Never Too Late alerta sobre saúde mental em “Yellow Days”
No mês de prevenção ao suicídio, o Never Too Late, disponibiliza via Hearts Bleed Blue seu segundo álbum, Yellow Days.
Em 2019 a campanha completa 5 anos e os índices estatísticos envolvendo questões de saúde mental infelizmente só dispararam nos últimos anos. Não só no Brasil mas como no mundo todo.
A depressão e ansiedade sendo considerados por sua vez alguns dos grandes males do século. Segundo a OMS, uma pessoa morre por suicídio a cada 40 segundos. Todos os anos cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio.
Outros Dados
Embora os casos tenham reduzido em quase 10% entre 2010 e 2016 (último ano da pesquisa), no Brasil o cenário, infelizmente, é o oposto: as taxas aumentaram 7% nesse mesmo intervalo de tempo.
Mas nem tudo são dados ruins, em matéria averiguada pelo Instituto Lupa a esperança e a ajuda de todos pode ajudar a diminuir o número de fatalidades.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios que acontecem no mundo podem ser prevenidos com uma rede de apoio em torno da vítima.
A organização considera o suicídio como uma prioridade de saúde pública, já que é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A OMS cita seis medidas que podem ser tomadas para diminuir os casos, entre elas: redução de acesso aos meios utilizados para cometer suicídio (pesticidas, armas de fogo e determinadas medicações, por exemplo), introdução de políticas para reduzir o uso nocivo do álcool e formação de trabalhadores não especializados em avaliação e gerenciamento de comportamentos suicidas.
Never Too Late
Nunca é tarde para tomar a decisão correta. Muito menos para ouvir ou aconselhar quem está por perto. Conscientização, empatia e força de vontade são essenciais nesta batalha. Que é diária, cobra e exige muita fibra.
O grupo paulistano composto por Gustavo Kalili (Vocal), Rodrigo Simonetti (Baixo), Jonas Lapienis (Guitarra) e Ricardo Montezuma (Bateria) dialoga sobre insônia, depressão, suicídio, solidão, medos e empatia ao longo de suas 10 faixas.
O Revival do Pop Punk
Após o revival dos anos 90, naturalmente o dos anos 00 viria. E no punk rock neste período tivemos o surgimento de várias bandas que flertava com um viés mais melódico.
Não necessariamente tinham o peso do hardcore melódico mas que através de veículos como a Alternative Press, festivais como a Warped Tour (descanse em paz) e a MTV ganharam o holofote e a atenção, dos até então, jovens.
As bandas
New Found Glory, Blink 182, Starting Line, Fenix Tx, MxPx, Saves The Day e muitas outras acabaram por sua vez estampando capas de revistas.
Munhequeiras e letras sobre relacionamentos acabaram se tornando mais comuns no meio – que tempo depois seria o embrião, mesmo sem querer, do que popularmente foi chamado por aqui de emo (mesmo pouco ter a ver com o de DC).
O Revival
10 anos depois apareceram novas bandas que através de redes como Tumblr acabaram ressuscitando o estilo. Este que já estava perdendo força. Tendo até uma humorada campanha carinhosamente apelidada de Pop Punks Not Dead. Esta que também nomeou uma turnê envolvendo ícones – e até então – novos nomes do gênero. Entre eles New Found Glory, Set Your Goals, The Wonder Years, Man Overboard e This Time Next Year.
Man Overboard, The Story So Far, Four Year Strong e State Champs, inclusive são citadas como referências para a sonoridade do Never Too Late.
O Momento & a Motivação
Formado em 2013, o grupo paulistano conta com os EPs Passado, Presente, Futuro, Sobre Tudo Que Passei e Premiere, além do primeiro álbum, No Return, lançado em 2016.
A escolha pela temática do segundo disco também é bastante pessoal; o que traz ainda mais verdade para a obra. O registro foi produzido por Gab Scatolin.
“Trouxemos nesse disco muito do momento que o Gustavo estava passando. Então, nossa principal expectativa é que esse CD possa divertir, distrair e agradar a quem sempre curtiu nosso som, mas principalmente que possa ajudar quem por algum motivo está passando por problemas de ansiedade e depressão”, revela o guitarrista.
A Redenção
O ato de atravessar esta barra acaba por sua vez servindo de motivação para inspirar a todos que estejam passando por momentos parecidos. Feito um abraço de um amigo, a cada faixa uma face do problema transparece. Da apatia, passando pelos momentos de refúgio aos momentos onde é difícil encontrar forças para lutar.
Ouça o Álbum
Enquanto lê a resenha!
“Nesse disco falamos sobre saúde mental, ansiedade e depressão. Portanto queremos que todos possam ouvir a mensagem e passá-la para frente.
