[Premiere] Com peso e distorção, Swan Vestas atravessa eras do Rock em “Howl”

 [Premiere] Com peso e distorção, Swan Vestas atravessa eras do Rock em “Howl”

O rock pode ser “dark”, obscuro, violento, impiedoso, raivoso e externar vários tipos de emoções. Alguns artistas que entenderam isso muito bem foram ícones como Soundgarden, Black Sabbath, Nick Cave, Television, L7, Stone Temple Pilots, Nirvana, Alice In Chains e Helmet.

Mas nem para isso a banda precisa definir seu estilo ou ser escrava de uma fórmula na hora do processo criativo, devendo deixar essa parte para o público e para os críticos. Tanto é que todas citadas se formos observar nunca quiseram se enquadrar em um determinado nicho, isso veio posteriormente. Todas se consideravam apenas bandas de rock. Sem mais nem menos.

Deste nicho rico de influencias que surgiu o termo “Alternative Rock”, em bom português Rock Alternativo. Pois já entendiam como a mistura ajudava a criar uma personalidade própria ao som da banda, afinal de contas ninguém tem obrigação de re-inventar a roda.


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Swan Vestas lança hoje em primeira mão no Hits Perdidos seu segundo EP, “Howl”. – Foto: Heidegger Nascimento

O som dos cearenses do Swan Vestas vai bem por essa linha. Tem resquícios da era grunge, tem o punch do stoner, a vitalidade das guitarras dos anos 70, as firulas do hard rock e o tom pulsante do rock de garagem. Todo o folclore de um bom disco de rock.

Inclusive hoje eles estão lançando com PREMIERE no Hits Perdidos seu novo EP, Howl. Este que é o sucessor do autointitulado lançado em 2015. A evolução tanto técnica como da gravação são perceptíveis e isso mostra como neste período o som foi amadurecendo e criando uma identidade. Inclusive chegamos a falar sobre o EP de estreia por aqui.

Se o primeiro EP contou com 5 músicas, o novo trabalho vem com 4 e pouco mais de 20 minutos de duração. Tem texturas fortes, densidade lírica, peso e consegue te passar uma experiência imersiva ao ouvir.

Até por isso enquadrar como stoner ou grunge só por conta de influências soa um tanto quanto vago. “One-Trick-Pony”, faixa que encerra o disco, por exemplo me lembra bandas como Nashvile Pussy, Supersuckers ao mesmo tempo que remete ao som do Queens Of The Stone Age na fase Nick Olivieri. Já “How Learned To Stop Worrying” tem um “Q” do rock’n’roll dos anos 70 e “The Art Of Self-Destruction” tem a áurea do estilo que deu a origem ao rock, o blues.


Swan Vestas – Howl (05/09/2017)



Atualmente o Swan Vestas conta em sua formação com Danny Husk (voz), Bruno Pereira (guitarra), Tiago Oliveira (baixo) e Massilon Vasconcelos (bateria). O momento que estão vivendo é bastante importante para a consolidação como banda, que tem tocado ao lado de grandes nomes do rock nacional. Além de ter marcado presença em importantes festivais locais como Ponto.CE, Mostra de Música Petrúcio Maia e Garage Sounds.

Howl foi produzido pela banda e Igor Miná que também é o responsável pela gravação, mixagem e masterização do disco. O local escolhido para a gravação foi o Mocker Studio (Fortaleza – CE) e as baterias foram gravadas por Rildney Bee Sheen Cavalcante.

“The Art Of Self-Destruction” abre o EP misturando a aspereza do stoner rock indo ao encontro do rock desértico. O som de lobos uivando de sua introdução dá espaço para o peso das guitarras que fundem o heavy metal ao grunge noventista. Conseguindo conversar com fãs de Black Sabbath, Alice In Chains e Soundgarden.

É interessante observar as transições da canção. A partir de seu quarto minuto por exemplo o ritmo diminui lembrando o estilo que consagrou Mike Patton (Faith No More) e Pearl Jam.

