O lado questionador deveria ser intrínseco ao artista. Mas nem sempre é. Muitas vezes parece ser cooptado pelas “regras do jogo”. Seja de mercado, seja por moda, seja por tendências. Aquela sensação de esvaziamento acaba por sua vez afetando não apenas a classe artística; mas quem consome. Cadê a verdade? Cadê a essência?
Muitas vezes parece ser uma en(cena)ção. Um jogo de egos. Um compromisso com pautas e pensamentos que não necessariamente estão dentro do seu dia-a-dia. Fato é que algumas entrevistas valem como ouro, quebram paradigmas e nos fazem pensar.
Com espírito anárquico e prezando pela liberdade artística, Theuzitz apresenta sua nova fase. Expandindo horizontes, perspectivas e apresentando sua visão de mundo. Sem compromissos com agradar x ou y, sem bater palmas ou fazer cena.
Ele quer mesmo é mostrar sua visão. Sem querer ser aplaudido ou ser chamado de visionário. E talvez seja desta perspectiva tão genuína que venha o interesse por conhecer mais sobre os próximos passos da sua trajetória.
Entre colagens de estilos, uma soma de experiências de vida, transformações e poesia, o músico em sua nova fase preza pelo seu entorno.
São estas nuâncias aliadas a sua mudança de perspectiva que somados criam a identidade do novo álbum. Sem deixar de lado sua autenticidade. Sem deixar de ser ele mesmo para agradar, ou desagradar, o outro.
“Eu sempre gostei de cruzar gêneros compondo música, porque sabia que nesse ato também estava cruzando culturas. Eu já nasci num mundo no qual as influências vieram de diversos lugares do planeta, então me sinto livre para construir uma nova realidade não só para mim, mas como para as pessoas a minha volta.
Hoje a gente vive tudo ao mesmo tempo e eu não existe mais uma necessidade de se justificar pelas nossas preferências.”
Ele vai do alternativo, passando pelo rock, mpb e rap num piscar de olhos. A mistura não é nem o fator que impressiona mas sim sua facilidade em realizar tudo isso de maneira orgânica e fluida. São traços assim que você depara no primeiro single do disco, “Noite II”.
Hoje ele nos concedeu a chance não só de lançar o videoclipe em primeira mão mas de introduzir o que está por vir. Lançando seu primeiro videoclipe, Theuzitz, concedeu uma entrevista que não temos a oportunidade de ler todos os dias (No fim do Post!).
A violência e as vozes palpáveis e subjetivas da noite dão o tom da produção audiovisual. A tão sedutora noite reserva seus mistérios, encanta mas também traz seus perigos. É dessa realidade das ruas, seus clarões, escuridão e subjetividades que o músico de Jandira traz sua perspectiva.
Theuzitz juntou forças com a produtora MIG (Guarulhos/SP) e dirigiu seu primeiro videoclipe. Nele ele traz corpos que habitam em si próprio – nos piores e melhores dias.
Já no campo das influências, Theuzitz cita Tyler, The Creator, Earl Sweatshirt, Elliott Smith e Cocteau Twins.
“Essa canção fala sobre a violência e o lado sombrio da noite. Violência que se dá muitas vezes pela nossa consciência, mas que também surge deliberadamente nas relações da rua, os carros seus falantes, no som dos bares e igrejas, e também no silêncio do sono que potencializa cada pequena ação. São algumas dessas vozes e lugares que eu quis representar”
A poesia que sempre o acompanhou em sua trajetória: ganha novos holofotes. E por consequência, dão toda uma nova mística dentro da produção audiovisual.
Essas vozes da consciência, muitas vezes expressas na subjetividade das coisas, acabam por sua vez sendo estravassadas. Sem delirar ou forçar a barra para chamar a atenção.
É deste conflito que sua narrativa explosiva acaba ganhando contornos.
No vídeo podemos ver faíscas e um território inseguro que feito nossa mente acabam por sua vez mostrando a força sobre as transformações de nossas próprias perspectivas.
Sejam elas sobre nossos rumos, aflições ou traumas. Tudo soma e se encaixa mas sem ter medo de se sentir eternamente no escuro.
A faixa foi produzida e mixada por Theuzitz. Já a masterização de “Noite II” foi realizada por Luiz Café, que coleciona trabalhos com Rashid, Don L, niLL, entre outros.
