Buzz Driver: Os surfistas de asfalto vão te tomar de assalto

 Buzz Driver: Os surfistas de asfalto vão te tomar de assalto

Se prepare para ver seu cérebro derreter. Tirem as crianças da sala, os parentes com problemas epiléticos da frente que lá vem chumbo quente.

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Em meio ao apocalípse dos surfistas satânicos e macabros do Buzz Driver podemos observar o mundo de outro ângulo. Mais precisamente: de ponta cabeça para baixo. Eles definem o grupo como:

“Típica banda difícil de domar ou simplesmente ouvir.”

E de fato não estão errados. Visto que para um público em geral possa ser visto como indigesto, nada pasteurizado, ridiculamente não comercial e com uma linguagem que vai contra todos preceitos de uma sociedade tradicional e careta.

Acham que eles levam tudo isso a sério? Com certeza não, eles na verdade estão tirando uma com a cara de quem não sabe ouvir o som deles e não tem a capacidade de captar a debochada mensagem de suas letras.

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O som da banda tem origens num tempo onde o som era visto com ultrajante. Muito mais violento do que os mods e beatnicks dos anos 60, muito mais rueiro e rebelde que os engravatados da geração seguinte.

Sim, estou falando do perverso e radioativo garage rock dos anos 50/60. Aquele que veio dos porões e poucos elementos conseguiram sair de lá sem serem vistos como demoníacos. A surf music em paralelo se mistura nas influências do grupo conseguindo com que o som seja ainda mais viajante e você se sinta no pipeline.

[Hits Perdidos] Podemos considerar vocês os Beach Boys Satânicos from garageland?

A gente não tem nenhum bonitão estilo Mike Love na banda, mas fiquem a vontade.”responde o bem humorado guitarrista, André Leal

Tudo começou em 2014, como um projeto de um homem só: André Leal. Ele que também toca na excelente e lisérgica Stone House On Fire, em Volta Redonda – RJ. A inquietação e a vontade de fazer mais fez com que no ano passado André convocasse Paulo Sérgio e Lucas Dias, também integrantes de outros grupos da baixada fluminense, para integrar a banda.

[Hits Perdidos] O projeto surgiu no fim de 2014 como um projeto de um homem só. Como foi o processo de evolução para um power trio e como sente que cada um contribui para o Buzz Driver?

“Foi um processo natural, eu acredito muito que uma banda só é uma banda a partir do momento que passa pela provação do palco, e em hora nenhuma era intenção minha seguir isso sozinho ou ser só um projeto de gravar e jogar na internet.

Na verdade eu sou até bastante conservador em relação a esse lance de uma banda não existir fora do mundo virtual. Pela sonoridade/influências que eu tinha na época da gravação, o power trio era uma escolha que combinava perfeitamente com o que eu imaginava para o som ao vivo e rolou da forma mais simples possível: convidei amigos pra tocar, primeiro o Bicusso na bateria e depois o Paulinho no baixo.

Depois que a banda se oficializou como um trio, todo mundo trouxe bastante de suas particularidades, até porque eu pedi pra que tocassem os sons do EP do seu jeito próprio então acabou que já deu uma cara diferente.

Como eu gravei tudo sozinho (processo que eu não recomendo pra ninguém, achei uma experiência terrível), quando começamos a ensaiar eu já dei total liberdade pra opinarem e mexerem nos arranjos, mesmo já tendo registrado no EP, e com o tempo todo mundo começou a trazer ideias de sons/arranjos/influências para a banda o que fez com que deixasse de ser um projeto e se tornasse uma banda de fato.” conta André Leal

Assim a banda começou a operar como um power trio macabro, nervoso e ultrassônico. O que com certeza fez a banda conseguir realizar mais shows e potencializar seu roque pesado. Volta Redonda, como o pessoal tem comentado: “a cena ferve, mermão”.

A definição que eles mesmo se auto denominam também é ótima, diga-se de passagem: um power trio de surf SEM PRAIA/garage cinza/lo-fi cretinaço.

E não é que um selo da Noruega ficou por dentro do som dos caras e topou lançar o primeiro compacto da banda?

