O universo sempre foi de certa forma um “objeto” de estudo do ser humano. As inquietudes por conhecer mais sobre suas origens, sobre quem é e para onde está indo. Todas essas inseguranças de certa forma sempre estiveram entre os questionamentos dos reles mortais. Religiões tentaram responder essas questões, a ciência buscou fatos para tentar responder essas inquietudes.
A astronomia surgiu no meio do caminho, observar o cosmos fez com que estudiosos começassem a ver padrões e através de cálculos matemáticos começaram a desenvolver teorias. Da idade antiga, passando pelo Egito, Grécia e civilizações aztecas, maias e tantas outras começaram o fascínio por respostas sempre esteve lá. Algumas dessas civilizações criaram métodos para se comunicar com OVNIS, já outras se aprofundaram em estudos como a astrologia.
A astrologia em sí até o separou da astronomia após a Revolução Científica e a crítica sistemática às crenças antigas e ao misticismo. Isso aconteceu apenas entre o século XVI e XVIII. Para ter ideia até sarcedotes eram mestres em astrologia na época e com essas revoluções provenientes do humanismo, se separou as crendices da ciência.
Nos últimos tempos a astrologia tem ganho um certo destaque no cotidiano, se fizermos uma rápida pesquisa com as ferramentas do google conseguimos ver o crescimento progressivo pelo assunto. Não é a toa que bloggers, youtubers, usuários de snapchat e até marcas tem utilizado do assunto.
E desta maneira até de certa forma “culta” chegamos a um disco que já no seu título remete a um signo do zodíaco. Escorpião. Escorpião que em suas altas vibrações é emotivo, decidido, poderoso, apaixonado, independente, cético, cheio de magnetismo. Já em suas vibrações mais baixas é compulsivo, obsessivo, manipulador, ressentido e teimoso. Escorpião não gosta de superficialidade, gosta de se envolver com as causas e de convencer os demais. É um signo de transformação.
Um signo um tanto quanto humano. Um tanto quanto errante e talvez por mais que o motivo pela escolha do nome do álbum que iremos ouvir hoje não seja bem este, as características desse signo podem ser observados ao longo da obra.
Menos mistério e misticismos hoje falaremos sobre Escorpião, segundo álbum do duo Godasadog.

O duo Godasadog  é composto por Victor Meira (Bratislava) e Adam Matschulat. O projeto ganhou vida em 2012, na cidade de São Paulo, quando o produtor Matschulat veio morar no Brasil. A partir disso eles mergulharam nas composições em um home estúdio localizado em Barueri/SP. O resultado disso veio a aparecer em 2013 quando lançaram o EP Casulo e o primeiro disco cheio, Hoje, lançado em setembro daquele ano.
Em 2014 eles participaram do festival Converse Rubber Tracks e tocaram na noite onde a estrela principal foi o Chromeo. Nos outros dias tiveram nomes como Busta Rhymes, Dinosaur Jr. e Chet Faker. Não teria nem como me esquecer daqueles dias, foram 5 dias de festival com muita música, entre artistas consagrados e emergentes. Uma tônica de iniciativa que deveria ter mais sazonalidade. Estive trabalhando na produção do evento e entre uma função e outra pude acompanhar alguns shows.
Cheguei a ler os nomes do cartaz e fazer aquela rápida pesquisa para saber se deveria prestar atenção. E lembro muito bem que esse nome um tanto quanto Nietzsche – do Godasadog – me chamou a atenção. Algo um tanto quanto eletrônico com rock alternativo, trip hop e experimentalismos…na hora me despertou a atenção. Ao ouvir as atrações de todos os dias cheguei a conclusão de que haviam colocados eles no dia errado.
Teria feito muito mais sentido eles no dia do Chet Faker, aliás ótimo show. O cara é realmente talentoso e tem domínio sobre seu público. Na época não era tão conhecido do público em geral, creio que o festival serviu para que o artista se consolidasse no país, algo que lá fora já era certo.
Mas voltando a banda, me surpreendeu. Não é uma tarefa fácil tocar junto com um headliner com outra proposta de som, a luta é justamente essa: prender a atenção de um cara que não foi lá para te assistir. Como apreciador da boa música independente do estilo, para mim ouvir as canções dos dois primeiros trabalhos do duo ao vivo foi uma grata surpresa. Principalmente pela energia e domínio do palco.
Após o show que fui descobrir que Victor também faz parte da banda Bratislava, que aliás em 2015 eles lançaram um ótimo disco, Um Pouco Mais de Silêncio. Caso não tenham ouvido ainda vale a pena ir atrás e olha que ótimo: tem no Spotify.
Já Adam tem uma carreira como produtor, criou tem alguns anos um selo, a Resterecords. Inicialmente a ideia era de ter ele para poder lançar seus projetos pessoais porém com o passar dos anos ele começou a lançar artistas experimentais da música eletrônica e contemporânea na Europa. Ele irá comentar disso mais para frente na entrevista que fizemos com o duo.
Diferentemente dos primeiros álbuns do projeto, este foi gravado a distância. Victor em São Paulo e Adam em Londres. A internet foi o elo para que conseguissem gravá-lo. Foram inúmeras reuniões online para chegar nas oito canções. Sobre a experiência Victor conta:

