Tuyo quebra o coração em mil pedaços em “Pra Curar”

 Tuyo quebra o coração em mil pedaços em “Pra Curar”

O som da Tuyo, de Curitiba (PR), entrou no meu radar de forma um tanto quanto orgânica. Não foi através de uma postagem em algum veículo, ou pelas viagens no youtube, mas sim por testemunhos de diversos amigos.

Entre músicos, produtores e jornalistas o comentário era simples: “Você precisa ouvir”, “Fique ligado”, “já ouviu o EP?”, “O que você acha desse som?”. Sem ler releases ou me contaminar decidi apertar o play no EP Pra Doer (2017).

Minha reação foi de “porque não ouvi isso antes?”, seguido de “isso é pop, deveria chegar a mais pessoas”. Depois de escutar mais algumas vezes notei que as letras tinham muito a dizer. Com metáforas certeiras e uma sensibilidade que dialoga com as pequenas dores do dia-a-dia.

Aquelas quatro canções criaram uma série de expectativas e a torcida era justamente para que fossem ainda mais além num próximo lançamento. Nesse meio tempo acabei sendo selecionado para ser um dos curadores do edital da Natura Musical e me deparei mais uma vez com o projeto do trio paranaense.

As reações dos outros curadores não foram muito diferentes e aquela empolgação acabou sendo compartilhada de uma forma que acabaram sendo escolhidos sem muita dificuldade. Mérito de todo um trabalho coletivo e uma ótima produção logo em seu primeiro registro.


Tuyo 2_Crédito_ Duda DalzotoHAI Studio
O trio Tuyo. – Foto Por: Duda Dalzoto / Hai Studio

Sensível, tocante e potente. Seriam três adjetivos que andam de mãos dadas na trajetória do conjunto que sabe usar dos artifícios eletrônicos em suas texturas, traz vocais melódicos e tem a capacidade de estabelecer diálogos empáticos.

É interessante observar justamente como o talento individual de cada um chega para somar em suas camadas. É pop, é folk, é moderno, fala sobre o cotidiano, navega pelos beats do hypado lo fi hip hop que se fundem ao synthpop. Tendências do estrangeiro que na leitura da Tuyo ganham ares, ritmos e dilemas brasileiros. Tudo é conectado.

Nos últimos dias coloquei o novo disco para tocar no carro enquanto conversava com alguns amigos que ainda não conheciam o trabalho do trio. Eu tinha alguns pensamentos do que poderiam achar sobre a faixa “Vidaloca” mas optei por não falar nada e apenas ouví-los.

A percepção deles foi diferente mas igualmente interessante. Um dos amigos ouviu a letra e disse: “eles me conhecem? porque estão falando a história da minha vida”, o outro que tem interesse por música eletrônica logo já perguntou: “Quem produziu isso? Está muito bem feito, essas quebras e sensações, perfeito”.

O primeiro EP, Pra Doer, como disse anteriormente deixou uma ânsia por querer mais e a própria banda reconhece isso. A resposta e a continuidade do trabalho ganhou asas em Pra Curar lançado no dia 9/11.

“O EP nasceu com uma promessa de continuidade. Sinto que estamos completando esse movimento, aterrando e fechando um ciclo para ter a chance de abrir outro. Acredito muito no poder de abstração da obra de arte, na metáfora, no mantra que as canções do ‘Pra Curar’ têm. É um disco de proteção, sobre autoconhecimento e consciência, do nosso jeito mais honesto de fazer música. É bonito ver o sentimento das pessoas nos shows acessando a si próprias, e essa intenção de olhar para si permanece”, conta Lio.

Tuyo – Pra Curar (09/11/2018)

Além de Lio o trio conta com Machado e Lay Soares. O álbum de estreia dos curitibanos, Pra Curar, teve produção musical assinada por Gianlucca Azevedo (Jan) e Pedro Soares (Jack). Já os ritmos explorados passam por estilos como folk e vão desde o lo-fi hip hop até o synthpop. Guitarras, timbres e outros elementos foram incorporados ao caldeirão.

“Exploramos lugares diferentes, tem uma pesquisa de timbres, sensações e ambientes que queremos mostrar. O disco marca um momento, mas é uma ‘roupa’ e não algo determinante”, comenta Machado.

“Consigo enxergar nós três separados e, ao mesmo tempo, a triunidade que perpassa a gente. Estamos falando sobre coisas semelhantes, de perspectivas distintas. É um trabalho poderoso, que tem certa agressividade e atravessa, mas com muita ternura”, analisa Lay.



O álbum que conta com dez canções se inicia com “Terminal” que chega de mansinho com beats firmes, texturas de lo fi hip hop e já chamando o ouvinte para perto. Superação e cicatrizes são expostas na faixa que abre o coração para falar sobre finais, vestígios e sombras. A confusão ganha contornos com as batidas que criam um anticlímax perfeito para a dor ser compartilhada.

O processo de exorcismo apenas começou e nos deparamos com a sensível “Me Leva”. Doce, livre e leve, ela nos pega pelas mãos em direção ao plano dos sonhos. Meu lado otimista diz que ela “me leva” em direção a dias melhores, de purificação e redenção.

Daí que surge no horizonte, e cortando o coração em pedaços, a potente e hit perdido do disco, “Vidaloca”. Ouvi uma dezenas de vezes e em poucas delas não escorreram lágrimas. É certeira, vibrante e um tapa na cara.

