Com certeza você já ouviu falar sobre o Pavement – ou do nome Stephen Malkmus e seus projetos pós-Pavement – afinal a banda californiana foi uma das mais importantes do rock alternativo dos anos 90. Com cinco discos lançados pela hoje altamente relevante, Domino Records, eles acumularam durante a carreira inúmeros fãs e haters, como podemos ver neste vídeo no Lollapalooza.
Sabe quando uma banda emergente – em início de carreira – consegue um espaço num festival de grande porte e tem “aquele” azar de ter que abrir para uma plateia que JAMAIS será a sua?
Pois é, foi exatamente o que aconteceu com Stephen, Scott e Gary. O Pavement teve que tocar para uma plateia majoritavelmente composta por pessoas que jamais apreciariam a um show deles: os fãs dos red necks do Limp Bizket.
Bom daí já sabe, e quem acompanha os protestos tupiniquins já deve ter notado: a ignorância com a diferença e a violência se iniciam. Prontamente após desgostar do som que a “nova banda” estava fazendo e querendo com que o show do Limp Bizket começasse, objetos começaram a ser atirados para o palco. Uma atitude feia, covarde – feito o povo que agride pessoas por usarem camisetas vermelhas “no dia errado” e afins.
Só que o Pavement se mostrou genial e ao invés de responder com xingamentos e querer destruir aquela oportunidade de vez: eles começaram a tocar o foda-se e tocar o que bem entendesse da maneira que mais lhe convinha. Bom, o vídeo explica tudo isso e mostra como o fizeram.
Após saber desse episódio meu interesse pelo grupo só aumentou. Lembro quando comprei o Crooked Rain, Crooked Rain (1994) – que por coincidência mágica – foi no mesmo dia que comprei o Doolittle (1989) do Pixies e passei horas colocando no repeat. Depois daquilo comecei a ir atrás dos outros álbuns e simplesmente me apaixonei pelo primeiro trabalho dos caras, o sujo e perfeccionista, Slanted And Enchanted (1992).
A banda deu por encerrada suas atividades no ano de 1999, durante a turnê do aclamado Terror Twilight (1999), onde tudo dá a entender que Stephen Malkmus já não estava falando mais a língua que Scott Kannberg. Após águas passadas em 2010 eles vieram para o Festival Planeta Terra, onde pude ver e cantar aquelas músicas que estavam engasgadas na minha garganta a tantos anos, como por exemplo esta canção que sempre passava o clipe nas madrugadas da antiga MTV:
E hoje vamos falar sobre uma banda que bebe da fonte do Pavement muito antes do DAY ONE. Mas vamos deixar tudo claro agora que falaremos um pouco sobre a história do The Hexx.
Em meados de 2014, Alexandre Franco (vocal e guitarra), Leonardo Scriptore (vocal e guitarra), Pedro Fogaça (bateria) e Roberto Saraiva (baixo) se uniram em um projeto que inicialmente tinha a proposta de “tirar sons do Pavement”.
Esta paixão pela banda californiana fez com que estes músicos que têm seus nomes ligados a outros projetos musicais (alguns ainda em atividade), tais como Twinpines, Mottorama, Baby Monstro, Killing Ana e Verano iniciasse seus trabalhos.
Bom para quem não é Pavement maníaco, talvez não saiba que The Hexx também é a faixa número 10 do último álbum da banda, Terror Twilight (1999). Ou seja, uma grande homenagem a banda que foi a origem de tudo para o grupo.
A partir do momento que eles começaram a ensaiar, a mágica aconteceu meio que naturalmente e estes ensaios viraram palco para jams e improvissos, assim o que era para ser apenas um projeto de covers, se transformou em algo maior.
A partir disso na última terça-feira (15), foi lançado o primeiro EP da banda, Drunker Daniel (Março/2016). Este que foi gravado entre o final do ano passado e este ano no Estúdio Lebuá por Ivan “Boi” Gomes e Diego Cordes; foi produzido pelo Ivan G. e o The Hexx; mixado pelo Diego C. e masterizado por Leonardo Nakabayashi no Estúdio Banzai.