“Foi um processo de enviar partes para receber réplicas, entregar mais coisas, e ir somando, sempre com o carinho de não limitar o campo criativo do outro, mas também com assertividade, para que a música não virasse uma geleia disforme e imprecisa.
Algumas músicas foram compostas e gravadas em 2014, outras em 2015 e algumas ainda agora em 2016. Dentro do universo de cada música tem lapsos temporais e diálogos estranhos entre o eu de 2013/14, e o eu de 2016, assim como o Adam compôs também algumas bases lá em ’13 e ’14 e outras mais recentes”, explica Victor Meira

Escorpião foi lançado no dia 21/11 pelo selo Resterecords sob o signo de Escorpião, aliás no último dia. Talvez por isso tenha algumas características de sagitário e tenha viajado e estrelado em tantas listas de fim de ano.
Mas vocês devem estar se perguntando até agora mas porque raios Escorpião, calma, aqui está a resposta:

“O nome desse álbum ia ser ‘DEUX’. Deux de ‘dois’ em francês, por sermos um duo, por ser nosso segundo disco. E porque brinca com “deus”, de ‘GODasadog’. Mas o Adam não estava gostando. Ficou como nome-protótipo durante toda a composição/produção do álbum. Recentemente, quando decidimos a data de lançamento, sugeri ‘Escorpião’, signo sob o qual o álbum vai ser lançado”, explica Victor Meira


Godasadog – Escorpião (2016)



Talvez eles nem imaginem mas escorpião é um signo um tanto quanto místico, é o signo das transformações profundas e carrega uma carga emocional enorme. Mergulha no subconsciente e te faz refletir, as vezes tanto que te deixa um tanto quanto pessimista. Porém por outro lado ele veio para brilhar, é detalhista, obsessivo e gosta das coisas bem feitas.
Características estas que percebemos ao ver como Victor fala sobre sua arte:

“Acredito que o Godasadog é vanguardista dentro de seu ‘ambiente’, carrega aspectos estéticos e conceituais que desafiam valores e noções dominantes de como nos engajamos com a música”, explica Adam.

