Dum Brothers: Duo traz "sludge dançante" em seu EP de estreia

 Dum Brothers: Duo traz "sludge dançante" em seu EP de estreia

Hoje é de rock escrachado e cheio de personalidade, como todo som deveria ser, de dois amigos que inicialmente queriam fazer uma banda de Doom Metal. Quem lê assim pensa que vamos falar de rock extremo como do Sunn O))), Pentagram, Katatonia, Type O Negative, Agalloch ou Neurosis.
Mas nada disso, a vontade inicial de ser bad boys from hell  passou quando decidiram partir para jams. E quem tem banda sabe: quando flui muitas vezes o resultado é mais interessante do que a ideia inicial.
A partir do momento que decidiram fazer um som sem rótulos pré estabelecidos a coisa fluiu de maneira mais natural. Toda aquela bagagem do repertório musical de uma vida toda fez sentido, e assim nascia o duo: Dum Brothers.

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Dum Brothers: Bruno Agnoletti (bateria) e Raul Zanardo (Guitarra/Vocal) – Foto: Erik Lopes

Direto do bairro da Penha (Zona Leste/SP) eles entraram em contato após ver um dos adesivos com QR Code do Ruídos Urbanos enquanto se deslocavam por sua rotina. Como o projeto encoraja os artistas a enviaram o material para ser incluídos na playlist, eles o fizeram. Ao receber o e-mail, ouvi o som deles e além de incluí-los na da Augusta quis saber mais sobre a história.
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Saiba mais sobre a playlist da Rua Augusta

Raul Zanardo e Bruno Agnoletti formaram o duo em junho de 2015 após uma série de tentativas frustradas de iniciar de fato as jam sessions. Após um ano ensaiando e criando diversas composições eles chegaram a quatro músicas demo. O que deu fôlego para pensar em lançar algo maior: o primeiro EP.
Desta forma nascia o Pt. 1 (abril/2016) este que foi gravado no Studio Antonio’s (Penha – São Paulo). E o mais interessante disso tudo é que o Raul fez o trabalho todo sozinho, na lata, e participou de todas as etapas do processo de uma maneira bem D.I.Y. de fazer rock. Ele ficou encarregado de produzir, gravar, mixar e masterizar. Algo próprio de quem sabe o que quer do seu som mas por outro lado bastante desafiador.
[Hits Perdidos] Li aqui que o EP foi produzido, gravado, mixado e masterizado pelo Raul. Que máquina de D.I.Y. Como foi esse processo e quais as maiores dificuldades?

Raul Zanardo: “O processo de gravação é sempre divertido para mim. Gosto de fazer esse tipo de coisa pois sempre aprendo algo novo. Como já havíamos feito as demos, que estavam bem ensaiadas, usamos elas como backing tracks (Guias) na gravação da bateria e depois fui gravando o resto das coisas.

A parte mais difícil desse processo foi a pós-produção. Mesmo sendo um Duo com poucos elementos, a mix levou um tempo pois eu queria tudo bem alto e algumas coisas estavam embolado.

Em seguida, a masterização também foi um problema porque em qualquer som que eu colocava pra ouvir ficava meio estranho. Depois de enviar pra alguns amigos e anotar as criticas em relação ao som consegui achar uma versão bacana do som, que fiquei muito feliz com o resultado.”

Mas antes de entrar em mais detalhes específicos vamos ouvir o resultado do primeiro lançamento do duo paulistano.



Com um energia southern/blues debochada e dançante o EP se inicia com “We Really Know” que já mostra que eles não vieram para brincadeira. Destaque fica para os pedais e o artifício dos amplificadores de guitarra e baixo ligados no talo.

A sensação de ouvir a música é a de estar caminhando numa estrada que atravessa o deserto, se deparar com um bar onde começa um bang bang. Fica a dica para um possível clipe da faixa, uma cômica fuga dos forasteiros do estabelecimento…com direito – claro – a fuga de cavalo (obviamente furtado). Gosto muito como a simplicidade da faixa deixa ela ainda mais “viajada” quando somada ao artifício do pedal.

“Same Face” já tem o peso do Royal Blood em seu DNA. A melodia claramente tem influência do Black Sabbath e o efeito na voz deixa ela ainda mais moribunda. Talvez a canção que lembre o lance do tal do “Doom Metal”, de maneira positiva.