Vai achando que eles não tão com tudo. O primeiro EP do grupo, lançado em outubro do ano passado saiu pelo selo: Mooselove Records. Como o próprio André comentou, quando saiu o material: ele tinha gravado tudo sozinho então o resultado do som como banda poderá ser visto apenas no próximo trabalho. E a curiosidade claro: já bate na porta.

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Buzz Driver costuma tocar onde calhar. Seguindo os preceitos do Do It Yourself à risca.

Aliás o esquema da banda é tão D.I.Y. que eu ainda não entendi porque o pessoal da Läjä Records ainda não firmou com a caneta o contrato. Os shows tem acontecido nos entornos da cidade de Volta Redonda, intervenções artísticas em praças, casas e onde tiver espaço.

A banda tem previsão de apresentar seu novo material que foi gravado ao vivo, ainda este ano. Mas enquanto não sai vamos falar um pouco sobre o EP que foi lançado a apenas seis meses: Buzz Driver Buzz Driver (2015).

[bandcamp width=415 height=653 album=2856051112 size=large bgcol=ffffff linkcol=333333]

 

[Hits Perdidos] As influências são bastante diferentes do que a gente está acostumado. E como um fã de The Cramps, Fuzztones, The Sonics e do próprio FuzzFaces (do Brasil) posso dizer que fiquei bastante animado ouvindo o EP (Buzz Driver (Outubro/2015)). Defina o som de vocês (do jeito RAW e cru como bem quiser).

Eu acho que o ponto principal que define o som da banda é a falta de cuidado, a imprudência, a despreocupação na hora de compor mesmo. Começou com a minha forma desleixada de tocar (originalmente eu sou baterista, então durante a gravação foi a única etapa em que eu me garantia, o resto foi fruto da falta de competência mesmo, risos), mas eu tinha bem definido a ideia de sonoridade que eu gostaria que os sons tivessem.

A ideia de gravar já pensando na mixagem, e a mixagem em mono veio do fato de que as bandas clássicas que eu sempre ouvi tiveram sua sonoridade trabalhada dessa forma. Acabou que a sonoridade final mesmo, ficou com uma pitadinha de surf music obscura.” contou o guitarrista André 

[Hits Perdidos] Quais discos foram fundamentais para que o projeto ganhasse vida?

Here are the Sonics! “Clássicasso”, tenho nem o que comentar, melhor disco do universo, foi daí que plagiamos a maioria das nossas músicas (risos).

The Trashmen, Tube City, coletânea com o melhor do pior de surf music dessa bandaça. The psychedelic sounds of the 13th Floor Elevators, som podre, obscuro, mal gravado, lindo, electric jug,  CLÁSSICO.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=QEQBfJwYlLY]


Hypermagic Mountain do Lightning Bolt, (esquece esse tal de Royal Blood, melhor duo de baixo/batera da galáxia é o Lightning Bolt, risos)  talvez a influência que mais destoa do som da banda, mas carrega toda uma aura barulhenta que buscamos alcançar, e inclusive a gente toca um som desse album nos nossos shows.
Beach Boys, Surfin’USA, não tem como falar de surf sem falar de Beach Boys, ouvi muito durante a época que tava trabalhando ideias pro EP.
e por último e não menos importante, não só um disco, mas a discografia do The 5678’s (principalmente o Teenage Mojo Workout), que é um trio de garage rock do Japão, formado só por mulheres, sensacional.”

*Observação do Editor: Só recomendação foda, não deixem de ir atrás. Provavelmente o The 5678’s vocês fãs de Tarantino conhecem através do Kill Bill. Inclusive o documentário sobre o líder do 13Th Floor Elevators (Roky Erickson), You Are Gonna Miss Me (2006), é uma boa pedida após ouvir o disco.


[youtube https://www.youtube.com/watch?v=CoHxK4aUON0]

“Lazy Surf Intro” já mostra o tom que André quer conduzir o projeto e suas experimentações. Feito uma vinheta descompromissada de comercial de shampoo dos anos 50. Sabe aquelas trilhas de filmes ao retratar o Havaí com tom de deboche na sessão da tarde? Por aí.

Já “Howlin’ Boulder” que também é a faixa escolhida para ganhar um clipe todo doido cheio de recortes de certa forma toscos e cômicos – muito bem editados – tem uma levada do garage rock indo de encontro com o Stoner do Black Sabbath.