O disco carrega uma imensidão de emoções, dualidades, memórias, altos e baixos – em seu tom. É um álbum sobre conflitos, lutar contra seus medos, viajar por universos paralelos, lidar com os sentimentos confusos em busca da sua verdadeira essência entre outros. Cada canção tem sua particularidade, sua história, sua musicalidade, contexto e uma carga emocional distinta.
O álbum se inicia com “Festa” uma canção introspectiva ao mesmo tempo que carrega beats dançantes. Já mostrando desde o começo que a dualidade do Yan Yang fazem parte da alma do álbum. Os medos são exaltados com delicadeza, a festa seria um mundo oculto como a própria canção diz “a festa é um lugar nunca tocado pelo sol”.
Uma música que viaja pelas ondas do superego, este universo tão obscuro da mente humana. E se fizermos mais um paralelo com a astrologia, Escorpião é o signo das grandes transformações do sub consciente tendo como regente o planeta Plutão. Frio e destruidor.
“Espera” já começa com beats mais agressivos e frenéticos. A inquietude de uma mente aflita com a espera eterna. Esta que dilacera a alma pela sua angústia. Os synths e os samples permitem com que o ouvinte viaje por universos paralelos. A melodia na voz de Victor também mostra uma inquietude de uma mente que está prestes a explodir.
No seu minuto final, é quase que sem fuga esta explosão. A canção ganham uma pegada mais progressiva e flerta com a sonoridade industrial que consagrou Trent Reznor (a mente por trás do Nine Inch Nails).
Já “Trauma” te convida para o diálogo. Uma canção mais minimalista e intimista. O plano dos sonhos e do oculto volta a ganhar protagonismo. Tanto que a canção é descritiva e tem um tom crítico em relação aos traumas e decepções.
Através de metáforas e figuras de linguagem a poesia dá novos ares para que os beats brilhem. É uma canção um tanto quanto sensorial, o ouvinte se sente aprisionado em um buraco negro. Como se estivesse preso em um labirinto.
Desta forma chegamos a “Infância”, uma canção que mistura estilos como Trip Hop/Boom Bap de maneira sagaz. Talvez por isso seja um dos destaques do álbum. A canção faz uma viagem ao tempo, navega por traumas, boas memórias e passagens. Passando a limpo a infância para que assim tentar compreender seu “caos” atual.
Até fala sobre amigos que permaneceram na religião do berço. Na entrevista que irão ler daqui a pouco Victor explicará um pouco mais sobre este posicionamento religioso. O amadurecimento é um dos temas da canção e a rima cai para dentro fazendo a “limpa”.
Chegamos a “Treta” uma canção que mantém o Trip Hop adicionando elementos do Cloud Rap. Ela já chega colocando o pé na porta, com a língua afiada seus versos procuram redenção de forma prática.
Na linha de frente, com o molotov na mão pronto para ser arremessado. Condena a religião vista de maneira cega. Os preconceitos e a manipulação. Até mesmo o tribunal das redes sociais é posto em pauta nas rimas. A falta de diálogo e usar o nome de Deus em vão são temas condenados pela canção.

Escorpião é o segundo álbum cheio do duo Godasadog. – Foto: Divulgação

Na sequência vamos a uma canção que fala sobre São Paulo, “Bairros”. Um fato curioso é que a faixa conversa com dois momentos distintos da vida. Como conta Victor, a primeira estrofe “Por onde essas solas tão desgastadas me levam” foi composta e gravada em 2013. Já a segunda estrofe  “Na cidade do bom gosto, molhada de garoa quente” foi composta e gravada em 2016. Assim mostrando diferentes momentos e reflexões na mesma música.
A canção traz o barulho do asfalto em sua introdução. Cheia de ironias ela carrega acidez em sua forma. O cotidiano, a rapidez, a falta de compaixão com o próximo e os desequilíbrios da megalópole são expostos da faixa.
A melodia me remeteu ao lado urbano e de certa forma me lembra o universo do Lou Reed, em certo momento me lembra a clássica “Perfect Day” do maravilhoso Transformer (1972). Mas vai além do campo sonoro, a poesia crítica, ácida e sagaz de “Bairros” também remetem a mente geniosa do nova iorquino.
Assim chegamos ao ponto alto do disco, o Hit Perdido de Escorpião: “Escuridão”. Que música, amigos. Ela faz com que soframos juntos e trata de assuntos tão universais como os medos que tínhamos quando éramos pequenos, aquele assustador medo do escuro e coisas que simplesmente não conseguimos explicar: apenas sentir.
Os beats seguram e catalizam as densas emoções. Com uma levada pop ela cativa sem muita dificuldade. É interessante observar nessa canção as camadas e viradas, a batida de Drum & Bass dá toda uma atmosfera ímpar para o hit. O recurso do Dubstep também é utilizado em seu minuto final onde tudo parece se desintegrar.
Para fechar o álbum chegamos a oitava e última canção do disco, “Sargas”. Após a desintegração em “Escuridão”, o que restam são apenas fragmentos. E “Sargas” te transporta para outra galáxia do sub consciente onde o silêncio atormentador perturba a mente. Aquele horizonte onde conseguimos ouvir os sons das sinapses do cérebro se movimentando. A reflexão e procura eterna por sua paz interior.
Escorpião é um álbum assim como o signo do zodíaco, forte. É sagaz, delira pelo campo das emoções. Mostra os altos e baixos em busca da sua essência. É poderoso, magnético e minimalista. Consegue mostrar o lado mais humano através de reflexões introspectivas que dão margem a cada ouvida a uma nova interpretação. Não é nada superficial, é natural em sua essência. Em suas letras por muitas vezes busca por tirar aquele sufoco no peito.
Através da nostalgia em canções como “Infância”, “Traumas” e “Treta” tenta expurgar fantasmas do passado. O oculto e os medos também por sua vez tem espaço ao longo do disco. Tudo colocado de maneira delicada e com beats que conseguem criar universos específicos para que seja possível sentir junto ao intérprete toda dor ali expressa.
É um disco que olha para dentro, passa a vida a limpo e sofre para que desta forma consiga transcender. A dualidade de sentimentos e a confusão mostram que para o amadurecimento é necessário passar por estas etapas: feito um purgatório.
Victor e Adam gravaram o álbum a distância. Victor em São Paulo e Adam em Londres. – Foto: Divulgação.

