[Premiere] Nervos à flor da pele e o caos político atual dão o tom do novo álbum do Porno Massacre
Com uma série de mudanças na formação e dois anos intensos desbravando, de norte a sul, o underground paulistano, o Porno Massacre foi se transformando aos poucos. As trocas entre bandas, a intensidade dos shows, admiração, mudanças de formação e tensão no ar acabaram gerando uma nova proposta sonora.
Conhecidos pelo seu visual extravagante, apresentações com inspirações de Ney Matogrosso, Kiss, Ariel Pink, Alice Cooper, Turbonegro a GG ALLIN, ainda é um show que marca a quem os assiste. Mas nem tudo foram flores – nem perfume como diz “Isso Para Mim É Perfume”, faixa originalmente composta pelos Titãs e regravada pela banda no tributo O Pulso Ainda Pulsa (2016).
A tensão política, uma série de conflitos internos e os membros iniciando projetos paralelos acabaram resultando no clima explosivo do segundo álbum do grupo paulistano.
A atual formação do Porno Massacre conta com Roger Martin (General Sade), nos vocais, Diego Souza (El Diablo Loco), na guitarra base, Bruno Gozzi (Aiatolah), na guitarra solo e teclados, Marcelo Mourão (Little Lúcifer), no baixo e Mauro Terra (Black Nail), na bateria.
Como dito no meio desse período Roger, através de seu alter ego General Sade, iniciou sua carreira solo, onde pôde levar suas composições que não encaixavam muito no formato da banda adiante. Já o baterista, Mauro, também se aventurou em uma nova odisséia ao lado dos shoegazers da Early Morning Sky. O grupo também contou com a entrada de novos integrantes, Diego que também toca na Atos de Vingançae Marcelo Mourão.
“Teve duas mudanças significativas também para a parte sonora que foi a saída do Paulo e a entrada do Marcelo. O Paulo era um cara mais técnico mas eu acho que o Marcelo dá mais de peso. O Marcelo já veio do rock, já teve banda de new metal, o Paulo já tinha tido banda de reggae, já tocou em DVD de funk, ele tinha influências mais gerais e talvez não desse tanto a força do peso e mais a técnica. Com o Marcelo a gente ficou mais pesado.”, relembra General Sade
“Já o Diego veio do grind/thrash metal. Ele veio para dar um peso do caramba, dá palhetada firme. Ele entrou para a turnê do álbum e sim para os shows. Quem for no show de lançamento vai notar.”, continua o General
Depois da entrada de Diego, em agosto, eles viajaram para o Chile para a primeira turnê internacional do Porno Massacre. Por lá tinham a princípio marcado 9 shows mas devido a alguns problemas acabaram tocando em 5 cidades (Valparaíso, Santiago, Chillán, Concepcion e Los Angeles). Tendo por lá lançado a versão chilena do disco que inclusive tem uma capa especial alinhada com o caos político que temos vivido nestes 21 dias de desgoverno.
“Tivemos uma capa não lançada aqui, que inclusive é a culpada de alguns atrasos do lançamento. Na capa, estamos ao redor de um botão escrito Caos e o Roger está vestido de General apertando esse botão. Fizemos essa arte e nos mandamos para o Chile.
Na volta, com a cabeça fria começamos a sacar que talvez não fizesse sentido um disco sendo lançado com um general na capa literalmente apertando o botão do “Foda-se” pelo momento político que vivemos. Quem conhece a banda sabe bem do nosso ponto de vista contrário a tudo que anda acontecendo no meio político especialmente acerca da intolerância que tomou conta do país.”, relembra Aiatolah
Porno Massacre – Que Venha O Caos (21/01/2019)
O álbum foi gravado entre 15 e 16 de julho de 2018 no estúdio Family Mob. Hugo Silva foi o engenheiro de som e teve o auxílio de Otávio Rossato. A produção é assinada pela própria banda e a mixagem e masterização foram realizadas por Marcus Azevedo (Kinema Music Studio).
“As composições desse novo disco foram surgindo já no final do outro. A diferença é que a gente conseguiu fechar melhor aquele monte de influências. Porque eu acho que o outro tinha sim muitas influências mas parecia que estávamos atirando para tudo que é lado. Esse não, apesar de ter muitas influências, as músicas conseguem dialogar melhor. Gostamos mais da gravação também depois do aprendizado com o registro anterior.
