Sem lançar disco há 10 anos: Por onde anda o Bloodhound Gang?
Hoje vamos falar de uma banda que nasceu para ver os outros se divertirem. Um grupo que não tem medo de ser alvo de chacota, de expressar seus sentimentos mais carnais – mesmo que seja “chamar na chincha” usando Discovery Channel como referência – e que desde seu início tratou de debochar com estilo a cultura pop.
Com DNA característico dos anos 90, o excêntrico Bloodhound Gang tratou sempre de misturar vários estilos em seu som. Filhotes dos Beastie Boys, os caras desde sempre misturaram hip-hop, Funk Metal, Rapcore e Rock Eletrônico. O bom humor e o satirismo nas composições sempre foram as características mais marcantes da Gang.
O surgimento dos freaks aconteceu em 1991 – muitos que estão lendo esse texto não haviam nem nascido – e com um nome bem distante do pelo qual o grupo ficaria eternizado na cultura pop. Já ouviram falar do Bang Chamber 8? Nem eu, porém esse era o nome do grupo nos primeiros dias.
E bem que o antigo nome do grupo parece uma paródia pornô do segundo livro/filme de Harry Potter. Não é mesmo?
Além disso grupo ainda não era um grupo. Sob esse nome cheio das segundas intenções, Bang Chamber 8 era um duo formado por: James Moyer Franks (“Jimmy Pop”) e Michael Bowe (“Daddy Long Legs”), amigos de colegial de uma pequena cidade da Pennsylvania. Depois de lançar um EP, decidiram mudar o nome para Bloodhound Gang, em referência a um programa de TV (abaixo) no qual três jovens detetives solucionavam mistérios e crimes.
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Os jovens cresceram e foram para faculdade onde tinham dificuldade de arranjar shows. Até que o jogo começou a virar depois que gravaram sua primeira demo. Quando perceberam estavam seguindo os trilhos do Beastie Boys e tocando todo mês no CBGB.
Mas ainda era pouco para quem sonhava mais alto. E foi na segunda demo tape com um nome todo provocativo -The Original Motion Picture Soundtrack to Hitler’s Handicapped Helpers – que eles enfim conseguiram assinar com uma gravadora, Cheese Factory Records.
No mesmo ano, 1994, saia enfim o primeiro EP. Cheio de influências de Beastie Boys, samples de rock (como U2, The Doors, Duran Duran) , Funk, vinhetas, senso de humor e influências de Public Enemy como se percebe rapidamente ao ouvir.
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Claramente ainda o som estava longe do que os consolidou mas abriu muitas portas para a Gang. A Cheese Factory Records ficou pequena para eles e no ano seguinte assinaram com a Columbia Records. O que possibilitou finalmente conseguir realizar turnês domésticas. Mas principalmente e mais importante: o lançamento do primeiro álbum, Use Your Fingers (1995). Álbum feito com regravações de sons das duas primeiras demos.
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Mas nem tudo foi vantajoso na Columbia Records. O grupo que desde o lançamento do disco já contava com Skip O’ Pot2Mus (Bateria/Backin Vocals), M.S.G. (D.J./Backing Vocal) e Lüpüs Thünder (Guitarra/Backing Vocals) teve suas divergências.
Como consequência Daddy Legs e M.S.G. largaram o grupo e ambos juntos formaram o Wolfpac. Que muitos anos mais tarde chegaram a gravar uma canção ao lado da antiga banda.
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Com as baixas, Evil Jared Hasselhoff (Baixo) e Tard-E-Tard (D.J.) entraram na gang para somar. Mas a relação com a Columbia Records que já não era das melhores, chegou ao fim. Com isso rolou mais um desmanche na Gang – isso aqui tá parecendo The Warriors mas tudo bem – e Skip O’Pot2Mus e Tard-E-Tard decidiram largar os palcos.
1996 foi o ano de juntar os cacos e com uma banda quase que completamente reformulada (com a entrada de Spanky G (bateria) e DJ Q-Ball (backing vocals, D.J., Teclados e programação), seguir em frente. Após voltarem para a Cheese Factory Records – qua agora atendia por Republic Records – a banda se aproximou de uma gravadora um pouco maior, a Geffen. Logo o segundo álbum do grupo – One Fierce Beer Coaster (1996) – foi lançado em duas versões, uma de 63 minutos (Republic Records) e uma mais compacta de 46 minutos (Geffen Records) lançada dois meses depois.
Sim, a banda conseguiu neste momento ganhar uma popularidade singular que fez a Geffen abrir os olhos e contratá-los. Não sei como o pessoal da Republic ficou mas ser largada duas vezes deve ter deixado os donos da gravadora bem raivosos.
Mas não estávamos até agora procurando um single killer? Enfim, chegou “Fire Water Burn” para colocar os caras no mapa.
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O álbum também contemplava uma transição do som do grupo para algo mais comercialmente tangível. Um som mais ligado ao Hip Hop alternativo e Rock. Tanto que Lupus Thunder diz que “Fire Water Burn” foi inspirada no Weezer e no Sugar Ray e a – brisa – de Funk Metal é totalmente irônica a um tipo de música que não suportavam ouvir na rádio.
E uma crítica satirizando “Monkeys Gone To Heaven” (1993) do Pixies e seu vocalista:
“I am white like Frank Black is / So if man is five and the devil is six then that must make me seven / This honkey’s gone to heaven “
Em”Hungry Like Wolf”, “Your Only Friends Are Make Believe” do Duran Duran entra mais uma vez nos samples dos caras. Guilty Pleasure?