[Hits Perdidos] O segundo álbum do Godasadog já chega cheio de mistério desde seu nome. Como chegaram a escolha do nome Escorpião? Vocês acreditam em Zodíaco e em Karma?

Victor Meira: “Me considero uma pessoa cética, mas tenho minhas próprias teorias astrológicas. Pra mim não tem a ver com energias sobrenaturais, mas com o entendimento dos ciclos naturais e culturais do mundo – há padrões nesses ciclos. Acho que é o ponto de partida. Anyway, me divirto com o zodíaco, com astrologia… Mas a parada toda é muito mais simples: nosso disco foi lançado no dia de aniversário da minha mãe, a ideia do nome me surgiu disso.”

 
[Hits Perdidos] A busca por despertar sensações através da arte estão dentro da proposta do projeto. O próprio álbum possuí diversas texturas e sonoridades. Como é o processo criativo de vocês?

Adam Matschulat: “Acredito que a palavra que melhor descreve nosso processo de criação é a maleabilidade. O processo criativo entre nós dois depende da música em que estamos criando – não podemos esquecer que esse álbum foi feito à distância, então, até antes de nascer, a dinâmica entre eu e o Victor, o processo criativo já foi iniciado individualmente – o que também varia muito com cada música.
Eu não tenho um ponto de partida padronizado como certos produtores têm. As vezes nasce do caderno, as vezes de um som específico que gravei anos atrás e redescubro explorando minha biblioteca de sons, às vezes começo por aqui, as vezes começo por ali…
Às vezes passo a bola invisível pro Victor também… Com convenções, circunstâncias e ideias pra criar em cima, ao invés de um beat… A gente se desafia e acredito que as sensações, texturas e sonoridades são resultado da nossa busca, e não a meta da criação. Acho que a meta é cavar, criar e apresentar algo coerente e genuíno.”

 

Uma semana depois do lançamento do disco a faixa “Escuridão” tocou no programa do Hits Perdidos na Mutante Radio.

[Hits Perdidos] O disco mostra diversos pontos de vista um tanto quanto conflitantes. Uma das canções que mais gostei do disco – e por está razão incluí a canção no programa Hits Perdidos na Mutante Radio – foi “Escuridão”. Por tocar no tema do medo e da insegurança. O impreciso. Como lidar com esse sentimento sufocante em um mundo que exige tantas certezas e respostas rápidas?

