[Premiere] Drápula lança clipe mesclando a estética dos anos 80 ao vaporwave
As vezes brinco que o mundo da música é pequeno e todo mundo acaba mais dia, menos dia acaba “se trombando”. E isso vale para as recomendações também, afinal de contas o radar sempre está aberto para conhecer o novo.
Lembro muito bem quando fiz a playlist de neo-psicodelia brasileira quando Henrique Badke (Carbona, Morcego Records) recomendou a inclusão da banda carioca Drápula. Ainda não conhecia o som da banda, ouvi “Yamanduh” e me interessei pelo seu ar psicodélico e empoeirado.
A banda surgiu da maneira mais espontânea possível, PINX e um amigo baterista estavam na fila pra entrar na Casa da Matriz e sugeriu de formar uma banda. Assim nascia a Drápula, apenas guitarra e bateria. Simples e sem mais delongas.
Eles mesmo dizem se identificar com a geração Y, popularmente chamados de millennials, esta que em suma mistura muito da vida online e offline. Enxergam o mundo por uma perspectiva um pouco mais leve e aproveitam o momento de maneiras bastantes diferentes. Até por isso são vistos por outras gerações como “acomodados”, fechados no mundo tecnológico e muitas vezes mal interpretados como “preguiçosos”.
De fato essa informação é relevante dentro do conceito da banda pelo fato de que é com este público que eles geram identificação. Muitos pensam que é errado ter um público alvo e fazer seu som direcionado para uma base de fãs mas quanto mais eles te conhecem e se identificam mais eles se fidelizam. Já diria o professor Philip Kotler.
A banda de Niterói conta em sua formação com Pinx, Buggy, Donuts e Tang. Buggy atualmente mora em Boston (EUA) e por essa razão ele realiza suas gravações a distância e toca com a banda quando vem ao país.
Uma curiosidade muito divertida vem por parte da origem do nome da banda que vem da brincadeira de falar Conde Drácula errado. Só que mais tarde eles afirmam ter descoberto que é uma palavra em romeno, que significa “vampiro que transa muito”. Se é verídica a informação ou não com toda a certeza fez com que eu desse boas e sinceras gargalhadas.
Em seu som eles abraçam diversas influências, do pop passando pela psicodelia, MPB, anos 80, rock alternativo e até mesmo das “ondas das AMS/FMS dos elevadô”. Com a internet, claro, tudo ficou mais fácil e a transição de estilos vai fazendo com que acumulemos sim uma bagagem musical que não teríamos a oportunidade de acumular em uma só vida.
Eles estão no meio de um processo, afinal de contas traçaram a meta de lançar uma trilogia de EPS, tendo já lançado o Vol. I e o Vol. II. A faixa que faremos a Premiere do videoclipe vem justamente do segundo registro.
Drápula “Máquina Mistério” (17/05/2018)
A canção é a terceira faixa do Vol. II e conta com uma letra muito bem humorada, diga-se de passagem. Esse ar lo-fi dos anos 80 e seu tom despojado em criar clímax e anticlímax, fazem a letra flertar com a efemeridade da tecnologia do hoje – citando até o WhatsApp – em contraste com o resgate de influências radiofônicas. Se a veia do futurismo estava em alta nos anos 80, agora em 2018 eles ironizam isso através de um ar debochado.
É claro que isso ia se refletir no videoclipe para a canção que abusa do tom literal para criar as situações descritas na letra. Isso acontece através de dancinhas, tomadas irônicas, paleta de cores e estética oitentista no figurino que nos leva direto para os videoclipes que hoje em dia são exibidos no VH1.
Clipes mais modernos como do OK Go, Vampire Weekend, Ariel Pink dialogam bastante com a temática “deboísta” do vídeo. A cultura do Vaporwave difundida tanto pelo tumblr também da o ar da graça no registro.
O vídeo foi dirigido por Luiza Catalani e Clarissa Ferreira mas contou também com uma equipe formada por mais de 10 estudantes de cinema.
Entrevista
[Hits Perdidos] Primeiro gostaria que contassem sobre os primeiros dias da banda, de onde veio o nome Drápula e sobre isso que levantam dos millennials darem importância e valorizarem coisas diferentes que as gerações anteriores. Sob a concepção de vocês, quais as grandes diferenças na hora de enxergar o mundo e até mesmo de se expressar?
PINX: “Eu e um amigo baterista estávamos na fila pra entrar na Casa da Matriz e sugeri que formássemos uma banda. Assim surgiu Drápula, apenas guitarra e bateria.
O nome veio depois, falando Conde Drácula errado. Só mais tarde descobrimos que é uma palavra em romeno, que significa “vampiro que transa muito”.
Entre idas e vindas, assentamos em quatro integrantes: Pinx, Tang, Donuts e Buggy. Buggy inclusive é um membro à distância, porque estuda na Berklee em Boston, grava de lá e toca com a gente quando está por aqui.
Quanto à questão millennial, eu creio que toda geração tem suas características específicas influenciadas pelo contexto da época, mas os jovens enfrentam geralmente alguns problemas e situações parecidas.