A segunda faixa, “Colônia”, traz uma temática um tanto quanto peculiar. A inspiração para sua letra vem do livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, que se tornou série da HBO.

Colônia foi o maior hospício do Brasil e ficava localizado em Barbacena (MG), nele mais de 60 mil pessoas que foram internadas a força, morreram. O descaso com os direitos humanos impressiona e deu origem a esta delicada canção.

Quem quiser ler o livro ele se encontra em domínio público aqui. Como Danny (vocal) nos contará em entrevista, Bruno (Guitarra / Voz) estava imerso na obra e ouvindo muito “Space Oddity” (1969) do Bowie. É daí que vem toda a sensibilidade e narrativa com requintes de opera rock da canção.

Sendo assim o silêncio macabro da dor e angústia dos relatos que pôde ler no livro foram transmitidos com muita intensidade. Os backin vocals também ajudam a sensação de aprisionamento soarem ainda mais sufocantes. Os teclados tantas vezes usados por Bowie, Placebo e Arcade Fire dão toda a sensação de profundidade e contemplação que a canção pede. Uma balada improvável no meio de um EP potente.

“How I Learned To Stop Worrying” faz um resgate aos anos 70 que Songs For The Deaf (2002) do Queens Of The Stone Age faz com elegância. Tem o lado sombrio, tem garage rock, guitarras embriagadas e muita distorção. Para mim com certeza é a mais radiofônica do disco.

Quem tem a missão de passar a régua e fechar o EP é a plural e dançante “One-Trick Pony” que consegue misturar diferentes eras do rock. Do Led Zepellin, passando por Jimi Hendrix, Rolling Stones, Nashvile Pussy e chegando ao Hellacopters. É rock vibrante que flerta com o hard rock, o blues e o rock’n’roll. Após alguns plays é com certeza a que mais gruda na cabeça, muito disso por conta de seus riffs e distorções marcantes.


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“Uma epopéia as sete décadas do rock” seria a melhor maneira de descrever a astúcia em agregar tantas influências diferentes que o Swan Vestas consegue imprimir em Howl. O segundo trabalho dos cearenses em apenas quatro faixas consegue mostrar o peso do stoner e metal, a narrativa do opera rock, o lado rústico e sombrio do grunge, o escracho do rock de garagem, os riffs mais soltos do blues e o lado mais burlesco do hard rock.


[Hits Perdidos] Ao meu ver Howl mostra uma nítida evolução comparado ao EP de estreia lançado no ano passado. O que vocês podem nos contar sobre a concepção do trabalho?

Danny Husk: “O primeiro EP foi bem mais “na raça”, bem mais “ao vivo”. O Bee Sheen (nosso batera à época, que gravou também o segundo EP) havia entrado há apenas alguns meses na banda, os arranjos eram bem mais simples e diretos. Com este não. A gente tomou nosso tempo, passou um ano maturando timbres, arranjos e como a gente realmente queria soar.

O lance mais festeiro, pra cima, das primeiras composições que tavam no primeiro EP, deram lugar a um clima mais sujo, sombrio e cinza, agora. Até por isso a gente escolheu o Igor Miná pra mixar e masterizar – a gente queria alguém mais próximo, que entendesse bem a nossa ideia de como o disco deveria soar. As músicas são mais longas, mais densas. Enquanto o primeiro EP foi uma celebração do nosso trabalho até ali, este segundo EP com certeza é bem mais presente, bem mais o que a banda é hoje. Que massa que tu achou que houve uma evolução, assim como a gente (rs).”

[Hits Perdidos] Vocês citam influências de rock alternativo, grunge, stoner rock e até do grunge rock na hora de tentar enquadrar o som de vocês. Qual é o background musical de cada um e quais os discos favoritos de vocês?