Recomendo a todos que curtirem a levada da música a ouvirem: The Sword e The Obsessed. Uma dos anos 00 – que veio para o Brasil durante o Converse Rubber Tracks –  e a outra é um dos grupos do grande Scott ‘Wino’ Weinrich, dos anos 70.

A próxima mostra o senso de humor repleto de bom humor e boas piadas do Dum Brothers. Afinal de contas, “Volta Pro Sul” começa toda pesada “tr00zona” mas logo nos primeiros versos já tira uma onda com o tom mais brincalhão e escrachado. O tal do “voltar pro sul” é realmente o que vocês estão pensando: um sonoro “vai tomar no…”.

Mas sobre isso eles ainda irão comentar mais tarde. As guitarras flertam com o hard rock e suas progressões caem para a levada do stoner séria, só que a letra dá uma leveza e ao menos para mim soa como uma grande brincadeira com qualquer som com a intenção de se levar extremamente a sério. Até o artifício dos backin vocals conversarem com o riff de guitarra deixa a atmosfera ainda mais farofa.

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A próxima faixa eu acho que é o Hit Perdido do disco. “Got To Do” ao menos para mim num disco cheio seria um single. Tem uma atmosfera do rock’n’roll dos anos 70 de grupos como T.Rex, 999, Richard Hell & The Voidoids indo de encontro com o som garageiro super atual do Black Lips. Os arranjos tem detalhes e tem espaço até para a psicodelia mesmo que de plano de fundo. Simples, nostálgica e termina com um final seco.

Para fechar o disco nada como uma faixa com astral lá no alto. E “Sonho” sintetiza um pouco do deboche que temos em “Volta Pro Sul”, só que dessa vez temos mais peso nesta composição. Que me remete as cavalgadas sonoras que o Death From Above 1979 imprimiu no começo dos anos 00′, com letras mais de “zona, baderna” de uma noite onde tudo deu errado e não adianta culpar a bebida.

Pt. 1 (2016) é um bom EP de estreia cheio de influências e rico nos detalhes, dos sórdidos aos técnicos. Tem uma energia muito boa e evolui a cada ouvida. É muito difícil ter um veredito ou impressão sincera numa primeira audição. O que te faz voltar a fita por diversas vezes e começar a dançar onde quer que esteja.

O lado D.I.Y. de querer fazer as coisas também deve ser destacado, afinal de contas o mérito de ir atrás de aprender a fazer cada parte do processo não é para qualquer um. Em um tipo de som onde muitos buscam a auto-afirmação, o Dum Brothers vai totalmente na contramão.

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Dum Brothers em ação no Parque Tiquatira (Penha) – Foto: Amanda Sampaio da Silva

[Hits Perdidos] Como se conheceram e como surgiu a ideia de formar o Dum Brothers?

Raul Zanardo: “Nos conhecemos no colégio técnico na Penha, o Aprígio Gonzaga,” o Bruno apareceu no primeiro dia com cara de mau e um monte de Vinyl embaixo do braço. Foi engraçado. No segundo semestre ele largou o curso e sumiu durante uns anos. Em 2014 eu estava indo pro trabalho eu o avistei do ônibus”
Bruno Agnoletti: “É verdade, naquela época eu trabalhava numa oficina de customização de motos aí o Raul passou la na paulista de ônibus. E naquela semana a gente saiu pra tomar umas e ficamos viajando de fazer um DUO pra tocar uns covers de outros DUOs, a gente ficou enrolando e isso nunca saiu.”
Raul: Depois de um ano eu estava na onda de ouvir muito Doom e Stoner e chamei o Bruno pra tocar baixo num power trio de Doom/Stoner/Sludge. No primeiro ensaio, que não estava indo muito bem, a gente trocou de lugar e aparentemente o bruno tocava bem bateria. Depois desse ensaio a gente fez o Duo e começamos a fazer as musicas sem nenhum tipo de objetivo nem nada, só fazer musica de jeito que ela vier sem rotulo nem nada.

[Hits Perdidos] Quais são as principais influências?

Raul: “São tantas que eu nem sei por onde começar, as vezes estou ouvindo bandas que faz tempo que não escuto e percebo algumas coisas parecidas no Dum. Tem Grand Funk Railroad, Black Sabbath, Hellacopters, Queens of the Stone Age, Arctic Monkeys, Silverchair, Kyuss e por ai vai.”