Victor Meira: “Pois é, Escorpião é um disco de conflitos mesmo. Escuridão fala sobre enfrentar perigos imaginários, lutar contra medos fundamentais, como o medo do escuro que a gente tinha quando era criança. Como lidar com esses sentimentos? Acho que isso vai de cada um, não tem jeito certo. Acho que é isso que define quem você é. “

Adam Matschulat: “Com certeza não existe certo ou errado.”

[Hits Perdidos] Por uma dessas coincidências da vida, estive trabalhando no Converse Rubber Tracks em que tocaram. Para mim foi uma grata surpresa assistir ao show, por mais que muitos estivessem mesmo ansiosos pelo Chromeo confesso que foi um nome que anotei para ir atrás após a maratona do festival. Se não me engano foi logo na primeira noite do evento. Hoje em dia fico pensando: acertaram em escolherem vocês mas o dia perfeito mesmo seria o do Chet Faker. Aliás, vocês curtem Chet Faker? Quais as influências do projeto?

Victor Meira: “Você tem toda razão, teria sido muito mais apropriado do dia do Chet Faker. Mas é aquela coisa da música eletrônica ser um neófito no Brasil ainda. Consideraram Godasadog como um projeto de música eletrônica e botaram com Chromeo, enquanto Chet Faker deve ter sido classificado como R&B ou algo assim? É só um chute… Mas, poxa, teria sido muito legal, eu adoro o trabalho dele.”

[Hits Perdidos] Pergunta para o Victor: O que sente que flui natural no projeto que no Bratislava de certa forma não teria espaço?

Victor Meira: “No Godasadog em geral o processo criativo é mais ágil e menos limitado. Vou explicar. É mais ágil porque somos apenas dois, então é menos gente pra criar, menos inputs, menos mentes pensando, mais foco. É um lidando diretamente com o feedback do outro, enquanto na banda cada um tem um processo e uma velocidade criativa diferente.
E é menos limitado porque na Bratislava a gente procura agir dentro do nosso campo instrumental (baixo, guitarra, bateria e sintetizador) enquanto que no Godasadog criamos tanto com instrumentos (piano, sintetizadores, clarinete, baixo) quanto com beats eletrônicos, ruídos e timbres criados digitalmente, às vezes com dezenas de camadas sobrepostas, sem limitações nesse sentido.”

 

O disco foi gravado a distância com a ajuda da internet. – Foto: Divulgação

[Hits Perdidos] Pergunta para o Adam: Como tem sido o trabalho com seu selo, Resterecords? É um projeto recente? Como é o trabalho de pesquisa, produção e curadoria?

Adam Matschulat: “O Selo Resterecords foi criado em 2013 somente como uma plataforma de publicação, para possibilitar meus projetos continuarem indo pra frente e pra eu poder continuar focando em criar coisas novas.
Porém ano passado eu dei um foco legal para lançar pessoas que admiro na cena contemporânea eletrônica la na Europa. Hoje estamos expandindo legal e operamos mais no lado left-field e experimental contemporâneo na Europa.
O trabalho de produção e curadoria é algo que tento fazer da maneira mais transparente possível. As pessoas que eu lanço eu converso bastante, tento clarificar o máximo: o que que é possível e o que que não é.
Coloco todas as cartas na mesa e dali pra frente sugo todas as intenções e preocupações que o artista tem com o trabalho dele. Dali vemos se a Resterecords é um lugar legal pro projeto deles e se sim, vamos para frente em parceria. Trabalho só com musica e artista que admiro e que acho que encaixa legal no selo. Dali pra frente o processo de produção e lançamento é extremamente prazeroso.”

[Hits Perdidos] “Infância” conta sobre histórias da época através de um rap/trip hop. Aliás como observam o crescimento do revival do noventista, trip hop?

Victor Meira: “Sim, Infância é um depoimento e um desabafo meu, da minha infância. Tudo o que eu conto ali é real, nasci em berço cristão e vivi num meio bastante religioso até o fim da adolescência, quando comecei a rever minha filosofia de vida.”

Adam Matschulat: “Vamos sempre estar observando revivals…”

[Hits Perdidos] As composições são abertas e deixam o ouvinte viajando tentando imaginar cenários. Vocês tem planos de lançar algum clipe? Se pudessem chamar um diretor de cinema para dirigir, qual seria?