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A foto da capa foi tirada pelo batera (Pedro Fogaça) e a arte da capa foi feita pelo Renato Bittencourt. O álbum foi lançado no começo da semana através do selo Howlin’ Records, o mesmo de bandas como Gomalakka, In Venus, Loyal Gun, Penhasco, Twinpine(s), Vapor, Blear, Poltergat entre outros.
Mas antes de destrinchar o recém lançado EP eu fiz algumas perguntas pontuais após ouvir o som dos caras, assim ficou ainda mais fácil entender a proposta da banda.
[Hits Perdidos] Antes de decidirem lançar o EP autoral, vocês começaram como uma banda cover de Pavement. Qual a conexão pessoal de cada um integrante com o grupo norte americano?
“Para mim, Pavement é um daqueles livros de cabeceira que devem ser revisitados com alguma periodicidade. Com uma simplicidade quase incrível, beirando quase o desleixo cômico em alguns momentos, eles trouxeram a música para um patamar executável naquela primeira fase da adolescência. Um som quase lúdico. Muito marcante.” Pedro Fogaça (baterista do The Hexx)
“A gente sempre curtiu, fosse por causa do estilo, talvez por causa desse desleixo, e decidimos nos juntar para tocar até como forma de regularizar nossas reuniões para trocar ideia e tomar uma cerveja juntos. Foi tomando uma forma e um direcionamento natural… e agora estamos aqui.” Leonardo Scriptore (guitarra e vocais do The Hexx)
“Pavement é o meu Beatles, é aquela banda influente que reúne muitas coisas que eu acho verdadeiras na música.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
[Hits Perdidos] Qual disco da banda mais marcou a vida de vocês?
“Pra mim foi o Crooked Rain, Crooked Rain.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
“Brighten the corners, um dos discos que mais escutei durante a adolescência.” Alexandre Franco (guitarra e vocal do The Hexx)
“Para mim é o Terror Twilight. Eu era muito viciado no Slanted and Enchanted (ainda sou!). Mas no meu aniversário do ano de 2001, o Leo me mandou lá de Recife o Terror Twilight. Cara, mudou minha vida.” Pedro Fogaça (baterista do The Hexx)
“Eu escutei Pavement pela primeira vez aos quinze anos, no carro com meu amigo Jeff. Ele tinha uma fita que num lado tinha (eu não sabia na época) o Slanted and Enchanted e do outro lado Manic Street Preachers. Eu escutei “In the mouth a desert” pela primeira vez e fiquei de boca aberta. Fui atrás dos CDs, comprei o Wowee Zowee, depois o Brighten the Corners, mas qual não foi a minha emoção quando eu finalmente comprei o Slanted and Enchanted e pus para tocar. Quando começou “Summer Babe”, eu me empolguei e pulei para abraçar o Bruno, que toca comigo no Twinpine(s), e a gente caiu e ele machucou a cabeça na parede.” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Além de Pavement, quais seriam as outras influências diretas do The Hexx?
“Temos nossas próprias influências, porém, todas conversam muito bem e acabam inspirando naturalmente o som do The Hexx, falando por mim, acredito que bandas como Teenage Fanclub, Lemonheads, Nada Surf e Superchunk são influências diretas no momento de compor músicas.” Alexandre Franco (guitarra e vocal do The Hexx)
“Superchunk, Teenage Fanclub, Sonic Youth, Tears for Fears, Morphine, Twinpine(s) e Killing Ana (rs).” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
“Superchunk, Teenage Fanclub, Dinosaur Jr, Sonic Youth, entre outros. Estou com eles.” Pedro Fogaça (baterista do The Hexx)
O EP, Drunker Daniel (Março/2016) se inicia com a canção, “Please Take a Seat”, uma faixa cheia de melodia, nela o baixo dita o ritmo e as guitarras dão a sensação de estar flutuando no espaço – como um disco do Spiritualized faz naturalmente – a música de certa forma nos passa uma certa nostalgia de memórias passadas. Talvez pela riff de guitarra hipnótico e alucinante e as pontuais distorções. O som de grupos como Swervedriver e Teenage Fanclub se encontram com a harmonia de grupos contemporâneos com o Real Estate – que lançou o ótimo Atlas em 2014.
