Exclusivo: repaginado e cheio de novidades, “O Método Buda” chega a sua 4ª temporada

Carioca do bairro do Engenho Novo, zona norte do Rio de Janeiro, André Buda começou a gostar de música quando pequeno. Foi através do som de FM’s como a Fluminense FM e Rádio Cidade FM que teve o primeiro contato com a música.

É bem verdade que também teve a sorte de logo na infância ter tido verdadeiras aulas ao observar seu tio Ismael discotecar direto do vinil hits – e hits perdidos – do soul e funk.

Ismael, era DJ de bailes de soul music e escolhia o repertório e treinava as mixagens em casa. Como Buda morava na casa de sua vó durante a infância pôde observar com atenção aquele processo.

Já em sua adolescência a rebeldia apareceu e pôde adentrar a conhecer mais sobre estilos como o punk, hardcore, ska, rock alternativo e afluentes. Na idade adulta ele começou a se interessar pela música folk, um exemplo disso é sua paixão pelo Fado português. A MPB e o rock progressivo também apareceram em sua vida quando mais velho.

Aos 45 anos de idade, aquela coceira por conhecer o novo no mundo da música não parece cessar. Ele sempre está buscando saber o que se passa no mundo da música, seja ela nacional ou estrangeira. É inclusive um entusiasta dos CD’s e sempre que pode aumenta sua coleção.

André Buda, assim como o mutante Fábio Shiraga (Intervenção Urbana), sempre sonhou em ter um programa de rádio e fez disso um objetivo em 2014. Sua primeira aparição em uma rádio foi justamente em especiais na Antena Zero. Nestes em que foi bem sucedido mas que ainda não tinha conseguido engrenar um programa de rádio sem que fosse ao seu gosto.

Daí que certo dia ele teve a ideia de um podcast que teria umas três edições, no máximo. Publicou o primeiro com o nome “O Método Buda do Controle Mental”.

O Fausi (Diretor da Vinil FM) já o tinha como amigo no Facebook, ouviu, gostou e, duas horas depois do podcast ser publicado, apareceu no post o convidando para integrar ao time da Vinil FM. Assim, naquele dezembro de 2014, nascia o programa de rádio.

 

 

 


De lá para cá foram 132 edições, três temporadas, muitas histórias compartilhadas, muitos amigos e um slogan marcante: “tudo que for bom e nutritivo para os ouvidos”. Buda inclusive classifica seu programa como democrático e eclético e isso é bem verdade.

O programa que vai ao ar toda a quinta, às 19 horas, com reprise aos sábados, 17 horas, sempre tenta ouvir os pedidos dos ouvintes mas também gosta de provocá-los com a novidade.

Artistas independentes sejam eles de rock, MPB, shoegaze, post-punk, hardcore, post-rock, soul, pop, alternativo e até metal já passaram pelas edições do método ao longo destes 3 anos de programa.

No dia primeiro de fevereiro, Buda, estreia a quarta temporada nas ondas da Vinil FM. O programa chega reformulado, como novo logo, novas vinhetas, muitas descobertas coletadas durante as férias e novas energias.


A quarta temporada d’O Método do Controle Mental estreia nesta quinta-feira (01/02) na Vinil FM. – Foto: Acervo Pessoal

Para aquecer para esta nova temporada que chega as ondas da Vinil FM nesta quinta-feira, às 19 horas, conversamos com o radialista André Buda que nos contou mais sobre seu primeiro contato com a música, a diversidade de seus programas e o que mais gosta da nova geração de artistas.

[Hits Perdidos] Queria que começasse se introduzindo não apenas como radialista mas com seu background e de onde veio sua paixão pela música?

André Buda: “Começou ainda na infância. Meu pai se casou e demorou pra sair da casa da mãe. O irmão mais novo dele, meu tio Ismael, era DJ de bailes de soul music e escolhia repertório e treinava as mixagens em casa. Eu parava o que estivesse fazendo pra prestar atenção  a aquele processo. E meu tio ouvia muito também a Rádio Cidade FM carioca, a primeira a usar linguagem informal e a tocar música pop, lá no fim dos anos 70.

Antes disso, o FM do Rio só tinha “música de elevador” e a Cidade FM impactou de uma tal maneira e tinha tanta informação, que todo mundo ouvia a rádio. Então, ainda bem novinho, eu já entendia o que era disco music, soul, funk… Na adolescência, rolou o B-Rock e acompanhei tudo o que pude. Me amarrava na verve punk daquelas bandas. E isso me levou a conhecer o rock alternativo e seus afluentes.

Mais tarde, veio o interesse pela diversidade da música. Não tenho nenhum parentesco com portugueses, mas amo o fado, por exemplo (risos). E vieram também o hardcore, o ska, o som cru e mais agressivo. E a velha MPB (Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Orlando Silva e similares) e o rock progressivo chegaram depois de adulto.”