As apitadas de interferência – feitas com o artifício de pedais de distorção – criam uma atmosfera de como se tivéssemos a beira de um ataque ultrajante de alienígenas.
Teenagers from mars, and we don’t care!

[Hits Perdidos] Em “Howlin’ Boulder” eu consigo sentir um pouco de uma levada de Stoner alá Black Sabbath. Pode ser considerada uma influência também?

“Indiretamente sim, com certeza! Vol 4 é um dos melhores discos do universo, a gente pira demais e com certeza vai ser uma influência em qualquer coisa musical em que estivermos envolvidos.” comenta André Leal

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=LwrfzVYe_Gk]

[Hits Perdidos] O clipe da fugaz “Howlin’ Boulder” é um tanto quanto psicótico, com cenas de surf, rituais de magia negra, desenhos animados, psicodelia, capetas, marionetes macabras e alienígenas feito uma colagem. No melhor estilo FIDLAR e de bandas californianas de surf/punk/psicodélico/garageiro moderno. Inclusive aqui no blog temos um post com essa levada. Como foi a gravação do clipe? De onde vieram as ideias?

“O clipe foi uma colagem de imagens, bem cretinas mesmo, de influências que de certa forma faziam parte do universo do Buzz Driver e que conversando com o Anders (da Mooselove Records) percebi que faziam sentido e se interligavam, seja através da estética da época em que a banda busca influências, ou em relação à temática de algumas letras.
Mas creio que a principal força motriz foi o fato de gostarmos de filmes antigos obscuros, de onde a maioria das imagens foram “tiradas”. A ideia era passar uma sensação de urgência, de que tudo acontece ao mesmo tempo e a gente não consegue absorver praticamente nada do que nos rodeia, é tudo um grande emaranhado de informações confusas e diversas que ficam no subconsciênte.”

“Time Out” é lunática, totalmente fora do eixo. A presença da sonoridade mais perturbada e atemporal do The Sonics é facilmente perceptível. A letra é punk e explosiva, a ira e a raiva apenas precisam sair feito válvula de escape. Ela tem pouco menos de um minuto e meio então é fogo na agulha.
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[Hits Perdidos] O teor das letras parece bastante debochado e vocês parecem se divertir com a ironia do seu conteúdo. Fale mais sobre as composições.

“Muita coisa vem de considerações absurdas e visão deturpada em torno de qualquer assunto que brota, mas no geral é uma visão das coisas cotidianas sobre uma perspectiva um tanto quanto pessimista e irônica, é dificil levar determinados assuntos a sério, ou se dar conta que tem gente que leva. É meio que uma reflexão da personalidade mesmo, que se mistura com a forma natural de se expressar, com uma pitada de dadaísmo.”

Quando falo que o som deles pode parecer intragável para um pessoal de camiseta branca engomadinha, bom menino é por faixas como “Witchcraft”. Esta que fecha o disquinho de maneira épica, toda rasgada, quando você percebe ela te toma de assalto. É Sonics, caralho! Tem uma atmosfera muito pós-apocalíptica, macabra, desordenada e caótica até o último segundo. Os teclados alá anos 50 não deixam mentir, a patada é forte. Segura essa, malandro.


 [Hits Perdidos] “Witchcraft” ao menos para mim parece uma homenagem a canção “The Witch” do The Sonics. Alguns riffs me remetem a “Have Love, Will Travel” e também ao Funhouse dos Stooges. Tudo isso claro com uma nova releitura de vocês. Quando gravaram a faixa, pensaram nisso?

“Na verdade, acabou saindo meio involuntariamente mesmo. Você acertou a banda, mas as maiores influências foram “Psycho” e “Strychnine” (que a gente só não toca nos shows pra não dar na cara a semelhança dos sons hahaha) apesar de a letra dialogar totalmente com a temática “The Witch”. Dá pra considerar o som uma tremenda homenagem, salvo o solo podre invertido, que acho genial e devo 100% dos créditos disso ao Anders (do selo norueguês). Em relação aos Stooges, é a primeira vez que alguém faz referência, mas acho que não escutei tanto o Funhouse, já em compensação o Raw Power fritou por aqui.” comenta André
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Cuidado: Caso for dar uma volta pelas ruas de Volta Redonda você pode cruzar com o rocão do Buzz Driver.