“30 Bottles” é a segunda faixa do disquinho e nos últimos dias ganhou até webclipe. A canção revela o lado mais melancólico, alá Lemonheads, e é trabalhada na parte mais acústica. Mas nada como saber um pouco mais sobre a história dela antes de assistir ao clipe.
“30 Bottles” é um som estradeiro, sobre beber e dirigir mesmo (não façam isso, crianças!) por causa da vida toda errada e bagunçada, desilusões… Foi inspirada na vida de uma pessoa que eu admirava muito, mas que acabou se perdendo por esses (des)caminhos. Rolou a oportunidade de tocar em uma festa em Floripa – a lendária Pelvis Shaker, da qual o Ale era DJ residente, sócio-fundador. O próprio Ale teve a ideia de fazermos o clipe na estrada. Ele descolou uns equipamentos, além da câmera que ele já tinha, e nós fizemos. Juntamos as imagens da câmera, mais algumas de celular, uns timelapses… Tudo a gente mesmo que fez. A edição quem começou foi o Ale, que fez a montagem principal, depois eu fui e sujei tudo com sobreposições.” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
Aliás você pode conferir também uma versão TOTALMENTE acústica dela aqui:
A terceira faixa, “Annie More” como citado pela banda na entrevista (lerão logo menos), é fruto de uma piada interna, das vivências e reflexões do dia-a-dia de seus membros. Nesta faixa em específico podemos ver um pouco mais a influência em grupos como Sonic Youth e Dinosaur Jr. pois estão repletas de catarses apocalípticas em sua sonoridade.
Já a faixa que encerra o trabalho, “Dinner And Breakfast”, mostra a levada mais Superchunk do projeto, algo meio Sebadoh pode ser facilmente percebido. As sacadas rítmicas e o contraste entre os vocais são o ponto alto. Você literalmente viaja na canção que te remete tanto a ondas psicodélicas, como ao som dos cariocas do Second Come.
O EP cumpre o papel de mostrar ao que a banda veio e as quatro faixas deixam a gente querendo mais pois o potencial delas é enorme. Um disco perfeito para ouvir ao pôr do sol, enquanto aprecia uma cerveja gelada em alguma praça da sua cidade.
[Hits Perdidos] Ao ouvir também senti a influência de bandas de Dream Pop/psicodélico como o Real Estate e me lembrou algumas horas do som do Driving Music (de Fábio Andrade, eterno vocalista do The Invisibles), Bob Mould, além de uma porção de bandas obscuras dos anos 90. Quais seriam as influências indiretas? Aquelas mesmo que estão no background e não conseguem viver sem?
“No meu caso algumas bandas, não necessáriamente dos anos 90, como The Thrills e Grandaddy, acabam sendo influências indiretas, são bandas relevantes pra mim e que acredito estarem presentes neste processo.” Alexandre Franco (guitarra e vocal do The Hexx)
“Acho que tem coisas pessoais de cada um ali também. Pô, quantos sons, né? Superdrag, Buit to Spill, Swervedriver, Galaxie 500, Grant Lee Buffalo… a lista é grande!” Pedro Fogaça (baterista do The Hexx)
“Eu tenho ouvido bastante Ducktails e Diiv. Acho que rola uma certa influência, talvez.” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Tocar em inglês já foi uma barreira por aqui. Com vários documentários como Time Will Burn e o – ainda em projeto de financiamento coletivo – Guitar Days discursam sobre. Como enxergam isso?