Até eu comecei a cantar melhor (risos). No outro acho que era mais uma expressão de revolva sem nenhuma preocupação com cantar. Acho que está um pouco mais melódica a parte da voz, eu dei uma diminuída no tanto que eu tentava ficar gritando, porque as vezes o grito é muito intenso e continuo e assim não dá.
É um disco mais coeso e muito mais bem acabado. Nesse álbum compusemos juntos, no outro tinham músicas de bandas anteriores nossas, ou muito pessoais.”, conta General Sade sobre sua evolução
Mudanças nas apresentações para quem for conferir o show de lançamento no estúdio Porto Produções Musicais, no sábado (26), serão sentidas.
“Continua sendo performática e teatral (as apresentações ao vivo) mas a gente mudou pois tem todo um retrocesso, um pedido de volta do militarismo. Isso aí bateu muito na gente, pois hoje em dia como o pessoal não está acostumado em ler, nas entrelinhas e entender as coisas direito, pode ficar muito chato. E de repente a gente tem um show lotado de coxinha e ia ser uma merda.
Então eu principalmente que usava uma roupa militar, mesmo de brincadeira, não da para usar sutileza nos dias de hoje, então eu saquei fora. Fui buscando outro visual, tá uma coisa meio vampiresca, meio mago, o nome eu não troco mas eu queria tirar um pouco da simbologia pois vai parecer para pessoas de cabeça fraca que estamos fazendo apologia.
Virou algo mais horror glam mas com a temática do horror. Para tirar um pouco do horror atual, até por isso optamos por mudar a capa do disco e não ser igual a que saiu no Chile”, lamenta e enfatiza o General
Sobre as temáticas do disco General Sade nos conta: “Escrevemos muitas músicas que estão no disco que são anteriores a essa fase tenebrosa que estamos vivendo politicamente, mas as coisas meio que se encaixam. A gente fala um pouco sobre o consumismo, sobre não deixar de ser quem você é e um pouco sobre a história da liberdade.
A música que acho mais política do álbum é justamente a última, ela dialoga com o momento atual e faz um paralelo com a revolução francesa. E um texto específico, de um pensador francês, que diz que o povo tenta os privilégios da desordem para depois eleger alguém pior que o cara que estava lá anteriormente.”
Feito um filme de terror de Dario Argento, o álbum se inicia com uma introdução que parece a trilha sonora da entrada em um castelo mal assombrado. Recurso esse que bandas como Misfits e Blitzkid utilizam, e até por isso nos remetendo a estética teatral do “horror punk” – ou até mesmo de “Thriller”, clássico clipe do Michael Jackson.
Com uma série de metáforas e sagacidade, eles através de uma fábula, falam sobre a decadência e nossas inúmeras mortes (mesmo que estas sejam meramente poéticas).
Já a faixa título “Que Venha o Caos” traz um peso de bandas como Anthrax e Discharge para o centro do picadeiro. Apocalíptica, ela mostra o caos que estamos vivendo tanto politicamente como socialmente – e como devemos proteger nossa liberdade.
O consumismo e suas (graves) consequências são exaltados em “O Que Me Consome”. Em tempos onde somos “manipulados” por algoritmos – e uma porrada de mensagens publicitárias – muitas vezes acabamos sendo estimulados a consumir sem pensar.
Mas a felicidade mora em um estilo de vida pré-fabricado? Esse é o questionamento da canção que vai beber do blues e rockabilly dos anos 50.
Em “Mr. Hyde” já notamos como as guitarras nesta nova fase estão mais pesadas – assim como a unidade entre as faixas. As bebedeiras são o combustível para a música que fala sobre o custo, e as brutas consequências, de “sair fora de si”. Se alienar para fugir dos problemas do dia-a-dia. Nada como um pouco de ultraviolence, não é mesmo?
“Nau dos Insensatos” traz o lado motorhediano para o centro da canção. Feito um pirata à bordo de um navio naufragando, ela nos mostra como seguir na contramão muitas vezes não é apenas uma opção – e sim questão de sobrevivência.
“É o Que Me Resta” tem uma levada ainda mais canalhona, de perder a cabeça e chutar tudo para o alto. Com influências de blues/country á lá Supersuckers + Motorhead: o lado mais bagaceiro é exaltado.
A desilusão com o mercado de trabalho, os amigos e os amores levando nosso personagem a cogitar coisas como fugir para as Bahamas, roubar um banco, “comer puta na cama” e “encher o bucho”.
