[Lançamento] Young Lights parte o coração em mil pedaços em seu 2º álbum

 [Lançamento] Young Lights parte o coração em mil pedaços em seu 2º álbum

Algumas bandas conseguem te impactar logo no primeiro single. Você não precisa obrigatoriamente ir atrás de sua carreira ou trabalhos anteriores para entrar naquela sinergia que aqueles acordes, produção e arranjos conseguem te guiar. A experiência geralmente é única e infelizmente você não consegue voltar para aquele momento, mesmo que deseje muito.

Lembro da primeira vez que ouvi “Thirteen” do Big Star, “Unsatisfied” do The Replacements, “1,000 Miles Away” do Hoodoo Gurus, “The Killing Moon” do Echo & The Bunnymen ou até mesmo a vez que pus para tocar Otis Redding ou ousei ir atrás do (famoso) disco da banana do Velvet Underground. É um momento prazeroso, curto mas significante na vida de qualquer pessoa.

Outros discos que ouvimos podem não ser completamente inovadores ou ousam tentar reinventar a roda mas quando você ouve você é levado para estes momentos. E as vezes é deste tipo de abraço que nós precisamos.

Ao ouvir o primeiro single “Understand, man” do Young Lights já deu para notar o potencial nostálgico e embriagado pela música gospel americana – e o folk. Além da música por si só já se destacar pelo acabamento da produção e a atenção aos detalhes, a faixa ganhou um videoclipe com uma bela fotografia dirigido por Julia Violeta e que foi produzido pelo Coletivo Imaginário.

O vídeo mostra o início e o fim de relacionamentos, seus vícios e mudanças repentinas de comportamento. A narrativa é bastante instigante e quente. Mostrando como são vorazes as paixões que vivemos ao longo da vida.



O single que foi lançado através do clipe serviu como aquecimento para o segundo disco do grupo mineiro que foi lançado oficialmente na quinta-feira passada (30/11). A Young Lights lançou o álbum através do selo QUENTE.

O álbum autointitulado, Young Lights, chega após a banda ter lançado em 2013 seu primeiro EP e um full-length em 2015.

A trajetória do Young Lights começa ainda nos Estados Unidos como um projeto solo do vocalista Jairo “Jay” Horsth Paes que é natural de Belo Horizonte (MG) mas que cresceu na terra do Tio Sam. Desde cedo ele respirou música e as influências de casa e da música gospel das igrejas evangélicas americanas – onde aprendeu a tocar violão, bateria e a cantar – deram um norte ao músico.

Esta foi a porta de entrada – para sons mais pesados – e durante a adolescência ele se deparou com a forte cena americana de punk e hardcore. Em paralelo cresceu nele um interesse pela música folk. Assim sua formação musical sendo bastante rica.

Com seu retorno ao país há 7 anos, depois de 16 anos fora ele deu início ao projeto. Em 2013 veio o EP An Early Winter e dois anos depois era lançado o disco Cities. Mas claro que conforme foi se apresentando o interesse por amigos e participações especiais em seus shows foi encorpando as apresentações. Foi em 2015 onde tudo se transformou com a entrada do guitarrista Vitor ”Boss” Ávila, do baixista João Paulo Pesce e do baterista Gentil Nascimento.



Boa parte dessa história está contada no documentário sobre a banda que foi produzido pelo escocês Stuart McIntyre e lançado com exclusividade no Canal RIFF, Chasing Ghosts. Nele o grupo mostra o dia-a-dia de uma banda independente brasileira.

As influências citadas pelo Young Lighs são de artistas do calibre de Bob Dylan, Radiohead, Bon Iver e Kings of Leon. E mesmo que eles não falassem conseguimos captar todos estes universos no horizonte de seu som.


Jairo
Jairo “Jay” Horsth Paes fundou em 2010 a Young Lights. – Foto: Divulgação

Young LightsYoung Lights (30/11/2017)

O disco conta com 8 faixas ao longo de seus 31 minutos. Duas delas, “Understand, man” e “Old And Gray” já eram conhecidas do público já que os singles ganharam videoclipes. O som que faz uma mistura entre o rock alternativo com o folk por muitas vezes nos lembra os primeiros registros do Kings Of Leon e Mumford & Sons. Claro que a alma de mestres como Bob Dylan e Neil Young estão dentro da panela do som dos mineiros.

A produção do álbum é assinada por Leonardo Marques que além de ser integrante das bandas Transmissor e Diesel ainda assinou a produção dos discos mais recentes do Maglore (que nesta semana teve faixa de Todas As Bandeiras no programa do Hits Perdidos na Mutante Radio).

Para engrossar o caldo o registro ainda conta com uma série de participações: Gustavo Bertoni (vocalista do Scalene) na faixa “Fast Heart” e do guitarrista Matheus Fleming (Câmera) em “Understand, man”.



