Missiles Of October: a trilha sonora para o fim do mundo
Nos últimos dias fui introduzido a uma banda belga, mas não é um conjunto qualquer caso você esteja procurando encrenca e muito barulho. O Missiles Of October surgiu na cidade de Bruxelas, e é formado por figurinhas carimbadas da cena local.
Bob Seytor (baterista) por exemplo tocou na primeira banda punk a ser formada no país, Contingent, mas sua quilometragem não para por aí, visto que também toca na banda Rotyes e já integrou o Walpurgis.
Já Mathias Sallas (Guitarra/Berros) também toca no Rotyes, na curiosa Frau Blucher and the drunken horses e já fez parte do Galvanize.
Lionel Beyet (Baixo/Berros) fecha o power trio e também faz parte do grupo [P.U.T], No Hope for All e já integrou um dia o Monster Eaters. Como se ainda fosse pouco ele também comanda o selo independente, P.O.G.O. records desde 1993.
Fui pesquisar para descobrir de onde vinha a origem do nome, e eis que se refere a crise dos mísseis cubanos, ocorrida em Outubro de 1962. Este confronto que aconteceu em território cubano em pleno cenário de guerra fria e durante 13 dias aterrorizou os civis do país.
Estados Unidos e União Soviética travaram um conflito balístico de grandes proporções que quase resultaram no início de uma guerra nuclear em grande escala. Tudo isso aconteceu como resposta da URSS a falha na invasão da Baía de Cochinos (Cuba) e ataques na Turquia e Itália feitos pelos norte-americanos. Para saber mais, basta ver o documentário.
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Fatos esses que mostram que definir o som deles de trilha sonora para o fim do mundo: não é nenhum exagero.
Desde então eles lançaram dois EP’s: Hangover EP (Setembro/2012), e Body EP (2014). Estes que foram necessários para o trio encontrar sua sonoridade e lançar seu disco de estreia Don’t Panic (2014).
Eles mesmos definem o som como: uma mistura de todas as bagagens que eles tiveram ao longo da vida. Afirmando ter influências que passeiam pelo sludge, punk e noise rock, de bandas como: Unsane, Les Thugs, Jesus Lizard, Helmet, Black Flag, Mc Lusky, Unwound,Sonic Youth, Fugazi, Girls vs Boys.
O disco abriu muitas portas para a banda, que já tem em seu currículo uma extensa turnê pela norte da Europa, tendo marcado seu território com shows energéticos e de alta tensão.
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A banda agora quer mais, e quem sabe algum dia ainda faça alguma turnê pelo país, ao menos vontade para isso não parece faltar.
Mas hoje vamos falar do álbum de estreia dos marmanjos, Don’t Panic (2014).
A primeira faixa, que também dá nome ao álbum, “Don’t Panic” já mostra que os caras não estão para brincadeira quando dizem terem influência de sludge. Pude notar uma levada na linha da escola Discharge que me remete também a grupos como The Exploited, Cheap Sex e The Virus.
“Music For Hangover” é ainda mais densa com influências de metal alá Helmet e da lisergia de Jesus Lizard. Literal, a música conta a história de alguém que bebeu mais do que podia e a tragédia que é acordar na manhã seguinte. Se é que você me entende.
“Two Feet In Sludge” é bem densa e bem trabalhada e soa meio como uma uma homenagem ao estilo. Se você curte bandas como os geniais The Melvins e os mitológicos Corrosion of Conformity provavelmente vai pirar nesse som.
“Become an Asshole” parece um recado bem dado direcionado a todos que se revelam grandes imbecis. A música tem transições rápidas com batidas que passeiam pelo Doom Metal, Thrash Metal e Hardcore. Cheia de guturais, ela agrada fácil fãs de grupos como Suicidal Tendencies.
“Wannabe” é um hardcore perverso mas com peso do metal, e com berros alá The Unseen. A mistura só enriquece o som, e o baixo consegue se destacar mesmo no meio da barulheira.
A sensação ao ouvir é a de o mundo está em chamas, pronto para o apocalipse. Entretanto no fim da música a guitarra entra chiando alá Dinosaur Jr./Sonic Youth. Quando achamos que já está o suficiente eis que somos agraciados por um solo de bateria apocalíptico.
“Cheerleader” tem o espírito do hardcore de grupos como Fugazi e Minor Threat, rasgado o som é acelerado e a linha de baixo soa bastante consistente. Sabe aqueles filmes de terror em que dá tudo errado com as cheerleaders e elas viram presas fáceis? É a trilha perfeita para este momento.
“Six Pack”, favor não confundir com a canção do Black Flag é um rock sujo, com guitarras pesadas e letra que mais uma vez fala sobre o caos causado por noites regadas a cerveja. Falando nisso, vai uma Stella Artois para acompanhar? Eu imaginei que não, visto que cervejas premium não combinam com esse raw punk nervoso.
“Addiction” mistura sludge com punk em sua essência, algo na linda de grupos como o Kylesa, principalmente nas paradinhas que bebem um pouco da fonte do stoner rock.
“Dead Body” respira o metal mas não deixa o hardcore de lado, algo que grupos como Agnostic Front e Madball sempre fizeram com supremacia, abusando dos bicordes.
“Dance With Me” é macabra desde o primeiro acorde. Inclusive sua letra fala sobre vampiros e romance: em sua melodia parece ilustrar a história de Conde Drácula. Com um toque sludge cheio de pedais e muita distorção, claro. Irônica, ela soa como uma sátira ao clássico da literatura.
“You Pray A World Of Shit” encerra o disquinho. Ela denuncia as injustiças do mundo em que vivemos. Um mundo cheio de mentiras, poder e religiões controlando mentes. Uma excelente maneira de fechar um disco que passeia pelo metal lisérgico punk sem deixar de dar ponto em nó.
Agora fica a esperança de quem sabe num futuro breve vê-los em uma possível turnê pela América do Sul. Produtores, abram os olhos!