorou 15 horas, teve um acidente na estrada, então ele foi pensando nos arranjos no próprio percurso.. teve também o fato do disco todo ter cordas orquestradas, mas esta, por conta do tempo, ele ter usado melotrom como recurso!
A letra é uma carta para Belchior, e Marcus Preto, já tinha sugerido essa ideia a Teago. Marcus disse a ele uma vez que teria tudo a ver ele homenagear Belchior.
Dentro da música existem várias citações (umas mais explícitas, outras nem tanto) às letras do cearense. Infinitas histórias rodeiam a música, que tem citação ao Vanguart – fala indiretamente de Helio Flanders, que é grande amigo do músico.
“Tudo Pode Ser” fala sobre lidar com fins, a queda de certezas, reflexão, transformações e a esperança de encontrar o amor no fim do arco íris. Entre acertos, erros, feridas e dias gloriosos.
“Movimento das Horas” abre o coração e deixa jorrar. Intensa, rasgada, dramática e sem medo de arriscar – faz dela um dos pontos mais altos do disco. O peito inflama, a alma cala e o choro sai. Uma das mais belas canções do ano.
O coração em fragmentos, entre Belchior e Cazuza, “Metafísica” emociona por sua sensibilidade e capacidade de se encaixar em diversos momentos da vida. “Últimas Notícias” fecha o registro com batuques, menções a Gil e gingado que homenageia sua querida Salvador. Entre seu jeito peculiar, virtudes e defeitos. Sintetiza bem os caminhos que a obra caminha.
Entrevistamos o músico baiano para entender mais sobre o momento e os universos que ele abordo em Boa Sorte. Um disco que se faz ainda mais necessário a cada audição.
O começo da minha trajetória solo efetivamente é agora. Mas há muitos anos que eu venho pensando e desenvolvendo novas linguagens pra músicas que crio, que necessariamente não são a mesma linguagem da Maglore.
Isso foi crescendo e minha vontade de explorar outros universos estéticos foi aumentando a partir do momento que eu fui construindo esse caminho novo. Estar sem banda, pra mim, é uma aventura nova. Eu sou apaixonado por banda e tenho muito apego a forma que minhas canções são trabalhadas pelos caras da Maglore. Então estar solo foi um desafio à parte.
A Maglore é uma banda de processos extremamente coletivos, ainda que eu seja o compositor majoritário. Cada canção trazida acaba se transformando em outra no final. Cada músico tem uma personalidade e uma liberdade criativa que modificam o processo.
No meu disco solo eu assumi o controle dos arranjos e da produção, junto com Leonardo Marques. Isso muda muita coisa, porque eu pude experimentar mais a minha linguagem e sair do formato banda. Acabei gravando muitos dos instrumentos tocados e isso deu uma cara mais singular pro disco, que era algo que eu queria.
O disco versa sobre coisas que penso do mundo, de situações vividas e etc. Mas não necessariamente versa sobre mim. Em muitas músicas a personagem central não figura na minha pessoa.
Eu achei melhor me transportar pra esse lugar de ser outras pessoas e contar histórias diferentes das histórias da minha vida, num grande mosaico de sensações.
O disco foi gravado entre maio e junho de 2019 no estúdio Ilha do Corvo, em Belo Horizonte. Acabei gravando muitas músicas sem fazer pré produção. Leo dava o rec e as coisas iam acontecendo, visto que eu já tinha os esqueletos das músicas prontos.
A gente ouvia bastante as guias e ia sentindo o que a música ia pedindo. Foi um processo bem novo pra mim, que sou acostumado a chegar no estúdio com os arranjos prontos.
Usamos muitos microfones antigos, de fita, na gravação desse disco. Por isso ele tem esse climinha lo-fi meio anos 70. Sou bastante entusiasta dessas coisas antigas e acho que casou bem no disco. O fato de Leo Marques produzir também ajudou bastante, pois temos muita linguagem em comum, além de sermos grandes amigos.
Teago Oliveira irá lançar seu álbum ao vivo em breve. Com datas já marcadas.
Dia 3 de outubro ele apresenta Boa Sorte na sala do coro do Teatro Castro Alves, e na sequência, estreia em São Paulo no dia 18 de outubro, no Auditório Ibirapuera.
This post was published on 25 de setembro de 2019 11:48 am
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