Poucos vivem, muitos sobrevivem. Já diria a poesia marginal. Em meio ao caos que é viver em sociedade e dificuldades cotidianas talvez o segredo seja mesmo tentar encontrar o equilíbrio. E a paz tem que vir de dentro de você, feito uma bela melodia silenciosa.
Devemos antes de tudo compreender que nada como um dia após o outro, nada como aprender com as derrotas mas saber vibrar com as vitórias. É plantar a semente do namastê. Abraçar a vida e tentar vê-la de forma mais positiva. Assim naturalmente aos poucos as coisas melhoram.
Nos Estados Unidos até existe a expressão: PMA. Sigla para “Positive Mental Attitude”. O conceito para o surgimento do termo veio da a obra de Napoleon Hill, “Think And Grow Rich” (1937), por mais que esta jamais tenha utilizado do termo, foi o embrião da ideia.
Anos depois, o escritor com veia empreendedora ao lado de W. Clement Stone lançou o livro “Success Through a Positive Mental Attitude”. E desta vez desenvolveu e aplicou o termo. Ele definiu o PMA pela soma das palavras: fé, integridade, esperança, otimismo, coragem, iniciativa, generosidade, tolerância, tato, bondade e bom senso.
Na aplicação o PMA é uma filosofia que prega que ter uma visão otimista em todas as situações de sua vida atrai mudanças positivas e sua chance de alcançar o sucesso. A pessoa que adota este estilo de vida pesquisa, acha e executa maneiras para alcançar o almejado sucesso independente das adversidades. Ou seja é o contrário da negatividade, derrotismo e da falta de esperança. Otimismo e esperança sendo a força motriz para seguir em frente.
De certa forma essa visão sobre a vida contaminou com um viés menos empreendedor além de escritores, filósofos e acadêmicos: a cultura urbana. Não demorou muito para chegar na música. Se observamos o surgimento do Rap e do movimento Straight Edge vamos notar muito disto por trás dos discursos, ideologia e poesia. Afinal de contas todos almejam uma vida melhor e a arte é mais uma forma de expressão.

Diretriz é um duo de rap formado por Guz (Gustavo Ribeiro) e Brow (Bruno Maciel) – Foto: Divulgação

Acredito que este conceito de ver a vida positiva, aprender com os altos e baixos e seguir seu caminho em direção do que acredita sejam o norte do som do Diretriz. Nos últimos dias pude ouvir o álbum Manifesto Interior lançado em 2015 e pude notar essa energia positiva equalizando nas caixas de som. São músicas que dialogam com a consciência, permitem a reflexão e buscam a essência através das vibrações mais altas.
Formado em 2013, o duo composto por Guz e Brow começou a se destacar no cenário musical de Limeira (interior de São Paulo) chegando a conquistar o primeiro lugar na 14º edição do Festival Canta Limeira (Festival de MPB). Com sua atitude, shows enérgicos e mensagem positiva chamara a atenção do Coletivo e Selo King Chong. Que abriu as portas e trabalha com coletivos em várias partes do mundo.
Essa conexão através da arte já possibilitou duas passagens pela Bolívia. A turnê mais recente passou pelo Uruguai, levando as rimas do Diretriz além das fronteiras. Algo que fez com que a energia para 2017 fosse renovada, afinal de contas o intercâmbio cultural com as veias sangrentas da América latina estreitou laços e de certa forma mudou a forma que eles tem de observar o mundo.
Nada como conhecer uma cultura diferente e ver que existem problemas parecidos para transcender. O sentimento de união, solidariedade, empatia se solidificam e transformam. Renovam a alma e as perspectivas, parece que observar além do umbigo tem o poder de apurar o olhar. E se tratando de rap, nada como encontrar novos horizontes para criar novas rimas e beats contagiantes.
Foi dessa soma, sinergia, conexão e alguns milhares de quilômetros rodados que fizeram com que o clipe de “Caos e Paz” ganhasse um novo cenário. O duo está lançando hoje com exclusividade para o Hits Perdidos o vídeo que conta com imagens registradas durante a turnê pelo Uruguai realizada em abril do ano passado. Quem assina a direção é o próprio Guz.

Para saber mais sobre como foi a tournê pelo Uruguai e os planos para 2017 conversamos com o duo.
[Hits Perdidos] O clipe de “Caos a Paz” conta com imagens registradas durante a turnê no Uruguai.

Como foi a experiência e a sensação em mostrar o som de vocês fora do país?

Diretriz: “Nós vivemos algo parecido em 2014 e 2015 com viagens para Bolívia, a primeira para se apresentar em turnê junto com a banda Laranja Oliva, e no ano passado pra participar do Festival R.U.A., que é um festival aqui de Limeira, organizado pelo Coletivo King Chong, do qual fazemos parte e teve sua primeira edição latino americana na Bolívia em 2015.

Nosso som é muito marcado e ganha relevância paras as pessoas a partir das letras e do conteúdo que elas carregam, e isso acaba gerando um receio na hora de se apresentar em outro país, as gírias, a grande quantidade de palavras e a velocidade das levadas, dificulta o entendimento completo da mensagem. Nos surpreendemos ao notar que a energia e toda performance corporal conseguiu tocar as pessoas que entraram em contato com as músicas, independente de estarem ou não entendendo nossa língua, entenderam nossa linguagem.”