“Eu acho que as pessoas subestimam a função da melodia de um idioma dentro de uma composição musical. É uma opção muito mais estética que política, então é guiada pela mesma lógica de todas as outras decisões musicais. Eu acho que a recepção às bandas que cantam em outros idiomas está melhorando, mas pode ser só impressão também.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
“Para mim, compor em português nunca foi opção simplesmente pelo fato de eu não conseguir compor uma música que eu goste em português. Não me entenda mal: eu gosto de música em português, só não consigo fazer!” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Como foi trabalhar com um selo tão bacana como a Howlin’ Records. E como veem a importância dos pequenos selos para o underground brasileiro?
“Acho que beira aquela sensação da Força dos Elos Fracos. A junção de tantas pessoas legais e talentosas, que por vezes não se conhecem tão bem, todos colocando a mão na massa, todos curtindo a cena e as bandas, faz com que uma robustez grande possa surgir disso. Então, com todos juntos, temos mais inércia e maior capacidade de mobilização. O underground sempre foi uma luta. Se nos organizarmos direito, podemos nos divertir bastante, espalhar os sons manter algumas coisas/casas/pessoas/bandas por mais tempo. Se rolar a conjunção com vários selos então, melhor ainda. Afinal, são os pequenos selos que mantiveram e nos apresentaram algumas das coisas mais legais.” Pedro Fogaça (baterista do The Hexx)
“A gente está literalmente trabalhando com amigos, então é ótimo. Os selos são uma ótima maneira de juntar forças com gente que tem o mesmo objetivo.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
[Hits Perdidos] Na parte das letras. Quais as inspirações na hora de escrever?
“Cara, antes de alguma letra começar a fazer sentido para mim, o processo de criação começa de uma forma muito surreal. As melodias vão puxando frases que soam bem, como se eu estivesse improvisando em cima, com palavras, depois dessas primeiras frases, eu começo a perceber o que está acontecendo.” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
“Não existem inspirações específicas, penso na letra bastante como mais um dos componentes estéticos do som, desta forma acabo seguindo o clima que sinto que a sonoridade pede e naturalmente isto acaba se adequando a algum momento pessoal. Diria que as letras do The Hexx geralmente seguem por este viés pessoal de reflexões e fatos cotidianos vivenciados.” Alexandre Franco (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Porque Drunker Daniel o nome do EP?
“É piada interna de gravação. Mas esse não é o único nome no EP com essa piadinha não.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
“É verdade. Escutando “30 Bottles”, lendo a letra e tal, dá para perceber qual é a piada… Annie Moore também surgiu de uma dessas brincadeiras. E o EP quase se chamou “Butter Face” pela mesma razão…” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Para quem pirou no EP, quais bandas recomendariam que o pessoal fosse atrás? E quais bandas destacariam da cena local?
“Bom, valha-me minha avariada memória agora: Loyal Gun, Blear, El Mató a un Policía Motorizado (Arg.), Los Reyes del Falsete (Arg.), Single Parents, Shed, Penhasco, Vapor, Chalk Outlines, Stase… Acho que tem ainda mais um monte de banda da Howlin’ que a gente curte que não tem taaanto a ver com o nosso som, mas acaba partindo de um mesmo senso estético. (E enfim, para falar o óbvio: Killing Ana, que era a banda do Beto e do Ale quando eles moravam em Floripa e Twinpine(s) que é a banda em que eu toca há 13 anos – se gostou do The Hexx, é bem provável que goste dessas também.)” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
[Hits Perdidos] Quais os planos pós-lançamento do EP? Já possuem datas de shows?
“Vamos lançar o Drunker Daniel neste sábado às 21h na Funhouse e no fim de semana que vem temos shows em Curitiba e Florianópolis.” Roberto Saraiva (baixista do The Hexx)
“Vamos lá!” Leonardo Scriptore (guitarra e vocal do The Hexx)
Então é isso, todos que morarem em São Paulo estão mais do que convidados para a festa de lançamento do EP Drunker Daniel na Funhouse. O show acontece dentro da festa Funhell e é uma ótima oportunidade para vê-los ao vivo!
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This post was published on 18 de março de 2016 7:16 pm
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