Danny Husk: “Acho que todo mundo na banda gosta muito de escutar coisas bem distantes entre si. A gente consegue gostar desde Nina Simone até Slayer. Eu e o Bruno (guitarrista) somos “filhos dos anos 90”, a gente cresceu escutando Nirvana, Soundgarden, Kyuss, mas nunca parou aí. Somos todos fãs da galera 60/70 e até de soul music. A gente é realmente apaixonado por música. Dia desses eu e o Teago estávamos conversando sobre o Wire e sobre o Kendrick Lamar. Ou seja, é uma putaria musical (das boas).”

Discos

Danny (Beatles é hors concours):
David Bowie – Hunky Dory
Afghan Whigs – 1965
Radiohead – Ok Computer
Rolling Stones – Exile on main street
Kyuss – Welcome to sky valley

Bruno:
Pearl Jam – Yield
Nirvana – In Utero
Queens Of The Stone Age – Songs for the deaf

Massilon:
Them Crooked Vultures – Them Crooked Vultures
Dead Weather – Horehound
Radiohead – Hail to the thief

Teago:
Encontrou sérias dificuldades em apontar seus discos favoritos.”

[Hits Perdidos] Em relação as letras vocês citam que a faixa “Colonia” foi baseada no livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, que se tornou série da HBO, retratando um dos capítulos mais tristes – e desconhecidos da nossa história. Queria que contassem mais sobre essa história, como os inspirou e como foi compor os arranjos para acompanhar?

Danny Husk: “O Bruno chegou com esta ideia de composição, que ele teve escutando Space Oddity do Bowie. Eu tava lendo o Holocausto nessa época, e o livro tava me marcando muito. Tinha uma pessoa, das poucas que conseguiram estar internadas por décadas e sobreviver. Ao chegar no apartamento em que ele morava atualmente, ele disse ter ficado espantado por conseguir acender e apagar a luz quando quisesse. Isto ficou na minha cabeça.

Eu imaginei esta pessoa, contando a história dela de uma forma mais subjetiva, do inferno que foi aquilo tudo. Encaixou muito bem, sabe, a composição cheia de camadas e tempos diferentes com a ideia mais dramática da letra. Acho que os arranjos foram nascendo a partir disso, dessa tristeza, desse peso que a história carrega. É uma música que a gente se orgulha de ter feito, em vários aspectos.”

[Hits Perdidos] Consigo ver um pouco de Stones e Hellacopters, é interessante como vocês gostam do lado stoner da década mas não deixam o blues e o lado mais garagem de lado. Como vem que toda essa liberdade agrega no cardápio de sons do Swan Vestas?

Danny Husk: “Isso é algo que tem amadurecido bastante no som. A gente evita aquele lance de se prender a nichos, de apenas repetir o que já foi feito, de forma caricata. Isso é chato pra cacete. Amamos Stones, Stooges, Sabbath, Bowie, Nirvana, Kyuss, Racounteurs, QOTSA, Beck. O que der na telha, a gente joga na panela. Acho que se conseguissem definir a gente facilmente, com uma banda de estilo X ou Y, isso iria nos frustrar bastante.

A gente não gosta de estereótipos, sabe? É mais fácil, hoje em dia, com tanta informação rolando, que você pertença a um nicho fechado, se enquadrar visual e sonoramente, acaba ficando mais visível. Mas não seria a gente. Então a gente curte muito som velho, mas não quer soar datado. E é bem por aí mesmo. Stones + Hellacopters, joga um groove e uma viagem do deserto californiano = uma banda cearense que toca rock em inglês (rs). No fim das contas, a gente se auto intitula uma banda de rock fodido. Não queremos nos fechar em sons ou grupos específicos.”


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O Swan Vestas se autointitula como banda de “Rock Fodido”. – Foto: Heidegger Nascimento

[Hits Perdidos] Algo que me intrigou desde o último EP é o nome da banda. Quais as origens? E o novo EP, porque Howl?