Assim como a anterior, “Cátia Carioca”, também está presente no 7 polegadas (É o que Me Resta / 2017). A faixa tem uma levada que podemos ver em discos como City Baby Attacked By Rats do GBH mesclado a uma linha de baixo frenética á la Matt Freeman do Rancid e uma gaita pub rock para bagunçar tudo.
A letra fala sobre a tal da Cátia Carioca, aparentemente o nome de “guerra” de uma garota de programa que trabalha em um famoso prostíbulo da cidade de São Paulo. Ela que tem que lidar com um personagem boêmio que não tem nada a perder noite adentro. O que se passa a seguir, bom, a letra é meio que auto explicativa.
Como é uma banda com a proposta totalmente teatral, a tiração de onda claramente é com grandes empresários que após o expediente descontam tudo em noitadas em famosos inferninhos, casinos e bingos clandestinos.
Estas regadas a álcool, “festinhas” e drogas ilícitas. Uma vida vazia e auto-destrutiva. Consigo até imaginar um clipe folclórico com um senhor de meia idade bem trajado com seu charuto fazendo a festa e perdendo a cabeça.
“Isso Para Mim É Perfume” originalmente composta pelos Titãs também entrou no álbum. Esta que comparada a versão que entrou no O Pulso Ainda Pulsa teve um ganho significativo em sua remasterização. Ficando mais densa, limpando algumas guitarras e dando uma nova roupagem a versão. O vocal de Roger ganha terreno e contribui para o resultado final.
O lado folk/blues foi exaltado e o punk perdeu o protagonismo. Fico até imaginando a nova versão sendo tocada em um encore com o auxílio de um carron, uma gaita, um violão acústico, chocalhos, estalos e um sing-a-long acapella.
Como adiantado no bate-papo com o General Sade a última canção, “Le Roy Es Mort”, é a mais politizada do registro. Pregando a liberdade, em um sistema corruptível e falido democraticamente, ela incentiva para que não fiquemos parados em meio a desordem.
A revolução francesa sendo a luz para mirar por um futuro menos obscuro. Sua forma de combate até lembra um pouco o espírito de luta armada de guerrilheiros como o ETA. A frase que mais marca na canção é “Escolha a sua revolta e volta a paz”. Desta forma sanguinária, e em tom de protesto, o disco se encerra.
Em seu segundo álbum, Que Venha o Caos, o Porno Massacre assume uma atitude – e sonoridade – mais voltada para o hardcore punk com elementos de outros estilos como o glam rock e o thrash metal. Deixando de lado o proto punk e o hard rock de seus primeiros dias. Sua identidade sonora fica mais consolidada e isso permite uma maior unidade entre as faixas. Das 9 faixas três estão presentes no EP, É o Que Me Resta (2017).
As seis inéditas mostram um pouco sobre o momento atual da banda que a série de mudanças na formação consolidou. Se pensarmos que suas origens vieram do cover de Sex Pistols, passando por um álbum de estréia que carregava um pouco da vivência de cada um anteriormente, agora eles parecem estar achando “sua cara”. Que Venha o Caos é uma soma de vivências do underground paulistano somada a experiências pessoais e uma dose de descontentamento com os “cacifes” de Brasília – e seu desgoverno.
Show de Lançamento
O show de lançamento acontece no sábado, 26/01, no estúdio Porto Produções Musicais com show de abertura da banda Alcoóliques e discotecagem de Claudio Cox (Giallos).
Eles ainda alertam para uma série de surpresas:
– “Venha com a Camiseta do Porno e ganho um Blood Mary do Inferno (servido pelo seu imediato Matheus Krempel)
– Quem confirmar no Facebook e comparecer no evento concorre no sorteio de uma peita do Porno.
– Primeira aparição da Massacre bier, produzida e engarrafada pelo prórprio homem da unha preta, Mauro Terra, o Black Nail com o que há de mais indecente no mundo da fermentação.
– Banquinha com materiais de bandas independentes (ou não) do pessoal do D’Outro Lado
– Seleção de Filmes B da pior qualidade (de bollywood pra baixo) durante todo o evento!
– Nosso querido Roger Marinho Martin (General Sade) com pouca um quase nenhuma roupa distribuindo ódio e amor livre pra quem quiser, precisar ou merecer!”
Mais Informações:
Evento no Facebook
Onde: Porto Produções Musicais – Rua Cardeal Arcoverde, 854 – Pinheiros (São Paulo / SP)
Horário: Das 18h às 23h
Entrada: R$5