[Hits Perdidos] Para você como é lidar com essa imensidão de lançamentos, conseguir estar perto e conversar com seus ídolos do presente. Acredito que isso na sua juventude era muito distante. Como vê isso?

André Buda: “Rapaz, não há o que pague essa proximidade que a internet dá com os artistas que eu gosto de ouvir hoje. Os de antes eram intocáveis, inatingíveis, não só porque não havia essas vias de aproximação que a internet proporciona, mas por conta da vaidade deles também. Hoje, se gosto de uma música, consigo contactar o intérprete e parabenizá-lo. E mais: eles são tão humanos que gostam dessa proximidade e alguns se tornaram até meus amigos! Adoro esses tempos! Adoro!”

[Hits Perdidos] Você cresceu acompanhando as FM’s, lendo a revista Bizz, assistindo a MTV em seus primeiros dias e tendo a oportunidade de ter visto vários shows. Como é ver essa “evolução”? O que acredita que faz falta e o que se perdeu pelo caminho?

André Buda: “O romantismo faz falta. Por exemplo, eu assistia clipes todos os dias na tevê. Hoje, é raro eu buscar isso no Youtube. Claro que eu posso estar errado, mas entendo que o problema, talvez, não seja a facilidade, mas a falta da manutenção do romantismo que agregava valor ao consumo da música. E eu creio que dá pra ter essa democracia toda e cobiçar a música como fazíamos antes.”

[Hits Perdidos] O que te chama mais atenção quando pega um single ou disco para ouvir?

André Buda: “Gosto de singles porque eles são mesmo cartões de apresentação de um trabalho. São eles que te sinalizam o que é o álbum e te instigam (ou não) a curiosidade. E eu adoro o impacto do primeiro single! A novidade do artista fulano, saber o que ele aprontou, saca?”

[Hits Perdidos] No “O Método Buda do Controle Mental” você consegue fazer o programa passar por vários estilos musicais e se vê na obrigação de fazer essa mistura entre o novo e o esquecido. Como funciona o processo criativo e como sua audiência te ajuda a moldar o programa mesmo que indiretamente?

André Buda: “A verdade é que quem ouve rádio hoje é um pessoal mais velho, numa faixa-etária acima dos 35 anos e isso nem é tanto por real necessidade, mas pelo gosto deles por essa mídia. Então, é legal relembrar singles e artistas que tiveram seu momento de sucesso e, também, e principalmente, atualizá-los sobre o que acontece hoje. Apesar da idade que tenho, o meu tempo é hoje. E muita gente que me ouve não tem essa manha de buscar na rede o novo pra ouvir e o “Método” serve como fonte pra eles. E a música rejuvenesce, não é? Quanto mais ouvimos o novo, mais nossa alma renova.

Minhas playlists são montadas totalmente no feeling. Acredito que uma coisa se completa com a outra e, mesmo quando os estilos numa mesma sequência são díspares, tento fazer com que eles dialoguem. É uma bagunça muito bem organizada. Era assim o rádio em FM feito no Rio de Janeiro lá nos anos 80 e 90, na verdade.

Não criei nada. Apenas, trouxe de volta e atualizei para o rádio em web uma estética praticada pelo dial do meu estado que me ensinou a gostar de tudo, mas que foi abandonado.

A Fluminense FM, por exemplo, não era uma rádio rock. Era uma rádio de cultura alternativa. Você ouvia rock lá, mas ouvia também o hip hop paulistano, Kraftwerk, Caetano Veloso, Jards Macalé, Itamar Assumpção… Tudo que fosse excluído do esquemão tinha vez lá. Fui educado musicalmente assim e pratico isso no meu programa de rádio também.”

[Hits Perdidos] Teve algum programa em específico que você olha para trás e diz: “Esse eu acertei”? Por outro lado qual achou que ia ser O PROGRAMA e acabou se tornando apenas mais um?

André Buda: “O especial do dia do radialista, em setembro do ano passado, foi um programa que eu posso dizer que foi um puta acerto. Juntei falas preciosas de amigos da Vinil FM e de gente querida de outras web rádios sobre o prazer deles de fazer rádio e, também, de gente importantíssima do rádio aberto carioca que me influenciou. Foi demais ter depoimentos exclusivos de Adriana Riemer, Eulina Rego e Selma Boiron sobre o amor delas pelo veículo. Como fui ouvinte contumaz da Transamérica FM e da Fluminense FM na adolescência, ter essas presenças tão caras nessa edição foi uma alegria tremenda! Sou um homem que aprendeu a fazer rádio ouvindo mulheres e tenho um orgulho danado disso.

E a edição que “flopou” foi uma que eu achei de pagar impulsionamento de publicidade dela no Facebook. Preparei uma playlist que eu julguei ser uma síntese do que eu gosto de tocar no programa e a audiência foi lá no pé (risos). Nem gastei tanto dinheiro assim, mas a promessa de alcance era muito grande e a gente fica frustrado, né?