Daquelas certezas e mentiras que contamos para nós mesmos. “Estamos prontos”, “Vamos matar um leão a cada dia”, “Somos maduros, adultos e auto-suficientes”, “É só ir lá e fazer que vai dar tudo certo”.

Entre prazos, pressões sociais, e sonhos dos outros, nos vemos perdidos e querendo apenas voltar para o útero de nossas mães. Mas podemos fugir dos nossos problemas? São estes sentimentos que a certeira canção me fez refletir e assumir possíveis “falhas”.

Mas que ao mesmo tempo me deu forças para não me sentir “um erro no sistema”. Aquela sensação de estarmos no mesmo barco e que é normal não ser tudo aquilo que sonhamos no tempo que achamos que “tem que ser”.

As vezes por esses dilemas “insolúveis” deixamos de comemorar as pequenas conquistas, celebrar amizades e nos deixamos abalar. Me fez também questionar a noção de sociedade que estamos vivendo, essa fadada a resultados, troféus, individualismo e falta de humanidade.

Emociona e faz chorar cada um que tenha noção de empatia e que já tenha passado por situações difíceis. Não diminuindo o que para você é algo difícil e o que para o outro é o pesadelo. Com muito respeito a canção deixa sangrar e chega para “salvar”.

A noção de empatia, e estender o braço para ajudar, chega junto em “Cuidado”. Deixando os beats (um pouco) de lado, a faixa é mais folk e explora bem os vocais femininos. Ela serve como um abraço forte, um olhar sincero e alimenta um pouco uma alma já desgastada.

De maneira densa e cheia de vozes que funcionam também como instrumentos temos “Eu Sou Dragão”. A vontade de superar, o isolamento, a defesa e a guarda baixa são marcas da dramática canção que arde feito o fogo de um dragão. O ciclo sem fim e os pensamentos negativos acabam resultando em um exorcismo onde os demônios – e dragões – moram dentro de nossas mentes.

Chegamos a metade do disco com a calma “Brincadeira Mais Engraçada do Universo”. Esta que reflete sobre o tempo, problemas e mudanças. É sobre o aprendizado em saber se adaptar aos obstáculos que a vida nos impõe. Uma canção que clama para que você feche os olhos e é ideal para ouvir enquanto admira uma noite estrelada.

Quem também tem poder de imersão, e nos leva para um universo paralelo, é a imersiva “Eu Não Te Conheço”. Instrumentalmente é uma das mais interessantes do disco por conta de sua pulsação e riqueza em sua construção. Fico até imaginando um remix pronto para as pistas de dança.

Potente, e amolecendo o coração mais uma vez, “:'(” fala de maneira singela sobre as belezas, suas formas e como (não) enxergá-las. Emociona tanto por suas melodias como pela simplicidade de sua poesia que pode ser encarada de diversas formas dependendo da frequência em que estiver.

Já rumando para o fim do álbum temos “Aquela Sacada” que parece cantar no pé do seu ouvido. A canção de certa forma faz as pazes com si mesmo para se preparar para uma nova jornada. Longe do sofrimento, ela é otimista e parece iniciar a caminhada com destino a dias melhores.

Mas quem encerra o disco é justamente “Sem Querer” que nos shows pode ser a hora perfeita para acender o isqueiro. Outra que facilmente faz chorar quem já teve que lidar com desilusões. Com nostalgia reverberando em seus versos e exorcizando passagens do passado, como o nome do disco já nos adianta, é para curar – e deixar para trás – dias amargos. Com lágrimas salgadas sobre o rosto, o full lenght se encerra.


Pra Curar capa_Crédito Luciano MeirellesHAI Studio


Em seu primeiro álbum a Tuyo, de Curitiba (PR), nos emociona através de sua sinceridade, beats energéticos, produção de alto nível e sentimentalismo à flor da pele. Se consolida como uma das grandes apostas do novo cenário de música independente e mostra um pouco do futuro da música pop nacional. Com temas contemporâneos, e urgentes, melodias refinadas, e metáforas cirúrgicas colocamos tranquilamente Pra Curar como um dos candidatos a estampar as principais listas de fim de ano.

No Ar Coquetel Molotov

A Tuyo é uma das atrações confirmadas da primeira edição do No Ar Coquetel Molotov que acontece em São Paulo no dia 30/11 – e está confirmada no palco Monkeybuzz.

Com line up diverso o festival também contará com nomes como Boogarins, um show especial de Karina Buhr, Alessandra Leão e IsaarBaco (Exu do Blues), Maria Beraldo, Edgar e o Coletividade NÁMÍBIÀ.

Além dos shows, o festival vai contar também com a Feira Polvo, conhecida por reunir produtores independentes de diferentes segmentos. Essa parceria, inclusive, vai de encontro à iniciativa da etapa que rola no Recife, que há mais de 10 anos também tem uma feira super especial com expositores pernambucanos.

O evento tem o apoio do Proac/ICMS, patrocínio da Ballantines e a Budweiser como cerveja oficial.

SERVIÇO
No Ar Coquetel Molotov em São Paulo
Local: Rua Guaicurus, 324 – Água Branca
Data:Sexta-feira, 30 de novembro
Horário: A partir das 17h
Ingressos LIMITADOS:1º Lote Promocional: R$25,00 (Meia), R$ 50,00 (inteira) e R$25,00 (social – levar 1 kg de alimento não-perecível)
Link para compra online aqui
Forma de pagamento no local: Dinheiro e cartão
Permitido para maiores de 18 anos
Site Oficial
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