[Premiere] Water and Man alia introspecção a sintetizadores em “Phantasie”
Em 2014 a banda carioca Water and Man lançava o disco Into the Infinite seu primeiro álbum que já ajudou a abrir portas dentro do cenário local de rock alternativo. No ano passado a jornada deles ganhou um novo capítulo quando se mudaram para a cosmopolita Nova Iorque (EUA).
Reconfigurada a banda atualmente conta com Vic Delnur (Vocalista, Multi-instrumentalista), Lip dos Santos (teclados), Eric Maciel (guitarra, teclados), Flavio Ferraz (baixo, sintetizador) e Milton Arantes (bateria).
O inverno rigoroso estado-unidense também influenciou na introspecção das gravações realizadas em um porão. O trabalho foi produzido por Vic, mixado por Daniel Schlett (Modest Mouse, The War on Drugs) no Strange Weather e Victor Chicri no VCA Music, e masterizado por Oscar Zambrano (Zampol Productions) .
“Senti que o Water and Man merecia um novo disco. Me isolei por 2 meses no estúdio. Todos os dias, quando saía, já estava escuro. Produzi e gravei todas as faixas praticamente sozinho, tive o prazer de ter meu pai participando do álbum colocando teclados e pianos e mixando 3 faixas.
Também tive a colaboração do Eric e do Lip compondo comigo as faixas de Phantasie. Eu sempre tive interesse em aprender a tocar vários instrumentos, e aqui é o paraíso! Quando fui colocar os teclados no disco, rolou de pegar para o estúdio um Juno 106 e ali mergulhei naquele universo de timbres”, revela Vic.
A inspiração de Phantasie inclusive vieram do preset de mesmo nome do sintetizador Roland D-50 que Vic tanto utilizou durante esta nova fase da banda que carrega lisergia e synts.
“Acho legal encontrar um nome que fala desse novo momento, em que o imaginário e o real se comunicam. Phantasie é projetar uma realidade que habita em cada um de nós, algo que existe mas não podemos tocar. Com isso em mente, minha esposa, Isabela Gottardo, fez a arte da capa do álbum que apresenta dois quadrados: um que representa nossa realidade, o outro nossas fantasias e sonhos”, explica Vic.
Water and Man – Phantasie (24/08/2018)
O álbum se inicia com o single “When It Comes to Life” que já viaja pelas ondas reverberantes do dream pop que por sua vez deixam a canção pulsante e pronta para as pistas de dança. Os vocais melódicos tem muito da dance music dos anos 70 também e carregam por si só muito feeling.
“Give It Time” já começa imersa pelos sintetizadores e criando uma camada mais serena em sua introdução. Não é a toa que a música fala justamente sobre nossa relação com o tempo. Ver a tempestade cair e ter a certeza que a maré ruim irá passar. Essa aqui vai acertar em cheio a fãs de Arcade Fire, Interpol e Of Montreal.
Já “Dreams Of Love” é colorida, alegre, solar e consegue trazer uma paz em seus flutuantes acordes que nos dão a sensação de estar fazendo uma viagem no tempo e espaço.
“Nias” me lembrou particularmente as viagens intergaláticas que o Daft Punk tenta colocar em suas narrativas, seu swing nas linhas de baixo conduzem bem a canção que justamente por não ter letra nos permite ir para outras galáxias (ou pistas de dança).
“Phantasie”, a faixa título, é uma das mais modernas e nebulosas do disco. Gosto dos efeitos da mixagem em especial desse som que fazem uma ponte interessante entre a psicodelia e a música eletrônica.
É pop ao mesmo tempo que é estranho. E talvez por isso que gere toda essa tônica que me lembra algo que o MGMT faria tranquilamente. Ainda tem espaço para experimentação e riffs de guitarra dignos do post-rock.
Uma das que mais trabalham a batida e as linhas dos sintetizadores é justamente “Backwash” que tem toda uma ginga diferente para falar sobre conflitos, recomeços e persistência. É uma balada para afogar as mágoas.
Já “The Wanderer” particularmente me lembrou algo que Ben Gibbard (Death Cab For Cutie / The Postal Service) comporia pela linguagem, resgate do piano e sua narrativa. É sensível, cheia de elementos e camadas que deixam ela ainda mais confessional.
Quem segundo o vocalista quase ficou de fora do álbum foi “Tangerine”, esta que segundo ele mesmo fala sobre o processo de lidar com o transtorno de ansiedade. Até por isso ela soa tão densa e cheia de verdade. Destaque para os riffs de guitarra de seu último minuto que nos passam justamente a sensação de conflito e desconforto intenso.
O segundo álbum da Water and Man, Phantasie, faz uma ponte entre o mundo real e o imaginário. Até por isso sabe mesclar o Dream Pop / Psicodelia / Synthpop e música eletrônica em sua estrutura que muitas vezes mostra o lado mais frágil do ser humano e a dificuldade em lidar e superar os problemas do dia-a-dia. Um disco sensorial, vibrante, conflitivo sem deixar de ser dançante.
Com uma produção impecável o registro ainda teve a mixagem de Daniel Schlett, que já trabalhou em premiados discos ao lado do Modest Mouse e The War on Drugs; e Victor Chicri.