Theuzitz: “Realmente muita coisa aconteceu, 2016, eu tinha 19 anos, o Brasil havia sofrido um golpe de Estado, o Neymar não era tão escroto, rock triste, minha mãe estava viva, velhos fracassados tinham mais voz
… Naquela época eu queria fazer parte de alguma coisa e vivia muito no no que os outros que atribuíam pra mim, “Você é x, devia fazer isso aí. Você é y fala isso aí”, “Theuzitz é muito sensato, muito ‘necessário’ no que diz”. Eu hoje não vivo pra ser necessário, não tô pra forçar relevância, e nem tô pra fazer o jogo do mercado porque ele limita e destrói as pessoas.
Minha proposta é de liberdade, e sei que eu sendo livre, já sou relevante e posso trazer mais pessoas para serem livres junto comigo.”
Theuzitz: “Eu não ligo mais. Como as pessoas escrevem música hoje no Brasil, 500 referências pras pessoas se identificarem, zero contexto, zero intenção… Eu já fiquei muito triste porque no lugar que a gente tá hoje, artistas cantam subestimando o público e se utilizam da própria voz de maneira irresponsável.
Você fala da Marielle porque você tem compromisso ou por quê é uma pauta quente? Isso vale pra qualquer outra “militância”.
A moda dessa galera é dizer que a gente tá no fim, mas eu sei que boa parte desses artistas vivem bem, e vão pra Europa ou trabalhar na empresa do tio se algo der errado.
Empobrecer o discurso dá o exemplo para outros fazerem o mesmo, artistas grandes e pequenos. Não tô falando que eu sou perfeito, se eu fizer algo que você não concorde ou não entenda a gente pode dialogar e vice-versa, mas eu sinto que o caminho é sensibilizar as pessoas, não só entregar o que elas querem toda hora.
A gente quer ser melhor, ou a gente só quer dinheiro? A vida é um sopro, pra algumas pessoas nem chega a ser isso, e viver pra si próprio, com esperança dentro de casa não adianta nada.
Eu escrevo, gravo, mixo e masterizo o que eu faço pra cultivar a minha liberdade e propor esse mundo que eu sinto, vejo e acredito. Acredito que a gente pode ser diferente disso.”
Inclusive você também lança seu primeiro videoclipe, logo com a temática da noite, nele seus mistérios e perigos são bastante evidenciados. Conte mais sobre a conexão entre a faixa e o clipe, como surgiu a parceria com a produtora e seu brainstorm?
A noite tem um mistério e uma sensualidade própria que não só eu mas vários autores se desdobraram sobre. É o momento onde culturalmente surgem os fantasmas, é quando estrelas mortas surgem e mostram que a vida é mais do que essa coisa mundana de todo dia.
O clipe é uma experiência, são expressões… a sensibilidade de novo. Por conceito nas coisas muitas vezes é o capitalismo forçando que você se limite ou limite algo, e eu quero que as pessoas sintam em primeiro lugar e que interpretem o que acharem que mais cabe a elas. Eu nessa música e nesse vídeo quis expressar parte desse sentimento, daí já vai a conexão: Jovens, estrelas na cabeça, fogo, correria, os anos correndo… é isso.
Theuzitz: “Eu acho que impacta a todo mundo, século XXI é quase impossível viver isolado. Numa escola qualquer uma menina tá ouvindo K-pop, assistindo anime, jogando GTA e na mesma turma tem um moleque de Mizuno, com Nike falso, que curte o Manchester City e descobriu um país novo porque o jogador que ele curte é de lá. Ou o menino curte k-pop e a menina tá de Mizuno.
Eu sou tudo isso na minha arte e eu gosto disso porque eu sei que ninguém vai fazer o que eu faço. Eu não quero ser o novo ninguém do Brasil, não quero ser o Kanye West de Jandira, Jandira já é muito linda e maior que o Kanye e ele mesmo deve saber disso.
A arte que eu faço é a minha trajetória, o meu amor e isso vai mudando e agregando cada vez mais coisas. Às vezes a gente ama e não sabe porquê. Hoje eu vivo criando sobre o que eu amo e se um dia eu entender, é ótimo, mas eu acho que parte da beleza de viver é que várias coisas não tem sentido. Eu quero ver no que isso ainda pode dar.”
This post was published on 18 de setembro de 2019 10:58 am
Da última vez que pude assistir Lila Ramani (guitarra e vocal), Bri Aronow (sintetizadores, teclados…
The Vaccines é daquelas bandas que dispensa qualquer tipo de apresentação. Mas também daquelas que…
Demorou, é bem verdade mas finalmente o Joyce Manor vem ao Brasil pela primeira vez.…
Programado para o fim de semana dos dia 9 e 10 de novembro, o Balaclava…
Supervão evoca a geração nostalgia para uma pistinha indie 30+ Às vezes a gente esquece…
A artista carioca repaginou "John Riley", canção de amor do século XVII Após lançar seu…
This website uses cookies.