[Premiere] Gagged critica o cenário de guerra das grandes metrópoles em novo clipe

 [Premiere] Gagged critica o cenário de guerra das grandes metrópoles em novo clipe

Em tempos de conflitos nas ruas, exploração de tragédias, caos político e convulsão social o ano de eleição parece ser apenas mais um ingrediente na panela de pressão. Copa então, salve-se quem puder com o pão e circo.

Isso se reflete nas grandes metrópoles, capitais e até mesmo resvala no interior através de barbáries de todos os tipos. A insegurança e o medo da tragédia bater na sua porta faz com que o povo tenha verdadeiro pavor do que está por vir.

No meio deste cenário incerto, cheio de notícias e escândalos sendo bombardeados na imprensa, o cidadão comum se vê sozinho e sem saber a quem recorrer. O pior é que a solução parece passar bem longe das urnas de Outubro, já que as cartas estão a cada dia mais marcadas com “pré-candidatos” conhecidos por sua ineficácia e escândalos tanto morais como na vida pública.

O cenário do videoclipe do Gagged é uma São Paulo hostil, sem espaço para o diálogo e cheia de conflitos sociais. Impunidade e medo de um futuro ainda mais desgostoso é o que inspira os compositores da canção “Cidade Sem Lugar”.


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Gagged está prestes a lançar seu novo álbum. – Foto: Deivide Leme

Apesar do cenário retratado pela letra ser o de São Paulo, o caos também está presente não só nas principais capitais do país como Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte mas sim em cidades da França – e seu rebuliço – Chicago – e seus casos de injúria racial – e em outros lugares do mundo.

Toda essa energia se dispersa em intolerância como os conflitos causados pelo Brexit no Reino Unido, no colapso social na Venezuela e na ascensão do conservadorismo nas principais cidades do velho continente.

Premiere “Cidade Sem Lugar” (04/03/2018)

Hoje fazemos a PREMIERE do videoclipe para “Cidade sem Lugar”. A faixa é o primeiro registro a ser lançado do próximo disco dos paulistas. Para a missão de gravar o clipes eles convocaram Deivide Leme, da Couraça Filmes, que assina a direção e produção.

O vídeo é simples mas direto ao ponto e nele mostra a banda tocando dentro de uma caixa forrada pro papel jornal, do chão ao teto feito uma caixa de sapato. Durante os takes aparecem manchetes de jornais com as aberrações que estamos expostos todo dia, como a violência, a impunidade e os escândalos. O lado desumano do cotidiano de São Paulo é amplamente criticado.

A produção do vídeo foi um caso a parte, para revestir as paredes com colagens de jornais foi necessário um dia inteiro de trabalho. Este que foi feito da própria banda junto ao diretor.

Sobre o conteúdo das manchetes de jornais eles comentam:

“É uma das consequências das relações permeadas predominantemente pela
lógica do dinheiro. Tudo aquilo que foge da lógica da eficiência, tudo aquilo que
apresenta a imperfeição humana, tudo aquilo que contesta – ou emperra – o
ritmo da ‘máquina’ é rechaçado, rebaixado, marginalizado”, aponta o vocalista
Zeca.

O hardcore vibrante da banda revela um pouco da nova fase do grupo que além do disco deve lançar em breve um livro que conecta o punk rock a uma análise política da realidade contemporânea.



Conversamos com o vocalista Zeca Ruas sobre o momento político e os bastidores do novo clipe do Gagged. Confira!

Entrevista

[Hits Perdidos] O interessante da canção é justamente falar sobre o drama da selva de pedra não só de São Paulo mas também dos grandes centros econômicos do Brasil. Vocês são de São Carlos mas tem vivências na capital, como acham que essa visão de quem vive no interior ajudou a elaborar a composição?

Zeca Ruas: “A vida no interior oferece fragmentos do que se observa nos grandes centros. Temos membros da banda morando em São Carlos, Araraquara e Campinas… e os relatos são similares.

A mercantilização dos espaços urbanos é uma marca do nosso mundo moderno. Na América Latina essa feição assume caráter catastrófico. Vivemos como engrenagens em máquinas disfuncionais… São Paulo beira o absurdo pelas proporções colossais, mas no interior essas dinâmicas também estão presentes.

As angústias e dificuldades nestas condições é tema de boa parte das músicas de nosso próximo disco.”

[Hits Perdidos] Algo muito bem explorado são os recortes de reportagens sobre a insalubridade dos acontecimentos e a desumanização da sociedade em não se importar – ou achar normal – essas situações. Como vocês sentem em relação a toda essa “loucura” e como reagem ao saber de casos como o de Marielle?

Zeca Ruas: “O grande problema da normalização da violência é que ela acompanha uma lógica de exclusão de parte dos indivíduos. Em alguns casos essa exclusão chega inclusive a “autorizar” a eliminação física.

É como se a máquina da cidade estivesse funcionando corretamente… e os desajustes, violências físicas e morais de nosso cotidiano, fossem resultado de indivíduos desajustados.

Visto dessa maneira, a solução dos problemas modernos seria eliminar os indivíduos desajustados. Viveríamos em paz.