A ideia era atrair mais gente, não pra eu acumular fama, mas porque programa de rádio dá trabalho e é gratificante quando você tem público pra ouvir o que você tramou. Mas, no geral, tenho ouvintes/amigos que estão sempre ligados no programa e aquele número baixo nunca mais se repetiu. Mantenho sempre uma média de gente querida e interessada no que eu quero mostrar e isso me deixa muito feliz.”



[Hits Perdidos] Qual foi o mais emocionante de fazer e porque?

André Buda: “A edição de número 100, que gravei em São Paulo junto com amigos de um outro programa da grade da rádio, o “Terreno Estranho”, que também completou 100 edições na mesma época que eu. Eu sou do Rio e dei a eles a idéia de fazermos algo juntos em Sampa pra comemorarmos o feito e, em maio do ano passado, fui para a capital paulistana e gravamos uma edição super especial num bar reservado por eles e fizemos uma grande brincadeira cercados de amigos. Foi uma festa!”


O programa 100 d’O Método Buda do Controle Mental foi gravado em São Paulo em conjunto com o Terreno Estranho que também alcançava a mesma marca. – Foto: Divulgação

[Hits Perdidos] O que nunca pode faltar em uma discotecagem sua?

André Buda: “No programa, nunca falta rock and roll porque é o estilo favorito dos meus budistas, e, então, toco indie rock, shoegaze, tem classic rock, metal, punk rock, hardcore e demais sub-vertentes. Mas, não só isso. Sempre salpico um eletrônico, ou MPB (seja nova ou antiga), bom pop, black music, alguma curiosidade musical…

“O Método Buda do Controle Mental” é um programa democrático e eclético. O slogan é “tudo que for bom e nutritivo para os ouvidos” e, daí, você já tem uma idéia, né? Mas, evitando as obviedades e buscando causar surpresa no ouvinte.”

[Hits Perdidos] Quais foram suas maiores descobertas musicais de 2017?

André Buda: “Eu amei o disco de estréia do Primavera Nos Dentes e o do Herod. Ambos recriaram repertório já registrado e muitas vezes relido, mas eles fizeram com uma criatividade e uma propriedade que me deixaram encantado. O Kraftwerk refeito por eles no formato baixo, guitarra e bateria do Herod é de uma ousadia e de um poder… Acho que só o original pra superar mesmo.”


Ouça a entrevista do Hits Perdidos com o Elson Barbosa do Herod:

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[Hits Perdidos] O que acha que falta para todas estas novidades que temos acesso ganhem maior espaço?

André Buda: “Falta gente amante da música na gerência dos canais. A velha mídia hoje só tem gente de business e não mais apreciadores de música. Por isso, parece que o que tem qualidade está à margem. Mas, eu acredito que tudo é cíclico e que, em breve, teremos o que é bom em evidência outra vez.”

[Hits Perdidos] Queria que contasse um pouco da sua relação pessoal com o Funk (americano) e a música eletrônica. Como é o seu processo de pesquisa?

André Buda: ” Eu tive um novo contato com o funk americano (aquele de raiz) acessando aos videos do lendário programa “Soul Train”, no Youtube. Que maravilha era o som do Stevie Wonder naquela época, bicho! E Brothers Johnson, Al Green… Mas, foi um renovo nessa relação, já que eu cresci em comunidade nos anos 70 e se ouvia muito James Brown lá em riba (risos).

Tomei conhecimento da música eletrônica aos 15 anos, lá na segunda metade dos anos 80, quando eu ouvi pela primeira vez “Never let me down again”, do grupo inglês Depeche Mode. Foi uma virada de página pra mim. Aquela beleza sonora sintética me mostrou que existia um outro leque de possibilidades na música.

Por isso, o “Music For The Masses” é um dos discos da minha vida! Depois, comecei a ouvir o programa “Novas Tendências”, apresentado e produzido por José Roberto Mahr, e através dele, descobri o synth pop, a electronic body music belga, o acid house e demais vertentes alternativas do estilo. Nos anos 90, aconteceu o estouro do techno e todo mundo acompanhou aquilo. Inclusive, acho que o drum and bass foi a última grande invenção da música pop.”

[Hits Perdidos] Para quem quiser entrar em contato com você ou o programa qual caminho indicaria para os artistas?

André Buda: “O “Método” não tem página própria porque eu quero que o programa seja confundido comigo e eu quero ser confundido com o programa. Sou eu ali, sem um personagem e, muitas vezes, até sem noção do que estou dizendo (risos).

Como sempre digo ao microfone, sou um amigo que mostra som para outros amigos, como todo amante de música faz, e nada além disso e, então, quem quiser me contatar, é só fazê-lo pelo Facebook. O endereço é www.facebook.com/andre.buda.

Adoro tocar os novos artistas e, principalmente, fazer novos amigos! Porque o grande presente que o rádio me deu foi o contato com as pessoas e conhecer cada vez mais gente incrível! Então, é só chegar, galera! São todos muito, muito bem vindos!”

This post was published on 29 de janeiro de 2018 10:21 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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