[Hits Perdidos] A surf music no Brasil “bombou” bastante nos anos 60 e teve um revival interessante nos anos 90. Já o garage rock sempre ganhou energia de geração em geração por mais que a maior parte do tempo se manteve submerso no underground. Através de bandas como o incrível Butchers Orchestra.

Como enxerga a cena nacional e que bandas atuais daqui recomendaria para quem curtir o som que vocês fazem? E claro, pode recomendar também bandas que não tem nada a ver mas que tem feito um “corre” digno de se valorizar.

“A cena de surf do brasa tá forte demais, tem várias bandas animais rolando e fazendo bonito. De sopetão eu posso citar os Beach Combers (referência, do RJ), uma banda chamada Apicultores Clandestinos que conheci esses dias e não lembro de onde (*São de Florianópolis – SC) são mas o som é demais, tem o Mahatma Gangue também lá do norte (Mossoró – RN), som doido demais.
Falando de outras bandas, vou citar o Sick Visions, finada banda daqui de Volta Redonda com um vocalista “gringão” doido, “bandaça de punk doideira” que na minha opinião tava entre as melhores do brasa. Hierofante, instrumental animal lá de SP, tá tocando direto, bonito demais de ouvir. Boring Assholes também de SP, tenho ouvido bastante, é a nova coqueluche do momento em SP.”

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=nwO3RekP65M]

[Hits Perdidos] Você (André) decidiu montar o projeto paralelo sozinho. Mas já tinha outros projetos como o Eat Meat at the Pork Shop e recentemente contribuiu para o Nãda. Fale um pouco sobre os outros projetos dos membros.

“Você desenterrou o EMATPS (risos). A banda acabou em 2011 se não me engano, foi uma banda de punk/rockabilly em que toquei bateria. Tirando o Buzz Driver, todos os outros projetos em que eu me envolvi e/ou faço parte atualmente foram tocando bateria.

Hoje em dia eu toco bateria na Stone House on Fire, que é uma banda de Stoner/Psych, na Carbo (outra banda de Stoner em que também sou baterista), contribuo nas baterias do Nãda (e gravei guitarra na faixa “Nuvem Branca” no EP) além de trabalhar como produtor e engenheiro de gravação/mixagem no Estúdio Jukebox, aqui em Volta Redonda. O Paulinho toca baixo na Buzz Driver e é o GG Allin da Down Roar, banda animal de punk/hardcore/doideira aqui de Volta Redonda. O Bicusso é multinstrumenta maestro-músico e já tocou todos os instrumentos possíveis em todas as bandas da região, mas atualmente ele é o baterista da Down Roar, e vocalista e guitarrista da Stoned Lucas, bandaça de stoner do deserto, a melhor da região e do planeta.”

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Gae9mQxZGJM]

[Hits Perdidos] Para finalizar: Quais planos para o futuro? Pelo que vi tem disco de estreia programado para o fim do ano, o que pode nos adiantar?

“A ideia é tocar bastante, girar legal com esses sons do EP enquanto não sai material novo. Estamos no processo de gravação de material novo (que estivemos tocando já desde que começamos a nos apresentar) pra lançar esse ano, mas ainda não vai ser o disco full lenght não.

Gravamos algumas músicas que “tavam na manga” desde o primeiro EP, e mais outras que surgiram desde que nos firmamos como trio (gravamos todos os sons “ao vivão”, tudo bem próximo de como a banda toca nos shows, com tudo na sala pra vazar mesmo, bem sessentão, exceto pelas belas harmonias de voz que não existem na Buzz Driver hahaha).

Nossa ideia é lançar um Split mais um EP. Vai dar pra sacar nos novos sons que ta mais carregado pro surf, mais influência de Dick Dale, Scumbugs e dos Satan’s Pilgrins e tem uns detalhes mais bem trabalhados que não rolavam quando eu gravei sozinho. O que eu creio que não vá mudar, é a pegada crua, com uma certa sujeira e urgência que acredito que já sejam inerentes ao som da banda mesmo.” finalizou André Leal

Screen Shot 2016-04-16 at 3.10.54 AM

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