Por isso é que, para boa parte das pessoas, os perdedores merecem o sofrimento a que estão submetidos. A luta contra preconceito e a violência diária contra a mulher, o negro, a comunidade LGBT, o pobre… é tratada como “vitimismo” ou busca por privilégios. É a mesma lógica do “bandido bom é bandido morto”: os criminosos merecem morrer pois não seriam “plenamente humanos”. Nesta racionalidade só há espaço para vitoriosos e para o sucesso.

Vivemos admirando as benesses “merecidas” e os luxos do círculo do dinheiro.

Marielle era o símbolo de uma tentativa de humanizar o favelado. De explicitar a incoerência da lógica da exclusão social e física destas comunidades.

Para boa parte da população, as mortes na favela são decorrência de escolhas individuais de seus habitantes. É como se fossem candidatos naturais a obituários, mas sem nome.

Marielle explicitava quão incoerente é nossa vida. Quão míope é nossa abordagem sobre segurança pública. Por isso as reações acaloradas. Uns vão defender o status quo, a cidade como máquina de moer humanos. Outros manifestarão sua raiva… e uma certa dose de medo. Afinal, seu assassinato simboliza a tentativa de intimidação. É a demarcação de território político, dos limites da cidadania questionadora.”


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O momento político será um dos temas do próximo disco do quarteto. – Foto Por: Deivide Lima

[Hits Perdidos] O que acham pior: uma mídia conivente, que explora e suga o assunto até o fundo do poço fazendo estes crimes hediondos parecerem atos normais ou a falta de apuração de informações (que geralmente levam a desinformação)?

Zeca Ruas: “A grande mídia gosta de explorar o lado individual dos crimes. Obviamente a vítima sempre tem vontade de vingança. Esse é o lado em que a grande mídia explora até o fundo.

Como esses veículos tem um poder maior na construção das narrativas… elas sempre acabam com a mesma lógica: a história é contada para favorecer a identificação do público com a vítima e com seus familiares. O senso de justiça que emerge dessa narrativa só pode ser associado à vingança.

Mas essa narrativa omite, em geral, outros determinantes. Não existem contextos sociais. Não são apresentadas quaisquer outras narrativas possíveis. Não se permitem reflexões sobre outros caminhos para lidar com os problemas urbanos, como é o caso da violência.

Nesse sentido não vemos nem como “desinformação” é quase uma “deformação” da realidade, iluminando apenas parcelas desejáveis aos interesses dessas grandes corporações de mídia.”

[Hits Perdidos] Já que a letra é tão política fica difícil não perguntar: em ano de eleições, copa do mundo e de muitas investigações políticas, como vocês vem tudo isso? E quais são os maiores medos?

Zeca Ruas: “O receio maior é o da desqualificação completa da política como espaço de evolução social.

O saldo dos últimos anos em nossa política é uma descrença completa nos mecanismos de representação, nos partidos e na própria dinâmica democrática.

O vale tudo tomou conta das disputas e os embates tornaram-se viscerais, muito pouco construtivos.

Os salvadores da pátria constroem discursos que alimentam esta situação e a população caminha cegamente posições fragmentadas e desesperadas, abandonando completamente a possibilidade do debate de ideias.

A violência explícita no ambiente político, algo que por décadas ficou afastada, retornou com força. Quando o uso da força passa a ser autorizado para o oponente político as consequências certamente serão problemáticas. Parte das músicas de nosso próximo disco abordarão estes assuntos. E não são otimistas em relação ao futuro próximo.”


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Zeca durante as gravações do videoclipe. – Foto Por: Guilherme Guerreiro

[Hits Perdidos] Para fechar, contem mais sobre como veio a ideia da concepção e como foram as gravações do videoclipe.

Zeca Ruas: “A estética do clipe foi concebida pelo Deivide Leme, nosso parceiro de longa data e talentoso produtor de clipes na Couraça Filmes. A ideia de um cubo em que se poderia controlar a iluminação e as condições de registro das imagens nos foi apresentada logo de cara. A gente imaginou que seria legal e já topou, mas só tivemos dimensão completa quando chegamos na locação… e curtimos muito.

A ideia de forrar o cubo com jornais veio logo em seguida. Nos animamos pela possibilidade de dialogar com a estética da composição, produzir referências à questão urbana com os jornais e também pelo imaginário que se cria em relação aos textos.

O clipe foi rodado durante um dia todo, desde o início da manhã até o final da noite. A gente se divertiu com os recortes de jornais e com colagens de frases e personagens. As melhores colagens fomos colocando cuidadosamente em lugares estratégicos… e elas podem ser percebidos quando se acompanha o clipe com bastante atenção.

O resto é um pouco da gente em ação. Procuramos colocar a mesma energia que a gente passa nos palcos e o resultado todo mundo vai poder conferir no clipe e depois nos shows!”

Playlist Exclusiva no Spotify – Under the Influence


Playlist Gagged


Para o lançamento o Gagged preparou uma playlist com algumas referências e sons que eles andam escutando. A seleção vai agradar a quem curtir andar de skate, bandas suécas, hardcore e stoner.

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