[Premiere] Descontrole, falta de pudor e noitadas marcam o novo EP do Porno Massacre
O Porno Massacre talvez seja uma das bandas com mais apelo teatral no cenário underground paulistano. Isso se reflete em suas apresentações, repletas de atitude, atuação e direção.
Através de personagens caricatos eles fazem homenagens a personas icônicas como Marquês de Sade de uma forma única e divertida. E de certa forma isso acaba sendo mais uma forma que eles tem de entreter o público que comparece em suas debochadas apresentações. Com elementos visuais que vão de Secos e Molhados, Alice Cooper, The Clash a New York Dolls eles conseguem criar uma atmosfera por muitas vezes macabra.
Após uma trajetória como banda cover de Sex Pistols eles resolveram partir de vez para o autoral quando lançaram seu primeiro disco em fevereiro de 2016. O Debut da banda paulistana fez com que eles conseguissem realizar uma PORRADA de shows pela grande São Paulo.
O que deu a eles certa quilometragem e novas visões sobre o “rolê”. Hoje em dia o grupo participa de um coletivo de bandas que vocês ouvirão falar bastante daqui a algum tempo – o Projeto Torto – ao lado de bandas como O Grande Ogro. Além claro da parceria com o selo Dinamite Records que está junto desde o primeiro disco.
Após o disco eles foram convidados pelo Hits Perdidos para fazer parte do tributo aos Titãs, O Pulso Ainda Pulsa. E para a coletânea homenageando os 30 anos do lançamento do Cabeça Dinossauro eles prepararam uma versão para “Isso Para Mim é Perfume”.
Uma escolha ao meu ver perfeita. Justamente por contemplar o viés escrachado e ardiloso da banda. Confesso que esperava algo proto punk sujo e com uma áurea de outros tempos mas quando tive em mãos a versão vi que eles já estavam em um processo de transição sonora. Utilizando de elementos como a gaita e influências do rock de boteco Nashvilliano. Com referências a caras como Tom Waits e baluartes do blues/country americano.
De certa forma isso aparece com mais evidência em seu mais novo lançamento que faremos a Premiere hoje: o mini-EP, É o Que Me Resta?. Com apenas três faixas contamos com as inéditas: “Cátia Carioca” e a faixa título “É o Que Me Resta”. Além de uma versão remasterizada de “Isso Para Mim É Perfume” lançada previamente para O Pulso Ainda Pulsa.
A gravação do EP foi realizada através do projeto Converse Rubber Tracks no estúdio de Jean Dolabella (Ego Kill Talent, Ex-Sepultura), o Family Mob. Já a mixagem e masterização ficou por conta de Vinnie Azevedo do Kinema Estúdio que também assina a engenharia de som do primeiro álbum do grupo.
O disquinho à partir de hoje já está disponível nas principais plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Soundcloud, GooglePlay, Bandcamp) e as cópias físicas com esse encarte macaroni style também estão disponíveis na loja online D’Outro Lado. Alguns felizardos terão a chance de adquirir em curta tiragem o vinil sete polegadas, então corra antes que acabe!
Antes de falar em música, que capa hein? Um porco fatiado em plena semana de CRISE no setor. Enquanto muitos corruptos de grandes empresas do ramo frigorífico e embutidos vão para a cadeia por adulterar a composição das carnes – e vender o produto estragado – a capa tira onda com a matança. O senso de humor ácido do quarteto até coloca a face de seu vocalista camuflado em um corpo de um pobre suíno abatido. Mais Porno Massacre impossível!
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“Cátia Carioca” é a primeira faixa do 7 polegadas e é de certa forma a música mais hardcore da carreira da banda até o momento. Com uma levada que podemos ver em discos como City Baby Attacked By Rats do GBH mesclado a uma linha de baixo frenética alá Matt Freeman do Rancid e uma gaita pub rock para bagunçar tudo.
A letra fala sobre a tal da Cátia Carioca, aparentemente o nome de “guerra” de uma garota de programa que trabalha em um famoso prostíbulo da cidade de São Paulo. Ela que tem que lidar com um personagem boêmio que não tem nada a perder noite adentro. O que se passa a seguir, bom, a letra é meio que auto explicativa.
Como é uma banda com a proposta totalmente teatral, a tiração de onda claramente é com grandes empresários que após o expediente descontam tudo em noitadas em famosos inferninhos, casinos e bingos clandestinos.
Estas regadas a álcool, “festinhas” e drogas ilícitas. Uma vida vazia e auto-destrutiva. Consigo até imaginar um clipe folclórico com um senhor de meia idade bem trajado com seu charuto fazendo a festa e perdendo a cabeça.
A faixa título “É o Que Me Resta” tem uma levada ainda mais canalhona, de perder a cabeça e chutar tudo para o alto. Com influências de blues/country alá Supersuckers + Motorhead: o lado mais bagaceiro é exaltado.
A desilusão com o mercado de trabalho, os amigos e os amores levando nosso personagem a cogitar coisas como fugir para as Bahamas, roubar um banco, “comer puta na cama” e “encher o bucho”.
A terceira e última canção do disquinho é “Isso Para Mim É Perfume” dos Titãs. Esta que comparada a versão que entrou no O Pulso Ainda Pulsa teve um ganho significativo em sua remasterização. Ficando mais densa, limpando algumas guitarras e dando uma nova roupagem a versão. O vocal de Roger ganha terreno e contribui para o resultado final.
O lado folk/blues foi exaltado e o punk perdeu o protagonismo. Fico até imaginando a nova versão sendo tocada em um encore com o auxílio de um carron, uma gaita, um violão acústico, chocalhos, estralos e um sing-a-long acapella. Fica a dica pois creio que ficaria demais.
Por ter sido gravado ainda no ano passado fica difícil ter uma bola de cristal para falar sobre o destino do Porno Massacre mas acredito que essa abertura sonora tem tudo para contribuir para o som. Afinal de contas uma banda que vive da mesma fórmula para sempre: está morta.