O lado mais brincalhão neste album ganha asas e cada música parece ser mais uma piada emendada na outra. Por exemplo, “Fire Water Burn”, é uma tiração de sarro com um branco que tenta ser – e falha miseravelmente – um negro do guetto. “I Wish I Was Queer So I Could Get Chicks”, tira sarro de caras que acham que garotas apenas gostam de caras gays por serem mais sensíveis que homens héteros. E “Why’s Everybody Always Pickin’ On Me?” podia ser o hino da banda até o momento, pois: alopra uma história pessoal de Jimmy Pop.
Jimmy na escola desenvolveu katagelophobia, que basicamente é o medo de ser ridiculazido. Se o próprio Jimmy escreveu uma música tirando sarro disso, acreditamos que ele superou.
Mas para quem pensa que o rap ficou de lado nessa fase mais rocker, se engana. A faixa “It’s Tricky” é um cover de Run DMC e “Boom” conta com a participação de Vanilla Ice. Sim aquele mesmo de Vanilla Ice Ice Babe!
A Geffen não era boba nem nada e com medo de sofrer processos logo tratou de cortar trechos do álbum, por essa razão o disco é menor. Uma das faixas, “Yellow Fever”, causou problemas ao Bloodhound Gang quatro anos depois. Uma associação de asiáticos e outra LGBT, condenaram a música como xenofóbica e preconceituosa. O que fez com que o grupo cortasse a música de seus sets.
No geral as críticas foram positivas, o grupo estava de vento em poupa e o futuro era definitivamente promissor.
As polêmicas não quiseram largar o grupo, é claro. Em 1999, era o ano de lançar o terceiro disco, Hooray for Boobies (1999). O disco curiosamente chegou mais cedo a Europa, pois eles estavam com problemas na justiça.
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Assim só em 2000, os EUA puderam conhecer “The Bad Touch”. Single esse que colocou eles no topo das paradas no mundo todo. Chegaram a marca de 5 milhões de discos vendidos, sendo na Alemanha Top 1 de todas as paradas.
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Sucesso indiscutível. Era a gangue na crista da onda. Apesar da crítica ter recebido o álbum na época meio desacreditada. Erros acontecem, não é mesmo?
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Outro single que bombou desse disco – divisor de águas – da gangue foi “Along Comes Mary” porém com menos peso de “The Bad Touch”. Aliás, single como este eles nunca mais conseguiram emplacar. Tanto que é super comum até hoje mesmo nas baladas alternativas dos anos 90, como a TigerRobocop, ouví-la nas pick-ups.
2005, o mundo conhecia Hefty Fine, quarto e até o dia de hoje – último álbum de estúdio lançado pelo Bloodhound Gang – e a capa hoje em dia com certeza arranjaria problemas para eles.
O disco possúi três singles mas dois deles com certeza você já se deparou dando risadas pela internet, “Foxtrot Uniform Charlie Kilo” e “Uhn Tiss Uhn Tiss”.
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O álbum também marca uma nova etapa artística do grupo. Eles neste álbum passam por gêneros como rapcore, industrial e eletrônica. Claramente “Uhn Tiss Uhn Tiss” é uma sátira a E-Music que começou a tomar conta do mercado fonográfico com canções que digamos tem pouco a dizer. Vai me dizer que vocês não lembram de Lasgo e companhia?
“Foxtrot Uniform Charlie Kilo” brinca com o início da popularização da internet – e quem sabe dos sites de relacionamento amoroso online – na qual surgiu de uma troca de e-mails entre Jimmy Pop e Jared Hassellhoff em que eles brincaram de mandar eufemismos com conteúdo sexual para o outro via e-mail.
Sabem quando piada interna deixa de ser interna para ser domínio público? Foi bem isso que aconteceu. Eles disseram ainda que se inspiraram nos roteiros de Simpsons para elaborar a letra com mais perfeição, logo esse processo de composição foi mais longo mas pareceu ter sido bastante divertido. Homer Simpson aprova!
“Something Diabolical” é uma parceria com o vocalista do H.I.M. o qual fizeram turnê anos mais cedo e se tornaram amigos de longa data. E para quem sabe, Ville Valo é bastante amigo de Bam Margera. O que fez com que a música entrasse na trilha de Viva La Bam e que Bam participasse do vídeo de “Foxtrot Uniform Charlie Kilo”. Curiosidades a parte.
Apesar dos intentos, das baixarias e conteúdo polêmico/escatológico/sexual/apelativo o álbum novamente não foi bem recebido pela imprensa e teve baixas vendas (50 mil cópias). Mas deixou clipes ótimos.
Mais uma vez o grupo perdia um membro importante. E em 2008, Lupus Thunder após abandonar: prometeu nunca mais voltar. Os remanescentes brigaram bastante tentando mantê-lo em seu plantel mas era o fim de uma era. Daniel P. Carter foi escalado para ser o novo guitarrista da banda. Em 2010, Jimmy Pop afirmou que a banda teria em 2012 um disco com 10/12 músicas durante uma entrevista para e imprensa.
Estamos esperando o álbum até hoje. “Altogether Ooky” foi gravada e ganhou videoclipe para álbum de Greatest Hits do grupo, lançado no fim de 2010.
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As polêmicas continuaram, depois que Q-Ball afirmou que o álbum não sairia nem em 2012, como não em 2013. E prometia que sairia mas que na hora certa, garantindo que estavam gravando e testando várias demos. De lá para cá foram lançados em 2014 algumas outras canções. Desde então foram lançados 7 singles, o último em Setembro/2015, “Uncool As Me”.
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Em Outubro, Hard-Off (2015), foi liberada a pré-venda do álbum que deve sair depois de 10 anos de espera em Dezembro. Ou seja, esse ano Papai Noel vai nos trazer disco novo do Bloodhound Gang e todo o nasty stuff.
Confira outros quatro singles que saíram também ao longo deste último ano:
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Eu não sei vocês mas eu já quero dançar. Que dezembro chegue logo!