Victor Meira: “Temos planos pra produções em video sim! Sonho em um dia produzir um clipe numa estética tipo Kung Fury, haha! Acho foda. Gosto da ideia de animações também. Mas no geral acho bastante desafiador sequer falar de videoclipe. Além das questões de produção (um clipe simples, razoavelmente bem produzido, não custa menos que R$ 20.000), manter alguém por mais de 1 minuto contemplando o mesmo video na internet é das tarefas mais “cabulosas” hoje em dia.”

[Hits Perdidos] Vocês tem saído em uma “porrada” de listas de fim de ano como um dos melhores discos independentes nacionais. Do primeiro trabalho para este, estão sentindo agora maior reconhecimento?

Victor Meira: “Cara, o mais legal das listas é que mais gente fica com vontade de ouvir o álbum, sabe? Mais gente passa a botar fé, a gente observa, acompanha o crescimento nos números de plays nos streamings, de downloads no bandcamp.
Isso é muito legal, porque muita música boa é feita hoje em dia, todos os dias, no país inteiro. Quem acompanha os sites de música independente ou loggers, como o Hominis Canidae, sabem do que eu tô falando. E é bem difícil ouvir tudo o que sai, é coisa que pouca gente, pesquisadores, fazem.
Então as listas vem pra indicar um punhado ali que merecem atenção, isso é massa. Eu mesmo consumo listas de fim de ano, acabo conhecendo muitos sons que tinham passado batidos por mim ao longo do ano.
Quanto à questão do reconhecimento, acho que o Hoje foi bem recebido de forma geral em 2013. Tô sentido que tá sendo meio parecida a recepção.”

Adam Matschulat: “Maior reconhecimento eu não sinto não. Sinto muita, mas muita gratidão pelos ouvintes. Fico muito feliz quando saímos nessas listas não porque chegamos a um certo top X, mas porque quem fez a lista ouviu o disco inteirinho e tá recomendando. Obrigado :).”

[Hits Perdidos] Fim de ano é aquela coisa, retrospectiva. Qual seria a lista de melhores de 2016 para vocês?

Victor Meira: “Entre os discos que mais gostei posso citar o Aprendiz de Sal da Stella-viva, o novo do Lineker (com E!) e Princesa, da Carne Doce. Ouvi muito o Blackstar (Bowie) e o A Moon Shaped Pool (Radiohead) também, apesar de só gostar mesmo de umas 4 faixas do disco.”

Adam Matschulat: “Complicado responder isso porque 2016 eu dei um foco pra estudar música clássica. A Segunda Escola de Viena (Schoenberg, Webern e Berg especificamente) é algo que vale muito a pena se mergulhar. Eles estavam empurrando muito, mas muito mesmo, as fronteiras e as noções do que que é aceitável em música na época.
Também descobri Zelia Barbosa esse ano (70’s)… Mas ok. 2016: Blackstar foi um lançamento incrível… Junto com o último do falecido Leonard Cohen… O Lodestar da Shirley Collins.. Mas acredito que o álbum que eu mais ouvi foi o Hopelessness da Anohni (Maio 2016).”

[Hits Perdidos] Se pudessem montar um line-up de um festival. O que não poderia ficar de fora?

Victor Meira: “Haha, pergunta maneira. Vamo lá, botaria Radiohead, Hiatus Kaiyote, Badbadnotgood, Deep Sea Diver, Antemasque, Nine Inch Nails, David Byrne + St. Vincent, Toro Y Moi, Portishead, o pianista Nils Frahm fazendo duo com o Vitor Araújo (imagine???), o jazz/trip-hop da israelense LayerZ, o chileno divertidíssimo Pedropiedra e as brasileiras Ventre, Hierofante Púrpura, Stella Viva, Carne Doce, Supercolisor, Oto Gris e um reunion da Jennifer Lo-Fi.”

Adam Matschulat: “Pergunta difícil demais….”

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This post was published on 17 de janeiro de 2017 11:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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