O linguagem corporal das apresentações do duo foi fundamental para a aproximação com o público uruguaio. Imagem registrada durante show realizado em Montevideo. – Foto: Divulgação

[Hits Perdidos] Ainda sobre a turnê, como foi a receptividade do público uruguaio? Vocês se reuníram com um coletivo local, como foi a troca de vivências? As dificuldades são parecidas?

Diretriz: “Foi incrível, não fizemos shows pra grandes públicos eram sempre bem intimistas as apresentações.

A vibração e o encantamento das pessoas deixou a gente comtemplado, uma coisa que surpreendeu foi a maneira com que os uruguaios curtem um rolê, na hora das apresentações prestam muita atenção na atração, demonstram interesse no que está acontecendo e em se conectar com a energia daquele momento, e pra todo artista isso é extremamente gratificante.

Os coletivos foram a base pra tornar possível a turnê. Somos integrantes do Coletivo King Chong, que trabalha com produção cultural, comunicação e arte, recebemos artistas do Brasil e da América Latina na sede do coletivo para se apresentaram na cidade e seguirem viagem/turnê.

Esse vínculo é que gera os intercâmbios, e foi dessa forma que conseguimos fazer três viagens para realizar shows em outros países. Passamos por 4 coletivos durante a turnê, ainda no Brasil em Rio do Sul na Oca Cultural, no Uruguai passamos pelo Lengue Lengue na cidade de Maldonado, em Montevideo ficamos hospedados na Cooperativa Cultural Capurro e nos apresentamos no La Cuadra.
Tudo isso aconteceu com o esforço dos coletivos e produtores locais, principalmente pela articulação feita pelo produtor cultural Pablo Saquieres, que passou por Limeira em 2016, em turnê com a banda Mandinga Jazz, ficou hospedado na casa coletiva King Chong e em seguida fez o convite para nos apresentarmos no Uruguai.

A turnê nos possibilitou além das apresentações, trocar experiências, informações e tecnologias com outros coletivos, identificamos que são vivências parecidas e  as dificuldades também. É muito interessante observar que o que gera movimento nisso tudo é o brilho no olhar de cada pessoa que faz a cena acontecer.”

[Hits Perdidos] É muito difícil o som dos países latino americanos chegar ao conhecimento do brasileiro comum e muitas vezes passam batido pelas FM’s.

Vocês acreditam que falta também um pouco mais de intercâmbio musical entre o Brasil e outros países vizinhos?

Diretriz: “Não só musical, mas um intercâmbio cultural intenso. A América Latina tem ritmos, lutas, histórias, cores e sabores incríveis. Conhecer alguns países vizinhos nos transformou de tal maneira a mudar o nosso modo de pensar e nos enxergar no mundo, reafirmou nossa identidade e nos fez sentir orgulho de estar juntos de culturas tão ricas e de povos por demais interessantes. Impossível isso não influenciar na nossa arte.

Uma perspectiva interessante é de que já existem meios de realizar esses intercâmbios culturais de forma sustentável, a partir das organizações coletivas e de uma rede de colaboradores espalhados por diversos países latino americanos que estão trabalhando para que isso aconteça.”

[Hits Perdidos] A faixa está presente no disco “Manifesto Interior”, lançado em 2015.

Qual seria a diretriz para alcançar a tão almejada paz?

Diretriz: “Enxergar o caos como gerador de todo movimento, entender que a vida acontece entre altas e baixas e tentar harmonizar as coisas. Tipo arte.”

[Hits Perdidos] O que podemos esperar do Diretriz neste 2017?

Diretriz: “A gente seguiu o fluxo das coisas até agora sem muito planejamento, pra fazer música é preciso viver antes, então nosso compromisso tem sido nos movimentar pra fazer sentir. O EP Manifesto interior nos possibilitou muitas vivências por diversos lugares, e histórias pra contar. Também nos ensinou muito sobre o processo das coisas, da criação até a gravação e produção.

Música é uma coisa muito sincera pra gente, então não há uma ânsia em fazer as coisas correndo pra lançar na rua. Estamos trabalhando em um CD e em alguns clipes também.

Tudo com a ajuda de amigos artistas aqui da cidade, Limeira está fervendo então com certeza boas produções estão por vir  e novas turnês, conhecer o Brasil profundo e a América Latina é um sonho, vamos trabalhar!”


Playlist Especial do Lançamento no Spotify

Para fechar o lançamento do clipe “Caos e Paz” sugerimos para que eles elaborassem uma playlist com o seguinte ponto de partida: Quais canções levam vocês do Caos a Paz?
O resultado vocês podem conferir no perfil do Hits Perdidos no Spotify!
Não deixem também de seguir o perfil do Diretriz por lá.



A amizade derrubou fronteiras e estabeleceu diretrizes. Foto registada em Ciudad De La Costa, Uruguai. – Foto: Divulgação

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This post was published on 16 de janeiro de 2017 9:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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