O disco se inicia com uma energia misteriosa no ar com a rápida e imersiva, “Chasing Ghosts”. Uma faixa sobre seguir frente mas ter seus fantasmas o aprisionando em suas memórias.

A influência de artistas como Bon Iver e Kings Of Leon fica explicita no primeiro single do disco, “Understand, Man”. Os harmoniosos vocais da música gospel norte-americana e linhas de guitarra nos trazem memórias do impecável Aha Shake Heartbreak (2004) e de Babel (2012) dos radiofônicos Mumford & Sons. A faixa conta com a participação do guitarrista Matheus Fleming (Câmera).

A canção é sobre términos e partidas. Se entorpecer para aguentar a dor destes momentos de ruptura. Procurar razões para seguir em frente e apoio naquelas tristes canções. Pelo teor muito particular e intimista da música eu imagino que esteja falando sobre o apoio que vem das tristes composições do Bon Iver.

“Fast Heart”, terceiro som do disco, conta com a participação do Gustavo Bertoni (Scalene). Uma das faixas que mais mostra essa mistura entre o folk do violão de cordas e as atmosferas do post-rock/rock alternativo.

É sobre exorcizar aqueles demônios internos que impedem com que nos mantamos equilibrados. Mas que ao mesmo tempo nos fazem nos sentir de carne e osso. Um detalhe interessante é que na canção Gustavo tem a missão de trazer a tona os versos mais obscuros.

“Old and Gray” também veio acompanhada de um videoclipe que foi lançado em setembro e foi dirigido por Flávio Charchar. Uma música sobre envelhecer e sobre as batalhas que realmente valeram a pena ser compradas.

Sua letra é bastante literal e questiona sobre se todos os conflitos, dores e marcas do passado no momento que esteja com cabelos brancos e a a beira leito de morte, valeram a pena. Se é das cicatrizes que a fênix ressurge, talvez a resposta seja sim. Afinal de contas sobreviver a um mundo hostil – e repulsivo – é uma letra diária. Apesar de folk essa composição tem bastante do background punk rocker de Jay.



O lado mais intimista e reflexivo de caras como Paul Banks, Thom Yorke e do Bon Iver é evocado em uma das baladas mais densas do disco, “Strangely Intimate”. Essa que fala sobre a dor em ter que conviver com o desapego pós-término de relacionamento. Quando 1 + 1 somam 2 e a separação leva consigo uma parte de cada um. Se tornando alguém incompleto e carregando aquele fardo do fim por um longo período de tempo.

O lado folk de gênios como Bob Dylan e Leonard Cohen trazem a atmosfera parruda a “Eyes Closed”. Nesta canção o amor é posto como transformador e que permite com que aquele mundo hostil e turvo seja visto de maneira mais colorida – e menos acinzentada.

Chegamos assim a penúltima faixa “Love, You Let Go”. Esta que já começa no piano e com vocais bem arranjados. É sobre os tempos ficarem difíceis e você tentar encontrar respostas em amores que já não estão mais ao seu alcance. Aquilo que nossa mente parece que nos sabota, trazendo boas memórias de um tempo que não volta mais.

Com a levada de artistas como Iron & Wine, Sufjan Stevens, The Shins, Conor Oberst e Band Of Horses o disco se encerra com a bonita “Singing Bird (In a Cage)”. Com a metáfora do pássaro aprisionado dentro de uma jaula, que me lembra um pouco Bukowski no poema “Blackbird”, temos a luta constante de se reerguer como tema central da faixa. Querer ser plenamente feliz novamente mas ter o coração carregado de amargura e frieza. Mesmo que o que mais deseja é irradiar novamente as cores do arco-íris. Apenas esperando a próxima grande paixão se aproximar para alimentar o “Hungry Heart”.

* “Hungry Heart” é uma referência a canção de Bruce Springsteen


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O segundo disco dos mineiros do Young Lights é um grande presente de fim de ano para os amantes de folk/rock alternativo. Uma grata e imersiva surpresa que gerará bastante identificação com quem estiver passando por tempos difíceis, mas que ao mesmo tempo quer arranjar forças para seguir em frente. É sobre a queda, sobre o apego, sobre a dor de lidar com uma ruptura.

Tudo isso retratado de maneira bastante delicada, com uma ótima produção e nos remetendo a artistas como Kings Of Leon, Mumford & Sons, Bob Dylan e Iron & Wine. O disco está sendo lançado pelo selo QUENTE.

Young Lights na Sim São Paulo

Na sexta-feira, 08/12, a Young Lights se apresenta na Noite Mineira da Sim São Paulo. Ela que acontecerá na Casa do Mancha e também terá shows de Juliana Perdigão, Gui Hargreaves, Família de Rua (com participação dos MCs Douglas Din e Bárbara Sweet) e os DJs Peixota e Nest.

Para mais informações confira o evento oficial.


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