Danny Husk: “Swan Vestas é uma marca de fósforos bem antiga do Reino Unido, cujo lema é “strike anywhere matches”, algo como fósforos que acendem em qualquer lugar. A gente curtiu demais essa ideia, de “pegar fogo em qualquer lugar”, que é algo que a gente sempre primou, que é a energia da banda, principalmente ao vivo, de ser intensa, pegar fogo. E a sonoridade do nome é massa. Não entrega nada de cara, não é estereotipado. E o Howl veio do poema do Allen Ginsberg, que é um poema dos mais fodas que existem.”

[Hits Perdidos] Sabemos que em uma banda para dar certo a banda divide funções internamente além de tocar. Como funciona para vocês essa logística?

Danny Husk: “Acho que esta história é bem parecida com muitas bandas brasileiras… a gente tem nossos trabalhos diurnos, família, o escambau. O tempo é curto, o dinheiro idem. Mas a vontade e o amor pela parada fazem a gente se desdobrar e conseguir fazer, do melhor jeito possível. Cada um vai contribuindo com o que pode, quando pode. Temos muitos amigos, inclusive membros antigos da banda, que estão sempre ajudando. É uma instituição colaborativa mesmo, por exemplo, nossas capas foram fotos feitas pela Natalia Kataoka e o design pelo JB Junior (ex-baixista da banda). Temos qualidades individuais que acabam separando as “funções”, mas, no fim, cada um faz sempre o que pode. Às vezes, até mais do que poderia.”

[Hits Perdidos] Vocês se apresentaram em uma série de festivais no Ceará. Queria que contassem mais sobre essas experiências e festivais para a galera de fora do que não conhece a nova e forte cena cearense.

Danny Husk: “É impressionante ver como as bandas daqui cresceram. A gente tá sempre tocando junto com várias delas, Mad Monkees, Old Books Room, Lilt, Rocca, Astronauta Marinho… fora uma penca de outras bandas massas, que são irmãs no som e na batalha.

Tem uma coisa que a gente começou a perceber: as reclamações são muito parecidas em todo lugar. Falta espaço, falta cachê, edital tem panelinha… aí a gente resolveu arregaçar as mangas e fazer o nosso. Montamos o Musicoletiva, que é exatamente uma junção de bandas que cansou de reclamar e resolveu colocar a mão na massa. Não chamam a gente pra tocar? A gente produz os shows, então. Não rola cachê? Mas cada um das bandas vai ajudando como pode. Fizemos o Festival Volume, em que tocaram 12 bandas autorais cearenses em dois palcos, em parceria com a Órbita, casa das mais antigas daqui. Deu um belíssimo público. E agora lançamos nosso canal no YouTube (curtam e espalhem a mensagem!).

Aqui a gente tem o Ponto.CE, agora o Garage Sounds… é sempre a rapaziada que faz acontecer, no risco e na raça. Mas, no fim das contas, não dá pra uma banda sobreviver esperando ser chamada pros Festivais. Tem que levar o fogo pra outros lugares.”

[Hits Perdidos] Vocês tem planos de fazerem uma turnê pelo país? Se sim como pensam que teria que ser organizado para tudo dar certo?

Danny Husk: “Uma turnê, por conta dos trabalhos diurnos, fica um pouco complicada. Mas a gente tem toda intenção de fazer shows pelo Brasil afora, com certeza! Já estamos fechando em Mossoró, Natal e pra onde mais chamarem a gente! Sampa é um namoro antigo. Mas tá cada vez mais perto a gente aparecer por aí. Aliás, estamos aceitando convites!”

Playlist Exclusiva de Lançamento do Howl


Playlist Swan Vestas


Para fechar pedi para que eles preparassem uma playlist com influências e sons que tem descoberto. O resultado mostra que eles ouvem um leque de bandas bastante diferentes. O que no final resulta em um EP rico e difícil de enquadrar num estilo só.


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