Bruno: “Eu tenho bastante influencia nacional, Mutantes, O Terço, Casa das Maquinas, Made in Brazil, aí vem as Gringas, Lynyrd Skynyrd, Queen, Rush, Led, etc.”

[Hits Perdidos] Quais outras influências vocês citariam que fariam o pessoal cair de costas…mas que de alguma forma ou outra contribuíram para o resultado?

Raul: “Nosso gosto musical é bem variado. Eu curto muito Daft Punk, Foals, Mutemath, The Beatles, Los Hermanos, Gentle Giant, Yes, Emerson Lake & Palmer, King Crimson, Novos Baianos, Jethro Tull e etc.”

Bruno: “Ahh, tem alguns estranhos aí, porque tudo que a gente ouve acaba de uma forma ou de outra influenciando o som. Bee Gees, Tame Impala, MGMT, Elton John, Andy Gibb, Marvin Gaye, Caetano, A Cor do som, 14bis, Secos e molhados, etc.”

[Hits Perdidos] Qual a origem do nome Dum Brothers? Tem algo a ver com o Dum Dum Boys*?

*Maneira que os Stooges se chamavam, inclusive tem uma canção do Iggy Pop que ele se refere aos companheiros de banda pelo termo.

Raul: “Como inicialmente iríamos fazer uma banda de Doom Rock/Metal, fizemos essa brincadeira com o nome pra ficar errado mesmo, já que não temos nenhuma música que se encaixa em Doom que é um estilo bem pesado e lento.”

[Hits Perdidos] Vocês gravaram o primeiro EP, Pt.1, no Studio Antonio’s. Como foi o processo de gravação?

O processo de gravação foi bem tranquilo, como já tínhamos as demos bem ensaiadas, gravamos as baterias no Antonio’s  numa sessão de 6 horas na madrugada de sábado pra domingo e depois fui gravando as guitarras e vocais em casa mesmo.

Foi engraçado gravar os backing vocals do Bruno, pois ele falou que esquece a letra do refrão de “Same Face” que é bem simples, aí escrevi num papel em letras garrafais “TAKE! JUST BE BRAVE!”. Ele conseguiu gravar depois.
Na “Volta Pro Sul” tem uma parte antes do final com um coro “OH OH”, nesse dia chamei algumas amigos, peguei todos os fones que tinha disponível e gravei uns 10 takes pra parecer que tinha bastante gente cantando, mas eram só 5 pessoas.

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O Duo tem planos de lançar um novo EP em breve – Foto: Erik Lopes

[Hits Perdidos] Teremos parte 2 ou álbum cheio em breve?

Raul: “Sim sim, temos um plano de lançar o a Parte 2 em fevereiro e no final de 2017 lançar um algum cheio.”

[Hits Perdidos] Observei que vocês tem músicas em português e outras em inglês, algum motivo especial para isso?

Raul: Não. O processo de criação das musicas é bem espontâneo e as vezes as melodias que encaixam melhor em letras e português ou inglês. E quando escrevemos letras não temos nenhuma preferencia de idioma.

[Hits Perdidos] “Volta pro sul” tem o recado dado direto da ponta da língua. Qual a história por trás da canção?

Bruno: “Volta pro Sul”, um dia acordei fui escovar os dentes… aí veio a frase na cabeça: “Eu não sei se ainda quero você”. Aí na outra parte veio o palavrão vai tomar no cu mas eu não queria fazer uma música que sempre que vinha o refrão tinha palavrão. Não queria que ficasse tipo Velhas Virgens, besteirol.

Daí tive a ideia de por “Volta pro Sul” no lugar de “Vai Tomar no Cu”. O resto da letra é um conflito de ideias, um casal na DR: uma hora um quer, mas outro não. Aí quando o outro quer o outro não, esse é o conceito. Não teve nenhum grilo com ninguém de lá (risos).

Raul: Na letra do Bruno não tinha nenhum palavrão, eu coloquei a paradinha antes do final e o “Vai toma no C#”. Na gravação coloquei vários gritos estranhos nessa parte pra num ficar tão escrachado.”

[Hits Perdidos] Confesso que dei risadas altas com “Sonho”. Tanto do deboche da letra como da veia descompromissada do rock obscuro dos anos 70 mas bem tocada. A ideia era fazer algo de peso porém irônico com o estilo “marrento” e “fodão” do stoner?