O mais importante é que quem estiver passando por momentos parecidos, saiba que é normal, que busque ajuda e entenda que não está sozinho”, completa o baixista Rodrigo Simonetti.
Never Too Late: Yellow Days
Antes mesmo de lançar o álbum eles lançaram dois singles. “Yellow Days” e “Maze” e contaram claro um pouco mais sobre as motivações para cada uma das composições.
“Maze” segundo Gustavo:
“É uma música carregada de sentimento, que varia entre momentos mais pesados e outros mais leves, porém todos intensos. Além disso, a letra gira em torno da sensação de estar perdido na nossa própria rotina, nos nossos próprios medos e convicções, sendo perseguidos por nós mesmos. Mas ela também traz a mensagem positiva de que mesmo nesse quadro existe uma saída, uma mão amiga para nos guiar nesse labirinto”, relembra o músico.
O videoclipe de “Maze” foi idealizado por Gustavo, com a direção de Fernanda Vidoti e edição de Caroline Carvalho.
“Esse CD se apoia muito no DIY [Do It Yourself, expressão em inglês que significa Faça Você Mesmo], então o clipe seguiu essa linha. É um clipe simples, mas que passa muito do que queremos transmitir com a música e com o disco”, conta o baterista Ricardo Montezuma.
“Yellow Days”
A insônia, um dos sintomas de doenças como ansiedade e depressão, acaba transparecendo na faixa título.
“A correria que nos é imposta nos faz perder o sono, literalmente, com coisas que não são tão importantes assim, na maioria das vezes”, revela o vocalista que sofreu de depressão
A Capa
“Pensamos em fazer algo bem pessoal e que retratasse um pouco do sentimento de passar por essa barra”, explica o vocalista.
“Nossa ideia com a foto de uma pessoa gritando era simbolizar uma ‘expulsão’, uma luta contra esses pensamentos ruins, atrelado a um visual mais pesado, mostrando o quanto é séria essa situação”.
A Carga Emocional & os Acordes Simples
10 canções e aproximadamente 30 minutos de duração. Número próximo a estatística, não é mesmo?
Mas em um momento onde parar para ouvir um disco de cabo a rabo é raro; o tempo está dentro do padrão.
“Take It Or Leave It” fala sobre escolhas, estas tão difíceis de serem feitas em certo momento. A vontade de fugir e o sentimento de impotência na tomada de simples decisões. Os vocais melódicos claramente lembram a banda liderada por Jason Pundik – e sua intensidade agradará a fãs de grupos como Less Than Jake.
O auto-controle, e o antagonismo do descontrole, transparece em “Disconnected”. Composição que cita os medicamentos e a necessidade de cooperação dos que estão mais próximos. Lembrando que é uma luta coletiva e todo apoio, e compreensão, são necessários durante esta amarga – e muitas vezes solitária – luta.
O punk rock melódico surge na noite escura com poucas estrelas de “Now It Makes Sense” que agradará a fãs de grupos como Man Overboard, All Time Low e Four Year Strong. Nela versos fortes nos lembram da importância do apoio.
Missing people need to be found
So you found me
Lost souls wants a hand to hold
So you hold mine And put Into the sun
O Reflexo dos Medos
“Undone” mostra como a apatia e a falta de motivação acaba consumindo quem passa por um momento como este. A luta de cada dia e a vontade de se alienar na frente da tela do celular para fugir dos problemas.
Se sentir sozinho mesmo rodeado de pessoas é o tema de “Talking To Myself”, onde o espelho parece ser o melhor amigo no meio da multidão. A importância de colocar para fora ganha melodias e oitavadas para atentar sobre os problemas de “overthink”. Por alguma razão (talvez o nome) lembrei deste som Relient K que eu não devo ouvir a pelo menos 15 anos.
A busca por atenção a todo custo – e a insegurança – acabam ganhando um capítulo à parte em “Egocentric”. Faixa que já flerta com o hardcore melódico.
Já “Blame” talvez seja a faixa que mais tenha a transmitir mensagens significativas para quem se sente sozinho.
O sentimento de carregar o peso do mundo sobre suas costas – e a auto-cobrança em um mundo cheio de cargas – e expectativas alheias – acabam por sua vez imortalizados nesta dura, e emocional, faixa. Esta que tem direito a desacelerações e trechos para cantar junto feito as canções do Taking Back Sunday, ou até mesmo do Jimmy Eat World.
Talvez a mais “Blink 182” dentro da obra seja justamente “What Really Matters” com refrões que grudam feito chiclete e um pedido iminente por ser ouvido.
A noção de perda de controle, apatia, medo e papel no mundo acabam se colidindo. O estrago está feito mas a luta por voltar a ter controle serve de alento – e nos transmite uma mensagem positiva.