A gente se identifica como uma juventude que se expressa com sarcasmo e não se leva muito a sério, mas se posiciona, aproveitando a conectividade disponível hoje para prestar atenção de uma forma diferente nas relações, na vida e nos problemas. Vendo importância em aspectos irrelevantes para outros.”
[Hits Perdidos] Vocês citam como influências como Ariel Pink, Lulu Santos, The Growlers, Jorge Ben, Mac Demarco, Mutantes e movimentos como o Clube da Esquina, Jovem Guarda e o Tropicalismo. Coisas tão modernas e outras tão antigas que muitas vezes descobrimos por vinis de avós, pais e tios. Qual foi o primeiro contato com a música de vocês e onde procuram buscar por novos sons?
BUGGY: “Esses são apenas alguns nomes que representam o nosso espaço de influências. Curtimos atentar aos detalhes e copiar os que a gente mais gosta nas bandas que a gente percebe como influenciadoras.
Cada um da banda tem a sua vibe, mas todos escutam de tudo sem se fechar muito em gêneros. Eu e Pinx colecionamos vinis. Outro exemplo, o último disco do Kanye West Life of Pablo é um que adoramos e não tem muita semelhança direta com o som do Drápula. Existem muitos níveis de referências a elementos da cultura pop (bandas, filmes, memes) no nosso som, da letra até o arranjo.”
PINX: “Ouvir o disco Help dos Beatles é uma das minhas primeiras memórias de construção de gosto musical. Acho que falo por todos da banda, quando digo que tivemos criações com bastante música ao redor.
Blogs e canais de música, como o próprio Hits Perdidos são ótimos pra descobrir coisas novas. Tem umas rádios gringas como a KEXP e a Triple J que têm uma curadoria ótima de novos artistas. Ouço também muito as rádios Antena 1 e Alpha FM.”
[Hits Perdidos] Vocês estão no meio de um processo de lançar uma série de três EPs, inclusive já lançaram dois. Como ele tem funcionado? Foi tudo planejado ou na hora de gravar aconteceram mudanças? E o feedback tem sido bom? Como costumam planejar a estratégia para os lançamentos?
DONUTS: “Acho que a primeira intenção era alcançar pessoas fora do nosso circulo de amizades, então os discos foram bem sucedidos dentro da nossa expectativa. Eu entrei na banda logo depois do Vol. 1, mas a ideia sempre foi lançar as músicas para a galera conhecer Drápula e a banda existir no imaginário das pessoas.
A recepção foi ótima e as pessoas começaram até a usar a frase de que algo “é muito Drápula”, para identificar coisas aleatórias que tinham algum grau de semelhança com a banda.”
PINX: “Os três discos estavam planejados praticamente desde o início. Mas conforme fomos experimentando lançar as músicas fomos adaptando o plano inicial, que ainda contaria com um curta-metragem para cada EP funcionando como um videoclipe conjunto para as músicas do disco, ideia que não foi pra frente.”
[Hits Perdidos] Vamos falar sobre o videoclipe para “Máquina de Mistério”. Como foi o processo de criação do roteiro, filmagem e produção?
TANG: “Essa música é do Vol. 2. Foi produzido junto a uma equipe de mais de 10 pessoas, todos os membros estudantes de cinema muito competentes em gravações que se estenderam por algumas diárias e diversas locações.
Foi um processo muito divertido trabalhar com todo o suporte de uma equipe desse tamanho. Roteiro, filmagem, produção, ficaram todos na mão deles. Nós aprovamos as ideias de primeira e entramos praticamente como atores. Isso acabou sendo natural por causa de todo um trabalho anterior que definiu bem o tom estético da banda.”
[Hits Perdidos] O tom blasè em tirar “onda” com as coisas triviais do dia-a-dia faz parte do diálogo que quiserem fazer o paralelo entre letra e video? Vocês acham que as cobranças que o amadurecer impõe vão contra o ambiente em que os millennial foram criados? E o visual como foi criar a identidade?
PINX: “Sim. A gente tenta no som, na letra e na imagem sintetizar o que é a nossa juventude. E isso aconteceu também no clipe, mesmo com a equipe tomando as rédeas da produção, porque eles entenderam a banda. Afinal, eles fazem parte dessa juventude que a gente tenta dar uma cara e, entendendo o nosso lado, o resultado que eles chegaram ficou bem natural pra gente.
Acho que essa relação de amadurecimento com ambiente depende muito de cada pessoa. Mas de uma forma mais abrangente, a geração millennial cresceu com a vida virtual dentro da internet muito presente. Essa dualidade da vida real/virtual pode ser boa ou ruim, mas certamente existe.
A estética visual se baseia muito nos visuais vintage dos anos 80, mas com um dedo de modernidade. O estilo vaporwave também bebe muito dessa fonte oitentista. É uma releitura, um meio termo entre novidades que apostamos e antiguidades que ainda falam com a gente. No final das contas, foi um processo bem natural incorporar esses elementos.”
4 Comments
sensacional!!!!
incrível~
WONDERFUL Post.thanks for share..more wait .. …
Perfect work you have done, this internet site is really cool with good info .