Raul: A “Sonho” ia ser mais stoner ainda pois a primeira versão dela tinha umas dissonâncias no riff principal que na gravação da demo que não foi incluído. Ficamos um tempão tocando apenas o primeiro verso dela e repetindo o segundo, num ensaio resolvemos zoar o segundo verso e ficou cheio de palavrão e putaria.

Geralmente não temos ideia ou objetivo nenhum, as coisas vão saindo e a gente vai fazendo, mas estamos ficando mais pesados.

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Patch do Hellacopters merece até menção em algum futuro post do Ouvindo Antes de Morrer.

[Hits Perdidos] O blues de “Go To Do” talvez tenha sido uma das faixas que mais me cativou por ter toda essa levada nova iorquina que vemos desde o fim dos anos 70 – Richard Hell And Voidoids, T. Rex, 999 –  até grupos mais recentes como Black Lips. O que de certa forma é punk e diverte. Qual era a ideia por trás desse som?

Raul: “Essa foi a maior letra que eu fiz até hoje, realmente queria dizer algo nessa musica. O lance dela ter o andamento marcado no surdo foi pra cobrir a falta de baixo que a gente tinha na época pois eu não usava dois amplificadores (de guitarra e de baixo), o que deixou ela mais dançante e divertida.”

[Hits Perdidos] Qual o conceito do Pt. 1?

Raul: “O Conceito é principalmente mostrar nosso trabalho. É mostrar que também se faz música com apenas guitarra e bateria. Mostrar que dá pra fazer um disco de qualidade sendo uma banda 100% independente. Mostrar para as outras bandas que vivem procurando apoio de gravadoras que sim: dá para você mostrar seu trabalho sem depender das grandes indústrias.”

[Hits Perdidos] Ultimamente tem surgido muitos duos, alguns tem ganho destaque no mundo afora como por exemplo os stoners do Royal Blood. A partir de qual momento decidiram abrir mão do baixo e quais outros duos admiram e de certa forma inspiraram a seguir por esse caminho?

Bruno: “Decidimos não ter baixista a partir do momento que percebemos que não precisávamos de baixista (risos).”
Raul: “Eu já tocava com uma afinação bem grave e quando comecei a tocar com amplificador de baixo e um pedal que fiz pra gerenciar tudo isso. As músicas começaram a ficar mais encorpadas. Sem contar que ter uma banda com dois integrantes é uma maravilha no ponto de vista de logística e comunicação.

Além do Royal Blood, escutamos Duos como Muñoz, OzDois, Death From Above 1975, White Stripes, Black Keys, Black Pistol Fire, Strobo, Blocked Bones, FingerFingerrr , The Picturebooks entre outros.”

[Hits Perdidos] Vocês são da Penha. Como descreveriam o cenário musical da Zona Leste? Quais locais recomendariam para uma banda tentar se apresentar na região?

Raul: “O Cenário musical da zona leste é muito bom existem bandas muito boas aqui, O grande problema da Zona leste é que locais pra tocar praticamente não existem e quando tem não tem publico suficiente ou casa só aceita bandas cover pra tocar lá.

Mas tem um cara aqui na zona leste que briga e apoia a cena da região que é o Adriano Pacianotto com o Penha Rock, e tem o Luis Tavares do Studio Antonio’s que também organiza coisas por aqui. Essas são as nossas recomendações.”

[Hits Perdidos] Quais álbuns favoritos de vocês?

Raul: 

    • Thick As a Brick (1972) do Jethro Tull 

    • Ten (1991) do Pearl Jam

    • High Visibilty (2000) do Hellacopters

    • Black Sabbath (1970) do Black Sabbath

    • E Pluribus Funk (1972) do Grand Funk Railroad

    • Ventura (2003) do Los Hermanos

 

Bruno:

    • QueenQueen (1973)

    • Rush2112 (1976)

    • O TerçoO Terço (1973)

    • Deep PurpleMachine Head (1972)

    • Joelho de PorcoSão Paulo 1554 (1976)

    • Lynyrd SkynyrdSecond Helping (1974)

[Hits Perdidos] Quais bandas recomendariam para os leitores do Hits Perdidos?
Dum Brothers: Far From Alaska, Ego Kill Tallent, Five Minutes to Go, Lacuna, Water Rats, Muddy Brothers, Molho Negro, Lambada Hit Combo, Colyer, Ottis Redding , Charles Bradley, O Terço , Made in Brazil, The Picturebooks.

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